USS ‘Long Beach’, primeiro navio de guerra de superfície com propulsão nuclear
O USS Long Beach (CLGN-160/CGN-160/CGN-9) foi o primeiro cruzador de mísseis guiados da Marinha dos EUA com propulsão nuclear, único da sua classe. O navio foi o primeiro projetado e construído no pós-guerra.
O navio deveria originalmente ser equipado com mísseis nucleares de cruzeiro Regulus, a meia-nau, e depois 4 mísseis Polaris, mas tudo isso foi cancelado. No lugar, colocaram um lançador de foguetes antissubmarino ASROC.
A elevada superestrutura em “box” (parecida com a ilha do porta-aviões USS Enterprise) continha o sistema SCANFAR, com radares phased array AN/SPS-32 e AN/SPS-33. O sistema era experimental e foi o precursor do AN/SPY-1 do sistema Aegis.
Quando foi lançado, o Long Beach tinha o passadiço mais alto de todos os navios da US Navy.
O sistema de armas original do navio consistia de:
- Mísseis superfície-ar Talos de defesa de área, com alcance de 80 milhas (150 km).
- Mísseis superfície-ar Terrier de defesa de área, com alcance de 30 milhas (48 km).
- Sistema de foguetes antissubmarino ASROC, capaz de lançar um torpedo ou carga de profundidade a 10.000 jardas (9.1 km).
- Dois reparos triplos Mk.32 de torpedos antissubmarino Mk.46.
- Dois canhões de 5″/38 de duplo emprego, com alcance de 18.000 jardas (16 km).
O Long Beach foi projetado orinalmente como um navio armado somente com mísseis, mas teve que ser equipado depois com dois reparos singelos de canhões 5″/38, remanescentes de destróieres da Segunda Guerra Mundial desativados.
Os velhos canhões foram colocados a meia-nau, por ordem do Presidente John F. Kennedy, após este ter assistido a uma demostração mal-sucedida dos mísseis antiaéreos a bordo.
Modificações
O navio recebeu diversas modificações ao longo da sua vida útil. A configuração final ficou assim:
- Dois lançadores de mísseis Standard no lugar dos Terrier e Talos.
- O lançador da popa de Talos foi substituído por dois lançadores em “box” de mísseis de cruzeiro BGM-109 Tomahawk. Cada lançador levava 4 mísseis.
- Dois sistemas antimíssil Phalanx CIWS.
- Dois lançadores quádruplos de mísseis antinavio RGM-84 Harpoon.
O navio era propulsado por dois reatores nucleares C1W, um para cada eixo, e era capaz de fazer 30 nós (56 km/h).
Fazendo história
Em maio de 1964, o Long Beach juntou-se ao navio-aeródromo USS Enterprise (CVN-65) e à fragata de mísseis guiados USS Bainbridge (DLGN-25), para compor a Força-Tarefa Nuclear 1. No final de julho, os três navios começaram a Operação Sea Orbit, num cruzeiro de dois meses ao redor do planeta. Foi a primeira formação de batalha totalmente nuclear da história do Poder Naval.
Em outubro de 1966, o Long Beach foi deslocado para o primeira das muitas comissões no Pacífico Ocidental. Durante esta missão inicial, a tarefa do cruzador foi atuar como PIRAZ (Positive Identification Radar Advisory Zone) ao norte do Golfo de Tonkin. A principal responsabilidade do navio era “sanear” as grupos aéreos americanos que voltavam das missões no Vietnã, garantindo que nenhuma aeronave inimiga tentasse se infiltrar entre os aviões amigos.
Adicionalmente, o navio dava apoio SAR para helicópteros. Durante essa comissão, o Long Beach ajudou a abater uma aeronave An-2 ‘Colt’ que estava tentando engajar unidades navais do Vietnã do Sul. O abate foi realizado por um F-4 Phantom II, vetorado pelo Air Intercept Controller (AIC) do Long Beach.
O cruzador retornou para os EUA em 1967 e voltou ao Vietnã no ano seguinte, quando abateu dois MiG com seus mísseis RIM-8 Talos no Golfo de Tonkin.
Depois do Vietnã, o navio cumpriu missões no Pacífico e Oceano Índico, ao longo dos anos 1980 e também atuou na Guerra do Golfo de 1991.
O USS Long Beach foi desativado em 2 de julho de 1994, na Estação Naval de Norfolk. Ele foi finalmente descomissionado em 1 de maio de 1995, depois de 33 anos de serviço. Em 2011, o casco do navio ainda estava no Estaleiro Puget Sound, em Bremerton, à espera da reciclagem do material nuclear.
