Os contratorpedeiros classe ‘Fletcher’, ‘Sumner’ e ‘Gearing’ na Marinha do Brasil

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CT Mariz e Barros (D26) - Foto Rob Schleiffert

A Marinha do Brasil recebeu dos EUA, durante o programa MAP (Military Assistance Program), a partir do final da década de 1950, 14 destróieres das classes “Fletcher” (7), “Allen M. Sumner” (5) e “Gearing” (2).

Esses navios começaram suas vidas na Segunda Guerra Mundial, muitos participaram da Guerra da Coreia, os últimos da Guerra do Vietnã e passaram por diversas modernizações antes de serem transferidos ao Brasil.

Eram embarcações que tinham alma e cara de navio de guerra. Movidos a caldeiras e turbinas a vapor, dotados principalmente de canhões de 127mm (5 polegadas) de duplo emprego, os CTs foram os principais navios de guerra da Marinha do Brasil por mais de 20 anos. O último deu baixa em 1997 e, infelizmente, nenhum foi preservado como museu.

Classe Fletcher

A classe Fletcher foi uma classe de destróieres construídos pelos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. A classe foi projetada em 1939, como resultado da insatisfação com os navios anteriores das classes Porter e Somers.

A Marinha dos Estados Unidos encomendou 175 destróiers da classe Fletcher entre 1942 e 1944, mais do que qualquer outra classe de destróieres, e o projeto foi geralmente considerado altamente bem-sucedido.

Os Fletchers tinham uma velocidade de projeto de 38 nós (70 km/h) e um armamento principal de cinco canhões de 5 polegadas (127 mm) em torrestas simples, além de dez tubos de torpedo de 21 polegadas (533 mm) em dois lançadores centrais quíntuplos. As classes Allen M. Sumner e Gearing foram derivadas da Fletcher.

Os navios da classe Fletcher de longo alcance realizavam todas as tarefas solicitadas a um destróier, desde guerra antissubmarino, guerra antiaérea até ação de superfície.

Eles podiam cobrir as vastas distâncias exigidas pelas ações da frota no Pacífico e serviram quase exclusivamente no Teatro de Operações do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial, durante a qual afundaram 29 submarinos da Marinha Imperial Japonesa.

No Brasil

Contratorpedeiros classe Fletcher da MB em 1972

A partir de 1959, o Brasil começou a receber dos EUA navios de guerra veteranos da Segunda Guerra Mundial, a preços simbólicos, através do Programa de Ajuda Militar (MAP – Military Assistence Program). Outros países da América Latina também foram beneficiados com o programa, como a Argentina e o Chile.

Contratorpedeiro Pará D27, da classe “Fletcher”

O primeiro Fletcher da MB foi o contratorpedeiro Pará – D27, ex-USS Guest – DD-472. Foi transferido por empréstimo inicial de cinco anos em Bremerton, Washington, e incorporado em 5 de junho de 1959.

Contratorpedeiro Paraíba – D28

O segundo foi o contratorpedeiro Paraíba – D28, ex-USS Bennett – DD 473, construído pelo estaleiro Boston Navy Yard, em Boston, Massachussetts. Foi transferido por empréstimo inicial de cinco anos em Bremerton, Washington, e incorporado em 15 de dezembro de 1959.

Contratorpedeiro Paraná – D29

O terceiro foi o contratorpedeiro Paraná – D29, ex-USS Cushing – DD 797, construído pelo estaleiro Bethlehem Steel Shipyard Co., em Staten Island, New York. Foi transferido por empréstimo inicial de cinco anos e incorporado no Arsenal de Marinha de Norfolk, em Portsmouth, Virginia, em 20 de julho de 1961.

Contratorpedeiro Pernambuco - D30
Contratorpedeiro Pernambuco – D30

O quarto foi o contratorpedeiro Pernambuco – D30, ex-USS Hailey – DD 556, construído pelo estaleiro Seattle-Tacoma SB Co., em Seattle, Washington. Foi transferido por empréstimo inicial de cinco anos, sob os termos do Pacto de Defesa Mútua, e incorporado no Arsenal de Marinha de Norfolk, em Portsmouth, Virginia, em cerimônia realizada no dia 20 de julho de 1961.

