Quando um destróier ‘afundou’ um porta-aviões com mísseis Exocet
O Grupo de Batalha do porta-aviões USS Coral Sea – CV 43 da US Navy, sob comando o contra-almirante Tom Brown, realizou exercícios com a Royal Navy em 1981, no Mar Arábico, com uma Força-Tarefa comandada pelo contra-almirante Sandy Woodward – que operou com o destróier HMS Glamorgan (foto acima) como seu navio capitânia.
Durante o exercício, Woodward foi capaz de manobrar o HMS Glamorgan até à distância de disparar simuladamente mísseis Exocet MM38 e “afundar” o USS Coral Sea.
A Força-Tarefa britânica era composta do HMS Glamorgan, mais três fragatas e três navios de apoio da RFA. O almirante Woodward ordenou a separação dos navios enquanto se aproximava do navio-aeródromo USS Coral Sea, mas os aviões americanos conseguiram detectar e “afundar” todos os seus navios, menos o HMS Glamorgan.
Ao chegar o período noturno, Woodward usou uma tática que depois foi assimilada por outras Marinhas, inclusive a do Brasil: o HMS Glamorgan acendeu todas as luzes de bordo feito uma árvore de Natal, fazendo o navio parecer um navio mercante no meio da escuridão.
Rapidamente um helicóptero de um destróier americano pediu a identificação do HMS Glamorgan por rádio. O operador britânico respondeu com sotaque indiano disfarçado que tratava-se de um navio mercante indiano chamado Rawalpindi, que tinha saído de Bombay com destino a Dubai.
O helicóptero americano deu-se por convencido e o HMS Glamorgan conseguiu seguir seu caminho rumo ao USS Coral Sea, monitorando todas as comunicações americanas por rádio.
Dentro de poucas horas o HMS Glamorgan conseguiu chegar a 11 milhas do USS Coral Sea e abrir fogo com uma salva de quatro mísseis antinavio Exocet MM38. Quando os britânicos avisaram os americanos que estes tinha sido atingidos, dois destróieres da US Navy acabaram trocando “fogo amigo”, pensando que um e outro eram o HMS Glamorgan.
O resultado deste exercício desempenhou um papel fundamental na opinião do almirante Woodward, quando ele ordenou o afundamento do cruzador argentino ARA General Belgrano em 1982, por causa do temor de que uma situação similar pudesse ocorrer entre o cruzador argentino e os navios-aeródromo britânicos HMS Hermes e HMS Invincible, durante a Guerra das Malvinas.
Situações como essa evidenciam a importância do aprendizado obtido nos exercícios constantes realizados pelas forças navais.
FONTE: One Hundred Days, Adm. Sandy Woodward, Naval Institute Press