Os ‘cacinhas’. Nomes e histórias para não esquecer
“As milhas vão sendo devoradas. Tudo que aconteça é novidade bem-vinda para quebrar o ramerrão. Um holofote do capitânia que pisque é sempre uma esperança – mesmo quando avisa que há submarinos postados no caminho do comboio. Mas caça-submarinos são navios de gente moça, alegre e irreverente.
E a alegria e a irreverência deles vieram fazer caretas à antiga sisudez das comunicações navais. Conversa-se amigavelmente pelos pisca-piscas. Conta-se fatos. Caçoa-se. Cumprimenta-se. Os códigos de radiofonia devem utilizar palavras que bastante se afastem de sua real significação. E daí surgem diálogos surpreendentes.
Um comandante de escolta certa vez (normalmente há um código para cada comboio) denominou a escolta de retreta, o comboio de auditório, o comandante da escolta de maestro e os diversos navios com nomes de instrumentos. Havia o pandeiro, o cuíca, o chocalho, o reco-reco, o trombone, etc. Além disso, um mercante seria mau elemento, avaria, lilica, corveta, rapaz, cruzador, feioso, caça-ferro, beleza (é claro que ele era comandante de um caça-ferro).
Chamava-se penetra um navio suspeito, investigar um contato, pegar um abacaxi, atacar com bombas, sambar, regressar ao comboio, dar despesa, e estação de rádio, fogão. E podia-se ouvir, não só a orquestra, mas todo o Atlântico, mensagens como esta: “Maestro de Chocalho – estou com lilica no fogão”, ou “Tamborim de Reco-Reco – fui pegar um abacaxi, sambei e já dei despesa”. Difícil para os alemães, se escutavam, compreenderem…”
“Movimentos bruscos largam as bombas. Sentem-se baques surdos e um estremecimento percorre o navio, a cada uma que explode. Pela popa, gêiseres de espuma erguem-se enormes, fosforescentes, como montanhas luminosas.
O cacinha faz um giro lento e 20 pares de olhos devoram a escuridão. Súbito, alguém parece ver um vulto que se delineia na sombra. Brada. Impressão ou realidade, todos distinguem-no imediatamente. O ratatá das metralhadoras matraqueia, brilhando os traçadores como um imenso fogo de artifício vermelho.
O canhão entra no coro, com sua voz de baixo. (…) Talvez um avião encontre na superfície, incapaz de imergir, uma presa que acabará de destruir. Talvez nada tenha acontecido. Mas o comboio passou. Pelo menos por esta noite e pelo dia seguinte este não lhe meterá medo. E o caça volta a procurar o seu cantinho na escolta.”
Trechos do capítulo “Os Cacinhas”, do livro Estórias Navais Brasileiras, de Helio Leoncio Martins e Antônio A. C. de Castro. Rio de Janeiro, SDGM, 1985.
Eita…que tinha que ter coragem pra embarcar um naviozinho desse e ir caçar submarino.
O artigo não explica bem a diferença entre os caçinhas (pau e ferro). Os ferro, vieram oito dos estadunidenses (ou americanos, há controvérsias entre os especialistas…). Lá, PC-461 class, fabricados às centenas. E havia, igualmente, comunicações jocosas entre os yankees a bordo dos PC: ‘no, thanks, we’re already below periscope depth’.
Fui olhar: vieram oito SC-497, também por lend-lease, lá parte dos mais de quatrocentos botes da splinter fleet, aqui caça-pau (ô nome feio…). Nunca um SC abateu um sub…
Inicialmente Alex, apenas 2 “461” seriam entregues, porém com intervenção do Presidente Vargas e do Almirante Jonas Ingram, IV US Frota, outros 6 foram entregues.
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Os “461” “Giants”, receberam nomes iniciados com a letra “G”, os “caça ferro” eram maiores e melhor equipados que os “110” “Juniors” com nomes iniciados com a letra “J” , os “caça pau”, mesmo assim, o tamanho reduzido fica evidenciado quando comparo o modelo de escala 1:1250 que tenho com o modelo de mesmo escala de um contratorpedeiro de escolta classe “Cannon” dos quais a marinha brasileira recebeu 8 unidades.
Os PC, 173 feet (lbp ou loa?…) que chega a ser chamado 173 footer; os SC, 110 feet. O arranjo interno dos PC461 era modesto (só se acessava a messe, à ré, pelo convés aberto, passando pelos Bofors 40mm – a sala de máquinas a meia nau e alojamentos à vante, abaixo do canhão de 3″). A superestrutura era pequena, os ambientes bem apertados. Algum dia, se Deus permitir, retraço os planos destes botes pra pôr na parede à guisa de decoração.
Na segunda foto (do G8), salvo engano, ao fundo é a Fortaleza de Sta. Cruz em Niterói na entrada da Baía de Guanabara.
Nos anos 80 o Juruá e o Javari ainda estavam no cais da Força de Minagem é Varredura da Base Naval de Aratu. Realmente pegar mar aberto com eles devia ser por demais assustador.
Não para marinheiros.
Mais uma história maravilhosa que não conheciamos.
Para quem ficou interessado no tema, recomendo a leitura de “A bordo do Contratorpedeiro Barbacena”… embora seja uma ficção, faz uso de vários episódios reais ocorridos durante a II GM para costurar o roteiro… abraço a todos…
Não há mais em estoque na Engepron, uma pena.
Aliás o Fernando tem mais alguma sugestão desse tema da guerra no nordeste?
Embarcar em um caça-pau para enfrentar subs alemães em alto mar realmente era coisa de “cabra macho”.
As condições a bordo eram ruins especialmente nos “caça pau”, mas, felizmente não precisaram entrar em ação ao contrário por exemplo de seus equivalentes na US Navy, um dos quais o “699” atuando no Pacífico foi
atingido por um bombardeiro japonês avariado o que é considerado por muitos como o primeiro ataque “kamikaze” a um navio da US Navy.
Eu sou historiador e quem tiver interesse em aprender mais sobre história é só acessar minha página eletrônica no seguinte endereço eletrônico, a saber: https://www.historiahumana.com.br. Atenciosamente Rodrigo Hemerly.