HMS Hermes

Quando os navios de guerra britânicos navegaram apressadamente para o sul no início do conflito das Malvinas em 1982, vários deles carregavam bombas nucleares de profundidade, como seus porta-aviões e navios de guerra antissubmarino (ASW).

A Marinha dos Estados Unidos já havia experimentado a dificuldade de ter armas nucleares ASW a bordo de navios que estavam envolvidos em um conflito convencional.

Em 25 de março de 1967, o destróier USS Ozbourn (DD 846) estava operando com tropas amigas enquanto navegava a duas milhas da costa sul vietnamita quando o navio foi atingido por três tiros de morteiros inimigos.

O paiol de forguetes ASROC do navio foi atingido e dois motores de foguetes foram acionados, envolvendo o paiol em chamas. A tripulação do destróier inundou o paiol para extinguir o fogo e desmontou os foguetes ASROC com cargas nucleares armazenados no paiol. O Comandante da Sétima Frota, rapidamente ordenou que os navios portadores de armas nucleares fossem retirados das missões de apoio de fogo costeiro.

Destróier Type 42 HMS Sheffield, logo depois do impacto do míssil Exocet AM39 lançado por um Super Étendard da Armada Argentina

Durante o conflito das Malvinas de 1982, vários navios britânicos foram afundados; pelo menos dois foram relatados pela imprensa e, posteriormente em sites da Web, que haviam afundado com armas nucleares a bordo.

Os navios mais mencionados como tendo afundado com “armas nucleares” foram o destróier HMS Sheffield, devastado pelo fogo após ser atingido por um míssil Exocet e afundado enquanto estava sendo rebocado, e o destróier HMS Coventry, que afundou em águas rasas após ser atingido por várias bombas.

O moderno destróier britânico HMS Coventry, Type 42, adernado, depois do ataque de duas levas de jatos A-4B Skyhawk do Grupo 5 da Força Aérea Argentina. O navio foi atingido por três bombas de 250kg, sendo que duas explodiram provocando violento incêndio e embarque de água. O navio emborcou 20 minutos depois do ataque e afundou logo em seguida. 19 membros da tripulação perderam a vida e 30 saíram feridos.

Mas nenhum dos navios, de fato, carregava armas nucleares na época. Embora antes eles tivessem guardado “munição de treinamento” de bombas nucleares de profundidade. Essas munições de treinamento inertes não continham material fissionável – isto é, não eram armas nucleares verdadeiras – e até mesmo haviam sido removidas do Coventry e do Sheffield antes dos navios entrarem em combate.

Helicóptero Wasp com uma bomba de profundidade nuclear WE177C
Helicóptero Wasp com uma bomba nuclear de profundidade WE177C

Enquanto a força-tarefa britânica navegava para o sul em direção às Malvinas na primavera de 1982, apenas os porta-aviões HMS Invincible e HMS Hermes e as fragatas HMS Brilliant e HMS Broadsword transportavam bombas nucleares WE177C, extraoficialmente estimadas em armas de dez quilotons. (Os submarinos britânicos nunca transportaram torpedos nucleares, ao contrário dos submarinos soviéticos e americanos).

Um relatório do governo britânico sobre as armas nucleares na força-tarefa enviada às Ilhas Malvinas/Falklands revela que os navios britânicos originalmente embarcavam cerca de 30 armas nucleares de um estoque total estimado de 43 bombas nucleares de profundidade WE177C da Marinha Real.

Dos navios que navegaram para o sul para a Operação Corporate, o HMS Hermes carregava aproximadamente 40% de todo o estoque britânico de bombas nucleares de profundidade e o HMS Invincible tinha a bordo cerca de 25% – ou seja, cerca de 16 e 10 armas, respectivamente. As fragatas HMS Brilliant e HMS Broadsword tinham quatro armas nucleares entre elas. Todos as WE177s deveriam ser lançadas pelos helicópteros ASW embarcados.

