A guerra naval no filme ‘USS Indianapolis – Homens de Coragem’ (2016)
Sérgio Vieira Reale
Capitão-de-Fragata (RM1)
Épico, heróico e emocionante, baseado em fatos reais, o cruzador USS Indianapolis (CA 35) da Marinha dos EUA, durante a guerra naval no pacífico, em 31 de março de 1945, foi atingido por um ataque kamikaze. Porém, mesmo avariado, conseguiu se deslocar até o estaleiro “Mary Island” na Califórnia.
Após a conclusão dos reparos, em julho de 1945, foi escolhido para cumprir uma missão secreta. Transportar uma misteriosa carga com a maior velocidade possível até uma ilha do Pacífico. Naquele momento, os Estados Unidos da América (EUA) queriam agilizar o final da guerra com o emprego da bomba atômica.
Cruzador USS Indianapolis
Quem assistiu ao famoso clássico, Tubarão de 1975, dirigido por Steven Spielberg, vai lembrar da inesquecível cena onde o personagem Quint (Robert Shaw) faz um monólogo dramático da sua fictícia experiência vivida no Cruzador Indianapolis. Durante quase quatro minutos, ele relata para Martin Brody (Roy Scheider) e Matt Hooper (Richard Dreyfuss), a inusitada situação ocorrida com o navio. Esta foi a forma de Quint justificar o perfil do seu personagem no filme Tubarão.
Relato de Quint sobre o USS Indianapolis no filme Tubarão (1975)
Submarino japonês acertou dois torpedos em seu lado, chefe. Estávamos voltando da ilha de Tinian para Leyte. Tínhamos acabado de entregar a bomba. A bomba de Hiroshima. Mil e cem homens entraram na água. A embarcação afundou em 12 minutos.
Não vi o primeiro tubarão por cerca de meia hora. Tigre. 13 pés. Sabe como sabe disso na água, chefe? Você pode dizer olhando da dorsal para a cauda. O que não sabíamos era que nossa missão de bombardeio era tão secreta que nenhum sinal de socorro havia sido enviado.
Logo na primeira luz, chefe, os tubarões estão passando, então nos formamos em grupos compactos. Era mais ou menos como você vê nos calendários, você conhece os quadrados de infantaria nos antigos calendários como a Batalha de Waterloo e a ideia era o tubarão chegar ao homem mais próximo, aquele homem ele começa a bater e gritar e às vezes aquele tubarão ele ir embora… mas às vezes ele não iria embora.
Às vezes, aquele tubarão olha diretamente para você. Bem nos seus olhos. E a coisa sobre um tubarão é que ele tem olhos sem vida. Olhos pretos. Como os olhos de uma boneca. Quando ele vem até você, ele nem parece estar vivo… até que ele te morde, e aqueles olhos negros rolam sobre o branco e então… ah, então você ouve aquele terrível grito agudo. O oceano fica vermelho e, apesar de todas as suas batidas e gritos, aqueles tubarões chegam e… eles rasgam você em pedaços.
Você sabe, no final daquele primeiro amanhecer, cem homens perdidos. Não sei quantos tubarões havia, talvez mil. Eu sei quantos homens, eles em média seis por hora. Quinta-feira de manhã, chefe, encontrei um amigo meu, Herbie Robinson, de Cleveland. Jogador de baseball. companheiro de Boson. Achei que ele estava dormindo. Estendi a mão para acordá-lo.
Ele subia, descia na água, parecia uma espécie de pião. De cabeça para baixo. Bem, ele foi mordido ao meio abaixo da cintura.
Ao meio-dia do quinto dia, um Lockheed Ventura nos avistou, um jovem piloto, muito mais jovem que o Sr. Hooper aqui, de qualquer maneira ele nos avistou e algumas horas depois um grande avião PBY desceu e começou nos salvar. Você sabe que foi a hora que eu mais me assustei.
Esperando minha vez. Nunca mais vou vestir um colete salva-vidas. Assim, mil e cem homens entraram na água. 316 homens saíram, os tubarões levaram o resto.
De qualquer forma, nós entregamos a bomba.”
Retornando ao filme, em 16 de julho de 1945, o USS Indianapolis deixou o porto de São Francisco com destino a base aérea de Tiniam (Ilhas Marianas) no Oceano Pacifico. A viagem foi realizada em 10 dias e chegou no seu destino no dia 26 de julho. O navio transportava uma carga de urânio e partes componentes da bomba atomica, que seria lançada sobre Hiroshima. O navio era comandado por Charles Butler McVay (Nicolas Cage).
Após o cumprimento da missão, o navio tinha deixado as Ilhas Marianas, passado pela base militar de Guam e estava a caminho de Leyte, nas Filipinas.
O navio estava escoteiro, não tinha sonar para detectar submarinos e possuía 1197 homens a bordo. Em 30 de julho, quando estava navegando no período noturno no Mar das Filipinas, foi torpedeado por um submarino japonês (I-58). O Comandante Mochitsura Hashimoto lançou seis torpedos, dos quais dois atingiram o cruzador. Cerca de 300 marinheiros morreram com as explosões e avarias causadas pelos dois tiros de torpedo. Em 12 minutos, o navio havia afundado.
Consta que o Comandante McVay não solicitou nenhum navio para operar como escolta[1] do Indianapolis.
Não existem evidências confirmadas que alguma unidade da marinha norte-americana ou estação rádio tenha recebido alguma mensagem de SOS do USS Indianapolis.
Submarino japonês I-58
O navio não estava cumprindo nenhum plano de zigue-zague como medida antissubmarino. A partir daquele instante, o USS Indianapolis teria seu destino revelado.
Após o afundamento mais de 800 marinheiros começariam a fase de sobrevivência no mar. Trinta minutos após o naufrágio os primeiros tubarões começaram a aparecer. Durante cinco dias os marinheiros indefesos foram atacados por tubarões, morrendo também de hipotermia e desidratação. Quando foram localizados por um avião somente 317 estavam vivos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- https://neilchughes.com/2013/03/10/the-indianapolis-speech-by-robert-shaw-in-jaws-1975/
- https://www.google.com.br/search?q=The+Unfortunate+Myths+of+the+Most+Horrific+Naval+Disaster+in+History_esv=558714157&sxsrf=AB5stBhqIG – The Unfortunate Myths of the Most Horrific Naval Disaster in History
- https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-tragedia-do-uss-indianapolis-a-mae-natureza-declara-guerra.phtml
- https://www.defesanet.com.br/aviacao/noticia/26838/pesquisadores-encontraram-os-destrocos-uss-indianapolis-ca-35/
- Carvalho, Carlos Roberto Daróz. Reparando uma injustiça: a trágica história do capitão do USS Indianapolis.
[1] Navio com capacidade de localizar, atacar e destruir aeronaves, navios de superficie e submarinos inimigos