Arte em 3D do ARA San Luis lançando torpedo

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Por Jorge R. Bóveda

O ARA San Luis foi uma das duas unidades submarinas da Armada Argentina enviadas para o combate no princípio de abril de 1982 e o único a enfrentar cara a cara a poderosa força-tarefa inglesa. Sua moderna tecnologia e sofisticados sensores faziam prever que, em curto prazo, terríveis perdas seriam impostas ao inimigo. Inexplicavelmente, depois de 74 dias de luta, nenhum navio britânico foi afundado por um torpedo argentino. Este artigo pretende, sobre a base do testemunho dos protagonistas, lançar luz sobre aqueles dramáticos 39 dias de patrulha, nos quais o ARA San Luis disputou (sem êxito) a supremacia naval com a Royal Navy, no Atlântico Sul.
É, portanto, o testemunho de uma batalha sem precedentes entre “David e Golias”, que se projetou além do conflito e valiosas conclusões podem ser tiradas para o futuro da arma submarina argentina.
O galante desempenho do San Luis em condições de extrema adversidade, contra um inimigo várias vezes superior, em quantidade e qualidade de meios anti-submarino, mostra a alta qualidade dos tripulantes. A incrível capacidade do San Luis para superar tais circunstâncias adversas faz parte das mais profundamente enraizadas tradições da Armada Argentina e vai, sem dúvida, constituir um exemplo para as novas gerações de submarinistas.

Desde sua aposentadoria do serviço ativo em 1995, o ex-comandante do ARA San Luis, Capitão (RE) Fernando Azcueta Maria, tem cultivado um perfil discreto e raramente aborda a espinhosa questão do conflito no Atlântico Sul, fora do seu círculo de amigos.

Há alguns anos, Azcueta rejeitou uma oferta tentadora para colocar no papel suas experiências da guerra e suas muitas entrevistas que concedeu. Desde então, nunca tratou o tema com todos os detalhes que são revelados na história a seguir, que mostra pela primeira vez, algumas situações dramáticas daqueles 39 dias em patrulha, nos quais disputou a supremacia naval com a Royal Navy, no Atlântico Sul.

Preparação relâmpago

Quando o capitão-de-fragata D. Fernando María Azcueta, filho de um proeminente mergulhador, assumiu o comando, no final de dezembro de 1981, do moderno submarino Type 209 ARA San Luis (classe Salta), das mãos do capitão-de-fragata D. Miguel C. Miguel C. Rela, não podia sequer imaginar que, em pouco mais de três meses, seria travada uma guerra contra a terceira potência naval do mundo.

E, menos ainda, poderia ter previsto as graves limitações operacionais de que sofria sua unidade, e que isso iria comprometer seriamente a sua eficácia como unidade de combate.

Em meados de março de 1982, enquanto Azcueta e os seus homens estavam se exercitando com as corvetas tipo A-69 ARA Drummond e ARA Granville, ao largo da costa de Mar del Plata, recebeu a ordem para interromper a comissão e regressar ao porto, mas sem receber qualquer explicação para esta ordem incomum.

Pouco depois, observou na Base Naval a preparação do ARA Santa Fé, comandado pelo capitão-de-corveta Horace Blicaini, mas não conseguiu tirar deste nenhuma informação que pudesse aliviar a enorme incerteza em que se encontrava.
Só na manhã do dia 2 de Abril foi revelado ao público, por rádio e televisão em todo o país, o desembarque argentino nas ilhas Malvinas.

No entanto, Azcueta teve que esperar mais 24 horas para ser recebido pelo COFUERSUB (Capitão Eulogio Moya Latrubesse) que lhe ordenou: “preparar-se no menor tempo possível para suspender (zarpar).” A partir daquele momento, começou uma frenética corrida contra o relógio para toda a tripulação deixar o navio com a melhor condição possível de funcionamento.

Na foto acima, vê-se o ARA San Luis em sua base, com o porta-aviões ARA 25 de Mayo aparecendo ao fundo
Na foto acima, vê-se o ARA San Luis em sua base, com o porta-aviões ARA 25 de Mayo aparecendo ao fundo

Os problemas antes de sair

Durante as provas de mar realizadas nas águas próximas à Base de Submarinos, foi descoberto o primeiro de uma série de problemas, quando verificou-se que o San Luis não poderia desenvolver velocidades em imersão superiores a 14,5 nós.

