Uma visão de bombordo da proa do cruzador de mísseis guiados movido a energia nuclear USS CALIFORNIA (CGN-36) navegando na costa do sul da Califórnia

No início dos anos 1960, a Marinha dos Estados Unidos foi a primeira do mundo a ter cruzadores movidos a energia nuclear como parte de sua frota. O primeiro desses navios foi o USS Long Beach (CGN-9). Comissionado no final do verão de 1961, ele foi o primeiro combatente de superfície movido a energia nuclear do mundo.

Ele foi seguido um ano depois pelo USS Bainbridge (DLGN-25). Enquanto o Long Beach era um ‘verdadeiro cruzador’, o que significa que ele foi projetado e construído como um cruzador, o Bainbridge começou a vida como uma fragata, embora naquela época a Marinha usasse a designação “DLGN” para “destroyer leader, guided missile, nuclear”.

Isso foi antes da promulgação do plano de reclassificação de navios de 1975, no qual as fragatas (DLG/DLGN), que eram essencialmente grandes destróieres (contratorpedeiros), foram reclassificadas como cruzadores, de modo que os números da Marinha dos EUA competiriam com os da Marinha soviética. O Long Beach, o maior de todos os cruzadores nucleares, foi equipado com um reator de cruzador C1W, enquanto todos os outros foram equipados com reatores de destróieres D2G.

No verão de 1964, o Long Beach e o Bainbridge se reuniriam com o USS Enterprise (CVAN-65), o primeiro porta-aviões movido a energia nuclear da Marinha, para formar a Task Forces One, uma força-tarefa naval totalmente movida a energia nuclear. Eles iniciariam a Operação Sea Orbit, na qual circunavegaram o globo sem reabastecer. Foi uma conquista notável para a época, um grupo naval capaz de navegar mais de 48.000 quilômetros (26.000 milhas náuticas; 30.000 milhas) em apenas 65 dias, sem reabastecimento.

Uma visão aérea do porta-aviões movido a energia nuclear Nimitz (CVN 68) com os cruzadores de mísseis guiados California (CGN 36) à esquerda e Texas (CGN-39) em maio de 1980

Na primavera de 1967, veio o terceiro cruzador movido a energia nuclear da US Navy (embora inicialmente designada como destróier), o USS Truxtun (DLGN-35), um projeto fortemente modificado baseado no cruzador da classe “Belknap”. O Truxtun seria seguido pela classe “California” de dois navios, começando com o USS California (CGN-36) em fevereiro de 1974 e o USS South Carolina (CGN-37) em janeiro de 1975. A Marinha dos EUA era a única frota do mundo cruzadores nucleares até 1974, quando a URSS começaria a construção de seu próprio cruzador de batalha nuclear, o cruzador de batalha soviético Kirov, navio líder de sua classe. Os soviéticos construiriam quatro no total, entre 1974 e 1998.

Os últimos cruzadores movidos a energia nuclear que os americanos produziriam seriam os quatro navios da classe “Virginia”. O USS Virginia (CGN-38) foi comissionado em 1976, seguido pelo USS Texas (CGN-39) em 1977, o USS Mississippi (CGN-40) em 1978 e, finalmente, o USS Arkansas (CGN-41) em 1980. Os navios a propulsão nuclear provariam ser muito caros para manter, e todos seriam aposentados entre 1993 e 1999. Um quinto navio da classe “Virginia” foi inicialmente planejado, mas depois cancelado.

Atualmente, a Marinha dos EUA possui a maior frota de porta-aviões e submarinos movidos a energia nuclear.

