Ricardo Cabral [1]

Alexandre Galante [2]

Introdução

A Marinha dos Estados Unidos (US Navy ou USN) foi criada a partir da Marinha Continental em 13 de outubro de 1775, durante a Guerra de Independência. Sua missão é “proteger a América no mar. Ao lado de nossos aliados e parceiros, defendemos a liberdade, preservamos a prosperidade econômica e mantemos os mares abertos e livres. Nossa nação está engajada em uma competição de longo prazo. Para defender os interesses americanos em todo o mundo, a Marinha dos EUA deve permanecer preparada para desempenhar nosso papel atemporal, conforme orientado pelo Congresso e pelo Presidente”.

A US Navy considera que “doutrinariamente, o domínio marítimo é constituído pelos oceanos, mares, baías, estuários, ilhas, áreas costeiras e o espaço aéreo acima destes, incluindo os litorais. A complexidade do domínio, com confluências de água, ar e terra, assim como espaço e ciberespaço, é infinita em variação.”

A US Navy tem como suas tarefas: controle do mar, projeção de poder, dissuasão, segurança marítima e transporte marítimo.

O domínio marítimo forma os atributos-chave da força naval norte-americana: mobilidade, capacidade expedicionária, agilidade, emprego “escalável” das suas capacidades, permanência (na ação) e versatilidade. A partir da leitura da Naval Doctrine Publication 1. Naval Warfare podemos deduzir que a estratégia da presença em todos os mares e oceanos visa “mostrar a bandeira” a fim de garantir suas linhas de comunicações marítimas (“liberdade de navegação”) para o comércio, para a exploração dos recursos marítimos e o deslocamento das forças norte-americanas.

Na visão da Marinha “os oceanos moldaram a jornada da humanidade desde o início da tempo registrado. Eles têm sido uma fonte de prosperidade e perigo, proteção e ameaça, oportunidade e opressão, tudo dependendo das aspirações daqueles que dominam o mar. A história demonstra que quando você perde o capacidade de contestar no mar, você perde o mar.”

A USN é a ponta de lança dos interesses nacionais e a primeira linha de defesa dos Estados Unidos. A prosperidade dos Estados Unidos está ligada diretamente as lides marítimas, ao comércio marítimo e a segurança fornecida pela Marinha.

Em termos organizacionais, o oficial de mais alta patente da Marinha é o Chefe de Operações Navais (Chief of Naval Operations) responsável pela parte operacional, enquanto que Secretário da Marinha é o encarregado das questões administrativas. O CNO e o Comandante do Corpo de Fuzileiros Navais são membros do Estado Maior Conjunto (Joint Chiefs of Staff).

As unidades da Marinha estão organizadas em Frotas que estão subordinadas aos Comandantes dos Comandos Combatentes Unificados (Unified Combatant Commands, CCMD). Tais Comandos são responsáveis pela condução de operações militares em uma determinada região geográfica (Area Of Responsability, AOR).

Cada AOR tem uma série de instalações e unidades orgânicas e podem receber unidades de cada uma das Forças singulares para serem desdobradas em um determinado teatro de operações. A cadeia de comando para fins operacionais é: presidente, secretário de defesa e comandante do CCMD. Como verificamos, as Forças Armadas norte-americanas tem uma forte característica expedicionária.

Um dado interessante, a 10ª Frota, Comando Cibernético da Frota, ativada em 2010, trata-se de um comando funcional, localizada no Fort Mead, Maryland, está subordinada ao Comando Espacial e ao Comando Cibernético. A criação dessa frota demonstra que as Forças Armadas dos EUA adotaram uma abordagem sistêmica dessas novas dimenções estratégicas, ampliando a consciência situacional (Situational Awareness) do Comando (seja ele CCMD ou de TO) com capacidades de combate em múltiplos domínios e ampla integração da suas várias palataformas e capacidades combatentes, de C4ISR (Command, Control, Communications, Computers, Intelligence,Surveillance and Reconnaissance)  e unidades I2CEWS (Intelligence, Information, Cyber, Eletrônic Warfare and Space).

