Porta-helicópteros Atlântico receberá três lançadores de mísseis Mistral no próximo semestre
Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval
A Marinha do Brasil irá instalar, ainda no primeiro semestre de 2019, três lançadores de mísseis antiaéreos de defesa de ponto Mistral no porta-helicópteros Atlântico (A140).
Esses lançadores ocuparão as posições originalmente reservadas pela Marinha Real – antiga proprietária da embarcação – ao sistema de autodefesa aproximada CIWS (Close-in Weapon System) Phalanx (removido antes da entrega do navio ao Brasil): uma na proa e duas na popa, em “bandejas” situadas abaixo do convés de voo, à boreste e à bombordo.
O serviço terá o apoio da Diretoria de Sistema de Armas da Marinha (DSAM), e será iniciado tão logo o navio retorne da Aspirantex 2019, comissão de que participará no primeiro bimestre.
“Não poderemos aproveitar as bases construídas para receber o Sistema Phalanx”, explicou o comandante do Atlântico, capitão de mar e guerra Giovani Corrêa, de 47 anos. “Precisaremos construir outras bases, montar os lançadores e, claro, testar o conjunto”.
Extremamente gentil e colaborativo, Corrêa recebeu a reportagem do Poder Naval a bordo do seu navio, no início da tarde da última quinta-feira (13.12), no Pier Mauá da cidade do Rio de Janeiro.
A conversa, de duas horas e dez minutos, irá redundar em três reportagens especiais que o PN publicará, retratando o impacto causado pela aquisição do porta-helicópteros, tanto na Esquadra quanto na Força Naval Brasileira em geral.
ITAR – OMAS (míssil superfície-ar) Mistral é uma arma bastante conhecida. Seu alcance é de até 6.000 m.
De acordo com um texto liberado pela a Marinha, a 29 de maio de 2017 o Batalhão de Controle Aerotático e Defesa Antiaérea da Divisão Anfíbia do Corpo de Fuzileiros Navais realizou, na Restinga da Marambaia (RJ), um disparo bem sucedido desse vetor, que “possui um sistema de guiamento por infravermelho de segunda geração, (…) resistente a contramedidas”.
O PN quis saber por que o Atlântico não reteve o CIWS Phalanx, sistema reconhecidamente eficiente e usado pelas principais marinhas do Ocidente.
Sua remoção suscitou diferentes hipóteses: falta de autorização de Washington para que a Marinha Brasileira o operasse, falta de recursos para comprar e manter o equipamento…
“Não foi nada disso”, atalha o comandante Giovani. “Inicialmente quero dizer: não acredito que, se a Marinha manifestasse o desejo de ficar com o Phalanx, essa permissão nos fosse negada. O problema é que, se insistíssemos nessa aquisição, o navio estaria, até hoje, na Inglaterra.
E isso pelo fato de que a compra do Phalanx exige uma autorização especial do governo dos Estados Unidos, denominada ITAR (International Traffic in Arms Regulations), e a tramitação dessa solicitação nunca leva menos que sete meses.
Para agravar a situação, a Marinha Real nos pedia que transferíssemos o antigo HMS Ocean para o Brasil no menor espaço de tempo possível, já que eles necessitavam dos 300 tripulantes britânicos que se encontravam a bordo do navio quando fomos busca-lo.
Esse pessoal era requisitado para embarque urgente nos dois novos porta-aviões britânicos: o HMS Queen Elizabeth e o HMS Prince of Wales.
Investigamos, como alternativa ao Phalanx, a possibilidade de adquirir o CIWS Goalkeeper, mas isso não se revelou viável.
Decidimos, então, montar a autodefesa do navio com o Mistral e os canhões de 30 mm [quatro exemplares do modelo DS30M Mk.2], além do armamento de menor calibre. Para o momento que vivemos é bastante aceitável”.
VF-1 – O comandante do porta-helicópteros falou também sobre a questão dos escoltas necessários aos deslocamentos do seu navio.
“Os escoltas nos proporcionariam maior defesa contra ameaças aéreas. Mas a Esquadra, apesar de lidar com algumas limitações, não está incapacitada de nos prover escoltas. Temos operado com nossas fragatas.
Além disso, é preciso lembrar: devido à sua capacidade militar e logística, o HMS Ocean participou de muitas missões no Mediterrâneo e em outros pontos do globo com escolta muito reduzida, e que aproveitava a companhia de embarcações de outras marinhas.
No caso da costa ocidental da África, por exemplo, a escolta de um navio classe “Amazonas” é perfeitamente suficiente, e não por nossa causa, especificamente, mas porque esse navio-patrulha seria adequado aos treinamentos com as marinhas africanas amigas”.
No capítulo da “capacidade militar”, o CMG Giovani lembra o raio de ação do radar Artisan, que tem operativo a bordo do Atlântico:
“Com o nosso radar, que permite varreduras a 130 milhas [240,76 km] de distância, podemos, perfeitamente, montar bons exercícios táticos com as aeronaves do Esquadrão Falcão [VF-1]”.
Construção da relação – O comandante do Atlântico diz que, ao viajar para o Reino Unido com a missão de buscar o porta-helicópteros, sentiu, perfeitamente, que participava da “construção de uma relação”.
“A mim não espanta o recebimento, pela nossa Marinha, de um navio da Marinha Real que esteja disponível.
Os britânicos demonstram claramente que desejam consolidar a ligação conosco. E, se pararmos para pensar, tem sido assim há décadas. Quantos navios que pertenceram ao Reino Unido nós já não operamos?
Atualmente eles estão sempre dispostos a nos ajudar.
No início do segundo semestre, embarcamos uma equipe britânica para nos assessorar durante a travessia de Plymouth para o Rio. A preocupação, naquele momento, era lidar com a propulsão do navio.
Nesse instante tenho especialistas da Marinha Real instruindo o nosso pessoal sobre a manutenção do sistema de combate; um tempo atrás tivemos dúvidas sobre as condições de mar que nos permitiriam usar as lanchas de desembarque que trazemos a bordo. Especialmente no momento da abicagem na praia. Entramos em contato com eles e recebemos todos os esclarecimentos, sem nenhum problema.
O impacto na Esquadra – Giovani Corrêa demonstra entusiasmo com a renovação de meios da Esquadra:
“Minha impressão é de que a aquisição deste porta-helicópteros e a incorporação de uma nova classe de submarinos revitalizaram muito as expectativas dentro da Marinha.
E não é para menos: com esse navio a Força pode ir a qualquer lugar no planeta. Temos a possibilidade de ir até a Índia e voltar sem necessidade de reabastecer.
Durante a travessia para o Rio, à velocidade de 17 nós, consumimos 40.000 litros de combustível/dia, e transportamos 1,6 milhão de litros de combustível em nossos tanques… Viajando a 10 nós, consumimos 24.000 litros de combustível/dia, e transportamos 1,6 milhão de litros!
Isso para não falarmos em outro dado impressionante: o de que temos a capacidade de embarcar 1,5 milhão de litros de combustível de Aviação”.