(CNN) – Um submarino nuclear francês severamente danificado pelo fogo no ano passado foi salvo do ferro-velho – sendo cortado em dois e tendo a metade recuperável soldada em parte de outro submarino desativado.

Um intenso incêndio acidental de 14 horas de duração no submarino de ataque Perle, enquanto ele estava em doca seca para reparos, em junho passado, deixou a seção dianteira do submarino inutilizável, de acordo com o Ministério da Defesa francês. Ele sofreu danos estruturais aos componentes de aço que não puderam ser reparados.

Mas a metade traseira do submarino de 73 metros de comprimento, que tem um deslocamento de 2.600 toneladas, não foi danificada durante o incêndio em um estaleiro em Toulon, no sul da França.

Felizmente para a Marinha Francesa, um dos irmãos do Perle, o Saphir, que foi retirado do serviço em 2019, aguardava o desmantelamento em um estaleiro no porto de Cherbourg, no noroeste.

A seção dianteira do Saphir estava estruturalmente sólida, e os oficiais franceses determinaram que poderia ser acoplada à seção da popa do Perle para fazer um submarino de ataque utilizável.

Bombeiros combatendo o incêndio no submarino nuclear Perle em uma doca seca em Toulon em junho de 2020
A proa do Perle danificada após o incêndio

O Perle danificado foi transferido de Toulon para Cherbourg em um navio semissubmersível em dezembro.

Os trabalhadores cortaram o Perle pela metade em fevereiro e fizeram o mesmo com o Saphir em março, de acordo com um comunicado à imprensa do estaleiro francês Naval Group.

No início deste mês, a metade traseira do Perle e a metade dianteira do Saphir foram colocadas em “walkers” no estaleiro de Cherbourg para que pudessem ser cuidadosamente alinhadas e depois soldadas, disse o comunicado do Naval Group.

A porta-voz do Naval Group, Klara Nadaradjane, disse que as obras de junção seriam concluídas nos próximos meses.

O submarino resultante, que ainda será chamado de Perle, será cerca de quatro pés e meio (1,4 metros) mais longo do que qualquer um de seus predecessores para acomodar uma “área de junção” enquanto as milhas de cabos e tubos que percorrem o submarino serão emendadas, disse o comunicado.

A área de junção também fornecerá espaço para novos alojamentos, adicionando um pouco de espaço para a tripulação de 70 submarinistas.

SNA Perle
SNA Saphir, retirado de serviço em 2019

Modelagem digital
Todo esse trabalho será ensaiado usando um modelo digital tridimensional antes de ser tentado a bordo do submarino, disse o Naval Group.

A tarefa envolve 100.000 horas de estudos de engenharia e 250.000 horas de trabalho industrial para 300 pessoas, informou.

Nadaradjane disse que os regulamentos do setor não permitiam que a empresa fornecesse um custo para a operação.

O Perle, comissionado em 1993, era o mais novo dos seis submarinos nucleares da classe Rubis da frota francesa. O Saphir, o segundo barco da classe, foi comissionado em 1984, servindo 35 anos antes de seu descomissionamento.

Os submarinos da classe Rubis devem ser substituídos nos próximos anos pelos novos submarinos nucleares Barracuda, o primeiro dos quais, o Suffren, foi entregue à Marinha Francesa em novembro. Mas não se espera que o sexto submarino Barracuda se junte à frota até 2030, então o Perle meio a meio será necessário para manter o número de submarinos de ataque francês nos seis exigidos, de acordo com o Naval Group.

Franck Ferrer, diretor de programas da Divisão de Serviços do Naval Group, disse em janeiro que o novo Perle deverá ser transferido de volta para Toulon no final deste ano para mais trabalho técnico e atualizações em seus sistemas de combate antes de entrar na frota francesa no início de 2023.

“Realizar este tipo de projeto nessas circunstâncias, ou seja, o trabalho de reparo que envolve a junção das extremidades da proa e da popa de dois navios irmãos, é obviamente uma primeira vez na história moderna do Naval Group”, disse Ferrer.