Características principais:
- Contratado: 15 de outubro de 1956
- Quilha batida: 2 de dezembro de 1957
- Lançamento: 14 de julho de 1959
- Comissionamento: 9 de setembro de 1961
- Descomissionamento: 1 de maio de 1995
- Construtor: Bethlehem Steel Company Shipyard, Quincy, Mass.
- Propulsão: 2 reatores nucleares Westinghouse C1W, 2 turbinas a vapor, dois eixos
- Comprimento: 219.8 metros
- Boca: 22.3 metros
- Calado: 9.4 metros
- Deslocamento: 17.500t
- Velocidade: 30 nós
- Aeronave: nenhuma, mas possuía plataforma na popa para operar com helicópteros
- Tripulação: 79 oficiais e 1.081 praças (depois da modernização: 55 oficiais e 770 praças
“Em 2011, o casco do navio ainda estava no Estaleiro Puget Sound, em Bremerton, à espera da reciclagem do material nuclear”
Pela data, imagino que a matéria seja um pouco antiga. O navio já foi desmontado?
Incrível que esse navio tenha sido usado até a guerra do Golfo.
Pelo menos até em 2018, ele não havia sido totalmente desmontado.
Belo artigo, boa leitura. Obrigado!
Navio enorme (17.000 ton), mais de 200 m de comprimento.
Mas pouco armamentos.
Enquanto isso, as “corvetas” russas de 700 ton dispõem de 8 mísseis de cruzeiro com 2.500 km de alcance
Pouco armamento? Volte ao texto, Nonato: “Mísseis superfície-ar Talos de defesa de área, com alcance de 80 milhas (150 km). Mísseis superfície-ar Terrier de defesa de área, com alcance de 30 milhas (48 km). Sistema de foguetes antissubmarino ASROC, capaz de lançar um torpedo ou carga de profundidade a 10.000 jardas (9.1 km). Dois reparos triplos Mk.32 de torpedos antissubmarino Mk.46. Dois canhões de 5″/38 de duplo emprego, com alcance de 18.000 jardas (16 km).” Nos anos 60 isso era muito armamento, levando em conta um navio planejado para escoltar porta-aviões fornecendo elevada capacidade de defesa aérea e antissubmarino. Talvez… Read more »
E alto. Quantos metros tinha essa torre?
Deviam compensar a estabilidade menor com a velocidade acima dos 30 nós?
Esteves, se entendi o que você quis dizer, o fato é que não se compensa estabilidade com velocidade. Em alta velocidade, sem estabilidade, o navio vai adernar numa curva. Superestruturas altas, em navios de guerra relativamente esguios como era o padrão na época (a relação comprimento x boca dele é de mais ou menos 10 pra 1 – a de um Arleigh Burke, que instituiu um padrão mais “bojudo” seguido atualmente, é de quase 8 pra 1) são compensadas de outra forma. O que se fazia era construir essas superestruturas em alumínio para aliviar o peso e assim baixar o… Read more »
Sim. Imaginei que um navio com uma superestrutura elevada como essa deveria “compensar” a menor estabilidade navegando mais rápido evitando fazer “curvas”.
Minha cabeça foi lá na Inhaúma que afunda a popa no caturro dando a impressão que a superestrutura poderia estar pesando mais que deveria.
Então você explica que o peso foi aliviado utilizando alumínio. Mas a altura está lá alterando o centro de gravidade do navio.
Eu devia ter estudado essas coisas.
Dúvida.
Força centrípeta. Massa X Aceleração.
Para manter o objeto no centro da curva há relação com a velocidade. Sim?
Carro.
Acelero no centro da curva para manter a direção da curva. Se não acelero…
Na foto 11 o navio está em máxima aceleração na curva compensando o centro de gravidade maior da superestrutura. Não?
Caro Esteves, digamos que é mais ou menos o contrário do que você falou. A aceleração centrífuga vai puxar o corpo para fora da curva, fazendo com que ele tenda a seguir reto. Se o centro de gravidade estiver alto, o wue vai acontecer é que ele vai tombar. Pense num caminhão baú carregado fazendo uma curva apertada. À alta velocidade ele vai sair da estrada e tombar. À baixa velocidade ele faz a curva tranquilamente
Sim.
Mas a centrípeta vai puxar o objeto para o centro da curva se o objeto estiver em aceleração.
Vou no sebo amanhã.
Grato a vocês.
