Barco patrulha Larsen & Toubro
Barco patrulha Larsen & Toubro

Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval

A Guarda Costeira da Índia está treinando 14 militares da Marinha de Guerra moçambicana na operação de duas lanchas interceptadoras de 30 m de comprimento e 90 toneladas de deslocamento, que o governo do Primeiro-Ministro Narendra Modi está doando a Moçambique.

Iniciado na primeira segunda-feira de novembro (05.11), em Chennai – porto da costa sudeste indiana –, o adestramento foi concluído na sexta-feira da semana passada (16.11). A previsão é de que, na semana inicial de dezembro, uma segunda turma de 14 marinheiros moçambicanos comece a cumprir o mesmo tipo de estágio.

A iniciativa de Nova Déli junto à Administração de Maputo faz parte do forte movimento expansionista das Forças Navais Indianas (Marinha e Guarda Costeira) no Oceano Índico – manobra que, passando por países insulares como Ilhas Maldivas, Ilhas Mauricio e Seychelles, se estende a países da costa oriental africana, como Tanzânia e Moçambique.

Ocorre que, há mais de uma década, autoridades navais de Moçambique vêm procurando a ajuda da Marinha do Brasil (MB).

Como nação lusófona, Moçambique participa da Conferência das Marinhas da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP, criada em julho de 1996), o foro mais importante sobre os assuntos ligados ao mar envolvendo as Marinhas e Guardas Costeiras de língua portuguesa.

O quinto e mais recente desses eventos aconteceu este ano, no período de 7 a 9 de agosto, na Escola de Guerra Naval, no Rio de Janeiro.

O conclave teve como tema central “A cooperação entre as Marinhas para exercer a soberania nas águas jurisdicionais dos países”, e foi compartilhado pela MB com as suas congêneres de Angola, Cabo Verde, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe.

A delegação moçambicana apresentou-se chefiada pelo Comandante da Marinha de Guerra, contra-almirante Eugénio Dias da Silva Muatuca, que, a 14 de março, por ocasião da IV Reunião dos Estados-Maiores das Marinhas do Brasil e de Moçambique, já estivera no Brasil e visitara o Centro de Instrução Almirante Wandenkolk (CIAW).

Aí Muatuca assistiu a uma palestra do subchefe de Estratégia do Estado-Maior da Armada brasileira, contra-almirante André Novis Montenegro.

A Força Naval moçambicana tem muitos problemas operacionais – que se refletem no elevado índice de indisponibilidade dos seus (escassos) meios –, e também numa estrutura ainda deficiente para prover Ensino e Instrução Especializada ao seu pessoal.

Corveta Barroso
Corveta Barroso

“Casa do Gaiato” – Também este ano, de 24 a 27 de setembro – durante o intervalo entre as operações ATLASUR XI e IBSAMAR VI –, um Grupo-Tarefa da Marinha do Brasil composto pela corveta Barroso e um Destacamento de Mergulhadores de Combate, realizou visita oficial a Maputo.

Somente no dia 25, uma terça-feira, a visitação pública ao navio atraiu 608 visitantes que, ciceroneados por membros da tripulação, receberam explicações sobre o barco e as comissões de que ele participou.
Após completarem o trajeto de visitação, 35 meninos órfãos assistidos pela “Casa do Gaiato”, da capital moçambicana, realizaram, no convés de voo da corveta, um agradecimento que emocionou os militares brasileiros.

A recepção oficial protocolar oferecida pela unidade brasileira às autoridades locais chamou igualmente a atenção, pelo alto nível dos comparecimento.

Além de integrantes do Corpo Diplomático e da Administração local, o comandante do GT brasileiro, capitão-de-mar-e-guerra Sérgio Blanco Ozório, comandante do 2º Esquadrão de Escolta da Marinha do Brasil, recebeu o chefe do Estado-Maior Geral das Forças de Defesa de Moçambique, general de Exército Lázaro Henrique Lopes Menete, e o Comandante da Marinha de Guerra, contra-Almirante Muatuca.

Jatos de água – Os barcos repassados pelos indianos à Administração de Maputo foram construídos pelo estaleiro indiano Larsen & Toubro.

Dotados de casco de alumínio e equipados com metralhadoras, eles atingem a velocidade máxima de 45 nós (83 km/h). A propulsão está confiada a dois motores marítimos Caterpillar 3516C, dois geradores auxiliares C-4.4 e dois sistemas de jatos de água MJP, que garantem desempenho e a manobrabilidade em ritmo elevado de navegação.

Na Guarda Costeira indiana a tripulação de cada unidade é constituída por um oficial e 11 subalternos. O raio de ação do barco é de 500 milhas náuticas (926 km) – o que é considerado suficiente para vigiar a Zona Econômica Exclusiva do país africano –, ou até 72 horas sem precisar retornar à base (desde que adequadamente abastecido de suprimentos).

O projeto desses interceptadores foi concebido para que eles possam atender não apenas comissões de patrulha, mas também missões de busca e salvamento, combate à pesca predatória, tráfico de tóxicos, contrabando e outras tarefas de segurança marítima.

Há pouco mais de sete anos, uma reunião de alto nível dos ministros da Defesa de Moçambique e da Índia acertaram um mecanismo de cooperação que visava melhorar a segurança no Oceano Índico.

Em novembro de 2014, depois de ter participado do exercício Ibsamar daquele ano (realizado ao largo do litoral sul-africano), a moderna fragata indiana Teg, de 4.035 toneladas (carregada), cumpriu uma “visita de boa vontade” a Moçambique.

Menos de três anos mais tarde, em julho de 2017, o próprio comandante da Armada da Índia, almirante Sunil Lanba, visitou Moçambique.

A resposta do governo paquistanês – arquirrival de Nova Déli no Oceano Índico – no sentido de contrabalançar a influência da Índia não se fez esperar. Em Islamabad o Ministério das Relações Exteriores acreditou o Brigadeiro Muhammad F. Yousaf como Adido de Defesa junto à Embaixada da República Islâmica do Paquistão em Maputo.

Tanzânia – Mas no Leste da África os militares indianos não investem apenas em Moçambique.

Eles também estreitam o relacionamento com seus colegas das Forças de Defesa Populares da Tanzânia, país onde representantes das duas nações mantém um Grupo de Trabalho de Defesa Conjunta.

Em julho passado a Índia anunciou a doação de duas lanchas interceptadoras à Força Naval das Ilhas Seychelles, e na última quinta-feira (15.11), o estaleiro militar indiano de Visakhapatnam festejou a conclusão do refit do navio-patrulha costeiro Huravee (ex-Tillanchang, da Marinha indiana), de 46 m de comprimento e 260 toneladas de deslocamento, pertencente à Guarda Costeira das Ilhas Maldivas.

A manutenção, iniciada em meados de julho, envolveu reforços no casco e melhorias na propulsão central e nos motores auxiliares do barco, que é armado com um canhão de 30 mm.

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