Construção submarina moderna
Mas a operação de junção não é o primeira desse tipo.

“A Marinha dos Estados Unidos fez algo semelhante ao substituir a proa do USS San Francisco danificado, que encalhou em um monte submarino perto de Guam em 2005, pela proa do USS Honolulu, que deveria ser aposentada”, disse Thomas Shugart, comandante reformado de um submarino de ataque da Marinha dos EUA.

E esse tipo de reparo começou do zero, disse ele.

“Com certeza daria muito trabalho, mas provavelmente muito menos do que construir um submarino totalmente novo”, disse Shugart, agora membro do Center for a New American Security.

Shugart disse que a atual construção de submarinos faz essencialmente o que os franceses estão fazendo agora no estaleiro de Cherbourg.

“Todos os submarinos americanos de construção nova são agora construídos usando construção modular, que consiste essencialmente em juntar peças do submarino, embora claramente de uma forma mais planejada do que no caso deste submarino francês reparado”, disse ele.

O renascimento do Perle é certamente um resultado melhor do que o experimentado por outro submarino danificado pelo fogo, o USS Miami.

Incendiado por um trabalhador descontente do estaleiro enquanto passava por reparos em Portsmouth, Maine, em 2012, o Miami teria custado muito para retornar ao serviço e foi descartado.

FONTE: CNN

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Esteves

Quem é bom de solda não deixa submarino afundar. Nem entrar água.

camargoer

Ola Esteves; Sobre o acidente com o S40, não acredito que o problema tenha sido algum vazamento. Pensei em três hipóteses. 1. erro do operador (nunca se deve descartar erros na operação). 2. falha no software de controle. 3. falha mecânica/elétrica no comando das válvulas. Aliás, é possível uma combinação dos problemas 2 e 3.

Esteves

Sim Mestre Professor. Bom relê-lo.

Aquela quantidade de placas soldadas…aquela área toda coberta com centenas de chapas…a FREMM também.

Falha de operação é grave. Falha no adestramento/aprestamento. No mar distante o que teria acontecido?

Fico com trinca nas soldas.

camargoer

Olá Esteves. Também é sempre bom saber que você está bem. Tempos difíceis. Torço para que o S40 esteja bem e seja incorporado dentro do prazo. Estamos carentes de boas noticias.

Esteves

Seções do S80. Menos soldas.

Mestre, notícias boas…notícias boas…li que na Áustria morreu 1 nesse ano de COVID.

Um.

camargoer

Olá Esteves. Na cidade onde moro, foram 4 óbitos por Covid nas últimas 24 horas. Neste momento, temos 1 morte para cada 570 brasileiros. Tempos difíceis.

Esteves

O prefeito aqui mandou distribuir o kit. O presidente de 1 sindicato de médicos fez 1 pesquisa por telefone…por telefone e…divulgou que o kit é seguro. Salva vidas.

O MP cassou o kit, a prefeitura suspendeu a publicação e a divulgação mas a distribuição segue nos postos e hospitais.

Tempos difíceis e gente horrenda. Shiva nem chegou e já estamos fazendo o trabalho dele.

camargoer

Olá Esteves. Creio que o correto seja escrever “QUIT” ao invés de “KIT”. Tristes tempos de gente horrenda.

Esteves

Seções maiores.

camargoer

Olá MK48. Obrigado pelo link. Impressionante. Achei curioso uma das conclusões que se fosse um problema de falha nas soldas, o S40 teria sido suspendido e recolhido para a oficina. Se ele permaneceu atracado é porque não tem vazamentos e a origem do acidente foi outra.

Parabellum

Gamagrafia, essa é a tecnica de radiografar todas as soldas utilizando uma fonte radioativa. Bem simples e segura. Certeza que não foi problema na solda.

Esteves

Antecipadamente antes da divulgação será sempre especulação.

Soldagem subaquática em instalações de gás e petróleo são fatos corriqueiros.

O link reproduz o que se divulgou aqui. Nada novo.

Filipe

Ainda bem que estamos aprendendo com os mestres franceses.

