Submarino Riachuelo deve voltar ao mar em agosto
Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval
A ICN (Itaguaí Construções Navais) e a Marinha do Brasil (MB) estudam devolver o submarino Riachuelo – primeiro Scorpène brasileiro – ao mar em agosto, com um atraso de um mês em relação ao último cronograma divulgado.
O navio foi lançado ao mar na manhã da sexta-feira 14 de dezembro, mas (ao contrário do que imagina o público leigo) no fim desse dia foi recolhido, por meio do shiplift (elevador de navios instalado no complexo industrial militar de Itaguaí), e levado de volta ao chamado main hall – o gigantesco prédio do estaleiro, a poucos metros do mar – para ser efetivamente terminado e posto em condições de flutuar com total segurança.
Em fevereiro deste ano, os chefes navais e a ICN acertaram que o submarino desceria à água, pela segunda vez, no mês de junho. No entanto, os trabalhos de acabamento do navio vêm se estendendo por um prazo maior que o previsto, e, agora, a nova ideia é depositar o navio na água em agosto.
A manobra exigirá a contratação de um profissional especializado na tarefa (docking master), cuja data precisa ainda não foi definida.
Somente depois disso é que começarão os testes de ajuste de pesos a bordo, e de ativação dos diferentes sistemas (geração de energia, refrigeração, motorização, etc.)
A partir daí o Riachuelo estará pronto para fazer a comprovação inicial de estanqueidade completa do seu interior, por meio de imersão estática e de imersão dinâmica.
Inicialmente o submarino irá mergulhar até assentar num ponto do leito submarino próximo ao complexo de Itaguaí, a uma profundidade pequena, em torno dos 20 metros.
Atraso – Nenhum ponto dessa rotina desperta preocupação especial.
Para os militares integrantes da Força de Submarinos chama maior atenção o atraso no cronograma de desenvolvimento do torpedo francês F21, vendido pela empresa DCNS (atual Naval Group) à Força Naval brasileira – no âmbito do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) – e à própria Marinha francesa.
As primeiras entregas do F21 à frota submarina da França deveriam ter começado no ano passado, o que não aconteceu.
A alternativa de equipar a Marinha do Brasil com o torpedo F17A2 – predecessor do F21 –, como forma de não retardar o início das provas de tiro do Riachuelo, é mal vista pelos chefes navais brasileiros.
A velocidade máxima do modelo F17 gira em torno dos 35 nós; a do F21 deve alcançar os 50 nós (93 km/h).
Outra opção seria usar o torpedo americano Mk.48 a bordo do Scorpène brasileiro. Contudo, o estratagema exigiria uma série de licenças de parte do governo americano (Marinha americana, Departamento de Defesa e Departamento de Estado), além de entendimentos diretos entre a Naval Group – fabricante do navio – e a companhia estadunidense Lockheed Martin – atual encarregada do estágio de desenvolvimento da arma.
Para agravar a situação, a Marinha, na gestão Leal Ferreira (2015-2018), não conseguiu impedir a dispersão do time de especialistas nacionais que estudava o desenvolvimento de um torpedo pesado nacional na empresa Atlas Elektronik, situada na região da cidade de Hamburgo, norte da Alemanha.
O trabalho era considerado fundamental para que, no futuro, o país tenha a capacidade de fabricar os torpedos que irão a bordo do seu primeiro submarino de propulsão nuclear (previsto para ficar pronto dentro de dez anos).
A equipe de Hamburgo pertencia aos quadros da companhia paulista Mectron que, ainda em 2017, comunicou ao Ministério da Defesa e a Leal Ferreira que iria se retirar do programa.
A vitória do grupo alemão ThyssenKrupp Marine Systems na concorrência dos Navios Classe Tamandaré, pode ensejar uma reaproximação entre a Atlas e a MB no assunto dos torpedos, mas isso ainda é mera suposição.
Felinto Perry – Outro assunto pendente na Força de Submarinos é a aquisição de um navio de salvamento de submarinos – compra que irá permitir a baixa do Felinto Perry, de construção norueguesa, cujo lançamento ao mar completará, em julho próximo, 40 anos.
A MB recebeu a oferta de um navio civil de engenharia submarina que se encontra, no momento, em Singapura. Militares brasileiros precisarão verificar se essa embarcação é capaz de receber todos os equipamentos que, atualmente, se encontram a bordo do Perry.