Verifica-se no mapa acima, que as Forças Armadas norte-americanas concentraram muitos bases na região da Ásia-Pacífico, são 7 bases na área de maior interesse estratégico que é o Mar do Sul da China, que é o mesmo número de grandes bases nos Estados Unidos. Observe-se que em Singapura existe um centro logístico muito próximo ao Estreito de Malaca. As bases no exterior têm unidades fixas e/ou unidades e meios permanentes desdobrados em regimes temporários.

O planejamento da Marinha dos EUA para incorporação de novos meios de combate

A USN na sua estimativa de custos na produção dos vários meios em especial aquisição de SSN(X) e DDG(X) ocorre quando a Marinha enfrenta vários anos de orçamentos nivelados indo para a década de 2030 e como vários grandes programas de aquisição competem por dinheiro dentro do serviço e com as prioridades do Gabinete do Secretário de Defesa.

Em vez de fornecer uma única perspectiva de 30 anos para o plano de construção naval da Marinha, o serviço emitiu três planos separados para o ano fiscal de 2023.

A USN elaborou um plano de baixo e alto nível com base em dois perfis de financiamento separados – Alternativa 1 e Alternativa 3. O Pentágono criou um terceiro perfil – Alternativa 2 – que enfatizou a construção de submarinos de ataque e o submarino de mísseis balísticos nucleares da classe Columbia.

As estimativas de custo da Marinha são de US$ 689 bilhões para a Alternativa 1, US$ 696 bilhões para a Alternativa 2 e US$ 763 bilhões para a Alternativa 3 (ou, em 30 anos, uma média de US$ 23,0 bilhões, US$ 23,2 bilhões e US$ 25,4 bilhões por ano, respectivamente).”

O Congressional Budget Office (CBO) descobriu que a Marinha subestimou o custo de seus planos de construção naval em US$ 4 a US$ 5 bilhões anualmente ao longo dos 30 anos de vida das propostas.

“O CBO estima que comprar apenas os novos navios especificados no plano de 2023 da Marinha custaria US$ 795 bilhões na Alternativa 1, US$ 834 bilhões na Alternativa 2 e US$ 881 bilhões na Alternativa 3 (ou, em 30 anos, uma média de US$ 26,5 bilhões, US$ 27,8 bilhões) e US$ 29,4 bilhões por ano, respectivamente – tudo em dólares de 2022).”

Resumindo, vai custar muito caro.

Cada alternativa propõe um número diferente de navios de cada tipo, sem levar em consideração meios de superfície e submersíveis não tripulados, para atingir um total de 316, 327 ou 367 navios, com previsão até ano 2052. Em contrapartida, as projeções indicam que a Marinha Chinesa (PLA Navy ou PLAN) deverá ter de atingir o número de 400 navios em 2025 e 440 navios em 2030, como no gráfico abaixo.

Quais seriam as soluções para esse desafio estratégico? 1) Inicialmente a USN indica que vai estimular a capacidade de construção naval com novos estaleiros e ampliação dos existentes e 2) Incorporar sistemas autônomos de superfície (unmanned surface vessel, USV, de porte médio e o Large Unmanned Surface Vehicles, LUV), submersos (Extra Large Unmanned Underwater Vehicle, ELUUV) e aéreos (large UAV).

A partir dessas possibilidade a USN está instrumentalizando um novo projeto de força, como na tabela abaixo.

A USN acompanha de perto a evolução da incorporação de novos meios das suas principais concorrentes estratégicas, atualmente, as marinhas da China e da Rússia. Essas Marinhas representam desafios diferentes em termos estratégicos, de ameaças e de desdobramento de unidades em determinadas regiões. O atual cenário estratégico exige da USN uma presença constante em regiões como o Atlântico Norte, Mediterrâneo, Pacífico Norte e o Mar da China. A título de exemplo, a PLAN está expandido sua zona de ação para o Índico, Mar Vermelho, Golfo Pérsico e Atlântico Sul e recentemente começou a alongar as patrulhas dos seus SSBN, obrigando a US Navy a desdobrar meios para acompanhá-los. Para maiores informações acessar https://historiamilitaremdebate.com.br/a-intensificacao-das-patrulhas-submarinas-com-armas-nucleares-da-china-adiciona-complexidade-para-os-eua-e-aliados-2/ e https://www.naval.com.br/blog/2022/11/11/destroier-ddgx-pode-custar-ate-us-34-bilhoes-por-casco-submarino-de-ataque-ssn-x-ate-us-72-bilhoes-diz-relatorio/

Sendo assim, a pressão sobre a USN é enorme.