Agressor's

O brazileiru nunca aprende nada, “filipe”. Um exemplo que ilustra bem isso é de como sempre votam aqui nas mesmas pessoas, com as mesmas ideias! rs

camargoer

Olá Colegas. O Suffren já havia sido descomissionado. Talvez após o longo tempo de operação, o seu reator não oferecia mais condições de segurança. Caso contrário, teria sido mais simples modernizar o Suffren e coloca-lo no lugar do ex-Perle. Outra alternativa, teria sido simplesmente adiantar a construção de um novo submarino, mesmo que ás custas da marinha francesa operar 5 submarinos por alguns anos (eu teria apoiado essa opção). De qualquer modo, é uma operação sensacional esta que os franceses estão fazendo.

Esteves

Sem dúvida. Palmas para a metalurgia.

camargoer

Olá MK48. De fato, inclusive o texto menciona este caso, mas ela continua sendo bem complexa e delicada. A junção das partes de dois submarinos francesas pode não ser inédita mas é rara (tanto que há o caso do USS San Francisco mas não lembro de um terceiro caso), Um fator que pesa favoravelmente á decisão de reparar o submarino com a seção de outro descomissionado é a existência de um reator operacional.

camargoer

Olá MK48. Combinado. Que seja breve.

camargoer

corrigindo… que SEJA EM BREVE… riso… mas que seja longo.

pangloss

Parabéns aos franceses, realmente impressionante.
Mas… ainda bem que eu não sou submarinista francês, e portanto não corro o risco de embarcar nesse frankstein.

Dod

Contemplem o poder da solda, muahuahuah

camargoer

Olá Dod. Por sorte, o Suffren ainda estava inteiro. Acho que a solda das duas seções é o menor dos desafios. Creio que a Naval terá que reconstruir todo o interior da proa, refazendo as instaçãoes de elétrica e hidráulica, novas válvulas, bombas, sensores, etc. Ainda assim, menos trabalho que construir um submarino do zero.

Marcelo Baptista

Também não será fácil garantir o correto alinhamento das 3 secções.

3? Sim.
Proa do Suffren
Trecho adicional de 1,4m.
Popa do Perle

Guacamole

É tipo, pegar duas metades de baguetes diferentes e tentar emendar eles com maionese.
Só o futuro vai dizer se isso foi uma boa ideia.

camargoer

Caro Guacamole. A solda é mais resistente que o aço. Uma ruptura ocorre no aço, nunca na solda. A maionese é mais fraca que a baguete. Talvez seja mais apropriado imagina duas metades de baguetes sendo emendadas com superbonder. Caso ocorra uma fratura, vai ser na baguete da frente ou de trás, nunca na emenda.

Esteves

Sim. A solda pode conter rupturas. Tem matéria aqui sobre submarinos americanos com problemas nas soldas.

O IPEN produz gerador de tecnecio 99. Para contraste em medicina nuclear. Também tem aplicação industrial como pesquisar a existência de trincas em soldas.

A causa maior das trincas são os gases.

camargoer

Olá Esteves. Concordo com você que uma solda mal-feita é um ponto de fragilidade. Imagino que os franceses saibam fazer boas soldas. Assim, considerando que as seções do submarino foram bem e corretamente soldadas, acho que se existirem problemas no novo-Perle, creio que não serão nas soldas.

Esteves

Sim. Pode acontecer por falha na inspeção. Vamos lembrar que é o primeiro submarino. A solda foi bem feita, mas o hidrogênio submetido a altíssima temperatura, transforma-se. Lembro de um caso em que o IPT pediu ajuda ao IPEN. Era um prédio se a memória não falha em Santos. Não tem nada com soldagem de arame, mas usaram a competência do IPEN para detectar as trincas. Putz…outra vez uma Kombi passou pela portaria com um gerador de tecnecio e…o castelo de chumbo Estava trincado. Outra…não é do tempo de Mestre Camargo (belo nome…emociono-me quando recordo dos meninos MMDC)…o episódio dos… Read more »

Gabriel BR

Pensa no peso da responsabilidade…engenharia francesa de altíssimo nível !