Esteves, acho que ele não está fazendo curva, está só recebendo vagas por boreste. Precisaria ver a esteira melhor, mas ela me parece mais ou menos reta, lá atras. Só se está iniciando a curva, mas a inclinação é muito acentuada para isso. Acho que está só balançando com o estado do mar. Enfim, estou com os olhos meio cansados já. Quanto a cálculos, sugiro a leitura de livros de engenharia naval… Li certa quantidade na biblioteca da Mecânica, na Poli, e aprendi o suficiente para um historiador saber do que está falando, mas não para projetar um navio… O… Read more »
Tem que levar em consideração a época que foi concebido, naquele período era uma máquina de guerra poderosa, e provou isso ao longo de seu emprego militar, seja como navio vetorador, controlador de área e mesmo como de defesa anti aérea. Cumpriu muito bem sua missão. Hoje em dia qualquer navio meia boca dos EUA tem dezenas de contêineres de lançamento para Tomahawk. Algo que me ocorreu, o Brasil está prestes a de forma modesta ter sua própria versão do Tomahawk, que é o Astros MTC, não é pouca coisa, principalmente tendo-se em conta que a versão caseira tem alcance… Read more »
Sem dúvida um navio poderoso ontem, hoje e sempre.
Caro colega, veja o porte de um navio influência muitos fatores, um navio de porte grande como um cruzador dispõem de uma maior altura para os seus sensores o que garante por sua vez um horizonte maior de detecção por meios próprios e uma maior estabilidade o que facilita a performance dos sensores e favorecer sobre maneira o tiro de suas armas, seja um canhão ou a estabilização de um radar de tiro iluminando o alvo. Além da autonomia no mar como o Nunão comentou. E somente isso já o torna superior em relação a outros menores, mas também oferta… Read more »
Ufa. Escapamos de um belo programa PROVETA.
Serviu mas como laboratório, os aprendizados oriundo dele devem ter sido importantes na construção do USS Enterprise (CVN-65)!
Fabio,
O Long Beach e o Enterprise foram construídos praticamente na mesma época e comissionados com poucos meses de diferença.
É impressão minha ou as torretas que foram instaladas a meia nau são derivadas da classe Fletcher? Linhas muito bonitas mas essa torre…….
Sim, são dos Fletcher.
Galante sempre a postos, muito obrigado. Chamou a minha atenção esse processo de desmonte e reciclagem dessas embarcações. Sei bem que existe uma área num deserto destinada a esses reatores. Poderia ser um tema para uma matéria não? Feliz Ano Novo a todos.
Opa, vamos fazer! Feliz 2020 para todos nós. Abs!
Muito interessante esta matéria porque muitos desconhecem que houveram outros navios nucleares de superfície, além dos porta-aviões.
Aproveito então para lhes pedir um artigo sobre sobre estes navios: Quais foram, que fim tiveram, porque se desistiu desta ideia.
Outro tipo de matéria galante poderia ser uma reportagem sobre os meios navais dos países sul americanos e comparação com o nosso. Abraços
Talvez essa imagem então seja interessante. Mas diz respeito à submarinos:
http://navsource.org/archives/08/100/0857524.jpg
Para bancar o chato, a classe Fletcher, pela sua enorme quantidade, tornaou essas torretas muito conhecidas, quase uma marca registrada. Mas bem antes do primeiro da classe Fletcher (o USS Nicholas) ser comissionado em junho de 1942, essa torreta totalmente fechada e com base anelar já vinha sendo instalada em várias classes anteriores, somando dezenas de contratorpedeiros. Começou com a classe Dunlap comissionada em 1937, e depois os Bagley, Gridley, Benham, Sims, Benson e Gleaves até chegarem aos Fletcher. Sem falar em encouraçados e cruzadores, antes do padrão mudar para o reparo duplo. Haja torreta!
Obrigado pela chatice. Abs!
E por falar em chatice gostaria de sugerir mais uma matéria sobre a evolução e ou transição dos sistemas de lançamento de mísseis de Asroc para os VLS dos Spruance para os Ticonderoga, pode ser? Obrigado mais uma vez.
Roosevelt caso não saiba, a maioria dos “Spruance” tiveram o lançador ASRoc removido e substituído por um VLS de 61 células já que havia reserva de espaço e peso para ele, para mísseis “Tomahawk” e ASRoc de lançamento vertical.
Interessante Dalton. Só não entendi porque não fizeram o mesmo nos primeiros cinco Ticonderoga que deram baixa em pouco tempo.