O projeto de força elaborado pela USN explicita as capacidades expedicionárias, com muitos navios aeródromos, anfíbios e cruzadores evidenciando que a USN deseja manter suas capacidades de controle de área maritima, projetar força militar sobre terra e de presença nas áreas de maior interesse estratégico dos Estados Unidos.

A questão da guerra de litoral é abordada pela contrução de uma nova classe de fragatas e novas atualizações dos destroyers da classe Arleigh Burke. No entanto, verifica-se que o aumento do número de destróieres  e a incorporação da 20 fragatas da classe “Constellation” (imagem acima) não serão suficientes, tendo em vista os múltiplos cenários de atuação. Lembrando que foram fabricadas 71 fragatas da classe Oliver Hazerd Perry (incluindo as de marinhas amigas). O programa DDG(X) também deve ser acelerado já que começaram a surgir na mídia especilizada a concepção geral do navio, como vemos na imagem abaixo.

O primeiro dos 42 destróieres Flight III da classe Arleigh Burke deve ser comissionado ainda em 2023 e não se sabe ainda se essa encomenda será mantida e se a USN vai construir um novo DDG(X). O certo que esse destróier tem menos capacidades que o Type 055 chinês (8 já comissionados, 1 em contrução e 7 encomendados).

Como verificamos, a USN elaborou um cenário onde a PLAN teria uma frota superior a 400 navios. O projeto de força da USN contempla recomendações da incorporação de 403 meios. Nos próximos anos importantes meios navais darão baixa, como os porta-aviões da classe Nimitz (que já tem substituto) e os cruzadores da classe Ticonderoga (sem substituto, já que o Programa DDGX ainda está na fase de modelagem), embora os destróieres Arleigh Burke Flight III sejam designados como substitutos temporário.

Nos último 20 anos, os programas de produção de novos meios têm se caracterizado pelo descumprimento de prazos, estouro do orçamento, desempenho operacional aquém do esperado e longas paradas de manutenção, diminuindo o tempo de prontidão e disponibilidade dos meios. Carlos del Toro, Secretário da US Navy, lamenta o estado atual da construção naval norte-americana: os chineses contam com 13 estaleiros capazes de construir navios de grande porte, enquanto os EUA possuem apenas 7. Apenas 1 estaleiro chinês tem uma capacidade produtiva maior do que os 7 norte-americanos. Atualmente a PLAN tem 340 navios de guerra, já a US Navy tem 280.

Destróieres Type 055 da PLA Navy

Na comparação entre a produção de navios mercantes e de carga transportada por navios de ambas as bandeiras a vantagem chinesa é ainda maior, a China construiu 44% da frota mercante mundial, a Coreia do Sul 32%, o Japão 17% e os EUA apenas 0,05%.

O cenário atual já desafiador para a US Navy, já que a PLAN mantém um ritmo de construção de mais ou menos 6/7 meios por ano (nos último 15 anos), enquanto o ritmo atual de construção naval dos EUA é de 1/2 navios por ano. Aumentar o número de estaleiros, qualificar a mão de obra, reduzir os custos e projetos navais de melhor qualidade é apenas o começo.

PLA Navy em 2025

Para maiores informações, ler os artigos “Marinha dos EUA lamenta supremacia na construção naval da China” no link https://www.naval.com.br/blog/2023/02/28/marinha-dos-eua-lamenta-supremacia-na-construcao-naval-da-china/; “A Era do Domínio Naval norte-americano acabou” no link https://historiamilitaremdebate.com.br/a-era-do-dominio-naval-norte-americano-acabou/  e “O Plano de Construção Naval de Longo Prazo da Marinha norte-americana” no link https://historiamilitaremdebate.com.br/o-plano-de-construcao-naval-de-longo-prazo-da-marinha-norte-americana/.