HMS Invincible
HMS Invincible

A HMS Brilliant transferiu suas armas nucleares para um navio de reabastecimento em 16 de abril e a HMS Broadsword em 20 de abril. A HMS Brilliant sofreu pequenos danos de tiro de canhão de uma aeronave argentina em 21 de maio, quando carregava uma munição de treinamento inerte. Este foi o único navio a sofrer ação de dano de combate portando algum tipo de “artefato nuclear”.

Os destróieres e fragatas transferiram suas WE177s de 600 libras, bem como munições de treinamento inertes, para os navios de reabastecimento da Marinha Real, RFA Fort Austin, Regent and Resource. O porta-aviões HMS Invincible transferiu suas armas nucleares para o Fort Austin em 2-3 de junho e o HMS Hermes passou suas armas nucleares para o Resource em 26 de junho para retornar à Grã-Bretanha (O Fort Austin retornou à Grã-Bretanha em 29 de junho, assim como o Resource em 20 de julho).

A remoção das armas nucleares das duas fragatas, bem como as transferências entre os navios de transporte e de reabastecimento, foram feitas por “jackstay” – isto é, equipamento de reabastecimento em andamento. Após seu retorno à Grã-Bretanha, todas as armas foram examinadas e consideradas seguras e utilizáveis.

HMS Brilliant

O governo britânico apresentou várias razões para a remoção das armas nucleares dos navios de superfície. Em conexão com essas razões, o governo declarou claramente no Parlamento “que não havia qualquer dúvida sobre o uso de armas nucleares na disputa das Malvinas”. As razões para remover as armas nucleares foram várias – e instrutivas no que diz respeito à colocação de armas nucleares em navios de superfície:

  1. O Governo não queria que navios com armas nucleares entrassem nas águas territoriais ao redor das Ilhas Malvinas ou da Geórgia do Sul, pois isso seria uma violação do Tratado de Tlatelolco que estabelece a América Latina como zona livre de armas nucleares.
  2. Embora não houvesse possibilidade de detonação nuclear caso um navio portador de armas nucleares fosse danificado, havia o risco de contaminação radioativa se o invólucro da arma fosse rompido por danos em combate.
  3. Era concebível – embora improvável – que uma arma nuclear pudesse cair nas mãos dos argentinos se um navio britânico com uma arma a bordo fosse afundado, encalhado ou capturado.
  4. O naufrágio de um ou dos dois porta-aviões seria uma grande perda para o estoque britânico de armas nucleares ASW.

Ao mesmo tempo, a transferência de armas nucleares dos navios também poderia ter causado dificuldades:

  1. O principal argumento contra sua retirada era o atraso que causaria na chegada dos navios de guerra ao Atlântico Sul. Uma escala de 24 horas foi planejada para reabastecer os navios em Ascensão. Mais 36 horas seriam necessárias para descarregar as armas nucleares de helicóptero, já que não havia instalações de cais adequadas em Ascension.
  2. Se as armas fossem removidas em Ascensão – que não tinha instalações de armazenamento adequadas nem disposições de segurança – haveria um risco significativamente maior de sua presença em navios britânicos se tornar conhecida porque as transferências seriam visíveis para qualquer pessoa na força-tarefa ou na ilha.
  3. Foi considerada a possibilidade de, durante a operação nas Malvinas, se desenvolver um estado de tensão com a União Soviética. A remoção das armas tornaria a redistribuição dos navios para tarefas da OTAN dependente do recarregamento das armas nucleares.

As bombas nucleares WE177 foram retidas em navios de guerra britânicos até 1993. As variantes da RAF dessas armas foram retiradas de serviço em 1998.

Isso deixou os mísseis estratégicos Trident nos quatro submarinos de mísseis balísticos da Grã-Bretanha como as únicas armas nucleares do país.

FONTE: Hunters and Killers Volume 2: Anti-Submarine Warfare from 1943, Norman Polmar and Edward Whitman

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