Lembranças do Moskva: agora é a Ucrânia que ameaça atacar navios no Mar Negro
‘O destino do cruzador Moskva prova que as forças de defesa da Ucrânia têm os meios necessários para repelir a agressão russa no mar’ diz MD ucraniano
O Ministério da Defesa da Ucrânia respondeu à ameaça russa de que navios no Mar Negro, dirigindo-se a portos ucranianos, seriam considerados alvos militares: agora foi a vez da Ucrânia dizer que qualquer navio dirigindo-se a portos russos no Mar Negro seria considerado da mesma forma. A notícia foi publicada pela Bloomberg.
Desde que suspendeu o acordo de grãos, que permitia à Ucrânia exportar parte de sua produção agrícola, a Rússia já atacou armazéns e alertou que qualquer navio dirigindo-se a portos ucranianos seria considerado como fornecedor de suprimentos bélicos.
Na declaração do ministério da Defesa da Ucrânia foi lembrado o ataque ao cruzador russo Moskva, afundado no Mar Negro, numa ação creditada a mísseis antinavio Neptune, desenvolvidos localmente: “O destino do cruzador Moskva prova que as forças de defesa da Ucrânia têm os meios necessários para repelir a agressão russa no mar”.
Desde quarta-feira, os preços do trigo subiram, e voltaram a aumentar quando o ministério da Defesa, em Kiev, anunciou que quaisquer navios em direção a portos russos ou em áreas ucranianas ocupadas por tropas russas também seriam alvos legítimos.
A escalada de ameaças a rotas mercantes do Mar Negro elevou os riscos nos mercados, desde petróleo e alimentos básicos até fertilizantes. Ainda assim, os preços do petróleo pouco se alteraram, segundo a Bloomberg, indicando que o mercado está cético quanto à possível interrupção do fornecimento.
O Mar Negro abriga um importante terminal de petróleo russo, Novorossiysk, que também é um importante porto para embarque de fertilizantes, grãos e carvão. Há também outros terminais próximos a Taman, a leste da Crimeia, com cerca de 28 navios na região.
Segundo Alexander Kulikov, diretor executivo da empresa de navegação Sea Lines, de São Petersburgo, disse que o porto de Novorossiysk funcionava normalmente nesta quinta-feira. Porém, como a passagem pelo estreito de Kerch foi suspensa desde o recente ataque à ponte da Crimeia, não está claro quando reabrirá. A companhia tem dois navios aguardando passagem pelo estreito pelo sul.
Ainda que não seja claro o grau de realismo da ameaça ucraniana, o ministério da Defesa da Rússia também não especificou o que faria com navios que tentassem entrar em portos da Ucrânia. Por outro lado, as capacidades russas no Mar Negro e no Mar de Azov são consideráveis, incluindo navios de guerra dotados de mísseis de cruzeiro, com cobertura radar contra ataques aéreos, assim como a base de Sevastopol, na Crimeia.
Os mísseis Harpoon e Storm Shadow, que são os de maior alcance da Ucrânia, não podem atingir Novorossiysk e suas rotas de aproximação, o que não ajudaria nos esforços ucranianos para atingir navios na região. O arsenal ucraniano também inclui drones de longo alcance, ainda que muito menos poderosos, que provavelmente foram usados em ataques simbólicos a Moscou em maio. A Ucrânia não possui mais uma marinha capaz de ameaçar a Rússia, mas tem usados drones aquáticos para atacar navios russos, sendo a maior parte desses drones alvejada por tiros de canhão.
Segundo Nick Childs, pesquisador especializado em forças navais do “think tank” londrino International Institute for Strategic Studies, os ucranianos “já mostraram de várias formas que podem colocar o tráfego naval russo sob ameaça de formas que surpreenderam os russos. A questão é se isso é parte de um jogo de retórica em que um coloca pressão no outro para retomar o acordo de grãos, como já vimos no passado”.
Childs também opinou que a combinação russa de ataques a terminais ucranianos e ameaças ao tráfego mercante bastará para criar um bloqueio de fato, sem a necessidade de afundar qualquer navio. Ataques a navios petroleiros também aumentariam o risco de desastre ambiental, o que traria repercussões indesejadas da comunidade internacional.