O quadro a seguir mostra o ritmo de construção das unidades de superfície da PLAN. Seta azul significa que a embarcação está (provavelmente) em serviço em abril de 2023, branca significa que ainda não está ou não está mais em serviço, mas pode já ter sido lançado.

O Índice de Força Militar dos EUA em 2023 (2023 Index of U.S. Military Strength, https://www.heritage.org/military ) ressalta a importância de acelerar a incorporação de novos meios e os programas visando manter a vantagem tecnológica existente em relação as outras Marinhas.

Sea Hawk (esquerda) e o Sea Hunter (direita) Medium-displacement unmanned vessel

Como nos referenciamos acima, a US Navy planeja aumentar rapidamente o número de meios de combate com a incorporação de um número de sistemas autônomos de superfície (unmanned surface vessel, USV, de porte médio e o Large Unmanned Surface Vehicles, LUV), submersos (Extra Large Unmanned Underwater Vehicle, ELUUV) e aéreos (large UAV) que já estão sendo testados.

Esse meios devem atuar em conjunto com meios tripulados com novas doutrinas de emprego a serem desenvolvidas. O potencial desses sistemas é muito grande, mas ainda existe um longo caminho até que estejam em condições de emprego operacional. A USN espera já estar com esses sistemas em contrução em 2025 e começar a incorporá-los a partir de 2027.

XLUUV Orca

A questão é o aumento dos custos de produção por casco e a existência de vários programas (fragatas, destróieres, porta-aviões e submarinos) competindo por recursos cada vez mais limitados e em meio a isso tudo mudanças de prioridades, como o caso dos navios anfíbios, que não estão claras.

Os meios navais da Marinha dos EUA

Vamos listar abaixo apenas o que consideramos os principais meios da Marinha dos EUA.

TIPO CLASSE QTD OBS
Força de Submarinos
SSBN Ohio 14 Será substituído pela Classe Columbia
Columbia 1 em construção
SSGN Ohio 4
SSN Los Angeles 28
Seawolf 3
Virginia 21 6 em construção
Força de Superfície
Porta-aviões Nimitz 10
Gerald Ford 1 1 em construção
Navios de Assalto Anfíbio Wasp 7 1 em construção
America 2
Navio de Comando Anfíbio

(Amphibious Command Ships, LCC)

Blue Ridge 2
Navio de Desembarque Doca

(Landing Platform Dock LPD)

San Antonio 12 2 em construção
Navio de Desembarque

(Dock Landing Ship, LSD)

Whidbey Island 6
Harper Ferry 4
Cruzadores de mísseis guiados Ticonderoga 22 A serem substituídos pela DDG(X)
Destróieres Arleigh-Burke 70 13 em construção
Zumwalt 2 1 em testes de mar
Fragatas Constellation 3 em construção
Navios de Combate Litorâneos
(Littoral Combat Ships, LCS)
Freedom 10 5 em construção
Independence 12 5 em construção

 

Aviação Naval

Aeronave Função Qtd Obs
F/1-18E/F Super Hornet Caça 566
F-35 Lightning II Caça 13
Airborne Early Warning and Control, AEW&C)
E-2 Hawkeye Alerta antecipado e controle aéreo 97
Guerra Eletrônica
E-6 Mercury TACAMO (Take Charge And Move Out) 16
EA-18G Growler Suppression of Enemy Air Defenses (SEAD) e

Radar jamming and deception

153  
EP-3 Orion Electronic signals intelligence (ELINT) e Signals intelligence (SIGINT) 12  
Patrulha Marítima
P-3 Orion Anti-submarine warfare (ASW) 40 12 em missões de ELINT
P-8 Poseidon Anti-submarine warfare (ASW) 112  
Helicópteros
CH-53E Super Stalion Caça-minas e lança minas 29  
SH-60 Seahawk ASW, SAR e transporte 508  
V-22 Osprey Transporte 12  

 

Grupos de Batalha e Grupos de Ataque

As frotas são, normalmente, divididas em esquadras navais, cada uma das quais comandada por um oficial general subordinado. Por sua vez, as esquadras são, tradicionalmente, divididas em divisões. Na época da navegação à vela era tradicional uma frota estar dividida nas esquadras de vante, do centro e de ré. O mesmo ocorria com as esquadras atuando isoladas, podiam se dividir em esquadrões e estes em divisões.

