Fragata Sahand. Por causa do embargo, o Irã instalou velhos radares no navio: um SPS-10 americano no alto e um AWS-1 inglês mais abaixo

Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval

A emissora estatal de tevê iraniana Press TV informou, sábado passado (01.12), que a Marinha de seu país mandará ao litoral da Venezuela, no início do ano que vem, uma força-tarefa de três navios, liderada pela fragata leve lança-mísseis Sahand (número de casco 74) – a mais moderna unidade da frota de guerra da República Islâmica do Irã.

O anúncio foi feito ao final da cerimônia de comissionamento da embarcação, que aconteceu na manhã do sábado na base naval de Bandar Abbas (debruçada sobre o Estreito de Ormuz na costa sul do Irã).

Não é a primeira vez que os almirantes iranianos planejam uma incursão dos seus navios pelo Atlântico Sul.

No segundo semestre de 2016, a fragata leve Alvand (71) e o navio-tanque Bushehr (422) cumpriram missão de patrulha ao largo da costa da Somália, no chamado “Chifre da África”, e logo desceram a costa oriental africana rumo ao Atlântico. A viagem só não prosseguiu porque o Bushehr, de 4.673 toneladas – e 42 anos de mar – quebrou e precisou ser docado na África do Sul. A flotilha, então, recebeu ordens de regressar a Bandar Abbas.

No deslocamento previsto para o ano que vem, a Sahand deve ser acompanhada pelo grande navio de Apoio Kharg (431), de 33.000 toneladas, construído há quase 35 anos na Inglaterra.

O Kharg possui dois hangares e é capaz de operar três helicópteros simultaneamente, em um convoo à ré. Tanto que a Armada iraniana o utiliza em exercícios de assalto anfíbio.

Ainda não se sabe se a flotilha liderada pela Sahand descerá a costa oriental africana para subir pelo Atlântico até Puerto Cabello, na Venezuela, ou se as unidades iranianas cruzarão o Canal de Suez para ganhar o Mar Mediterrâneo e, em seguida, o Oceano Atlântico (ou se ambas as rotas serão percorridas).

Navio-Tanque Bushehr
Fragata Jamaran

Stealth – Imagens da solenidade de incorporação da Sahand subiram à Internet, oficialmente, na quarta-feira da semana passada (05.12).

Analisada à distância, e em termos puramente militares, a fragata – apesar de constituir o produto mais avançado da indústria naval iraniana – não impressiona muito.

Seu projeto é, na verdade, uma evolução do desenho da pequena fragata Jamaran (76), de 94,5 m de comprimento, dois motores diesel e 1.500 toneladas, que entrou em serviço em 2010.

Como esse navio tem baixa autonomia, a Sahand foi construída com 4 motores diesel, que lhe garantiriam melhor desempenho em manobra e mais estabilidade para travessias oceânicas, mesmo enfrentando zonas de turbulência marítima – além de velocidade de 30 nós.

Estima-se que seu deslocamento, com a tripulação preparada para o combate, não ultrapasse as 2.500 toneladas. Informações acerca da estanqueidade e blindagem dos compartimentos, bem como dos sensores embarcados no navio, são desconhecidas.

O projeto, que priorizou a instalação de armamentos contra ameaças aéreas, e um costado sem angulações ou reentrâncias – revelador da preocupação de projetistas e construtores com técnicas furtivas (stealth) –, quase permite que a Sahand seja considerada uma fragata antiaérea.

Mas a propaganda iraniana afirma que a embarcação tem também boa capacidade de fazer a guerra antissubmarino.

A modesta indústria naval iraniana sonha com programas ainda mais ambiciosos.

Cinco anos atrás, o serviço noticioso iraniano Farsnews divulgou imagens de uma maquete da fragata pesada Khalid Fars.

Concebido com 145 m de comprimento e 7.500 toneladas de deslocamento, o navio terá dois mastros principais, um deles, junto ao passadiço, protegido por um invólucro cônico – comum, atualmente, nos navios fabricados no Ocidente.

Fragata Jamaran e Navio-Tanque Bushehr em Port Sudan
Fragata Jamaran e Navio-Tanque Bushehr em Port Sudan em 2012

Mísseis – Lançada ao mar em novembro de 2012, a Sahand demorou mais de seis anos para ser concluída.

O motivo de tanta demora foi, provavelmente, a prontificação dos diferentes sistemas de armas especificados para irem a bordo:

  • Sistema de Defesa Antiaérea de ponto tipo CIWS (close-in weapon system) Kamand: Arma concebida para criar uma barragem de fogo no ar apta a interceptar e destruir qualquer target que se aproxime a uma distância (ou altitude) de 2.000 a 4.000 m, por meio de um regime de disparos de 4.000 a 7.000 cartuchos por minuto.
  • Míssil antiaéreo de alcance intermediário Sayyad 2: Vetor movido a combustível sólido que viaja à velocidade de, aproximadamente, 1.200 m por segundo, com alcance entre 60 e 120 km. Alojado no navio à meia nau, em dois pares de contêineres, transporta uma cabeça de guerra de 200 kg de HE (alto explosivo) com efeito principal de fragmentação.
  • Lançador quádruplo de mísseis antinavio de alcance intermediário Qader: Sistema revelado, pela primeira vez, em 2011. O míssil viaja a baixa altitude (3 a 5 m acima da superfície das ondas) para evitar identificação por radares inimigos ou equipamentos de vigilância por infravermelho. Alcance nominal: 300 km.
  • Torpedos leves;
  • Canhão de 76 mm na proa; e
  • Canhão antiaéreo de 40 mm.

NOTA DO EDITOR: As novas fragatas iranianas são baseadas nas corvetas Vosper Mk.5 (classe “Alvand”), das quais o Irã adquiriu quatro unidades nos anos 1970.

O Irã tem três remanescentes da classe “Alvand” (ex-Saam). A quarta unidade, a Sahand, foi afundada pela US Navy em 18 de abril de 1988, com mísseis Harpoon, na Operação Praying Mantis.

Sabalan, foi atingida por uma bomba guiada a laser e não afundou por pouco.

Fragata Sahand original, afundada em 19 de abril de 1988 por aviões da CVW 11 do USS Enterprise. O navio foi atingido por 3 mísseis Harpoon e várias bombas guiadas a laser (foto abaixo)

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