Contratorpedeiro Piauí - D31
Contratorpedeiro Piauí – D31

O quinto foi o contratorpedeiro Piauí – D 31, ex-USS Lewis Hancock – DD 675, construído pelo estaleiro Federal SB & DD Co., em Kearny, New Jersey. Foi transferido por empréstimo e incorporado em 2 de agosto de 1967.

Contratorpedeiro Santa Catarina – D32

O sexto foi o contratorpedeiro Santa Catarina – D32, ex-USS Irwin – DD 794, construído pelo estaleiro Bethlehem Steel Shipyard Co., em San Pedro, Califórnia. Em 1967, iniciou processo de reativação e modernização no Arsenal de Marinha da Philadelphia, na Philadelphia, Pennsylvania. Foi transferido por empréstimo e incorporado no Arsenal de Marinha da Philadelphia, em 10 de maio de 1968.

Contratorpedeiro Maranhão – D33

O sétimo foi o contratorpedeiro Maranhão – D33, ex-USS Shields – DD 596, construído pelo estaleiro Puget Sound Navy Yard, em Bremerton, Washington. Foi transferido e incorporado à Armada em 6 de julho de 1972, em cerimônia realizada em San Diego-CA, nos Estados Unidos.

Cruzador Tamandaré escoltado por quatro contratorpedeiros da classe “Pará” (Fletcher)

Classe Allen M. Sumner

Nos anos 1970, vieram 5 contratorpedeiros da classe “Allen M. Sumner” e finalmente 2 da classe “Gearing”, a grande maioria recebida durante a administração do almirante Adalberto Nunes (1970-74).

Nossos “Allen M. Sumner” foram os contratorpedeiros Mato Grosso (D34), ex-USS Compton – DD 705, Sergipe (D35), ex-USS James C. Owens – DD 776, Alagoas (D36), ex-USS Buck – DD 761, Rio Grande do Norte (D37), ex-USS Strong – DD 758, e Espírito Santo (D38), ex-USS Lowry – DD 770. Os links azuis nos nomes dos navios remetem às respectivas páginas dos navios no site NGB – Navios de Guerra Brasileiros.

Dos 5 navios da classe, o CT Mato Grosso era o único que mantinha a configuração armamento e sensores dos anos 1950, pois não tinha passado pela modernização FRAM II que os demais tinham recebido, que proveu um hangar para um drone DASH e novos sensores. O Mato Grosso depois que chegou ao Brasil recebeu um lançador de mísseis antiaéreos Seacat do antigo contratorpedeiro Mariz e Barros.

No Brasil, os Sumners que tinham convoo e hangar para o DASH operaram o helicóptero Westland Wasp.

Classe Allen. M. Sumner
Classe Allen. M. Sumner
Contratorpedeiro Mato Grosso – D34
Contratorpedeiro Sergipe – D35
Contratorpedeiro Alagoas – D36
Contratorpedeiro Rio Grande do Norte – D37
Contratorpedeiro Espírito Santo – D38
Almirantes da MB e os contratorpedeiros na BNRJ, em 1982

Classe Gearing

A classe “Gearing” teve 98 navios construídos para a Marinha dos EUA no final e pouco depois da Segunda Guerra Mundial. Eles continuaram servindo, com uma série de atualizações, até a década de 1970 nos EUA. Depois, muitos navios foram transferidos para outras Marinhas.

O “Gearing” é um “Allen M. Sumner” mais comprido, com a adição de uma seção a meia nau de 14 pés, que possibilitou o embarque de mais 160 toneladas de óleo combustível. Com essa seção a mais o alcance do navio aumentou 30% navegando a 20 nós, de 3.300 para 4.500 milhas. Graças à seção adicional que aumentou a distância entre as chaminés, foi possível instalar um lançador óctuplo de foguetes antissubmarino ASROC a meia nau, durante a modernização FRAM nos anos 1960.