Vista aérea de boreste da proa de seis cruzadores de mísseis guiados movidos a energia nuclear em formação durante o exercício READEX 1-81. Os navios são, da esquerda para a direita, na primeira fila: USS CALIFORNIA (CGN-36), USS SOUTH CAROLINA (CGN-37), USS VIRGINIA (CGN-38); segunda linha, USS TEXAS (CGN-39), USS MISSISSIPPI (CGN-40) e USS ARKANSAS (CGN-41)
Vista aérea de proa de seis cruzadores de mísseis guiados movidos a energia nuclear em formação durante o exercício READEX 1-81. Os navios são, da esquerda para a direita, na primeira fila: USS CALIFORNIA (CGN 36), USS SOUTH CAROLINA (CGN 37), USS VIRGINIA (CGN 38); segunda linha, USS TEXAS (CGN 39), USS MISSISSIPPI (CGN 40) e USS ARKANSAS (CGN 41)
Uma visão aérea de proa de seis cruzadores de mísseis guiados movidos a energia nuclear em formação durante o Exercício READEX 1-81
Uma visão de boreste do cruzador de mísseis guiados movido a energia nuclear USS LONG BEACH (CGN-9) navegando perto da costa do sul da Califórnia
Uma visão de bombordo da proa do cruzador de mísseis guiados movido a energia nuclear USS BAINBRIDGE (CGN-25), em 1986
O cruzador de mísseis guiados movido a energia nuclear USS TRUXTUN (CGN-35) navegando ao largo de San Diego, em 1989
Uma visão de bombordo do cruzador de mísseis guiados movido a energia nuclear USS CALIFORNIA (CGN-36) navegando na costa do sul da Califórnia, em 1986
Uma visão de proa de boreste do cruzador de mísseis guiados movido a energia nuclear USS SOUTH CAROLINA (CGN-37) navegando durante o Exercício Comptuex 1-85
Uma visão de proa de boreste do cruzador de mísseis guiados movido a energia nuclear USS VIRGINIA (CGN-38) navegando no nordeste do Mediterrâneo enquanto operava em apoio à Operação Provide Comfort, um esforço multinacional para ajudar refugiados curdos no sul da Turquia e norte do Iraque, em 1991
O cruzador de mísseis guiados movido a energia nuclear USS TEXAS (CGN-39), em primeiro plano, e o cruzador de mísseis guiados USS PRINCETON (CG-59) manobram durante o exercício multinacional RimPac ’90
O cruzador de mísseis guiados movido a energia nuclear USS MISSISSIPPI (CGN-40) navegando pelo canal de Canal de Suez. O navio estava indo para o Mar Vermelho para apoiar a Operação Desert Shield, em 1990
Uma visão elevada da proa de bombordo do cruzador de mísseis guiados movido a energia nuclear USS ARKANSAS (CGN-41) durante as atividades da Semana da Frota, em 1985

 

Nome do Navio Indicativo Classe Comprimento Deslocamento Commissionado Descommissionado
USS Long Beach CGN-9 Long Beach 219.84 m 15,540 tons 9 Setembro 1961 1 Maio 1995
USS Bainbridge CGN-25 Bainbridge 172.21 m 9,100 tons 6 Outubro 1962 13 Julho 1996
USS Truxtun CGN-35 Truxtun 171.91 m 8,659 tons 27 Maio 1967 11 Setembro 1995
USS California CGN-36 California 178.92 m 10,800 tons 16 Fevereiro 1974 9 Julho 1999
USS South Carolina CGN-37 California 178.92 m 10,800 tons 25 Janeiro 1975 30 Julho 1999
USS Virginia CGN-38 Virginia 178.61 m 11,666 tons 11 Setembro 1976 10 Novembro 1994
USS Texas CGN-39 Virginia 178.61 m 11,666 tons 10 Setembro 1977 16 Julho 1993
USS Mississippi CGN-40 Virginia 178.61 m 11,666 tons 5 Agosto 1978 28 Julho 1997
USS Arkansas CGN-41 Virginia 178.61 m 11,666 tons 18 Outubro 1980 7 Julho 1998

FONTE: Wikipedia / FOTOS: US Navy

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Allan Lemos

O iminente fim da USSR também contribuiu para o fim dos destroyers/cruzadores de propulsão nuclear, os americanos acharam que nunca mais teriam que lidar com algum inimigo do mesmo nível. Se imaginassem o que a PLAN se tornaria, provavelmente teriam continuado a construir navios desse tipo para evitar serem expulsos da região caso as bases aliadas fossem neutralizadas.