A organização em frotas é administrativa, quando os meios são disponibilizados para uma frota, eles se organizam em grupos de batalha. Os esquadrões (destróieres, fragatas, LCS etc) são estruturas ao mesmo tempo táticas e administrativas e seguem a mesma lógica de distribuição de meios para a composição dos grupos de batalha.

Um grupo de batalha refere-se a um grupo de navios organizados e treinados para operar juntos como uma unidade  a fim de cumprir uma determinada missão e por um determinado tempo de desdobramento. Este grupo normalmente inclui um porta-aviões, bem como uma variedade de outros navios, como cruzadores, destróieres e submarinos. O objetivo de um grupo de batalha é projetar poder naval e fornecer uma forte dissuasão contra adversários em potencial.

Um grupo de ataque, por outro lado, é um grupo menor de navios que são organizados e treinados para conduzir operações ofensivas. Este grupo normalmente inclui um porta-aviões, bem como um número menor de cruzadores, destróieres e submarinos. O objetivo de um grupo de ataque é conduzir operações como ataques aéreos e apoiar operações anfíbias. Existem ainda os esquadrões que podem ser compostos por cruzadores, destróieres e fragatas que podem conduzir operações no mar e anfíbias.

Quantos navios compõem um grupo de batalha da USN? Depende da missão recebida. Um “grupo de ataque de porta-aviões” (Carrier Strike Group, CSG) pode incluir um porta-aviões (CVN) com suas ala aérea embarcada (CAW), escoltado por um ou dois cruzadores de mísseis guiados (CG), dois ou três destróieres de mísseis guiados (DDG), um ou dois submarinos de ataque (SSN) e apoiado por um navio de reabastecimento de frota ou um navio logísitico (T-AO).

A USN possui também um efetvo, algo ente 8 mil e 9 mil, operadores de forças especiais conhecidos como Navy SEALs (The United States Navy Sea, Air and Land Teams, SEALs).

Os “times” que compõe essa força especial tem capacidade de operar em vários tipos de ambientes e realizar uma ampla gama de missões tais como: operações de inteligência, neutralização e/ou captura de inimigos, sabotagem, reconhecimento, destruições, treinamento, conselheiros militares  entre outras. Os SEALs utilizam diversos meios para infiltração e exfiltração, não se limitando aos meios navais.

Os SEALs estão organizados em 6 Grupos Especiais de Guerra Naval com cada grupo contando com equipes SEALs de número váriavel e equipamentos especificos. Estão subordinados ao CNO e podem ser empenhados pelo JSOC. Existe um grupo que tem organização diferenciada e está diretamente subordinado ao Joint Special Command (JSOC) componente do US Special Operations Command (USSOCOM), o Naval Special Warfare Development Group, conhecido como DEVGRU ou SEAL Team 6.

 

O Corpo de Fuzileiros Navais (United States Marine Corps (USMC)

É a principal unidade expedicionária e de assalto anfíbio das Forças Armadas dos Estados Unidos. Atua em alto grau de cooperação com a Marinha, tendo autonomia tática, operacional e estratégica para a condução de suas missões de guerra anfíbia.

Em terra, os Marines realizam suas operações de armas combinadas, semelhantes ao Exército, respeitando as particuladidades da guerra anfíbia.

Os Marines estão desdobrados de acordos com os Comandos Combatentes. Internamente estão dividos no Comando Pacífico, Comando Atlântico e em três Forças Expedicionária de Fuzileiros (Marine Expeditionary Force) com sede em Campo Pedleton (San Siego, CA), Campo Lejune (Jacksonville, Carolina do Norte) e Campo Courtney (Okinawa, Japão).

