EXCLUSIVO: Royal Navy avisa a MB de que até fevereiro terá lista dos meios que darão baixa
Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval
Há pouco mais de uma semana, a Marinha do Brasil (MB) foi informada, de maneira ainda extraoficial, de que representantes do Ministério da Defesa britânico, da Marinha Real (Royal Navy) e da Real Frota Auxiliar (Royal Fleet Auxiliary, RFA) se encontram ultimando a relação dos meios navais do Reino Unido que serão descomissionados a partir do segundo semestre deste ano.
Apesar de muitos oficiais dos setores de Material e de Gestão dos Programas da Marinha desconhecerem o posicionamento pessoal do novo Comandante da Marinha, almirante de esquadra Ilques Barbosa Júnior, sobre “compras de oportunidade”, uma fonte do Poder Naval qualificou de “irrecusável” a oferta do Navio Reabastecedor e de Apoio Logístico que irá figurar nessa lista – nesse caso, o Wave Ruler (A390), um navio de 196,5 m de comprimento e 31.500 toneladas de deslocamento, com cerca de 16 anos de uso, próprio para o aprovisionamento de forças-tarefa empenhadas em travessias de longo alcance.
Segundo a informação que alcançou a MB, o inventário ora em elaboração deverá estar pronto até o fim do mês que vem.
De acordo com o que o PN pôde apurar, o corte de meios na Royal Fleet se impõe em razão de despesas altíssimas que estão sendo planejadas e executadas devido à prontificação, entre outros, do segundo navio-aeródromo classe Queen Elizabeth, à incorporação de aeronaves F-35B, dos submarinos de mísseis balísticos, de três submarinos de ataque classe Astute, de 13 fragatas dos Tipos 26 e 31, e dos dois novos navios-doca que, na década de 2030, entrarão no lugar dos LPDs Classe Albion.
Guerra de minas – Existe, na oficialidade mais próxima do assunto, uma expectativa natural acerca dos navios que vão compor o elenco de meios considerados dispensáveis.
Isso porque, na opinião desses militares, o que os ingleses estão fazendo é uma antecipação dos seus diferentes cronogramas de descomissionamento.
Assim, além do Wave Ruler, é possível que figure nesse inventário alguma fragata Tipo 23 (classe Duke), de 4.900 toneladas, e um ou mais patrulheiros oceânicos classe River – os mais antigos, Tyne e Mersey, desprovidos de convés de voo à ré (o que é considerado na MB uma desvantagem importante).
Permanecem, no entanto, interrogações importantes, em relação, por exemplo, a uma eventual disponibilização dos navios de contra-medidas de minagem da classe Hunt, de 750 toneladas e pouco mais de 30 anos de uso.
O Poder Naval consultou um oficial brasileiro que conhece essa classe de embarcação. “Particularmente acho os Hunt muito bons. Porém, a idade dos cascos e o longo uso na RN pesam muito”, explicou ele ao PN por email. “Se forem disponibilizados e se houver interesse da MB, precisarão de vistoria minuciosa”.
Nesse momento a prioridade da MB no tocante à guerra de minas é alavancar os 230 milhões de dólares que lhe permitirão comprar dois caça-minas usados da classe sueca Koster, oferecidos três anos atrás ao Brasil.
O plano da Força Naval não é apenas substituir os varredores classe Aratu, de origem alemã, sediados na Bahia – embarcações da década de 1970 –, mas também providenciar a criação de uma unidade de navios de contra-medidas de minagem na recém-instalada Base Naval de Itaguaí, onde estão sendo construídos os novos submarinos de ataque da Força, da classe francesa Scorpène.
Por enquanto a intenção é fabricar os Koster em um estaleiro brasileiro, contando com a assistência – e a transferência de tecnologia – da Suécia. “Os Koster são caros, mas muito eficientes”, diz a fonte do PN que opinou acerca da classe Hunt. “[A opção pelos navios suecos] vale o investimento, pois eles resguardarão, principalmente, os canais de navegação de portos e bases navais”.
O histórico de cooperação entre as Marinhas do Brasil e do Reino Unido é, contudo, imbatível.
BAE Systems – Há várias décadas que o governo britânico, por meio da Royal Navy e de sua Indústria de Material de Defesa, apóia a Esquadra brasileira.
Na última semana de outubro de 2010, o conglomerado BAE Systems apresentou uma proposta detalhada aos chefes navais brasileiros, que previa o fornecimento de um pacote de embarcações navais por meio de contratos de transferência de tecnologia para que essas unidades fossem construídas no Brasil.
A oferta de oito anos atrás priorizava a construção de cinco escoltas, cinco patrulheiros oceânicos (do porte dos navios classe River) e de um navio de Apoio Logístico derivado da Classe Wave – precisamente a mesma que está sendo oferecida agora à MB.