Guerra das Malvinas/Falklands – 40 anos: O porta-aviões ARA 25 de Mayo
O Navio-Aeródromo Ligeiro (Portaaviones Ligero) argentino ARA 25 de Mayo ou ARA Veinticinco de Mayo, ex-HNLMS Karel Doorman, ex-HMS Venerable, foi o capitânia da Armada Argentina na Guerra das Malvinas/Falklands, em 1982.
Da mesma classe (“Colossus”) que o brasileiro NAeL Minas Gerais, o ARA 25 de Mayo tinha capacidade de ataque, equipado com jatos A-4Q Skyhawk.
A atuação do ARA 25 de Mayo no conflito esteve bem perto de mudar o rumo da guerra, no que teria sido o primeiro combate travado entre porta-aviões desde a Segunda Guerra Mundial.
Quando a Força-Tarefa britânica desceu para retomar as Malvinas, a Armada Argentina colocou a Força-Tarefa 79 no mar (divida em três Grupos-Tarefa) para tentar impedí-la: o GT 79.1, capitaneado pelo ARA 25 de Mayo, escoltado por um contratorpedeiro Type 42 (Santissima Trinidad), o GT 79.2, composto pelo contratorpedeiro classe “Gearing” FRAM II Comodoro Py e o contratorpedeiro Type 42 Hercules, o GT79.3, composto pelo cruzador General Belgrano e dois contratorpedeiros “Allen M. Sumner”, o Piedrabuena e o Bouchard e o GT 79.4, com as três corvetas A69. A FT argentina era comandada pelo almirante Gualter Allara, a bordo do ARA 25 de Mayo.
Na manhã do dia 1º de maio, Allara foi avisado pelo Alto Comando argentino que os ingleses haviam atacado as ilhas Malvinas. Os GTs 79.1 e 79.2 navegaram no rumo leste-sudoeste enquanto os S-2E Tracker procuravam a FT britânica.
Às 15:30h um S-2E enviou pelo rádio a seguinte mensagem: “um alvo grande e seis alvos de tamanho médio na marcação 031 distantes 120 milhas de Port Stanley”. A posição da FT britânica era 49°34′ latitude sul e 57°10′ longitude oeste, portanto entre 200 e 300 milhas de distância do ARA 25 de Mayo. Por todo o dia 1º de maio o almirante Allara navegou em direção à FT britânica para encurtar mais a distância. O contato foi retomado por outro S-2E às 23h00.
De fato, o almirante Sandy Woodward, comandante da FT britânica, conta no seu livro “One hundred days” que na madrugada do dia 2 de maio de 1982, foi despertado pelo centro de operações do porta-aviões HMS Hermes com o alerta de que sua Força-Tarefa tinha sido iluminada pelo radar de um S-2E Tracker argentino. Era justamente uma aeronave do 25 de Mayo, como as das fotos abaixo.
Naquele momento, os argentinos estavam em vantagem tática, pois sabiam a posição exata da Força-Tarefa britânica, que estava a cerca de 200 milhas de distância. O trabalho de tentar localizar a Força-Tarefa de Woodward foi feito competentemente pelos S-2E Tracker argentinos, que voavam “colados” no mar para evitar a detecção radar e faziam periodicamente “pop-ups” para dar algumas varreduras de radar, desligando logo em seguida para minimizar o risco de detecção pelos sistemas de guerra eletrônica (ESM) ingleses.
Às 10h30 do dia 1º de maio, o almirante Allara recebeu a informação errada de que os ingleses estariam desembarcando a sudoeste de Port Stanley. No mesmo momento ele destacou as três corvetas A69 do grupo principal, com o objetivo de atacar os navios ingleses com mísseis MM38.
Os ingleses por sua vez, só sabiam a marcação (direção) de onde tinha vindo a aeronave argentina e despacharam logo um caça Sea Harrier para investigar.
O GT do ARA 25 de Mayo estava navegando a noroeste das ilhas Malvinas e a FT britânica estava no nordeste. O Sea Harrier britânico enviado para o voo de esclarecimento acabou sendo iluminado pelo radar 909 de direção de tiro do sistema Sea Dart de um contratorpedeiro Type 42 (ARA Hercules, foto abaixo), confirmando que o 25 de Mayo realmente estava nas proximidades.
