Afundamento do Moskva: mais perguntas do que respostas
Desde o último dia 13 de abril (quarta-feira), quando as Forças Ucranianas alegaram ter atingido o cruzador russo Moskva, da classe Slava, o assunto despertou interesse tanto na mídia especializada como na grande mídia. Faz sentido, pois além de ser o maior navio de combate na região, o Moskva também era a nau capitânia da Frota do Mar Negro. A versão russa diz que o navio sofreu um incêndio a bordo. Posteriormente, tanto as fontes ocidentais como as russas informaram que o navio havia afundado.
Independentemente da causa da afundamento, trata-se da maior perda em combate de uma unidade naval desde a II Guerra Mundial. O ARA General Belgrano, cruzador argentino afundado por um submarino britânico durante a Guerra das Malvinas, tinha um deslocamento máximo de aproximadamente 12.200 t, um pouco inferior às 12.500 t deslocadas pelo Moskva.
Tudo que envolve perdas russas no atual conflito na Ucrânia, sejam perdas humanas ou materiais, é cercado de dúvidas e mistérios. A mídia na Rússia é fortemente controlada pelo Estado e eventuais fontes independentes raramente conseguem averiguar os fatos. O caso da perda do Moskva não foge a esta regra.
Porém, recentemente foram divulgadas fotos que supostamente mostram os estragos causados ao Moskva antes do mesmo afundar. Com base nestas poucas fotos, divulgadas pelo twitter OSINTechnical, algumas observações foram levantadas. Segue a lista abaixo.
- O navio mostrado nas imagens é definitivamente um cruzador da classe Slava. No entanto, o nome ou o indicativo do navio não estão visíveis na imagem. O mesmo está ligeiramente adernado para bombordo e as fotos só mostram a meia nau e a parte de ré do casco.
- Não foram observados tripulantes a bordo do navio. Ele parece estar totalmente abandonado. Aparentemente as balsas salva-vidas de bombordo que ficavam próximas ao hangar do helicóptero (1) foram todas lançadas. O bote de resgate (2), comumente posicionado entre os tubos de lançamento dos mísseis S-300 não foi identificado. O guindaste entre as duas chaminés está posicionado para bombordo o que indica que ele foi utilizado para arrear a baleeira (3) na água (uma vez que ela também não foi identificada na foto).
- As condições de tempo e mar mostradas nas fotos são extremamente favoráveis. O tempo apresenta-se encoberto, mas está longe das informações inicialmente divulgadas pela autoridade russa, que indicavam reboque do navio sob condições de tempestade.
- Há uma densa coluna de fumaça saindo a meia nau, entre a superestrutura e as chaminés. Esta parece ser a área mais danificada do navio, segundo uma visão externa. Os grandes lançadores de mísseis anti-navio na parte de vante estão parcialmente encobertos pela fumaça, mas aparentemente não apresentam alterações.
- A grande antena do radar de vigilância aérea, originalmente localizada entre as duas chaminés, não pôde ser identificada. Possivelmente foi destruída. O mesmo pode se dizer à respeito das antenas ECM que se localizavam no entorno.
- As vigias de bombordo popa (circuladas em vermelho na imagem abaixo) estão todas com marcas de fumaça, indicando que ali houve um incêndio que se propagou pela área interna do navio. Embora estas vigias estejam próximas dos tubos de mísseis S-300, aparentemente os mesmos não foram afetados pelo incêndio ou os mísseis não estavam lá. De outra forma teria ocorrido uma grande explosão no local.
- um pouco mais abaixo das vigias de bombordo, ainda a meia nau, foram identificados dois outros pontos negros no costado que não fazem parte do desenho original. A qualidade da foto não permite avaliações mais detalhadas. Não havia vigias naquela posição.
- Próximo à chaminé existiam dois CIWS em cada bordo. A qualidade da imagem não permite tirar maiores conclusões, mas aparentemente ambos foram consumidos pelo fogo.
Em resumo, admitindo-se que as fotos sejam reais e que não foram “retocadas”, o navio deve ter sido atingido por dois mísseis que impactaram no costado a meia nau (bombordo), pouco cima da linha d’água.
Havendo detonação ou não das ogivas desses mísseis, o impacto deve ter causado um incêndio a bordo logo abaixo dos CIWS de bombordo. Este incêndio pode ter sido ampliado pela detonação da munição do CIWS e se espalhado para a popa, conforme os sinais identificados nas vigias à ré dos dois possíveis pontos de impacto.
Que houve um incêndio a bordo como alegado pelos russos isto parece mais do que comprovado pelas imagens. Quanto ao suposto paiol que pegou fogo, também alegado pelos russos, admite-se que seja o paiol de pronto uso da munição do CIWS.
A parte que apresenta mais danos (meia nau) não tem espaço para acomodar grandes paióis de munição. Trata-se de uma sessão do navio onde as tubulações de admissão e exaustão das turbinas a gás ocupam um volume considerável (destaque em vermelho na imagem abaixo as praças de máquinas). No entanto, munição extra para os CIWS podem ser acomodadas nas proximidades dos próprios canhões.
Admitindo-se a tese do impacto dos dois mísseis exatamente onde estavam localizados os CWIS, por que estes sistemas não reagiram? Se reagiram por que não destruíram os mísseis? Eles estavam no modo automático? O Moskva foi construído na Ucrânia e, portanto, os ucranianos conheciam bem as fraquezas do navio. Como isso poderia ter sido utilizado para ludibriar os sistemas do cruzador? Há muitas indagações cujas respostas virão apenas com o tempo.
NOTA DO EDITOR: não se surpreenda se as informações postadas acima aparecerem em algum vídeo no Youtube e os créditos não forem dados ao Poder Naval. Isto já aconteceu até mesmo com brincadeiras de 1o de abril!