BAP Pisco, da classe Makassar
BAP Pisco, navio multipropósito da classe Makassar da Marina de Guerra del Perú

Por Roberto Lopes*

A Marinha do Brasil estuda com a Marinha de Guerra do Peru (MGP ) uma cessão mútua de navios: os brasileiros repassariam à Armada do Pacífico os submarinos classe IKL 209/1400 Timbira (S32) e Tapajó (S33), e receberiam, do estaleiro SIMA, sediado no porto de Callao, um navio de projeção anfíbia classe Makassar (fabricado sob licença da Coreia do Sul), adaptado ao serviço de Navio-Escola.

Esse esquema permitiria às duas Forças solucionar problemas importantes de envelhecimento de meios: o obsoletismo dos submarinos peruanos Islay (S35) e Arica (S36), ambos do tipo IKL-209/1100 – projetados entre o fim da década de 1960 e o início dos anos de 1970 –, e o forte desgaste do navio-escola Brasil (U27) que, mês passado, completou 33 anos de incorporação à Esquadra nacional, e apresenta problemas recorrentes em seu sistema de propulsão.

A opção de substituir o Islay e o Arica por dois IKL usados foi levantada ainda em 2017, quando os almirantes peruanos concluíram que a compra de dois Type 214 (solução tida como ideal) estava além das suas possibilidades financeiras.

Submarino Tapajó – S33

Visitas – Recentemente, uma delegação de alto nível da MGP esteve na Base Almirante Castro e Silva, na Ilha de Mocanguê (RJ), sede da Força de Submarinos (ForSub) brasileira.

O evento teve lugar a 16 de maio último. À frente dos visitantes apresentou-se o Diretor Geral de Material, vice-Almirante Ricardo Alfonso Menéndez Calle. A comitiva peruana foi recepcionada pelo diretor do Centro Tecnológico da Marinha no Rio de Janeiro, contra-almirante (EN) Luiz Carlos Delgado, e pelo comandante da ForSub, contra-almirante Alan Guimarães Azevedo.

O grupo visitou as instalações do Centro de Treinamento Tático, e aí acompanhou uma demonstração do Simulador de Periscópio (SimPer) – ferramenta  de instrução e adestramento, composta por um equipamento de interface integrada ao novo sistema de combate e controle de tiro de torpedos AN/BYG-501 Mod 1D, que dispara o torpedo Mk.48 Mod 6AT ADCAP (Advanced Capability), dos submarinos das classes Tupi e Tikuna (1400 modificado).

Em junho de 2014, o então Comandante da Força de Submarinos peruana, contra-almirante James Thornberry Schiantarelli, já havia descido ao interior do submarino Tapajó, e ouvido explicações sobre o funcionamento da aparelhagem modelo AN/BYG-501 instalada nos IKL brasileiros.

O sistema, da fabricante americana Lockheed Martin, foi comprado pela MB via FMS (Foreign Military Sales), depois que a Força optou pelos torpedos americanos Mk.48.

Em todas as vezes os almirantes peruanos sempre demonstraram grande interesse pelo sistema da Lockheed Martin.

Também o layout interno do IKL-209 brasileiro, de corredor central, impressiona positivamente os peruanos, que têm nos seus submarinos 1100

um design muito mais acanhado (de projeto dez anos mais antigo), que dificulta a circulação e sacrifica os tripulantes.

Ainda não está certa a forma pela qual se daria a cessão mútua de meios entre Brasil e Peru.

Não se sabe, por exemplo, se alguma das Forças precisará desembolsar quantias significativas de dinheiro. O que é tido como certo: o Comandante da MB, almirante de esquadra Ilques Barbosa, trabalha com a exigência de que eventuais reparos e adaptações ainda necessários ao Timbira e ao Tapajó sejam realizados nas instalações do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro.

Consoles do sistema de combate da Lockheed Martin no submarino Tapajó
Consoles do sistema de combate da Lockheed Martin no submarino Tapajó

Aspirantes – Foi o Poder Naval que, no início do ano, primeiro noticiou o interesse da Marinha peruana nos IKL-209 brasileiros.

De acordo com uma fonte no Ministério da Defesa, em Brasília, que acompanha o assunto, Ilques considera muito importante a substituição do NE Brasil por um navio moderno, que possibilite aos Aspirantes egressos da Escola Naval, um aprendizado mais eclético e atualizado.

O classe Makassar construído no Peru permitiria isso, proporcionando aos jovens oficiais sessões de instrução bem mais realistas, especialmente nos campos da guerra anfíbia e do atendimento hospitalar em situação de combate, por exemplo. Nada disso é possível a bordo do atual navio-escola brasileiro, apto, na maior parte das vezes, a ministrar apenas aulas teóricas.

Desenhado na Coreia do Sul, o Makassar tem tido o seu projeto, originalmente de 8.500 toneladas, adaptado aos requisitos da Força Naval que o adota.

Os Makassar peruanos, de 122 metros de comprimento e 22 metros de boca, apresentam, vazios, um deslocamento de 7.300 toneladas. À plena carga esse número sobe para cerca de 10.900 toneladas.

A reduzida velocidade do navio – de 14 nós em marcha de cruzeiro (e 16 nós de máxima) – não entusiasma. Contudo, devido ao seu baixo custo de produção (no patamar das 50 milhões de dólares), a relação custo/benefício se mostra vantajosa: o navio transporta um batalhão de fuzileiros navais, além de 50 viaturas, entre carros blindados de reconhecimento e utilitários de diferentes portes.

Segundo a fonte do PN, de parte da MB estão envolvidos no assunto da cessão mútua oficiais dos setores de Material e de Gestão de Programas, além de executivos da EMGEPRON (Empresa Gerencial de Projetos Navais), entidade pública que assiste a Marinha em seus programas de reaparelhamento, revitalização e exportação de navios.


*É jornalista graduado em Gestão e Planejamento de Defesa pelo Centro de Estudos de Defesa Hemisférica da Universidade de Defesa Nacional dos EUA. Especialista em diplomacia e assuntos militares da América do Sul. Autor de uma dezena de livros, entre eles “O código das profundezas”, sobre a atuação dos submarinos argentinos na Guerra das Malvinas e “As Garras do Cisne”, sobre os planos de reequipamento da Marinha do Brasil após a descoberta do Pré-Sal.

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