Os destróieres classe ‘Fletcher’ da Marinha dos EUA
Ao relembrar os conflitos navais da Segunda Guerra Mundial, poucos navios exemplificam a tenacidade e a eficácia da Marinha dos EUA como os destróieres (contratorpedeiros) da classe Fletcher (nome em homenagem ao almirante Frank F. Fletcher). Esses navios, com seu design distintivo e capacidade robusta, desempenharam um papel crítico em muitas operações navais e consolidaram-se como uma das classes de destróieres mais icônicas e versáteis da história naval dos EUA.
Origens e Design
À medida que os anos 1930 avançavam, e com a ameaça de uma guerra global tornando-se cada vez mais evidente, a Marinha dos EUA percebeu a necessidade de um destróier mais moderno e capaz. A necessidade urgente de navios superiores resultou na concepção da classe Fletcher.
Os Fletchers, com um deslocamento padrão de cerca de 2.500 toneladas, foram projetados para serem maiores e mais fortes que seus antecessores. Medindo 114,7 metros de comprimento e 12,1 metros de boca, eram extremamente ágeis em combate.
Os navios eram equipados com quatro caldeiras a óleo, geralmente da marca Babcock & Wilcox, que alimentavam duas turbinas a vapor de engrenagens da Westinghouse (em alguns casos, da General Electric). Estas turbinas eram do tipo de contra-pressão, o que significava que o vapor era expandido parcialmente em uma turbina de alta pressão e depois totalmente em uma de baixa pressão.
As turbinas a vapor geravam uma potência total de cerca de 60.000 shp (shaft horsepower), o que permitia que os navios atingissem velocidades de até 38 nós, embora na prática, muitas vezes operassem a velocidades mais baixas para economizar combustível e aumentar a autonomia.
Equipados com grandes tanques de combustível, os destróieres da classe Fletcher tinham uma excelente autonomia, podendo operar por longos períodos no mar sem reabastecimento. Sua autonomia era de cerca de 5.500 milhas náuticas a 15 nós.
Além das turbinas principais, os navios possuíam sistemas auxiliares a vapor para fornecer energia para uma variedade de outras funções, incluindo geração de eletricidade, aquecimento e outros sistemas essenciais.
A principal bateria do Fletcher consistia em cinco canhões de 127 mm (5 polegadas) em montagens de torres individuais, que eram suplementadas por uma série de armas antiaéreas e dez tubos lança-torpedos. Além disso, eles foram equipados com sonares de última geração e outros equipamentos de detecção, tornando-os aptos para combate anti-submarino.
Serviço na Segunda Guerra Mundial
Os Fletchers entraram em serviço no auge da Segunda Guerra Mundial. No total, 175 destróieres dessa classe foram construídos, o que os torna a maior classe de destróieres já produzida pelos EUA. Eles viram ação em todos os principais teatros de guerra, desde o Atlântico até o Pacífico.
No Pacífico, desempenharam um papel crucial em batalhas icônicas como a de Leyte Gulf e Okinawa. Estavam frequentemente na vanguarda dos combates, escoltando porta-aviões, bombardeando posições inimigas na costa e protegendo outros navios de ataques de submarinos e aeronaves.
Seu design robusto e capacidade de combate os tornaram notavelmente resilientes. Em várias ocasiões, navios da classe Fletcher sofreram danos graves mas, devido à sua construção superior e à determinação de suas tripulações, conseguiram retornar ao combate ou a portos seguros.
Dezenove Fletchers foram perdidos durante a Segunda Guerra Mundial; mais seis foram danificados, avaliados como perdas totais construtivas e não reparados. No pós-guerra, o restante foi desativado e colocado na reserva.