Mais tarde foi revelado que o Type 42 argentino iluminou o Sea Harrier para alvejá-lo com um míssil Sea Dart, mas o disparo falhou. Por ironia do destino, o novíssimo escolta era de projeto inglês (da mesma classe do HMS Sheffield afundado dois dias depois por um AM39) e os argentinos ainda estavam aprendendo a operar seu sofisticado sistema antiaéreo.
O almirante Woodward tinha certeza de que os argentinos estavam preparando um ataque nas primeiras horas da manhã com jatos A-4Q Skyhawk contra a sua FT e ele realmente tinha razão.
A cerca de 200 milhas dali, técnicos a bordo do navio-aeródromo argentino preparavam os A-4Q Skyhawk com bombas de 250kg Snakeye. Na famosa foto abaixo (crédito CC Phillip), uma bomba com a inscrição HMS Invincible num cabide prestes a ser colocado no A-4Q a bordo do ARA 25 de Mayo. O momento de glória para o qual os pilotos navais argentinos tinham treinado tanto havia chegado.
O ataque frustrado
Os A-4Q Skyhawk estavam preparados, durante o trânsito, da seguinte forma: 2 aviões para Patrulha Área de Combate, estacionados no convés de vôo e prontos a decolar em 5 minutos (Alerta 5); 4 para ataque de superfície, armados com 6 bombas MK 82 de 250kg cada; 1 avião lançador de “chaff” pronto a decolar em 30 minutos; e o oitavo como tanqueiro, para reabastecimento dos demais em vôo.
Os aviões de interceptação que compunham a Patrulha Aérea de Combate (PAC) poderiam aguardar o ataque inimigo em pleno voo ou estar prontos a decolar do convés de voo do porta-aviões, permitindo o engajamento dos incursores inimigos antes que estes atacassem o 25 de Mayo.
Diante da informação valiosa obtida pelos S-2E Tracker sobre a posição da FT britânica, o “Comandante de la Flota de Mar” ordenou o planejamento do ataque nas primeiras horas do dia 2 de maio. Prontificaram-se 6 A-4Q armados com 4 bombas MK 82. Seria mantido um avião de reserva e outro como reabastecedor de combustível.
Segundo as tabelas de probabilidades, nas quais se considerava a defesa aérea e antiaérea britânica, dos 6 aviões atacantes apenas 4 conseguiriam lançar suas bombas (16 bombas), com 25% de probabilidade de impacto. Destes, esperava-se que somente 2 retornariam ao 25 de Mayo. A neutralização de um porta-aviões britânico justificaria a perda dos 4 Skyhawk.
De acordo com o livro “Signals of war”, de Lawrence Freedman, durante a noite do dia 1° de maio o vento na área onde o 25 de Mayo navegava começou a diminuir, coisa rara naquelas latitudes.
Próximo à hora da catapultagem dos jatos para o ataque pela manhã, quando era necessário um vento de 30 nós de velocidade, este passou a ser quase nulo, razão pela qual cada avião poderia decolar apenas com uma única bomba ou com combustível para alcance de apenas 100 milhas.
O 25 de Mayo, só conseguia fazer 20 nós, velocidade insuficiente para produzir o vento relativo no convés de voo requerido para o lançamento dos aviões com as quatro bombas. A probabilidade de impacto passaria a ser desprezível, não justificando, assim, o ataque. A missão foi abortada.
Outro fator que também somou na decisão de abortar o ataque foi a perda de contato com a FT britânica, pois novos voos dos S-2E Tracker não encontraram mais os navios ingleses.
Coincidentemente, no mesmo dia 2 de maio ocorreu o afundamento do cruzador General Belgrano e a partir dali, o ARA 25 de Mayo passou a operar próximo à costa argentina, em águas rasas, para evitar os submarinos nucleares britânicos.
O submarino nuclear HMS Splendid, tinha sido designado para caçar e “sombrear” o navio-aeródromo argentino, mas não obteve sucesso em localizá-lo.