Guerra das Malvinas/Falklands – 40 anos
O conflito ocorrido há 40 anos no Atlântico Sul entre a Argentina e a Grã-Bretanha marcou a memória da geração que acompanhou o noticiário pela TV e mídia impressa da época, com a estreia de várias novidades tecnológicas: o primeiro afundamento de um navio de guerra por submarino de propulsão nuclear nuclear, mísseis antinavio Exocet lançados do ar, o primeiro avião de combate naval de decolagem e pouso vertical Sea Harrier etc.
A Guerra das Malvinas/ Falklands trouxe muitos ensinamentos sobre o emprego do Poder Naval e Poder Aéreo e, posteriormente, provocou mudanças estratégicas e táticas, influenciando os projetos de navios, aeronaves e sistemas de armas em todo o mundo.
Contexto
As raízes do conflito remontam à independência da Argentina da Espanha, no início do século XIX.
Em vários momentos da história das ilhas houve assentamentos da França, Espanha, Argentina e Grã-Bretanha, esta última reestabelecendo seu domínio a partir de 1833, com a expulsão de colonos argentinos. Desde então, as ilhas continuaram a ser reivindicadas pela Argentina.
Histórico de avistamentos e colonização das ilhas:
- 1592 – Avistamento pelo capitão Davis britânico;
- 1600 – Registradas pelo holandês Sebald de Weert;
- 1690 – Desembarque britânico pelo capitão Strong;
- 1764 – Primeiro assentamento francês pelo capitão Bougainville;
- 1765 – Desembarque britânico pelo capitão pelo capitão Byron;
- 1766 – Primeiro assentamento britânico pelo capitão MacBride;
- 1767 – Assentamento francês cedido ao controle espanhol;
- 1770 – Espanha expulsa colonos britânicos;
- 1771 – É permitida a volta dos britânicos, mas a Espanha tem a soberania;
- 1774 – A colônia britânica é abandonada;
- 1820 – A recém independente Argentina toma possa das ilhas;
- 1831- Os EUA declaram as ilhas “livres de governo”;
- 1833 – Os britânicos tomam posse das ilhas;
- 1842 – Grã-Bretanha declara administração colonial.
Após anos de discussões entre a Argentina e a Grã-Bretanha sobre quem deveria ter a soberania sobre as ilhas, forças argentinas desembarcaram nas Malvinas/Falklands no dia 2 de abril de 1982.
A ocupação, que já vinha sendo planejada pela Junta Militar Argentina há algum tempo, era prevista para ocorrer entre julho e outubro de 1982.
Mas um acontecimento acabou antecipando os planos: em 19 de março, um grupo de comerciantes argentinos de sucata (que haviam sido infiltrados por fuzileiros navais argentinos) levantou a bandeira argentina na Ilha Geórgia do Sul, um ato que mais tarde seria visto como a primeira ação ofensiva na guerra.
O navio de patrulha de gelo HMS Endurance da Marinha Real foi despachado de Port Stanley para a Geórgia do Sul no dia 25 em resposta.
A Junta Militar Argentina, suspeitando que o Reino Unido poderia reforçar sua presença no Atlântico Sul, ordenou que a ocupação das Ilhas Malvinas fosse antecipada para 2 de abril.
O governo argentino esperava que a ocupação fosse recebida pelos britânicos como fait accompli e a questão fosse resolvida por vias diplomáticas.
Os últimos cortes orçamentários na Defesa britânica, com cancelamentos de projetos e desativações planejadas de navios importantes podem ter enviado uma mensagem errada à liderança argentina de que não haveria reação.
No entanto, o governo britânico conservador de Margaret Thatcher (eleita em 1979), conhecida como Dama de Ferro, respondeu com firmeza ordenando primeiramente o envio de submarinos de propulsão nuclear para impor uma zona de exclusão marítima em torno das ilhas. Em seguida, despachou uma numerosa força-tarefa para recuperá-las.