Uma inspeção mais detalhada do navio revelou que não só o casco e hélice estavam cobertos com incrustações de pequenos crustáceos conhecido como “cracas” ou “dentes de cachorro”, mas os tubos de refrigeração dos motores diesel também tinham sido atingidos. Isto fazia com que os motores parassem por superaquecimento, devido à falta de fluxo da água de refrigeração.

Como não havia tempo para pôr o navio na doca seca para limpar o casco – dada a urgência de zarpar –, Azcueta teve que recorrer aos alunos da escola de mergulho vizinha, para providenciaram respiradores de baixa profundidade do tipo “narguil” e realizarem a raspagem do casco “à mão”, em turnos rotativos de 8 horas de trabalho contínuo, “para livrar o casco daquelas pragas” .

Uma das causas do problema teve origem em 1974, com a construção do “paredão”, que separa o cais dos submarinos do cais civil de Mar del Plata.

Esta foi construída para impedir que a nova classe de submarino Type 209 colidisse contra o cais em períodos de mar grosso, permanecendo amarrados, uma má experiência que já havia sido experimentada com os velhos submersíveis tipo “Fleet” e os veteranos “Guppy”, mas que, graças ao seu design, tinham sido “estaqueados” no porto, o que permitia a imobilização do navio.

Embora louvável, a construção de um paredão gerou mudanças ecológicas com a falta de circulação de água do mar, o que favoreceu a formação de grandes colônias de cracas, que desde então fixaram-se aos submarinos atracados ao cais.

No ARA San Luis, dos quatro motores diesel, apenas três estavam funcionando, aumentando o tempo de recarregamento das baterias e a exposição do snorkel, tornando-o mais vulnerável às emissões dos radares de busca do inimigo.

Um submarino convencional usando o snorkel. Observar o rastro de fumaça e a esteira produzida pelos mastros

A avaria do motor nº 1 ocorreu no início de 1974, pouco depois da adesão à Força de Submarinos. Para repará-lo, seria necessário cortar o casco resistente, uma tecnologia que a Marinha Argentina não tinha na época.

O TF Somonte, chefe de propulsão da embarcação, em conjunto com a Direção de Material da Armada e do estaleiro de Tandanor, tinham conseguido “safar” o motor, utilizando-o até o final de 1978, quando decidiram mantê-lo fora de serviço por razões de segurança.

Para piorar ainda mais a situação, nem o comandante ou o chefe de armamento do submarino haviam tido acesso a um relatório de meados de dezembro 1981, que detalhou o resultado dos lançamentos de torpedos pelos submarinos da classe “Salta”, durante o período compreendido entre agosto e dezembro do mesmo ano, com especial ênfase sobre o desenrolar do exercício com torpedos SST-4.

O relatório mostrava que de todos os lançamentos realizados durante este período, apenas uma única vez o torpedo tinha concluído a corrida na forma prevista.

Uma escandalosa porcentagem de lançamentos foi errática, como resultado de várias fatores (por exemplo, rompimento no cabo de guiagem, inundação do torpedo, ruptura do cinto, etc), sem que se pudesse identificar as causas que levaram ao mau funcionamento da arma.

O relatório em questão tinha sido divulgado pelo gabinete do Comandante da Flota del Mar, escalão de que dependia a Força de Submarinos, sem ter conseguido reverter a situação. Como veremos mais tarde, as verdadeiras causas do problema só viriam à luz após o conflito.

Apesar destas limitações graves, Azcueta fortemente pressionado pelo contexto político/militar em que vivia, informou ser capaz de fazer-se ao mar no dia 11 de abril.

O submarino zarpou no final da tarde, com os seus minúsculos compartimentos abarrotados de alimentação e água para uma prolongada patrulha de guerra, com 10 torpedos SST-4 antisuperfície, de fabricação alemã e 14 torpedos antissubmarino MK-37 Mod 3, americanos.