Cada Força Expedicionária de Fuzileiros Navais (Marine Expeditionary Force, MEF) é composta por;

  • 1 Divisão de fuzileiros com 3 regimentos de fuzileiros cada um com 4 batalhões, 1 regimento de artilharia com 4 batalhões de artilharia, 1 batalhão de reconhecimento mecanizado, 3 batalhões de reconhecimento blindado, 1 batalhão blindado de assalto anfíbio e 1 batalhão de engenharia de combate ;
  • 1 Brigada Expedicionária;
  • 3 unidades expedicionárias (valor batalhão) e  companhias de inteligência e comunicações;
  • 1 Ala aérea com com 4 grupos de aeronaves dotadas de caças e helicóteros (ataque e transporte), 1 esquadrão de UCAV, 1 regimento de suporte logístico, 1 esquadrão de controle aéreo, 1 esquadrão de apoio logístico, 1 esquadrão de defesa anti-aérea e 1 esquadrão de comunicações;
  •  1 Grupo Logístico com companhia de engenharia, combate logísitico, transporte, manutenção e médica.

As Forças Especiais estão sob o comando operacional do Marine Forces Special Operations Command (MARSOC) incluindo o Marine Raider Regimento e está diretamente subordinada ao JSOC. O efetivo gira em torno de 3 mil homens. O efetivo total dos Marines é em torno de 180 mil homens.

O quadro abaixo mostra os meios aéreos de combate mais significativos dos Marines.

Aeronave Função Qtd Obs
AV-8B Super Hornet II Ataque ao solo 87  
F/1-18E/F Super Hornet Caça 138
F-35 Lightning II Caça 127
Helicópteros
AH-1Z Viper Ataque 159  
CH-53E Super Stalion Transporte pesado 140  
CU-53K King Stallion Transporte pesado 9  
V-22 Osprey Multi-missão e Transporte 289  

 

Conclusão

A Marinha dos EUA continua sendo a mais poderosa do mundo e de maior tonelagem, mas a Marinha Chinesa é a mais numerosa e, a cada ano, a lacuna entre os dois poderes navais diminui.

A primeira vantagem da USN reside no número de porta-aviões, são 11 navios contra 2 da PLAN (a partir de 2025 serão 3). Mas a vantagem do número de porta-aviões não resulta necessariamente em vantagem tática no Mar da China, por causa das capacidades A2/D2 (anti-acesso/negação de área) chinesas, como os mísseis balísticos antinavio, mísseis hipersônicos, mísseis antinavio lançados de navios, aeronaves e submarinos.

Como evidenciado em simulações, devido à vulnerabilidade dos porta-aviões da USN diante dos mísseis balísticos antinavio chineses, eles teriam muita dificuldade de sobreviver operando além da segunda cadeia de ilhas, caso tentem interferir em uma invasão de Taiwan pela China.

Míssil balístico antinavio (ASBM) DF-21D
Testes de Mísseis Balísticos Antinavio (ASBM) no Deserto de Gobi

A ilustração abaixo mostra um Carrier Strike Group da USN operando entra primeira e segunda cadeia de ilhas no Oceano Pacífico, dentro do alcance dos mísseis balísticos antinavio chineses DF-21D (1.500 km de alcance) e DF-26 (4.000 km de alcance) e bombardeiros H-6K que podem ser equipados com mísseis de cruzeiro e hipersônicos.

Diante desse cenário, os submarinos de propulsão nuclear seriam as plataformas da USN com maior grau de sobrevivência, podendo empregar seus mísseis de cruzeiro contra alvos chineses.

Os submarinos de propulsão nuclear da PLAN são em menor número e qualidade inferior em relação aos da USN, mas a vantagem americana também tende a diminuir nos próximos anos, devido ao aumento do ritmo de construção de submarinos chineses e também da sua qualidade.

Atualmente a PLAN opera 6 submarinos nucleares de mísseis balísticos (SSBN), seis submarinos nucleares de ataque (SSN) e 44 submarinos diesel-létricos (SSK), incluindo unidades dotadas de sistemas de propulsão independentes da atmosfera (AIP).

A PLAN deve manter um inventário de 65 a 70 submarinos durante os anos 2020, substituindo unidades mais antigas por mais modernas.

Nos últimos 15 anos, a PLAN construiu 12 submarinos de propulsão nuclear, 6 SSBN Type 094, 2 SSN Type 093 e 4 SSN Type 093A.

SSN classe Virginia

Os próximos submarinos chineses de propulsão nuclear deverão ser os Type 093V ou Type 095, dotados de lançadores verticais (VLS) para mísseis de cruzeiro. Fotos de satélite revelaram que a China ampliou sua capacidade de construção de submarinos e poderá atingir a capacidade de lançar ao mar pelo menos dois SSN ao ano.