Esteves

O navio podia dar a volta no mundo. Mas a tripulação precisava de víveres. E diversão. Todo marinheiro precisa de diversão.

Carlos Gallani

Tempo de guerra é outro esquema!

Esteves

Na guerra precisa comer, beber, ir ao banheiro, receber notícias da família, ter um capelão para rezar, confraternizar.

O navio pode ser automático. A tripulação não.

Carlos Gallani

Ah vá!

Cristiano de Aquino Campos

Tem um estudo da marinha americana que diz que o tempo máximo seguro de um tripulante ficar sem ir a terra e de 60 dias, depois disso a probabilidade de erro humano aumenta muito.
A vantagem dos navios e submarinos nucleares e ficar o mínimo de tempo na base em caso de emergência, o navio aporta, troca de tripulação, se abastece de comida e zarpa, pode navegar o tempo que for preciso em velocidade máxima sem se preocupar com combustível.

Dalton

O último deles foi comissionado em 1980 quando ainda não havia sinais claros do fim da URSS e todos os posteriores projetados inclusive com sistema AEGIS foram cancelados.
.
A razão para descontinuar a produção de combatentes de superfície de propulsão nuclear
é que os “Ticonderogas” e eventualmente os “Arleigh Burkes” provaram ser um modo muito mais econômico de se ter o AEGIS em serviço e em números significativos e isso continua válido com relação a China.

Burgos

Verdadeiras máquinas de guerra 💪💀🏴‍☠️☠️⚓️
Podiam circum-navegar o globo atendo qualquer ocorrência sem problemas.
Pena que eram caros de manter na época 🤷‍♂️

Esteves

Burgos,

Eu…ia perguntar mas fiquei…envolto em receios. Depois da Guerra da Lagosta, Guerra Fria, Guerra das Malvinas que inspirou aqui.

Burgos, agora vai.

Que guerra é essa no WhatsApp do Almirantado?

Frederico Boumann

Outra pergunta de um leigo.
Qual a belonave mais cara em se manter, um cruzador nuclear ou um submarino nuclear?
No que se refere a eficiência, creio que o submarino seja melhor, mas, no que se refere aos custos, quem seria mais vantajoso?

Dalton

Penso que um cruzador terá uma tripulação maior que um submarino de propulsão nuclear de ataque então só isso já custa mais para manter ao longo de estimados 35 ou mais anos de serviço.
.
Quanto a eficiência, resumindo, depende, já que um submarino não serve como escolta de navios de maior valor, não pode ser usado contra mísseis balísticos nem mesmo ajuda humanitária.
.
É importante para uma marinha ter um certo equilíbrio de meios, encher-se de submarinos
não é a resposta.

Frederico Boumann

Na minha opinião, os custos devem ser observados, mas, acredito que ainda cabe um cruzador nuclear na esfera naval, principalmente para marinhas que tem muitos recursos a defender, além de protagonismo mundial. Nações que guardam grandes recursos marinhos, que sabe que suas riquezas são cobiçadas por grandes players globais, porém, optou por buscar mais se defender do que atacar, sem dúvida seria uma demonstração de poder. O parágrafo anterior pode parecer que esteja descrevendo o Brasil, que poderia até se enquadrar na discrição, embora não tenhamos capacidade nem técnica nem financeira, mas, nações como China(a China está mais fora do… Read more »