O MK 41 que é um produto da segunda metade da década de 1970 não estava disponível para os primeiros cinco navios
e até pensou-se em equipa-los mais tarde com ele, mas,
com tantos “Arleigh Burkes” entrando em serviço, não teria valido a pena.
Belo CA-G. Éu vi uma matéria norte americana a respeito desse casco conceito da classe Brooklyn, Cleveland,Fargo,Wichita,Baltimore,Oregon City e Des Moines, que mesmo sendo imune a impactos de projéteis de 20.3cm até 22 mil metros, eles podiam inundar mais fácil do que os cruzadores pesados de 1927 e 1938 em caso de impacto de torpedo, Myoko inundaria 2,000 toneladas, um dos Baltimore durante a guerra da Coréia inundou 4,000 toneladas. Aparentemente a blindagem STS não protegia tão bem contra torpedos quanto a NVNC,KC/A e Krupp Wolfram. Ou seja,os CAs e CLs do tratado ainda eram relativamente melhores que os CAs… Read more »
Isso era um verdadeiro “Monstro dos Mares” ao longo dos seus 33 anos de svc pela US Navy !!!???
Esse navio vi quando na escolta do USS Enterprise em passagem pelo Rio. Só não me lembro o ano. Sds.
Por volta de 1988, 1989… Eu estava na Baía de Guanabara em um Optimist e saí mais cedo para tentar ver o Enterprise, mas não cheguei tão perto quanto eu queria hehehehehe
Sim. Deve ter sido por aí. Obrigado.
Eu tinha 10 anos de idade naquela época, mas ainda me lembro do Enterprise e do Long Beach fundeados na Baía de Guanabara. Dois monstros que impunham respeito em qualquer lugar do mundo.
Corrigindo: 11 anos de idade.
Idem. Tirei uma foto do campus da UFF, só tenho que achar….
1988 – USS Nimitz (CVN 68) e USS California (CGN 36)
1990 – O USS Enterprise (CVN 65) e o USS Long Beach (CGN 9) estiveram no Rio entre 18 e 23 de fevereiro. Estavam em transferência de San Diego – CA para Norfolk VA.
Quanto tempo Zé ! E corrigindo provavelmente um esquecimento seu, que o “Enterprise” esteve baseado em Alameda, onde encontra-se o NAe museu Hornet, enquanto pertenceu à Frota do Pacífico.
.
abraços !
Somente como adendo, o USS Bainbridge DLGN-25 da foto, foi depois corretamente reclassificada de “fragata” para cruzador e virou o CGN-25.
O USS Bainbridge (DLGN/CGN-25) era um projeto derivado dos cruzadores convencionais Classe Leahy, assim como o USS Truxtun (DLGN/CGN-35) era derivado da Classe Belknap. Ambos utilizaram o mesmo tipo de reator nuclear, o D2G, da General Electric (GE). Depois deles vieram os DLGN/CGN Classes California e Virginia, que eram projetos originais de navios nucleares, não variações de projetos de navios convencionais. Os California e os Virginia utilizaram os mesmos reatores D2G do Bainbridge e do Truxtun.
Vulgo Cabeção
Segundo outras fontes o “Long Beach” foi construído com reserva de espaço e peso para 8 mísseis Polaris e não 4, aliás, o cruzador italiano “Giuseppe Garibaldi” da II Guerra que foi completamente modernizado no fim da década de 1950, este sim recebeu 4 lançadores para o Polaris, quando ainda se admitia que mísseis dessa categoria deveriam ser também embarcados em navios de superfície e não apenas em submarinos. . Testes foram feitos na costa leste dos EUA pelo “Garibaldi”, mas, por conta de um acordo com os soviéticos para evitar a proliferação de armas atômicas, os italianos não receberam… Read more »
Gigantesco merito naval.
Mas extremamente desengonçado.
Alvo extremamente alto.
Era um “Zumwalt” à sua época.
Belíssima nave
Diria que não Ricardo, nem mesmo quanto ao tamanho pois alguns cruzadores da II Guerra convertidos para lançar mísseis, como o USS Albany eram impressionantes também, mas, mais importante é que sabia-se exatamente o que fazer com o USS Long Beach , defesa aérea e também como escolta ideal para o USS Enterprise e partiu para sua primeira missão dentro do planejado, 2 anos após ser comissionado. . O “Zumwalt” foi pensado principalmente para ataque terrestre, mas nem mesmo há munição para os 2 canhões principais e apesar de ter sido comissionado em 2016, em 2018, foi retirado da lista… Read more »