A questão para a USN não é apenas tentar manter a superioridade tecnológica ou a superioridade qualitativa dos meios, mas de chegar também a uma paridade numérica com PLAN, que não para de se expandir.

Um outro ponto que não podemos esquecer é que a Marinha russa, em que pese a prioridade da Guerra da Ucrânia, também não para de crescer e tem retomado a postura mais agressiva do período soviético.

Diante de novo cenário estratégico na região do Extremo Oriente, Japão, Coreia do Sul e Austrália, tradicionais aliados e dependentes da panóplia militar dos EUA, tem se empenhado em ampliar suas capacidades militares.

A tendência de médio prazo é uma ampliação significativa dos gastos militares na região do Extremo Oriente com o objetivo de dissuadir os chineses. Por outro lado, o aumento dos gastos militares também pode indicar a redução da capacidade dos EUA de encontrar uma solução política para o xeque estratégico que Beijing aplicou em Washington.

Lançamento do porta-aviões Fujian em 17 de junho de 2022. O navio-aeródromo de 85.000 toneladas, dotado de catapultas eletromagnéticas, deve iniciar as provas de mar em 2023

FONTES


[1]  Mestre e Doutor em História Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada (PPGHC) da UFRJ, professor-colaborador e do Programa de Pós-Graduação em História Militar Brasileira (PPGHMB – lato sensu), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO e Editor-chefe do site História Militar em Debate e da Revista Brasileira de História Militar. Website: https://historiamilitaremdebate.com.br.

[2] Jornalista especializado em assuntos militares e editor-chefe da revista e trilogia de sites Forças de Defesa. Serviu à Marinha do Brasil a bordo da fragata Niterói (F40) no final da Guerra Fria, colaborou com revistas especializadas e trabalhou na redação do jornal O Globo durante 12 anos.

Subscribe
Notify of
guest

28 Comentários
oldest
newest most voted
Inline Feedbacks
View all comments
MIGUEL

Esse Artigo é sensacional , fiquei de boca aberta com a dimensão da U.S.Navy, é a força mais poderosa da face da terra, e acredito que ainda será por muito tempo, não vejo a China e a Rússia baterem os EUA nos proxímos anos… É muita disparidade de forças, Rússia e China teriam que investir Trilhões de doláres para ter algo dessa dimensão.

Heinz

esqueça a Rússia, com está guerra que ela iniciou ela vai se encrencar por bastante tempo, já a China é outra história.

Lucas Romario Silva Lima

Não coloque a Rússia e a China no mesmo patamar, a Rússia não tem o mesmo poder econômico que a China para construir uma Marinha global poderosa, já a China é outra história. O PIB chinês não para de crescer e a China tem dinheiro com sobra pra construir uma marinha do mesmo nível dos EUA.

Rodrigo

Pode até ser, mas a china levaria muitos anos pra igualar os EUA. E os EUA com certeza não vai ficar parado no tempo.

Marialva

“PIB Chinês não pára de crescer” … KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

Alison

PIB americano cresceu 1,6% em 2022 (45º)… China 3,2%. (25º)

https://exame.com/economia/brasil-fecha-2022-como-a-12a-economia-do-mundo-ranking/

Silvio de Barros Pinheiro

Nada que os mísseis hipersonicos chineses e russos não deem conta

Bruno Cícero

Creio que você tenha visto que os mísseis hipersônicos russos estão tendo uma série de problemas na Ucrânia. Não são essa bala de prata, fora o desenvolvimento e estudo dessa tecnologia pelos americanos. Embora problemático os Estados Unidos possuem o know-how e a capacidade técnica para esse tipo de arma. Não existe bala de prata no combate. Os chineses são sim muito competentes, os vejo ameaçando a Marinha americana e prevejo acirrada disputa.

Macgaren

Ótimo texto.

ln(0)

Acredito que os EUA não vão conseguir sozinhos enfrentar a Rússia e China. Acho que eles terão que ajudar seus aliados (OTAN, Japão e Coréia) a aumentarem o tamanho de suas forças armadas para poderem enfrentar os dois.

