Um acordo de submarino nuclear com a Austrália que a China realmente respeitaria
Por John G. Ferrari e William C. Greenwalt
Por que nós nos EUA, como nação, sabotamos repetidamente nossos próprios planos desde o início? Nunca aprendemos com o Iraque e o Afeganistão que anunciar aumentos de tropas, retiradas ou prazos artificiais enfraquece nossos objetivos, sinalizando efetivamente para nossos inimigos que eles podem apenas nos esperar. A administração Biden parece estar repetindo o mesmo plano de jogo com o recente anúncio do acordo do submarino nuclear AUKUS com a Austrália e o Reino Unido.
Depois de uma implementação extremamente bem-sucedida do plano para equipar a Marinha Australiana com submarinos com propulsão nuclear, que foi brilhante em design e uma ousada vitória de sinalização estratégica, vem a recente declaração do almirante Michael Gilday, chefe de operações navais: “Este é um esforço de muito longo prazo que levará décadas, eu acho, antes que um submarino vá para a água.” Foi como puxar o tapete debaixo de nossos próprios pés, para não mencionar nossos aliados.
Com efeito, anunciamos uma grande mudança de poder no Pacífico, mas seguimos o anúncio com uma garantia à China de que levará décadas (observe o plural) antes que a mudança se estabeleça. A mensagem para a China é clara: se você vai causar problemas, faça-o mais cedo ou mais tarde. Cada vez mais se ouvia o ar saindo do balão à medida que o almirante falava.
Gilday está correto em um sentido: se seguirmos todos os nossos processos burocráticos atuais e construirmos um novo projeto de submarino, isso levará décadas. Isso vai sinalizar para a China que não estamos falando sério e dar-lhes a oportunidade de mudar o cálculo estratégico muito antes disso. Em vez disso, o que aconteceria se o almirante tivesse dito que o primeiro submarino nuclear estará nas mãos da Marinha Australiana antes do final do primeiro mandato do governo Biden e um total de oito submarinos australianos estará na água uma década antes do que as práticas atuais permitiriam?
Então, como isso pôde acontecer? O primeiro passo é começar a se mover agora. Nos próximos meses, os australianos precisam ser enviados para a escola ou, mais especificamente, para a Escola de Energia Nuclear do Comando de Treinamento de Energia Nuclear Naval dos EUA. Após a formatura, esse pessoal alistado deve completar seu treinamento a bordo de submarinos operacionais dos EUA.
Depois de treinar um quadro de australianos, e em vez de desejar uma nova classe de submarinos de papel, devemos emprestar aos australianos um ou dois dos nossos submarinos operados por equipes mínimas. Tudo o que temos a fazer é olhar para trás e olhar para o “lend-lease” durante a Segunda Guerra Mundial para ver que não há nada de novo nessa abordagem. Se o presidente Kennedy pode se comprometer a colocar um homem na lua dentro de uma década, certamente podemos descobrir como colocar um submarino nuclear sob o comando de um australiano, com uma tripulação conjunta dos EUA e da Austrália, enquanto este governo estiver no cargo.
Mesmo assim, isso ainda não aumentaria o número de submarinos nucleares em patrulha na Ásia. A maneira mais rápida de fazer isso seria estender a vida útil dos submarinos atuais da classe “Los Angeles” ou da classe “Trafalgar” britânica e transferi-los para os australianos até que novos submarinos possam ser construídos. Aqui, os números são importantes. Não aposentar esses submarinos e adicioná-los à mistura total alteraria imediatamente a condição estratégica da China no Mar do Sul da China.
Finalmente, a questão da construção de novas capacidades pode ser abordada. De acordo com os atuais cronogramas de aquisição nos Estados Unidos, o primeiro novo submarino nuclear australiano, com otimismo, não seria entregue até 2038. É tarde demais para lidar com a mudança no equilíbrio de poder. Pairando sobre a futura cooperação AUKUS está a fragilidade da atual base industrial submarina dos EUA. Ela é esticada à medida que aumenta para construir dois submarinos da classe Virginia por ano, além de, eventualmente, construir a classe Columbia. O medo é que os australianos tenham que esperar na fila.
Felizmente, este não é o caso no Reino Unido, onde o programa do submarino da classe “Astute” está sendo encerrado. Faz todo o sentido estender essa linha de produção para que os australianos possam comprar o próximo “Astute” que pode ser construído após o pedido atual do Reino Unido. Isso pode ocorrer potencialmente em 2028, com um novo submarino entregue a cada dois anos para substituir os submarinos temporários. O planejamento de acordo com os processos de aquisição tradicionais poderia então começar em um novo projeto de submarino para entrega após 2040.