Dalton

Boumann os EUA abandonaram os grandes combatentes de superfície movidos a energia nuclear ainda na década de 1970 quando havia mais recursos e um potencial inimigo como a URSS e dada a importância de se implantar o novo sistema AEGIS desenvolveu-se a classe Ticonderoga para que rapidamente e de forma econômica números significativos pudessem ser construídos. . E se para os EUA “cruzadores nucleares” são proibitivos ainda mais o é para os demais países que você citou e para “defender riquezas” há outros meios mais realistas e/ou eficientes. . Quanto aos “Kirov” concordo com a beleza, mas, são os últimos… Read more »

Felipe Augusto Batista

O caso destes navios é que resolviam um problema que os EUA não tem. Eles são bem mais caros de manter que os convencionais mas permitem operação no mundo inteiro com bem menos necessidade de apoio logístico, mas o fato é que os EUA já gastam com bases de apoio ao redor do mundo, então os navios deles nunca estão muito distantes de um ponto onde possam reabastecer. A logística necessária já estava toda lá. Este tipo de navios faria mais sentido para os soviéticos ou mesmo pra China que não possuiam bases espalhadas pelo globo, mas vemos que a… Read more »

Esteves

Vários motivos foram responsáveis pela descontinuidade desses navios. Um desses motivos foi a manutenção à bordo e a ausência de marinheiros treinados e dispostos a encararem o desafio…já naqueles anos. “Long Beach tinha seis geradores de turbina de 2500 kW e dois geradores a diesel de emergência de 1000 kW. Depois de concluir as qualificações básicas de engenharia, fui designado para a loja de segurança elétrica, garantindo que as ferramentas elétricas portáteis fossem verificadas quanto à segurança antes da emissão. Este foi um momento desafiador na Marinha. Estava passando pela redução da era pós-Vietnã e havia uma grave escassez de… Read more »

Esteves

Se a China encontrar um jeito de mostrar eficiência fazendo navios convencionais ou navios com propulsão nuclear, ela fará.

Depende de custos e de objetivos como dar voltas ao mundo. A propulsão naval parece estar indo no mesmo caminho da indústria automobilística: navios híbridos, diesel + elétricos.

Esteves

Perguntei ao Nunão certa vez se um navio construído assim não tombava. Ele disse não. Ainda tenho essa dúvida.

Outra coisa. Um navio carregando essa “caixa na cabeça” devia ser muito barulhento.

Alex Barreto Cypriano

Não tombava porque o centro de gravidade está bem baixo graças ao enorme peso do compartimento do reator próximo ao fundo do navio, um à vante e outro mais à ré. Segundo alguém que serviu a bordo do USS Long Beach, o navio tinha arfagem suave mas a rolagem era muito sentida no nível mais elevado da ‘caixa’.

Last edited 1 ano atrás by Alex Barreto Cypriano
Alex Barreto Cypriano

O CGN-9 em construção

kelson

Muito agradecido pela materia, precisava de ideas para construir modelos para o proximo Ano e devido a estas belissimas fotos, ja sei o que irei construir!

Roosevelt

Excelente matéria e muito bem ilustrada. Nas fotos observo que os vastos espaços nos conveses das classes há muito espaço dando a impressão que eram pouco armados ou com opções mínimas na variedade de armamentos. Imagino também as dificuldades de lidar com oito reatores como era o caso do USS Enterprise. Por acaso, haviam na época cruzadores convencionais com armamento nuclear?

Otto Lima

A título de esclarecimento, os reatores nucleares navais dos EUA recebem a seguinte designação: X0Y Onde: X é a letra indicativa do navio onde é empregado (A para navios-aeródromos, C para cruzadores, D para contratorpedeiros e S para submarinos) 0 é o número indicativo da geração do reator Y é a letra indicativa do fabricante (B para a Bechtel, C para a Combustion Engineering, G para a General Electric e W para a Westinghouse) Tomando os exemplos dos reatores citados na matéria, o reator do USS Long Beach (CGN 9) era o C1W, reator de primeira geração da Westinghouse para… Read more »

Last edited 1 ano atrás by Otto Lima