O poder aéreo argentino
A Fuerza Aérea Argentina (FAA) e a Armada de la República Argentina (ARA) estavam entre as mais poderosas da América do Sul.
A FAA possuía mais de uma centena de aeronaves de combate no início do conflito, incluindo:
- 10 bombardeiros leves Canberra;
- 19 Mirage IIIEA;
- 37 Dagger (versão israelense do Mirage V);
- Cerca de 45 jatos de ataque A-4 Skyhawk;
- 35 bimotores turboélice Pucará de apoio aéreo aproximado;
O restante da Força Aérea Argentina era formado por treinadores, transportes e helicópteros.
O poder naval argentino
A ARA, por sua vez, dispunha dos seguintes meios principais:
- 1 Porta-Aviões Leve classe “Colossus”;
- 1 Cruzador classe “Brooklyn”;
- 2 destróieres antiaéreos Type 42 com mísseis Sea Dart e Exocet MM38;
- 4 destróieres das classes Allen M. Sumner e Gearing modernizados com mísseis Exocet MM38;
- 3 corvetas A69 com mísseis Exocet MM38;
- 2 submarinos Type 209;
- 1 submarino classe Guppy.
Além disso, a ARA estava envolvida em um ambicioso plano de reequipamento, com a construção na Alemanha de 4 fragatas Meko 360, seis corvetas Meko 140 e dois submarinos TR-1700, que acabaram chegando bem depois da guerra.
A Aviación Naval Argentina (ANA) também havia encomendado 14 jatos de ataque Super Étendard e mísseis AM-39 Exocet para substituir seus 10 jatos A-4 Skyhawk que operavam a bordo do porta-aviões ARA 25 de Mayo.
A decisão da Junta Militar Argentina de antecipar a invasão das Malvinas resultou em um embargo imposto pela França a pedido da Grã-Bretanha, fazendo com que a ANA recebesse apenas 5 jatos Super Étendard e 5 mísseis Exocet AM39.
Mobilização da Marinha Real Britânica
No dia 5 de abril de 1982, dezenas de navios britânicos foram mobilizados às pressas e começaram a zarpar de Portsmouth, Southampton, Devonport, Rosyth, Marchwood, Gibraltar e Plymouth, rumo às ilhas Malvinas, distantes mais de 7.100 milhas (13.000km).
Os porta-aviões HMS Hermes e HMS Invincible, equipados com 20 jatos Sea Harrier (12 no primeiro e 8 no segundo) dos esquadrões 800, 801 e 899, lideravam a Força-Tarefa, composta de 23 destróieres e fragatas.
Os navios de apoio da RFA (Royal Fleet Auxiliary) totalizaram 22 unidades e, até o fim da campanha, a Marinha Mercante enviou para o Atlântico Sul 40 navios de apoio para a frota britânica. Sem o apoio da RFA e dos navios mercantes a campanha não seria possível.
Também estavam a bordo dos navios da Força-Tarefa britânica 54 helicópteros Sea King, Wessex, Lynx, Wasp e Gazelle. No mesmo dia, dois aviões de patrulha marítima Nimrod se deslocaram de St. Mawgan para a Base de Widewake, na Ilha de Ascensão, via Lagos, nos Açores.
Em postos de combate
Com o envio da frota britânica e o fracasso das negociações diplomáticas, as forças do Reino Unido e da Argentina foram colocadas no teatro de operações para a disputa.
De um lado, os ingleses planejavam o desembarque anfíbio para retomada das ilhas e do outro, os argentinos pretendiam forçar a desistência dos britânicos infligindo pesadas baixas.
Os combates duraram até o dia 14 de junho, quando as forças argentinas assinaram a rendição em Puerto Argentino/Port Stanley.
Nos próximos dias iremos relembrar os principais eventos da Guerra das Malvinas/Falklands em uma série de posts.