Suas regras de engajamento vedavam, até aquele momento, qualquer confronto com as unidades inimigas, uma vez que se considerava que uma ação ofensiva iria comprometer as negociações que estavam em curso nas Nações Unidas.

O trânsito para a área de operações nas Malvinas foi aproveitado para concluir algumas pequenas reparações e prosseguir com o treinamento do pessoal na utilização do sonar passivo, do qual dependeria de agora em diante, a sobrevivência do submarino, tendo este último que operar dentro de uma área marítima inteiramente controlada pelo inimigo.

Em 17 de abril, o ARA San Luis chegou com segurança em seu “santuário fixo” ou área de espera, designado com o nome código de “Enriqueta”.

‘Em desvantagem desde o começo’

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Seu “santuário fixo” ou área de espera, designado com o nome código de “Enriqueta”, era localizado a cerca de 130 milhas ao norte da zona de exclusão estabelecida pelos britânicos em torno das ilhas.

Dois dias depois de sua chegada ao “santuário fixo”, enquanto permanecia naquela estação, ocorreu uma avaria no computador de direção de tiro VM8-24. Apesar dos esforços da tripulação, não havia como reparar o computador com os recursos disponíveis a bordo.

A dotação do navio incluía dois cabos especializados em direção de tiro, que também tinham o dever de reparar o sistema em caso de avaria. Esta função era anteriormente ocupada por suboficiais experientes, mas em abril de 1982 só havia disponível pessoal muito mais novo, sem capacitação para reparar o sistema, além de trocar placas de circuito impresso.

A consequência imediata desta grave limitação na utilização do sistema de armas foi que a partir dali, os disparos de torpedos seriam feitos com cálculos manuais, com o submarino sendo capaz de controlar apenas um torpedo de cada vez, ao invés de três que o sistema permitia quando funcionava normalmente.

Com o computador avariado, o submarino operaria em “emergência”, o que doutrinariamente servia apenas para auto-defesa, dada a baixa probabilidade de gerar impactos.

Paralelamente aos esforços levados a cabo a bordo para tentar restaurar o sistema, autoridades navais no continente fizeram uma consulta ao Chefe do Arsenal, em River Plate (CF Edgardo P. Meric), para buscar assessoria técnica. Mas isso exigiria que o ARA San Luis enviasse por rádio longas mensagens que o sistema apresentava, para que os técnicos em terra pudessem diagnosticar o problema.

A mera possibilidade de que o submarino pudesse revelar sua presença na área de operações através destas mensagens fez com que a ideia fosse imediatamente rejeitada.

Dada a impossibilidade de consertar o computador, o comandante Azcueta enviou uma mensagem urgente para o COFUERSUB, colocando o Alto-Comando a par da situação e solicitando instruções.

Contra todas as probabilidades previsíveis, foi ordenado que o San Luis deveria ficar onde estava até novo aviso, porque eles achavam [indevidamente] que o inimigo poderia perceber sua ausência do teatro se o navio fosse reparado.

No final do conflito, vários submarinistas consultados expressaram que os danos poderiam ter sido reparados em Puerto Madryn, simplesmente transferindo para bordo o pessoal técnico e as peças exigidas.

Em retrospectiva, essa ideia parece ter tido boas perspectivas de sucesso naquele momento [19 abril], pois apenas um pequeno número de submarinos nucleares operava a oeste das Falklands e as unidades de superfície ainda não tinham chegado na área de operações [chegaram em 22 abril], de modo que a capacidade anti-submarino do inimigo na área focal de Puerto Madryn era inóqua.

Enquanto o San Luis prosseguia na sua rota para o sul, demandando sua área de operações, os rebocadores Tehulche e Querandí sob comando do Teniente de Navío Araujo (então imediato do Aviso ARA Irigoyen) foram enviados de Puerto Belgrano, com o objetivo de escoltar o submarino ARA Santiago del Estero (foto abaixo), um Guppy IA que havia sido desativado em 1981, em trânsito de volta para o porto, com a intenção deliberada de confundir o inimigo sobre o seu real estado de funcionamento.