Dois navios da classe Gearing foram transferidos para a Marinha do Brasil em 1973, batizados como Marcílio Dias – D25, ex-USS Henry W.Tucker – DD-875 e Mariz e Barros – D26, ex-USS Brinkley Bass – DD-887, o primeiro foi desativado em 1994 e o último em 1997.

Contratorpedeiro Marcílio Dias – D25
Contratorpedeiro Mariz e Barros (D26)

Contratorpedeiros classe “Gearing” FRAM I

  • Deslocamento: 2.616 t standard; 3.460 t carregado
  • Comprimento: 119 m; Boca: 12,5 m; Calado: 4,4 m
  • Propulsão: 2 eixos; turbinas a vapor General Electric;
    4 caldeiras; 60,000 shp;
  • Velocidade: mais de 30 nós
  • Alcance: 4.500 milhas náuticas (8.300 km) a 20 nós (37 km/h)
  • Tripulação: 350

Armamento:

  • 4 canhões de 5 pol (127 mm)/38 cal em 2 torretas Mk 38
  • 1 lançador óctuplo de foguetes ASROC
  • 2 lançadores triplos Mark 32 para torpedos Mk 44
  • 1 drone DASH ou um helicóptero leve

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Contratorpedeiro Mariz e Barros D26 e fragata Liberal F43
Contratorpedeiro Mariz e Barros D26 e fragata Liberal F43
Contratorpedeiro Marcílio Dias (D25) a Alagoas D36 liderando formatura de navios na Operação Unitas XXXI
Contratorpedeiros Marcílio Dias (D25) e Alagoas D36 liderando formatura de navios na Operação Unitas XXXI
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CT Mariz e Barros – D26

Comentários de admiradores e ex-tripulantes:

“Me lembro de uma T&D da década de 80, lá pelos 84/85 que falava dos
CTs da MB. O Santa Catarina sempre me impressionou, um desenho suave, bonito, um navio com cara e jeito de navio de combate.”

“Estes sempre foram os mais bonitos navios que uma marinha poderia ter! Um Gearing ou um Allen Sumner, vão ser sempre imponentes!” – Joaquim Mitchel Z. Tavares (Joaca)

Servi no CT Marcilio Dias de 1987 até 1991. Tenho saudades e acho que se tivesse presenciado seu afundamento pelo submarino tamoio em 1994 eu choraria. Saudades dos tempos antigos.
FIZ MUITA FAINA EM CHEGADA DE PORTOS. EU O LAVAVA COMO SE FOSSE MEU CARRO, OU SEJA, COM MUITO CARINHO. TENHO COMPANHEIROS INESQUECIVEIS DESSA ÉPOCA, CABO EL SENA, CABO EL MELO, CABO EL RANGIFO, SGT EL VILEIDE, SGT CP SERGIO, CABO EL MAIA, TENENTE PAMPLONA ETC. – Rogerio de Souza

Meu Pai tambem, viajou muito nos DD ,inclusive foi buscar o Maranhão Alagoas, Piaui, Santa Catarina e as Niterois pois a MM não tinha o quadro de informatica na epoca para os radares entao mandaram os ET cursarem informatica no Reino Unido. Mas após a chegada ele voltou para os CTs na oficina do Gretarge como Sup de Eletronica , mas ele gostou mesmo do tempo a bordo do Alagoas e Belmonte. Sempre dizia os que os DD são melhores que as Niterois em tudo, apenas com a defasagem do tempo. – Celso

O que tinha o Sea Cat era o D34 Mato Grosso. Apesar de nunca ter viajado no CT Santa Catarina, os militares que serviam nele se gabavam na época por sua velocidade, era conhecido na frota por isso, trabalhei também num delineamento do CT Paraná que não foi feito o PNR por conta da situação das chapas de fundo que estavam em estado lastimável. Eu era civil e trabalhava na Base Naval de Aratú, esses navios foram escolas maravilhosas para mim que formei em Metalurgia. Era muito bom também ir sempre para o Arsenal de Marinha do Rio, bons tempos.

