Submarinos classe Tupi na Base Almirante Castro e Silva (BACS) em Mocanguê, Niterói - RJ

Submarinos classe Tupi (IKL-209) na Base Almirante Castro e Silva (BACS) em Mocanguê, Niterói - RJ - Foto: Alexandre Galante

Submarinos classe Tupi na Base Almirante Castro e Silva (BACS) em Mocanguê, Niterói - RJ
Submarinos classe Tupi na Base Almirante Castro e Silva (BACS) em Mocanguê, Niterói – RJ – Foto: Alexandre Galante

Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval

“A independência dos fatores ambientais da superfície, a capacidade de permanecer oculto por longos períodos e o elevado poder de destruição caracterizam a Força de Submarinos como destinada, em especial, à execução da tarefa básica do Poder Naval – negar o uso do mar ao inimigo.

No entanto, ainda temos na Força de Submarinos, as atividades de mergulho e de medicina hiperbárica acrescentando, com coragem e elevada técnica, importante capacidade de combate e robustez logística às operações de Guerra Naval; o que amplia as opções para a obtenção de resultados superiores ao esforço despendido.

(…)

Estamos convictos de um futuro promissor devido à incorporação de novos submarinos convencionais e à transformação de nosso

Poder Naval, por meio de uma Esquadra dotada de submarinos com propulsão nuclear; mas, principalmente, pela convicção da permanente prontidão da Força de Submarinos, para bem cumprir a sua missão e respaldar os interesses do Brasil na Amazônia Azul.

Usque Ad Sub Acquam Nauta Sum”!¹

Vice-almirante Ilques Barbosa Júnior,

Comandante-em-chefe da Esquadra, em “100 Anos Força de Submarinos”, publicação da FGV Projetos. 2014.


O assunto da lacuna existente na estrutura organizacional da Marinha do Brasil (MB), em razão da falta de uma Diretoria de Submarinos, é recorrente.

Ele é lembrado sempre que a Força de Submarinos (ForSub) é redimensionada – como agora, em função da entrada em funcionamento do complexo naval industrial de Itaguaí (RJ) e da construção no país de uma nova classe de submarinos de ataque –, ou nas oportunidades em que a Arma Submarina é confrontada com uma emergência nas águas do Atlântico Sul – como aconteceu no fim do primeiro semestre de 1982, depois que uma força-tarefa anfíbia da Marinha Argentina tomou de assalto Port Stanley, capital do arquipélago britânico das Falkland, deflagrando a “Crise das Malvinas”.

Contemplando da aposentadoria, no Rio, os seus mais de 70 anos de vida ligados à Força Naval, o ex-ministro da Marinha (do governo João Figueiredo) – e Decano dos Submarinistas brasileiros – Alfredo Karam, hoje com 94 de idade (completados a 28 de março passado), lembra de ao menos uma época em que o assunto Diretoria de Submarinos foi ventilado na cúpula da Marinha: “foi na época da Guerra das Malvinas [1982], mas o EMA [Estado-Maior da Armada] rejeitou a ideia”.

A ativação de uma diretoria é, na Marinha, ato essencialmente técnico-administrativo, que deve ser estudado e proposto pelo EMA – historicamente a “cabeça pensante” da Instituição.

Em tese, tal inovação se justifica pela necessidade de se reunir, em uma mesma repartição, todos os elementos, ou variáveis, indispensáveis ao funcionamento de um segmento de alta especificidade – singular mesmo – da Força Naval: os procedimentos operacionais e de gestão, as tecnologias e pesquisas a elas relacionadas, além do conjunto imprescindível das normas de segurança e dos requisitos exigíveis do pessoal.

Todas essas motivações estão dadas, hoje, na prática, no momento em que a Marinha busca otimizar o funcionamento das suas amplas instalações de Itaguaí (RJ) – um misto de estaleiro, centro de reparos e base naval (para submarinos e outros navios) que constitui o mais importante complexo naval militar jamais construído na América Latina.

Submarino Tikuna na BACS
Submarino Tikuna – S34 na BASC em Mocanguê, Niterói-RJ

DAerM – Para o almirante Karam, “só a entrada em funcionamento de Itaguaí já justifica, pelo seu potencial de fabricar e reparar navios, a criação de uma Diretoria de Submarinos”.

E a verdade é que a eventual implantação da nova repartição encontraria respaldo em um salto que vai muito além daquele dado pelos chefes navais brasileiros (na gestão do almirante de esquadra Moura Neto) na ampliação de uma infraestrutura física.

