Cruzador Pyotr Velikiy, da classe Kirov, em 2016

Cruzador russo Pedro O Grande

Depois de Trump declarar boicote ao governo de Maduro, generais da Rússia e Venezuela assinam acordo permitindo envio de navios de combate

A Rússia está bem próxima de consolidar o projeto de instalar uma base militar – primeiro naval, depois aérea –, no litoral da Venezuela. Há três dias, em Moscou, Vladimir Padrino, ministro venezuelano da Defesa, e seu equivalente russo, o general Serguei Shoigu, assinaram um acordo bilateral permitindo o amplo envio de navios de combate das frotas de ambos os países, um para o outro, apenas “por meio de notificação prévia”.

Shoigu considerou a medida “um ato de cooperação inédito na região em muitos anos”. Padrino destacou a “formalização do protocolo das visitas mútuas” e a possibilidade de discutir “questões referentes à situação atual na Venezuela e o pacto de apoio técnico no campo da defesa”.

Analistas de inteligência militar do Brasil destacaram que a combinação diplomática foi anunciada uma semana após o presidente dos EUA, Donald Trump, declarar um amplo boicote ao governo de Nicolás Maduro. Para o general Shoigu, “qualquer interferência externa é inaceitável, especialmente nesse momento, em que a atmosfera na Venezuela está extremamente tensa”.

O estabelecimento de um centro aeronaval russo no litoral venezuelano ganhou consistência a partir de 2005, quando Vladimir Putin e Hugo Chávez firmaram os contratos iniciais de compra de equipamentos e sistemas para as Forças Armadas Bolivarianas. Ao longo dos anos, outros compromissos nos setores da extração de petróleo e gás e de infraestrutura expandiram os interesses entre Moscou e Caracas. Putin abriu linhas de crédito para Chávez e, em 2014, também para Maduro.

A história é mais longa. Em 2007, a Venezuela tomou US$ 17 bilhões em recursos para financiamento de seu programa plurianual de crescimento econômico. Por meio da estatal petrolífera Rosneft, o governo russo obteve a concessão de direitos sobre dois campos de produção na plataforma marítima. As reservas nesses lotes são estimadas em cerca de 146 milhões de barris. Outras duas empresas russas, a Gazprom e a LUKoil, são fornecedoras de serviços para a PDVSA, a estatal de petróleo e derivados fortemente atingida pela crise. A parte não paga da conta chega perto de US$ 3,4 bilhões. Renegociado há dois anos, o débito deve ser quitado em quatro parcelas até 2027.

MILITAR
O quadro favorece o projeto estratégico da base avançada no litoral caribenho. Na Ilha La Orchila, 200 quilômetros a nordeste de Caracas, já existem certas facilidades, como campo de pouso e serviços navais. Em 2008 e 2013, o imenso cruzador nuclear Pedro, o Grande esteve no local, escoltado por duas fragatas. É um gigante de 252 metros de comprimento, 28 mil toneladas de deslocamento, 727 tripulantes, 3 helicópteros, e muito armamento

Orchila fica a 1.500 quilômetros da Flórida. Uma das rotas da eventual intervenção armada na Venezuela passa pelo eixo do pequeno conjunto de afloramentos e, segundo uma declaração de Padrino, “um complexo forte vai tirar do agressor a vontade de agredir, servirá de dissuasão contra um invasor”.

Embora não admitido formalmente, o plano do Comando da Aviação de Longo Alcance da Rússia foi apresentado há alguns anos considerando a cessão de uma gleba para abrigar hangares, armazéns, estação de comunicações, núcleo residencial, acessos terrestres e novos canais marítimos.

O general responsável pela ensaio, Anatolii Zhikarev, qualificou o estudo de “exercício teórico”. Mas admitiu: para os grandes bombardeiros Tu-160 Blackjack – supersônicos com capacidade de ataque nuclear, vistos a intervalos regulares desde 2013 na base de Maiquetía, bem próxima de Caracas –, “uma escala para descanso e reabastecimento depois de 17 mil quilômetros de voo seria quase um presente”. Melhor ainda, no Caribe.

FONTE: em.com.br

Subscribe
Notify of
guest

270 Comentários
oldest
newest most voted
Inline Feedbacks
View all comments