Silvio de Barros Pinheiro

Estamos na era dos mísseis hipersonicos. Não existe, ainda, absolutamente nada para parar esse tipo de arma.

Luis Carlos

O texto diz que a solução seria os americanos aumentarem a produção.
Só que aí é que reside o problema.
A China tem muitos mais meios financeiros e técnicos/industriais para produzir muitos mais navios que os americanos.
E pior.
O que os EUA podem fazer é construir mais do mesmo.
E já foi exaustivamente debatido aqui as novas armas chinesas e russas que podem alvejar esses navios sem que possam ser impedidas.

Santamariense

Pensamento mas simplista e reducionista, impossível.

Silvio de Barros Pinheiro

Pensamento realista.

Dalton

Há um ou outro erro nas informações e também alguma falta de atualização, um exemplo sendo que oficialmente a US Navy tem 296 unidades que não representa todo o poder naval já que navios oceanográficos, navios de transporte que servem os fuzileiros navais e o exército, etc, mesmo os dois grandes navios hospitais não fazem parte dessa lista e não estou inferindo que navios similares façam parte da lista chinesa. . Longe de ser uma crítica, até porque isso não faz muita diferença diante da China ao menos no “quintal chinês” independente da maior capacidade de construir unidades novas da… Read more »

Rodrigo

Ou seja, a marinha da China, hoje, pode ser a mais numerosa, mas a maior força continua sendo dos EUA. Só pra comparação, os EUA possuem 11 porta aviões de propulsão nuclear, enquanto a China possui apenas 2.

Dalton

Os 2 chineses juntos são menos capazes que o mais antigo da US Navy o USS Nimitz mas, o terceiro que está prestes a iniciar os primeiros testes de mar, mesmo não se sabendo se a expectativa de estar totalmente certificado em 2025 se cumprirá por conta de catapultas eletromagnéticas, ala aérea diferenciada, implantação de novas doutrinas etc, será um prenúncio do que se terá na próxima década.

Dalton

Não diria “erro” até porque os próprios chineses admitiram quando ainda o “Fujian” era um projeto que eles ainda não estavam preparados para um NAe de propulsão nuclear então inteligentemente não buscaram um terceiro NAe convencional com rampa e sim um similar aos que a US Navy construiu na década de 1960 e que apesar de convencionais tiveram grande êxito.
.
Ainda não se sabe se o quarto terá propulsão nuclear, mas, parece certo que a China eventualmente os construirá.

Silvio de Barros Pinheiro

A maior parte dos porta-aviões e dos submarinos nucleares da decadente USN não vêm recebendo manutenção. Os navios e submarinos russos e chineses são novos. Um novíssimo porta-aviões inglês está sendo canibalizado. Os dias dos xerifes do mundo estão contados.

Dalton

Os NAes são uma prioridade quando se trata de manutenção e modernização, não sei de nenhum que esteja sendo negligenciado como o USS Theodore Roosevelt que recém saiu de um período de 18 meses de revitalização que custou centenas de milhões de dólares capacitando-o a operar o F-35C, o CMV-22 e o futuro MQ-25 que deverá ser embarcado em 2025. . Há outros exemplos como a modernização de meia vida na fase final que por conta da pandemia está mais de um ano atrasada do USS George Washington e o mesmo processo ainda na fase inicial do USS John Stennis… Read more »

Alex

Ninguém se lança em uma corrida dessas sem propósito.
A China se prepara para desafiar.

Silvio de Barros Pinheiro

Para os EUA resolver qualquer problema, basta fazer rodar dia e noite as impressoras de dólares, dinheiro sem lastro, leia-se falso, que o otariado mundial ainda aceita. Mas deve correr, porque esse almoço grátis está com os dias contados.

Jagdverband#44

“Otariado”
De volta ao Gremio estudantil.

Macgaren

Preferia que fosse o real no lugar

Macgaren

Sempre me pergunto o que são esses caixotes pretos.

Dalton

Os “caixotes pretos” se você está referindo-se a foto do mais novo NAe chinês, são proteções contra o tempo para os trabalhos nas 3 catapultas eletromagnéticas.

ADM

Excelente artigo, parabéns aos autores.