- De Haven, afundado por aeronaves japonesas na Ilha Savo, 1º de fevereiro de 1943;
- Strong, afundado por um grupo de destróieres japoneses operando no Golfo de Kula, 5 de julho de 1943;
- Chevalier, afundado após ser torpedeado por um destróier japonês e acidentalmente abalroado na Batalha Naval de Vella Lavella, 6 de outubro de 1943;
- Brownson, afundado por aeronaves japonesas ao largo do Cabo Gloucester, 26 de dezembro de 1943;
- Hoel, afundado por navios de superfície japoneses na Batalha de Samar, 25 de outubro de 1944;
- Johnston, afundado por navios de superfície japoneses na Batalha de Samar, 25 de outubro de 1944;
- Abner Read, afundado por kamikazes no Golfo de Leyte, 1º de novembro de 1944;
- Spence, naufragado no tufão Cobra, 18 de dezembro de 1944;
- Halligan, perdido em uma mina perto de Okinawa, 26 de março de 1945;
- Bush, afundado por kamikazes ao largo de Okinawa, 6 de abril de 1945;
- Colhoun, afundado por kamikazes ao largo de Okinawa, 6 de abril de 1945;
- Pringle, afundado por kamikazes ao largo de Okinawa, 16 de abril de 1945;
- Little, afundado por kamikazes ao largo de Okinawa, 3 de maio de 1945;
- Luce, afundado por kamikazes ao largo de Okinawa, 4 de maio de 1945;
- Morrison, afundado por kamikazes ao largo de Okinawa, 4 de maio de 1945;
- Longshaw, afundado após encalhar e receber forte fogo na costa ao sul de Naha, Okinawa, 18 de maio de 1945;
- William D. Porter, afundado por um kamikaze em Okinawa, 10 de junho de 1945;
- Twiggs, afundado por kamikazes ao largo de Okinawa, 16 de junho de 1945;
- Callaghan, afundado por biplanos kamikaze Yokosuka K5Y ao largo de Okinawa, 28 de julho de 1945;
- Newcomb, danificado por kamikazes ao largo de Okinawa, 6 de abril de 1945. Desativado em 20 de novembro de 1945. Vendido para sucata em 28 de março de 1946;
- Leutze, danificado por kamikazes ao largo de Okinawa, 6 de abril de 1945. Desativado em 6 de dezembro de 1945. Vendido para sucata em 17 de junho de 1947;
- Hutchins, danificado por um barco suicida ao largo de Okinawa, 27 de abril de 1945. Desativado em 30 de novembro de 1945. Vendido para sucata em janeiro de 1948;
- Haggard, danificado por kamikazes ao largo de Okinawa, 29 de abril de 1945. Desativado em 1 de novembro de 1945. Vendido para sucata em 3 de março de 1946;
- Evans, danificado por kamikazes ao largo de Okinawa, 11 de maio de 1945. Desativado em 7 de novembro de 1945. Vendido para sucata em 11 de fevereiro de 1947;
- Thatcher, danificado por kamikazes ao largo de Okinawa, 20 de maio de 1945. Desativado em 23 de novembro de 1945. Vendido para sucata em 23 de janeiro de 1948.
Legado e Uso Pós-guerra
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, muitos destróieres da classe Fletcher continuaram a servir em vários papéis. Eles viram ação na Guerra da Coreia e até mesmo na Guerra do Vietnã, demonstrando sua durabilidade e adaptabilidade. A medida que novos navios eram desenvolvidos e a tecnologia avançava, muitos Fletchers foram modernizados, com atualizações em seus armamentos e sistemas de radar.
Vários Fletchers foram transferidos para marinha de países aliados através de programas de assistência militar. Navios dessa classe serviram em marinhas de países como Brasil, Grécia, Turquia, México e Espanha, demonstrando o respeito global pela eficácia do design.
Apesar de todos terem sido eventualmente descomissionados pela Marinha dos EUA, o legado dos Fletchers persiste. Alguns foram preservados como navios-museu, permitindo que gerações futuras testemunhem em primeira mão a potência e a história desses incríveis destróieres.
Os Fletchers na Marinha do Brasil
A partir de 1959, a Marinha do Brasil começou a receber da reserva da U.S. Navy, destróieres (contratorpedeiros) da classe “Fletcher”, num total de 7 navios. Foram eles:
Contratorpedeiro Pará (D-27)
- Navio original da Marinha dos EUA: USS Guest (DD-472)
- Ano de transferência: 1959
Contratorpedeiro Paraíba (D-28)
- Navio original da Marinha dos EUA: USS Bennett (DD-473)
- Ano de transferência: 1959
Contratorpedeiro Paraná (D-29)
- Navio original da Marinha dos EUA: USS Cushing (DD-797)
- Ano de transferência: 1960
Contratorpedeiro Pernambuco (D-30)
- Navio original da Marinha dos EUA: USS Hailey (DD-556)
- Ano de transferência: 1961
Contratorpedeiro Piauí (D-31)
- Navio original da Marinha dos EUA: USS Lewis Hancock (DD-675)
- Ano de transferência: 1967
Contratorpedeiro Santa Catarina (D-32)
- Navio original da Marinha dos EUA: USS Irwin (DD-794)
- Ano de transferência: 1968
Contratorpedeiro Maranhão (D-33)
- Navio original da Marinha dos EUA: USS Shields (DD-596)
- Ano de transferência: 1972
Conclusão:
Os destróieres da classe Fletcher não são apenas uma testemunha do engenho naval dos EUA, mas também um símbolo do espírito de determinação e resiliência. Seu serviço prolongado, que abrangeu várias décadas e guerras, é um testemunho de seu design superior e da habilidade daqueles que os serviram. Em uma era definida pela inovação e pela necessidade de supremacia naval, a classe Fletcher destacou-se como um pilar de confiabilidade e força no vasto arsenal naval dos EUA.
SAIBA MAIS: