Durante a chamada ‘Guerra da Lagosta’ as aeronaves de patrulha da FAB tiveram papel fundamental na vigilância dos navios franceses. Na foto, o contratorpedeiro da Marinha Francesa Tartu é sobrevoado por um RB-17G da FAB

A Guerra da Lagosta, como denominado jocosamente à época pela imprensa, foi um contencioso entre os governos do Brasil e da França, que se desenvolveu entre 1961 e 1963.

O episódio faz parte da História das Relações Internacionais do Brasil, e girou em torno da captura ilegal de lagostas, por parte de embarcações de pesca francesas, em águas territoriais no litoral da região Nordeste do Brasil.

Alertada por pescadores brasileiros, uma embarcação da Marinha do Brasil flagrou barcos de pesca franceses pescando lagosta clandestinamente na costa de Pernambuco, em águas territoriais brasileiras, sendo convidados a se retirar.

O episódio passou a ser referido nos meios de comunicação brasileiros como a Guerra da Lagosta, um conflito em que, como a famosa Batalha de Itararé, durante a Revolução de 1930, não foi disparado um tiro sequer.

Na imprensa francesa, diante dos protestos dos pescadores de lagostas sobre os seus supostos direitos de pesca, travou-se um aceso debate sobre o enquadramento da lagosta enquanto item de pesca e outras considerações sobre sua classificação como bem patrimonial do Brasil.

À época, a crise extrapolou as relações diplomáticas entre os dois países, de tal modo que ambos chegaram a mobilizar os seus recursos bélicos.

O primeiro a fazê-lo foi a França, que deslocou um contingente naval, mantido em prontidão, para uma área vizinha à região em conflito.

Em 1961, o então presidente da república brasileira, Jânio da Silva Quadros, preparou um plano secreto e envolveu o governador nomeado Moura Cavalcanti do Amapá, para a invasão e consequente anexação brasileira da Guiana Francesa. A operação chegou a entrar em fase de treinamento militar, mas foi abortada pela inesperada renúncia de Quadros.

No Brasil, a opinião pública percebeu a situação como uma agressão da França aos direitos de soberania brasileiros. O presidente João Goulart (1961–1964), após reunião do Conselho de Segurança Nacional, determinou o deslocamento, para a região, de considerável contingente da Esquadra, apoiado pela Força Aérea Brasileira. Em terra, o 4° Exército, com sede em Recife, então sob o comando do então general Humberto de Alencar Castello Branco, também se mobilizou.

Tal crise levou o governo brasileiro a tomar uma atitude de persuasão naval coercitiva, determinando o envio de navios da Marinha do Brasil ao local da crise a fim de demonstrar que o País estava disposto a defender seus direitos. Finalmente, o conflito de interesses foi resolvido no campo da diplomacia.

MB1963 - 1

O samba

Esse samba é a segunda faixa do LP “O último dos mohicanos”, de Moreira da Silva, lançado pela Odeon em 1963. A transcrição abaixo é da letra efetivamente cantada, com poucas diferenças para a letra estampada na contracapa do disco.

A “lagosta à la Suzana” é uma provável referência ao Ministro da Marinha da época, o almirante Pedro Paulo de Araújo Suzano.

‘A lagosta é nossa’, de Moreira da Silva e Kiabo

Fique sabendo
Conosco não tem bandeira
Vai zarpando de carreira
Se não quer virar peneira
No meu quadrado neca de levar pescado
Pra seu ragu
Dou-lhe um filhote de urubu
Meu litoral não é casa de Mãe Joana
Você não gosta de lagosta à la Suzana
Lhe ofereço uma maré de baiacu
Dou-lhe de quebra filhote de surucucu.

Vou lhe contar velha história
No tempo em que meu Brasil
Brigava a pau, já conseguia vitória
Somos de paz mas não damos cartaz
Do que vocês gostam nós gostamos muito mais

Barroso gritou como é
O tempo da pirataria já michou
Vem devagar barnabé
A barra é muito funda
Pra você não vai dar pé
(Breque:) E já gritou Tamandaré – pum, pum, pum

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