Caça-Submarino Juruá - CS 53, ex-USS SC 764, classe SC 497

“As milhas vão sendo devoradas. Tudo que aconteça é novidade bem-vinda para quebrar o ramerrão. Um holofote do capitânia que pisque é sempre uma esperança – mesmo quando avisa que há submarinos postados no caminho do comboio. Mas caça-submarinos são navios de gente moça, alegre e irreverente.

E a alegria e a irreverência deles vieram fazer caretas à antiga sisudez das comunicações navais. Conversa-se amigavelmente pelos pisca-piscas. Conta-se fatos. Caçoa-se. Cumprimenta-se. Os códigos de radiofonia devem utilizar palavras que bastante se afastem de sua real significação. E daí surgem diálogos surpreendentes.

Um comandante de escolta certa vez (normalmente há um código para cada comboio) denominou a escolta de retreta, o comboio de auditório, o comandante da escolta de maestro e os diversos navios com nomes de instrumentos. Havia o pandeiro, o cuíca, o chocalho, o reco-reco, o trombone, etc. Além disso, um mercante seria mau elemento, avaria, lilica, corveta, rapaz, cruzador, feioso, caça-ferro, beleza (é claro que ele era comandante de um caça-ferro).

Chamava-se penetra um navio suspeito, investigar um contato, pegar um abacaxi, atacar com bombas, sambar, regressar ao comboio, dar despesa, e estação de rádio, fogão. E podia-se ouvir, não só a orquestra, mas todo o Atlântico, mensagens como esta: “Maestro de Chocalho – estou com lilica no fogão”, ou “Tamborim de Reco-Reco – fui pegar um abacaxi, sambei e já dei despesa”. Difícil para os alemães, se escutavam, compreenderem…”

Caça Submarino (Caça-Ferro) Graúna – G 8

“Movimentos bruscos largam as bombas. Sentem-se baques surdos e um estremecimento percorre o navio, a cada uma que explode. Pela popa, gêiseres de espuma erguem-se enormes, fosforescentes, como montanhas luminosas.

O cacinha faz um giro lento e 20 pares de olhos devoram a escuridão. Súbito, alguém parece ver um vulto que se delineia na sombra. Brada. Impressão ou realidade, todos distinguem-no imediatamente. O ratatá das metralhadoras matraqueia, brilhando os traçadores como um imenso fogo de artifício vermelho.

O canhão entra no coro, com sua voz de baixo. (…) Talvez um avião encontre na superfície, incapaz de imergir, uma presa que acabará de destruir. Talvez nada tenha acontecido. Mas o comboio passou. Pelo menos por esta noite e pelo dia seguinte este não lhe meterá medo. E o caça volta a procurar o seu cantinho na escolta.”

Trechos do capítulo “Os Cacinhas”, do livro Estórias Navais Brasileiras, de Helio Leoncio Martins e Antônio A. C. de Castro. Rio de Janeiro, SDGM, 1985.

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