ARA Santiago del Estero
ARA Santiago del Estero

Para assegurar toda a operação, foi decidido que os rebocadores deveriam chegar ao porto de Mar del Plata após 19h, em 22 abril, devendo zarpar novamente em 72 horas. Não houve necessidade de esperar tanto tempo.

Apenas cinco horas mais tarde, às 00h20 exatamente, o submarino ARA Santiago del Estero começou a navegar na superfície rumo a Puerto Belgrano, com seus próprios motores, mas incapaz de mergulhar.

A operação de traslado para a principal base naval da Argentina foi realizada sem problemas e com toda a pressa, para tirar vantagem das condições meteorológicas favoráveis.

O submarino chegou ao seu destino com segurança no dia seguinte à noite, onde foi cuidadosamente escondido entre dois grandes navios mercantes que se reabasteciam, convenientemente escondido para não ser visto por satélites ou aviões.

O ardil foi bem sucedido, a julgar pelas entrevistas dadas pelo pessoal inimigo capturado na Geórgia do Sul. Os britânicos estavam muito preocupados em saber o paradeiro do gêmeo do ARA Santa Fe.

Na área de operações

Faltando poucas milhas para entrar na área de patrulha, um forte barulho de batida foi ouvido no “espaço livre de circulação”, ou seja, no espaço entre o convés e casco de  resistência, que é completamente inundado em imersão. O comandante Azcueta decidiu então emergir rapidamente antes do pôr do sol, para investigar a origem do ruído, uma vez que estes aumentam a indiscrição do navio.

O mistério foi revelado logo ao emergir: uma pistola de solda que algum operário desavisado tinha esquecido na rápida preparação do navio. O movimento do submarino fazia com que a ferramenta batesse continuamente contra o casco, dando a impressão de que era algo muito mais grave.

Também foi detectado que havia se soltado uma tampa de acesso a uma válvula, que foi prontamente consertada. Toda a operação não levou mais de 15 minutos, depois retomou-se a navegação com segurança.

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No final de 28 de abril, às 8h, o ARA San Luis entrou furtivamente em sua área de patrulha, nome código “Maria”, ao norte da Ilha Soledad, muito próximo à costa. No dia seguinte, como consequência direta do ataque surpresa britânico a Grytviken, no sul da Geórgia, se levantaram as restrições à utilização de armas.

Se o comandante Azcueta tinha alguma dúvida sobre a existência ou ausência de atividade inimiga na área, esta foi dissipada em torno de 09h40 de 1º de maio, quando seu sonar detectou um ruído imediatamente classificado como um “escolta Type 21 ou 22”, “baseado no ritmo de suas hélices e emissão do seu sonar tipo 184”. O alvo operava com helicóptero e navegava a 18 nós.

Azcueta então ordenou postos de combate e aumentou a velocidade ao máximo, para encurtar a distância do alvo: 13.000, 12.000, 11.000, 10.000m, içou o periscópio brevemente, mas uma espessa neblina o impediu de ver alguma coisa.

Quando o alvo estava a uma distância inferior a 9.500 metros, Azcueta ordenou o lançamento do seu primeiro torpedo SST-4, o primeiro lançado pela Armada Argentina em tempo de guerra, parando as máquinas no último momento para facilitar a guiagem manual do torpedo.

Eram 10h15. Dois minutos após o lançamento foi recebido o sinal “cabo cortado” e nenhuma evidência de que o alvo tinha sido atingido. Quase imediatamente o submarino começou as manobras evasivas, antecipando um possível contra-ataque inimigo, mas ele nunca aconteceu. Aparentemente, os ingleses nunca souberam de sua presença.

Para economizar combustível e evitar ser detectado por helicópteros anti-submarino que estavam operando nessa área, o San Luis pousou no leito marinho em torno das 16h25 e lá permaneceu nas cinco horas seguintes.

Quase todos os dias foram obrigados a jogar gato e rato com os navios de superfície e helicópteros anti-submarino britânicos que se movimentavam através da área, tendo que repetidamente interromper abruptamente a recarga das baterias, por causa dos contatos hidrofônicos constantes mantidos com o inimigo.