Temos certeza de que a Marinha dos Estados Unidos pode apresentar 100 motivos para não fazer nada disso – e alguns deles, aparentemente, podem parecer válidos. Mas agora não é hora de fugir do risco. Estamos em um período de vulnerabilidade estratégica com a China. Eles acreditam que estão ascendendo, e precisamos colocá-los no chifre dos dilemas estratégicos agora, não daqui a duas décadas.
John G. Ferrari, major-general aposentado do Exército dos EUA, é membro sênior não residente do American Enterprise Institute (AEI), ex-diretor de análise e avaliação de programas do Exército e diretor financeiro da QOMPLX.
William C. Greenwalt é um membro sênior não residente da AEI, um ex-subsecretário adjunto de defesa para política industrial e fundador do Grupo de Defesa do Vale do Silício.
FONTE: The Hill
Afinal, a Austrália vai comprar o ASTUTE? Na minha cabeça faz todo o sentido comprar o Astute, inclusive com os primeiros 4 sendo construídos no Reino Unido e os últimos 4 na Austrália (até todo lá estar pronto). Parece uma solução bem fácil!
Dependendo da grana gasta e as questões politicas…
A Classe Astute é a mais adequada para a Austrália, dado que a Classe Virgínia tem foco na projeção de força sobre terra e operações que a Austrália não desempenha e nem desejará fazê-lo. Um caçador-matador de submarinos é o que eles precisam e como dito no texto, o cronograma para um Astute australiano seria mais lógico que realmente ficar esperando e operando plataformas que terão de ser trocadas. O Astute marsupial poderia já dispor de mudanças para se adequar às operações no continente distante. Mas, se fosse o caso, da França? O problema seria a política de Paris. Talvez… Read more »
Sobre a ilustração da matéria: primeira vez que vejo calado medido em toneladas… não seria deslocamento? 😀
Você está correto. O deslocamento é medido em toneladas, e o calado, em metros ou pés, dependendo do país!
Em menos de uma década será ‘game over’ para os EUA na Ásia.
E não me refiro apenas à questão militar, mas, principalmente às questões econômica e política.
Do ponto de vista pragmatico…tem muita logica
Desde a divulgação desse AUKUS eu já saquei qual era o objetivo final dos EUA. Primeiro, usar a Austrália como bucha de canhão e primeiro alvo da China contra a elite anglo-saxã.(Os EUA tem pesadelo de uma guerra perto do seu quintal, quanto mais longe melhor, para isso é necessário ter os peãos sacrificaveis, leia- Japão, Austrália e possivelmente a Índia no futuro caso Modi não abandone sua vassalagem). Segundo, extrair mais concessões e dinheiro da Austrália ao longo de décadas até os sub chegar ir para as águas, se chegar. Terceiro, quebrar a então boa relação economica e diplomatica… Read more »
Onde que o Modi é vassalo? O cara passa pano para brutalidade com grupos não hindus. É nacionalista e considerado por algubs de Direita. Mandou os EUA enfiarem o Caatsa no rabo e vão ter S400. Entre outras coisas.
O que tem a ver ser nacionalista? A maioria dos lideres de grandes nações são nacionalistas. Considerado por alguns de direita? Também não entendi, isso é um privilégio ou torna alguém mais poderoso? Não creio, a direita quase sempre foi liderada do que liderou, basta ver os aspectos fundamentais da sociedade ocidental, quase toda dominada pela esquerdalha. Em relação ao Modi ser vassalo, ainda não é um vassalo completo mas já mostra sinais ao quebrar a neutralidade da política externa indiana e abraçar a ideia do fantasma comunista. Eu realmente espero que o Modi receba em troca muita transferência de… Read more »
Aí é que está a Índia não está em uma aventura. Se eles mostrarem fraqueza vão ser trucidados e ter que baixar a cabeça.
O Modi está confiando nos países que trucidaram a Índia e os indianos no passado.
É um movimento perigoso e para compensar a Índia deve receber muito em troca, mas até agora não vi muito retorno.