A entrada em serviço, na Marinha do Brasil, dos navios de propulsão diesel-elétrica da classe francesa Scorpène representará a operação de uma série de embarcações de baixíssimo nível de ruído debaixo d’água, guarnecidos com sistemas de navegação, monitoramento (do exterior) e armamento comparáveis aos melhores equipamentos embarcados em submarinos não-nucleares das marinhas da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Uma Diretoria de Submarinos serviria, ainda, para concentrar e harmonizar a miríade de providências que resta à MB adotar, em face do programa de construção do primeiro submarino brasileiro de propulsão nuclear – uma perspectiva que, dia a dia, de forma silenciosa mas inexorável, cresce no cenário militar do país.

A criação da nova diretoria requer, entretanto, capacidade de decisão.

Foi assim, por exemplo, no fim de 1922, quando as Marinhas mais avançadas do mundo já haviam deixado de ser um simples aglomerado de embarcações balouçantes sobre as ondas.

Nessa época, os chefes navais brasileiros concluíram que a Esquadra em particular – e a defesa litorânea em geral – careciam, em mar aberto e na linha da costa, de uma capacidade de vigilância e reconhecimento pelo ar, que lhes permitisse ampliar seus horizontes e reagir (nos céus inclusive) a uma ameaça procedente do oceano vasto e, por vezes, tempestuoso, inescrutável.

Foi, então, ativado, o Comando da Defesa Aérea do Litoral, que, em dezembro de 1923, passou a se chamar Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM). Em mais de 95 anos de existência, essa Diretoria nunca parou de evoluir, de se reorganizar e se adaptar – especialmente por causa dos embates políticos das décadas de 1940, 1950 e 1960 que a Marinha precisou manter com a Força Aérea Brasileira.

A comparação que os submarinistas fazem com a organização e o funcionamento da Diretoria de Aeronáutica é inevitável.

A Força de Submarinos compreende o Comando, a Base Almirante Castro e Silva (BACS), o Centro de Instrução e Adestramento Almirante Átilla Monteiro Aché (CIAMA), o Grupamento de Mergulhadores de Combate (GRUMEC), quatro submarinos da Classe Tupi, um submarino da Classe Tikuna e um navio de Socorro Submarino (Felinto Perry) – flotilha que será reforçada em breve pelos navios da Classe Riachuelo.

Mas, órfã de uma Diretoria de Submarinos, a ForSub tem alguns dos seus assuntos centrais, como o preparo para o combate, aos cuidados de outras OMs da Força – nesse caso, aos cuidados Diretoria de Sistemas de Armas da Marinha (DSAM), subordinada à Diretoria-Geral do Material da Marinha.

Os aviadores navais tiveram melhor sorte.

A concentração das suas atividades em uma Diretoria permitiu, por exemplo, que eles consolidassem o Grupo Executivo do SIPAAerM (DAerM50), cuja missão, o Ministério da Defesa (por meio da Portaria Normativa nº 3005/MD, de 14 de novembro de 2012), define como “Planejar, gerenciar e executar as atividades relacionadas à investigação e prevenção de ocorrências aeronáuticas no âmbito da MB (…) em consonância com as normas do SIPAER”.

Submarino Riachuelo no Complexo Naval de Itaguaí-RJ
Submarino Riachuelo no dia do lançamento no Complexo Naval de Itaguaí-RJ

Almirantes submarinistas – Nos dias de hoje será a ideia de uma Diretoria de Submarinos supérflua, ou irrealista? Ou mesmo, incapaz de sensibilizar os chefes que estão assumindo a direção da Força?

Na visão deste articulista, a resposta é, claramente, não.

O novo diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha é o almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen que, exatos seis anos atrás, assumiu o Comando da Força de Submarinos.

O oficial que tomará posse, mês que vem, na chefia do Estado Maior da Armada, almirante de esquadra Celso Luiz Nazareth, também chefiou, entre abril de 2010 e abril de 2011, a Arma Submarina.

E o Comandante da Marinha, almirante de esquadra Ilques Barbosa Júnior, que não é submarinista, passou uma fase de sua carreira no posto de capitão-tenente, como comandante do aviso de apoio costeiro Almirante Hess (U-30), de 91 toneladas (carregado), que “pescava” os torpedos de treinamento disparados pelos navios da ForSub.

Em 2 de dezembro de 1985, tendo completado dois anos de serviço, o Hess acumulava a marca de quase 100 torpedos recolhidos em diferentes exercícios da Força de Submarinos.

Três anos mais tarde, veterano de 174,5 dias de mar – e 22.995,8 milhas navegadas –, o U-30 já havia recuperado 223 torpedos. Uma lembrança que deve permanecer vívida na memória do atual Comandante da Marinha.

¹Usque Ad Sub Acquam Nauta Sum”! – “Marinheiros até debaixo d’água”! – é o lema do Comando da Força de Submarinos da Marinha do Brasil.

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