‘Barroso’ e ‘Tamandaré’: os cruzadores ABC do Brasil
O Brasil adquiriu dois cruzadores da classe “Brooklyn” no âmbito do Programa de Assistência Militar (MAP) em 1951. Foram eles o Barroso – C11 (ex-USS Philadelphia CL-41) e Tamandaré – C12 (ex-USS St Louis CL-49).
Esses dois cruzadores eram navios irmãos dos chilenos O’Higgins (ex-USS Brooklyn) e Capitan Prat (ex-USS Nashville); e os argentinos ARA Nueve de Julio (ex-USS Boise) e ARA General Belgrano (ex-USS Phoenix) – o último famoso por ter sido afundado nas Malvinas em 1982.
Juntos, esses seis navios argentinos, brasileiros e chilenos eram conhecidos como cruzadores ABC. Os cruzadores ABC foram o centro de uma bizarra corrida armamentista naval na América do Sul durante a segunda metade do século 20, centrada na compra de cruzadores obsoletos.
A classe “Brooklyn” era na verdade um tipo pré-Segunda Guerra Mundial, projetado para atender ao Tratado Naval de Londres. Eles deslocavam 12.207 toneladas e mediam 606′ x 62′ x 23′. Para encaixar um número máximo de canhões no limite de deslocamento do tratado, sua bateria principal era de cinco torres triplas, três à vante e duas à ré, com a terceira voltada “para trás”.
Eles tinham um armamento bastante substancial: quinze canhões antinavio Mk16 de 6 polegadas (152 mm) com um alcance nominal de 12 milhas náuticas, apoiados por quatro canhões duplos Mk29 de 5 polegadas (127 mm), vinte e oito Mk2/Mk4 de 40 mm e oito canhões antiaéreos Mk2 de 20 mm. A classe “Brooklyn” tinha blindagem vertical de 5 polegadas de espessura e blindagem de convés de 2 polegadas de espessura, e as torres principais tinham blindagem de 6 ½ polegadas de espessura. Havia duas catapultas de hidroaviões e um guindaste de manuseio, no entanto, nenhum hidroavião foi incluído na transferência.
A classe “Brooklyn” tinha uma velocidade máxima de 32,5 nós. A propulsão era de oito caldeiras Babcock & Wilcox de 618 psi, alimentando oito turbinas a vapor Westinghouse com caixas de redução Falk Milwaukee, girando quatro eixos com hélices de bronze de três pás. A uma velocidade de cruzeiro de 20 nós, o alcance era de 5.590 milhas náuticas. Esses navios tinham armazenamento de alimentos congelados e ar condicionado parcial, juntamente com seu bom alcance e navegação eram ideais para o foco do Brasil no Atlântico Sul tropical.
Na Marinha dos EUA a tripulação era 868. No serviço brasileiro, a tripulação era de 1.070: 58 oficiais, 35 suboficiais, 168 sargentos e 809 cabos e marinheiros.
Os EUA construíram nove navios desta classe entre 1937-1939. Um foi afundado durante a Segunda Guerra Mundial, dois foram desativados em 1947 e posteriormente desmantelados, e os seis restantes tornaram-se os cruzadores ABC.
Barroso
O USS Philadelphia (CL-41) fez duas viagens Magic Carpet na Europa após a Segunda Guerra Mundial e, em seguida, descomissionado em 3 de fevereiro de 1947. Em 9 de janeiro de 1951, a Marinha dos EUA declarou o navio elegível para transferência MAP e em 29 de janeiro foi identificado como candidato recebendo a visita de oficiais brasileiros.
Em 21 de agosto de 1951, a transferência foi oficializada e o navio passou a se chamar Barroso, indicativo visual C11. Este foi o quarto navio de guerra que os brasileiros batizaram em homenagem ao Almirante Francisco Manuel Barroso, o “Barão da Amazônia”. O Barroso foi trazido de naftalina pelo Estaleiro Naval da Filadélfia. Em 14 de novembro de 1951, o Barroso partiu da Filadélfia e chegou ao Rio de Janeiro em 7 de dezembro.
Os brasileiros inicialmente fizeram poucas mudanças no Barroso. As catapultas inúteis foram removidas (mas o guindaste foi deixado a bordo) e o equipamento de navegação LORAN foi instalado. Durante o verão de 1953, o Barroso participou da Spithead Naval Review na Grã-Bretanha.
