Fragatas turcas travam radar de direção de tiro em navio francês
França tacha intervenção turca como ‘extremamente agressiva’ contra missão da OTAN visando armas da Líbia
O Ministério da Defesa da França denunciou na quarta-feira uma intervenção “extremamente agressiva” das fragatas turcas contra um navio da Marinha Francesa que participa de uma missão da OTAN no Mediterrâneo. A Turquia, no entanto, negou as alegações.
Os marinheiros franceses estavam tentando controlar uma carga sob suspeita de que estava levando armas para a Líbia — proibida sob um embargo da ONU.
As fragatas turcas acionaram o radar e miraram três vezes, sugerindo que um ataque de míssil era iminente, disse o Ministério da Defesa da França.
“Este é um ato extremamente agressivo que é inaceitável por um aliado contra um navio da OTAN”, disse à AFP uma autoridade do Ministério da Defesa francês, que não queria ser identificado.
“Consideramos isso extremamente grave”, acrescentou o funcionário. “Não podemos aceitar que um aliado se comporte dessa maneira, que faça isso contra um navio da OTAN, sob o comando da OTAN, cumprindo uma missão da OTAN”.
Em uma declaração forte na quarta-feira, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da França, Agnès von der Mühll, acusou a Marinha da Turquia de agir de maneira “hostil e agressiva” com seus aliados da OTAN para impedir que imponham o embargo de armas da ONU à Líbia. As violações, acrescentou, foram os principais obstáculos para alcançar a paz e a estabilidade na nação do norte da África.
A divulgação do incidente, ocorrida há algumas semanas, ocorreu quando os ministros da Defesa da OTAN mantiveram conversas por videoconferência na quarta-feira.
Turquia nega alegação francesa
A Turquia negou a alegação de que sua marinha assediou um navio de guerra francês em uma missão da OTAN, chamando-a de “completamente falsa”.
Um oficial militar turco disse à Reuters que o navio de guerra francês não estabeleceu comunicação com o navio turco durante o incidente.
“A Turquia está cumprindo suas obrigações como aliada hoje, como sempre”, disse a autoridade. “Nos entristeceu que o assunto tenha chegado a esse estágio”.
As tensões entre os membros da OTAN, França e Turquia, aumentaram recentemente devido a suas políticas rivais na guerra civil da Líbia.
A Turquia apoia o Governo de Acordo Nacional (GNA), reconhecido pela ONU, em Trípoli, liderado por Fayez al-Sarraj. A França, apesar das negações em público, há muito é suspeita de favorecer o comandante rebelde Khalifa Haftar e seu próprio Exército Nacional da Líbia (LNA), sediado no leste da Líbia.
O apoio turco tem sido fundamental para o GNA em impedir um ataque de 14 meses a Trípoli pelas forças de Haftar. Essa ofensiva chegou ao fim no início deste mês, quando o GNA conseguiu recuperar todo o oeste da Líbia.
Nesta semana, Ancara condenou as críticas “inaceitáveis” da França por seus carregamentos de armas e combatentes para o GNA. Paris considera as remessas uma “violação direta” do embargo da ONU.
“Essas ondas de barcos entre a Turquia e Misrata, às vezes escoltadas pelas fragatas turcas, não estão contribuindo para qualquer desescalonamento”, disse o funcionário do ministério francês na quarta-feira.
Autoridades turcas fazem visita surpresa à Líbia
Altas autoridades turcas fizeram uma visita surpresa a Trípoli para se encontrar com os membros do GNA na quarta-feira, incluindo o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, o ministro das Finanças, Berat Albayrak, e o chefe da inteligência Hakan Fidan.
É a delegação mais importante a visitar o país desde que Haftar lançou sua ofensiva em Trípoli em abril de 2019.
As autoridades turcas discutiram os “últimos desenvolvimentos da crise” com o líder da GNA al-Sarraj e os “esforços internacionais para resolvê-la”, informou o GNA em comunicado.
A visita também foi uma oportunidade para discutir “o retorno de empresas turcas” ao país, informou a GNA.
Antes de 2011, as empresas de construção turcas tinham assegurado uma grande fatia do mercado líbio, mas os projetos foram abandonados com a derrubada do líder líbio Muammar Gaddafi.
FONTE: FRANCE 24 com AFP e Reuters