“Terceiro, quebrar a então boa relação economica e diplomatica entre China e Australia para prejudicar a economia chinesa mesmo que isso custe também a economia Australiana.” (Sic). Essa relação econômica já foi “quebrada”, a Austrália não sofreu nenhuma recessão em sua economia nas últimas 3 décadas, foram todos esses anos de crescimento ininterruptos, apesar das crises em seu entorno, como a do continente asiático na década de 90, a bolha imobiliária japonesas na mesma década, entre outras de menos ou mais monta. Toda essa bonança foi propiciada pela venda de suas commodities, principalmente para a China acrescida do incremento cultural… Read more »
Melhor seria os Astutes. Fica pronto mais rápido. O Land Lesse seria perfeito. O problema é que mesmo com tudo isso a China vai continuar seu ritmo. Taiwan continuará com o risco de ser tomada com Austrália tendo sub nix ou não. O mar do Sul China vai ser explorado pela china como ele quiser. A não ser que realmente aja uma guerra duvido que os EUA coloquem o pescoço deles no caminho da lâmina por Taiwan. E quanto a escudo de silício o PCC já matou milhões só para acabar com a burguesia. Perder uns bilhões de dólares não… Read more »
Nada como a realidade, esta chata incomôda , para apontar como as coisas serão na verdade. Décadas de espera e rios de dinheiro para a Austrália poder operar submarinos nucleares.
Prezado Zeus Fui um dos primeiros a comentar a aqui a ‘furada’ para a Austrália de entrar nessa aliança. Primeiro que é um País relativamente pequeno em potencial humano e econômico e poderia até ter dificuldade em manter esses subs. Segundo, que é um País dependente de exportação de produtos primários e muito dependente dessa exportações para a própria China. Agora, com a perspectiva dessa demora na entrega, se ocorrer, encontrará uma China muito mais poderosa que hoje tanto militarmente como econmicamente. Mantido os índices atuais, a economia chinesa (em PPC) deverá ser mais que o dobro da americana em… Read more »
Número 1 : Austrália foi quem modificou e precisou de um acordo mais forte. Está ação foi a Austrália que puxou. Número 2 : a China precisa das commodities. Inclusive a China estava chantageando a Austrália e colocou tarifas em várias produtos Austrálianos, mas que agora a mesma China com a crise energética jah acenou a necessidade de comprar da Austrália. Número 3 : para ser a maior economia do mundo, com o perfil ruim de acesso a raw materials, a interdependência da China com vários países um requerimento. A China não crescerá sem comércio com o mundo. A China… Read more »
”Número 1” Não, a Austrália não precisa de um acordo mais forte, a Austrália com subs nucleares apenas vai queimar mais dinheiro. Não fará nenhuma diferença numa guerra contra a China, pelo contrário, será o primeiro país anglo-saxão a ser alvo direto dos misseis chineses e invasão. ”Número 2” Quem vende commodities precisa vender, não tem essa de A é mais dependente de B ou vice versa, a dependência existe dos dois lados, e nesse cenário o maior rival do Brasil é os EUA, não a China. ”Número 3” ”Perfil com ruim acesso a raw materials?” Você por acaso sabe… Read more »
Os próprios australianos se sentem inseguros e desejam reforçar defesa de seu território. E sabem que não tem como gastar $ com China. Qual caminho mais curto: sub nuclear ou bomba nuclear. Você precisa seguir a imprensa australiana e eles mesmos estão dispostos a sacrificar ganhos financeiros para proteção deles. A linguagem beligerante tem sido da China. Quem está causando insegurança no oriente eh a própria China. E a China que irá não receber os produtos em caso de guerra. Estude a balança comercial da China e por ali você identifica as fraquezas gritantes deles. Se você sentar com um… Read more »
Não se constrói uma capacidade de operar meios nucleares da noite para o dia. O texto é bem claro em expor os desafios gigantescos que isso representa. E nem precisamos ir muito longe para entender isso: basta olhar o esforço hercúleo que a MB está fazendo para ter o seu SSN, onde estamos desenvolvendo tudo do zero, e sempre tendo como inimigo principal, a crônica falta de verbas! A Austrália terá sérios problemas para alcançar esse objetivo, sendo o principal deles, o aumento significativo do orçamento militar, e com certeza, para que isso aconteça, alguma outra área sofrerá cortes de… Read more »
O nosso problema não é falta de verbas, nunca foi.
O problema foi sempre, e sempre será no nível politico.
Estou surpreso que num governo subserviente como o atual ainda não minaram de vez o programa nuclear da MB.