De junho de 1958 a maio de 1959, o Barroso testou a adequação de helicópteros nos cruzadores da era da Segunda Guerra Mundial. Para pousar um helicóptero (inicialmente Widgeon H.1 e depois Wasp HAS.1) a torre número 5 de canhões Mk16 tinha que ser conteirada para fora e o guindaste girado sobre a popa. Com algum esforço, dois helicópteros podiam ser acomodados no antigo hangar de hidroaviões, embora isso não fosse feito normalmente.
Ao longo de 1967, o Barroso fez várias travessias do Atlântico sem reabastecimento, visitando Angola (então ainda colônia portuguesa). O Brasil foi um dos poucos países a enviar navios de guerra em visitas de boa vontade, já que a guerra colonial de Portugal era cada vez mais impopular internacionalmente.
Infelizmente, na conclusão da última viagem africana, o Barroso sofreu uma explosão de caldeira e um incêndio que matou onze tripulantes. O cruzador teve que ser rebocado de volta ao Brasil. Enquanto os motores estavam sendo reparados, o sistema do radar foi atualizado e a maioria das armas AA de menor calibre foi removida.
Apesar das mudanças, o Barroso fez apenas mais algumas viagens de exercício antes de ser descomissionado em 1971.
Tamandaré
O USS St Louis (CL-49) era o oitavo navio da classe e como o último navio USS Helena, era cerca de mil toneladas mais pesado e incorporava todas as lições aprendidas na construção dos demais. Após a Segunda Guerra Mundial, o USS St Louis serviu na TF.73, destacamento da China da Marinha dos EUA, antes de ser desativado em 20 de junho de 1946.
A aquisição do navio pelo Brasil aconteceu logo após a do seu irmão Barroso. O Tamandaré (indicativo visual C12) partiu da Filadélfia em 26 de março de 1952, chegando ao Rio de Janeiro em 20 de abril. O navio recebeu o nome do Almirante Tamandaré, patrono da Marinha do Brasil.
Em 1955, o Tamandaré fez uma visita de boa vontade a Portugal e Marrocos. Em 1958, após os primeiros testes a bordo de seu irmão Barroso, o Tamandaré embarcou helicópteros pela primeira vez. Em 1960, o cruzador voltou a visitar Portugal.
Durante a maior parte da década de 1960, o Tamandaré atuou como escolta do porta-aviões brasileiro Minas Gerais. Foram instalados radares atualizados como os do Barroso. Em 1967, o cruzador fez várias travessias transatlânticas solo para a África Ocidental.
No início da década de 1970, o Barroso já havia sido desativado e o Tamandaré foi considerado caro demais para operar. Por causa do investimento nos radares, pensou-se em modernizar o Tamandaré com SAM Seacat e mísseis antinavio Exocet, usando o casco do Barroso como fonte de peças de reposição.
No entanto, após o estudo, os brasileiros decidiram que novas fragatas e submarinos de ataque eram uma prioridade orçamentária. Em abril de 1976, o governo brasileiro ordenou que a Marinha interrompesse mais estudos e em 28 de junho de 1976, o Brasil descomissionou o Tamandaré, o último cruzador do Brasil. O navio havia navegado 220.000 milhas náuticas em serviço brasileiro, visitando quatro continentes, e foi elogiado por ter um excelente histórico de segurança.
Destinos
Dos países sul-americanos, o Brasil foi o primeiro a sair da corrida armamentista de cruzadores. Os dois navios desativados ficaram na naftalina por alguns anos. O Barroso desativado deteriorou-se rapidamente e foi desmantelado em Santos, em 1975.
O Tamandaré desativado, em melhor estado, foi mantido como ativo de reativação de emergência até 1980. O Brasil vendeu o navio por US$ 1,1 milhão para a Superwinton Enterprises Inc do Panamá, em nome de um sucateador de Taiwan, por meio de um intermediário de Hong Kong para não incomodar a China.
O plano era rebocar o cruzador “pelo longo caminho”; através do Atlântico, passando pela África do Sul, subindo pelo Oceano Índico e depois para leste até Taiwan. No entanto, perto da África do Sul, o cabo de reboque partiu e o casco afundou em 24 de agosto de 1980.
FONTE: wwiiafterwwii
NOTA DA REDAÇÃO: Para saber mais sobre a história dos cruzadores ABC brasileiros, acesse as páginas do Barroso e do Tamandaré no NGB – Navios de Guerra Brasileiros.