Um deles que não passou pelo FRAM mas que me traz boas recordações e muito pouco se fala foi o CT Mato Grosso. No início da década de 80 embarquei nele lá em Belém do Pará com o intuito de fazer um delineamento para o PNR, depois ele veio para a Base Naval de Aratú, onde ficou por dez meses e saiu novinho em folha. Existem poucas fotos dele mesmo na época em que ele era o USS Compton. – Roosevelt

Saudades da antiga força de CTs. Aquilo era Marinha de verdade. Muita faina e dificuldade com muita união e camaradagens verdadeiras. Lembro-me dos MN “espermatozóides” – não tinham armários e então moravam no “saco” de roupas. Que os destroyers/CTs possam voltar a nossa Marinha. – Marlige

Que saudade do D25. Me lembro das viagens e dos amigos que serviram comigo nos anos de 89 a 91, época que fui marinheiro fiel da aguada do quadro de máquinas, junto do neguinho Araújo e do Tingo.
Bons tempos! Abraços aos colegas da época. – Andrade

Otimo trabalho, parabéns.
Senhores, tive a sorte de fazer faina neles, estava servindo no deposito de material comum da marinha, era muto bom.
Pena q não ficou um para museu, estive também no Minas Gerais, coisa grande, enorme, como um estadio de futebol. não ficou para museu.
Hoje temos estas fragatas q ao meu ver o primeiro impacto derrete pelo calor, da mesma forma q ocorreu com as fragatas inglesas nas malvinas, destruidas pelos argentinos.
Abraço a todos. – Mauro

Tive o prazer de tambem servir no D25 no ano de 1989 a 1991 oriundo da Eamce, turma Golf ll. Às vezes lembro de muitos amigos q ficaram na lembrança. Trabalhava como mensageiro da estação rádio, lembro-me de alguns nomes como o sgt Araujo depois foi AA, dos cb Mauricio, cb edmilson, mn laercio, mn adriano, mn Valverde, mn sales (todos da estação rádio). Não sei se o Andrade se recorda eu era o MN Amaral de Belem do Pará lembro-me perfeitamente do mn Araujo e do tingo e de outros, afinal são mais de 20 anos… hoje moro em Belem, sou oficial do corpo de bombeiros. – Luiz Claudio Arraes do Amaral

Servi à Marinha por seis anos e um dos primeiros navios que embarquei foi o CT Mariz e Barros, em 1971…..as fotos acima me levaram de volta ao passado….gostaria de ver alguma foto do Mariz (o antigo)…
Fui da Turma Juliet (EAMBA) e sinto muita saudade dos tempos de Marinha….Abraços – José Carlos

Realmente bateu a saudade, foram bons cinco anos a bordo do valente D25 CT Marcilio Dias, quando vi essa foto já me vi correndo pelo convés guarnecendo posto de combate. – Fernandes

Sou filho de um sargento da reserva da Marinha , apaixonado por navios de Guerra da Marinha do Brasil . Quando meu pai estava na Marinha fui muitas vezes dormir nos navios , quando ele estava de serviço. E por isso , comecei a despertar em mim uma atividade muito importante , comecei a criar réplicas e hoje dedico algumas horas fazendo réplicas , principalmente contra-torpedeiros e em breve colocarei em um site a venda ! Este site deveria conter mais fotos desses navios . – Aldrin

Tenha uma lembrança dos contratorpedeiros da Marinha do Brasil

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Nossa loja Defesa Store lançou a caneca e camiseta comemorativas dos CTs Marcílio Dias e Mariz e Barros, para quem serviu no navio ou deseja presentar um amigo ou parente. Compre a sua clicando aqui.

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Caneca do CT Alagoas da Defesa Store – www.defesastore.com.br

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