Mais problemas

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ARA Salta, irmão do ARA San Luis

Em 4 de maio, outro revés operacional atingiu o San Luis: um de seus dois conversores de 400 Hz ficou inesperadamente indisponível.

Sem um dos seus conversores, o submarino ficou ainda mais limitado, impedido de operar plenamente os seus equipamentos mais essenciais, como sonar, radar, os emissores, a agulha giroscópica, e o próprio sistema de armas.

Com mais este problema, além de outras falhas, que a tripulação teve de reparar precariamente, com os poucos elementos disponíveis a bordo do submarino, tornou muito mais arriscada a operação, apesar do moral da tripulação e a disposição do comandante de continuar lutando não diminuírem em nada.

Naquele mesmo dia, dois jatos Super Étendard pertencentes à Segunda Escuadrilla Aeronaval de Caza y Ataque foram vetorados por um antigo bimotor P-2H NEPTUNE, até um grupo de alvos que navegavam a 100 milhas ao sul de Puerto Argentino, em missão de “piquete-radar”. Por volta de 11h05, os aviões argentinos dispararam mísseis Exocet AM39 simultaneamente, para alcançar o destróier Type 42 HMS Sheffield, de 3.660 toneladas.

No primeiro momento os britânicos acreditaram terem sofrido um ataque de torpedos, mas um voo de reconhecimento realizado dez minutos depois do ataque revelou um enorme buraco de 3 metros de diâmetro acima da linha d’água, a boreste do navio, que só poderia ter vindo de míssil ar-superfície.

O ataque não só mostrou que o grupo de batalha britânico estava vulnerável à aviação argentina, como provocou pânico nos altos comandos militares ingleses, por mostrar a possibilidade de perder-se um dos seus dois valiosos porta-aviões, o que até então era considerado impensável.

O submarino ARA San Luis recebeu o relato sobre o  HMS Sheffield às 21h14 [hora argentina] e recebeu ordens de ir à toda velocidade para a última posição conhecida do navio inimigo, a fim de confirmar o afundamento dele e obter alvos de oportunidade. Inexplicavelmente esta ordem foi revogada em poucas horas, permanecendo o San Luis na zona de operações.

O primeiro tenente Maegli, responsável pelas comunicações, segurando o periscópio, posa ao lado do capitão da fragata Fernando Azcueta, comandante de ARA San Luis

Novos alvos

Quatro dias mais tarde, os sensores acústicos captaram outro alvo, desta vez no setor de popa do submarino, com todas as características de um contato inteligente e, portanto, hostil.

Um tripulante relatou: “Nós sentimos muito perto do casco acima da popa, embora não possa garantir que não era um torpedo”. De qualquer maneira, o comandante ordenou imediatamente manobras evasivas e lançamento de engodos (chamarizes) para evitar a ameaça iminente.

No dia 8 de maio, às 21h42, um alvo foi detectado a uma curta distância e o comandante Azcueta decidiu lançar um torpedo MK.37, a uma distância inferior a 2.500 metros. A explosão ocorreu 16 minutos após o lançamento, mas não foi possível especificar o seu resultado.

Esta ação despertou depois da guerra, críticas injustificadas daqueles que eram encarregados de avaliar as ações de combate, sem levar em conta a experiência mínima disponível da “Força de Submarinos” na classificação de alvos pois, na esmagadora maioria dos casos, os navios modernos da Armada não eram aproveitados para o treinamento dos submarinos, relegando a estes apenas o treinamento de combate submarino versus submarino.

A terceira oportunidade de ataque surgiu ao amanhecer do dia 11 de maio, quando se obteve um novo contato hidrofônico de dois alvos de superfície que navegavam próximo à boca do Estreito de San Carlos. O destino tinha colocado o San Luis entre os dois navios inimigos, numa ótima posição para um ataque com torpedos.

Na superfície reinava uma escuridão total, impossibilitando a visualização das embarcações através de periscópio. O comandante Azcueta decidiu primeiro atacar o alvo localizado mais ao sul, uma vez que era menor a probabilidade de erro na estimativa da direção e da distância.