Joli le Chat

Que maravilha ter capacidade de engenharia para fazer um trabalho assim.

Carlos Campos

Qual tipo de aço é usado para fazer submarinos, e o aço usado no nossos Scorpenes são feitos aqui mandados da França?

Esteves

PN 12/06/2018

“Todo aço utilizado na construção do casco de pressão dos S-BR é fornecido pela ArcelorMittal, uma empresa belgo-francesa que produz ligas metálicas para diversas aplicações, incluindo cascos de pressão para submarinos. A Marinha do Brasil recebe as chapas planas e posteriormente elas são cortadas, conformadas e finalmente soldadas.

O tipo do aço empregado no SBR é o 80 HLES (Haute Limite Elastique Soudable).”

Existe vasto material sobre o PROSUB no buscador do site.

Alex Barreto Cypriano

Junta uma guimba com outra e você tem um bagulhao inteiro. Sem novidades. Resta saber se vai funcionar direito: sabe, apesar da seção de junção de quatro pés, algo pode dar errado. Não que eu esteja torcendo contra…

John Paul Jones

Caramba, isso me cheira a Gato ….

Miau ….

Espero que dê certo !!!, certa vez em um reparo polêmico na MB os Engenheiros e Técnicos do AMRJ se recusaram a participar das Provas de Mar (IGP, Imersão a Grande Profundidade) de um Classe Humaitá, foi uma avalanche de dispensa médica … kkkk

Eu se fosse um Corsário SB só mergulharia com os soldadores a bordo !!! kkkkk

Jean Jardino

Fico impressionado com a quantidade de especialistas que aparecem aqui, são doutores no assunto, eu acho que a Naval Group deveria vir pesquisar aqui nos comentários os próximos especialistas em construção naval a serem contratados, estão perdendo grande oportunidade. Impressionante.

Esteves

Junte-se aos bons.

Jean Jardino

Ja me juntei, ja trabalho em uma gigante europeia, na Airbus aqui em Bristol, na Inglaterra onde moro, mas gosto de passar por aqui e ver as asneiras que o povo escreve, me divirto.rissssssssss

Last edited 3 anos atrás by Jean Jardino
Esteves

Se o pouco que leu já o divertiu…quando aprender a escrever vai ficar melhor.

Juarez

Ótimo que você esteja na Airbus, vamos te mandar a conta dos checks adicionais e das inspeções nas transmissões dia EC 225. Vamos ver se do alto da tua empafia e da tua arrogância tu acha uma solução para o problema

Juarez

Pois e, se o naval group fosse está cereja dourada, a US Navy não precisaria remendar aquela bosta de FRM com mais 700 tons. de reforços estruturais para o caso de levar um 76mm pelos costados e ir fazer companhia para o Titanic.
Pega esse teu ego de francês fedorento e e enfia naquele lugar seu monte merd…..

Esteves

Não se irrite. São nicks do mesmo chato…M isso, M aquilo, F…

Quem perde tempo no computador criando nicks para dizer que está em Bristol…quem? O negativador de plantão.

Larga disso Mk.

Last edited 3 anos atrás by Esteves
Flanker

Eu não tenho nada a ver com a briga de vcs….mas, vc vai processar quem? Um nick de forum de internet que falou coisas sobre outro nick de forum de internet??? Ele ofendeu vc …..vc é um nick homônimo de um torpedo pesado de fabricação norte-americana? Ou vc é uma pessoa não identificada aqui e que ninguém sabe quem é? Se vcs dois estivessem usando os nomes verdadeiros de vcs, aí a coisa mudaria completamente de figura……Mas, é apenas minha opinião…..como eu disse antes, não tenho nada a ver com a briga de vcs dois.

Last edited 3 anos atrás by Flanker
Flanker

Olá, Mk.. ..sou de Santa Maria, não de POA. Abs

Joli le Chat

Jean, também acho impressionante…

AriB

Mais um produto nacional exportado com sucesso : gambiarra !

Alison

Que negócio foda veio! Ai sim! Tão de parabéns!