Por volta de 01h40, a uma distância de 8.000m, ordenou lançamento a partir do tubo nº 1, mas com falha deste, teve que lançar com o nº 8, com a distância do alvo já reduzida para 5.200 metros. Após 3 minutos de corrida do torpedo, o sinal luminoso de “cabo cortado” foi recebido no console de direção de tiro.

O San Luis então se dispôs imediatamente a atacar o segundo alvo, localizado um pouco mais a norte, mas desta vez o alvo deixou o local em alta velocidade e Azcueta decidiu abortar o lançamento.

Pouco depois da operação, o comandante enviou uma mensagem para a COFUERSUB dando conta do seu ataque frustrado e sobre o comportamento errático do último torpedo. Apesar de ter excelentes informações do alvo e uma posição para fazer o disparo, concluiu que “o sistema de armas não era confiável “.

Esta mensagem finalmente convenceu o Alto-Comando naval argentino que o San Luis tinha que voltar para casa.

Para evitar a interferência com outras unidades que estavam operando em águas próximas da costa Argentina, foi feita uma rota direta para o extremo sudeste da área de treinamento de submarinos em frente a Mar del Plata e a partir dali, tomou-se uma rota costeira para o acesso ao canal da Base Naval de Puerto Belgrano.

Na noite de 19 de maio, o ARA San Luis regressava à sua base, depois de 39 dias de patrulha e 864 horas de imersão. Após algumas horas depois de atracado, seu segundo conversor de 400 Hz também ficou completamente fora de serviço.

O ARA San Luis em 2011 no complexo Almirante Storni, que inclui o estaleiro Tandanor – foto JC Cicalesi-S Rivas

Uma arma formidável, quando funciona

No dia seguinte, o pessoal de tiro e controle de armas do Arsenal Naval de Mar del Plata começou a consertar o computador VM8-24 que estava fora de serviço. Mas ele foi realmente responsável pelo comportamento errático dos torpedos?

Com o objetivo de encontrar uma resposta a essa pergunta e, em 15 de maio de 1982, antes da chegada de San Luis a Puerto Belgrano, uma comissão especial foi presidida pelo capitão da fragata ROBERTO F. SALINAS e quatro outros oficiais – três dos quais qualificados como engenheiros de armas e um submarinista para determinar as possíveis causas dos cortes no fio guia do torpedo.

No entanto, a falta de informações sobre falhas nos lançamentos e os meios técnicos adequados para diagnosticar o problema condenaram seus esforços ao fracasso desde o início.

Somente em uma segunda investigação, realizada após o término do conflito, que exigiu cerca de 60 dias com o apoio indispensável das oficinas correspondentes que os verdadeiros sintomas do problema vieram à tona e puderam ser devidamente corrigidos. Os detalhes da investigação permanecem, até hoje, no segredo mais absoluto, embora se saiba que foram os próprios engenheiros de armas argentinos que resolveram o enigma sem nenhuma ajuda externa.

Em maio de 1982, o Alto Comando Naval da Argentina perdeu a fé em seus torpedos depois de saber do fraco desempenho do lote de 10 torpedos SST-4 embarcados no ARA San Luis. No entanto, a Marinha procurou, por todos os meios imagináveis, reverter o problema a curto prazo através de seus próprios técnicos e engenheiros, usando o ARA Salta como um banco de testes desde que a União Europeia, incluindo a Alemanha Federal, principal fornecedor de torpedos argentinos, apoiou o Reino Unido, que proibia qualquer tipo de ajuda externa.

Os torpedos fornecidos ao San Luis durante sua única patrulha de guerra eram nada menos que os novos e modernos torpedos guiados a fio SST-4 (versão “para exportação” do torpedo “Seaschlang” usado pela Marinha Alemã) fabricados pela AEG-TELEFUNKEN, uma das empresas de maior prestígio no mundo, mas assim que chegaram à Argentina, constatou-se que eles apresentavam várias falhas de projeto que, embora fossem posteriormente corrigidas por seus fabricantes, na prática, essas melhorias não chegaram a ser incorporadas aos torpedos locais por razões orçamentárias, as quais mais tarde trouxeram conseqüências graves durante o conflito.

Torpedos pesados em uso na América Latina em 2010

FONTE: El Snorkel

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