Sérgio Vieira Reale
Capitão-de-Fragata (RM1)

Midway – Batalha em Alto-Mar –  é um filme de guerra, baseado em fatos reais, lançado em 2019, por meio de uma coprodução norte-americana e canadense. Esse longa, recriou à decisiva Batalha Aeronaval de Midway (1942) ocorrida, no Oceano Pacífico, entre as Marinhas dos Estados Unidos da América (EUA) e do Japão, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O domínio do Atol Midway seria uma grande vantagem estratégica, pois ficava localizado na metade do caminho entre os EUA e o Japão.

Os japoneses planejaram o ataque contra Midway a fim de neutralizar o poder militar norte-americano no Pacífico, em especial, os Navios-Aeródromos[1] (NAe), bem como para ampliar o perímetro defensivo do seu território contra possíveis ataques.

O filme, que foi dirigido pelo alemão Roland Emmerich, traz momentos de tensão, cenas espetaculares de combate aéreo e uso intenso de computação gráfica nos efeitos especiais. Vale mencionar que, no início de junho de 1942, o famoso diretor norte-americano de cinema John Ford estava em Midway quando os japoneses atacaram. As imagens que ele registrou fazem parte do curta-metragem, de significativo valor histórico, “The Battle of Midway (1942)”, que pode ser assistido pelo YouTube.

Roland Emerich, o diretor deste novo Midway, quis relembrar esse fato e homenageou John Ford. Ele foi representado no filme pelo ator Geoffrey Blake.

Em 1976, foi lançado o primeiro longa sobre esse fato da história naval, Midway. Dirigido por Jack Smight, contou com um elenco multiestelar: Charlton Heston, Robert Mitchum, Toshiro Mifune,  Henry Fonda, James Coburn entre outros. Em 2011, o ataque a Midway também foi retratado pelo cinema japonês com o filme biográfico do Almirante Isoroku Yamamoto.

Midway – Batalha em Alto-Mar (2019) – começa, em 1937, mostrando um diálogo entre o Almirante Isoroku Yamamoto (Etsushi Toyokawa) e um oficial de marinha norte-americano Edwin Layton (Patrick Wilson), que estava servindo no Japão como assistente do adido naval.

O Almirante Yamamoto, Comandante da Esquadra Combinada, considerava, em caso de um conflito armado contra os EUA, que o Japão não poderia vencê-los numa guerra longa.

Porém, ele defendia a ideia de que o Japão poderia se tornar uma potência mundial, mas que dependia do petróleo dos EUA. O Japão se colocava como vítima de um cerco econômico e que não poderia sair daquele contexto somente por meios pacíficos. Caso os norte-americanos fizessem o embargo do fornecimento de petróleo, o Japão poderia reagir militarmente. A maior dificuldade da economia japonesa estava na falta de matérias-primas no seu território. Petróleo, ferro, manganês e outros metais eram essenciais na produção industrial.

Dessa forma, como meio de obtenção dessas matérias-primas, a ofensiva japonesa buscava a expansão territorial no Pacífico. Essa estratégia  incomodava os EUA.

A invasão japonesa na Indochina (atuais Vietnã, Laos e Camboja), em julho de 1941, acarretou medidas de retaliação por parte dos norte-americanos, entre elas, o corte do suprimento de gasolina. Esse combustível era essencial  para o abastecimento das aeronaves japonesas.

Esse fato foi fundamental para que o Japão decidisse atacar os EUA. Cabe resaltar que, as Filipinas eram um protetorado norte-americano e estando mais próximos do Japão poderiam ter sido o alvo escolhido para um possível ataque. Contudo, em sete de dezembro de 1941, ocorre o ataque japonês à base naval de Pearl Harbor, na Ilha de Oahu (Havaí). O ataque de surpresa, que foi realizado antes da declaração oficial de guerra, gerou uma grande indignação nos EUA, forçou a sua entrada na guerra e mudou o rumo do maior conflito armado da história. Até então, os EUA eram um país neutro. Ao final do ataque, a esquadra japonesa tinha sido vitoriosa.

Em 18 de abril de 1942, por meio da operação “Doolittle Raid”, os EUA atacaram Tóquio e Nagoya com bombardeiros, que estavam embarcados no NAe USS Hornet. Esse ataque, que foi planejado pelo piloto James Doolittle, demonstrou a vulnerabilidade do território japonês.

Entre quatro e sete de maio de 1942, ocorreu a Batalha do Mar de Coral, primeiro encontro entre os navios aeródromos norte-americanos e japoneses.  Os navios adversários não se avistaram e os ataques ocorreram exclusivamente por meio de ações aéreas. Um aspecto marcante na tática naval foi a afirmação do NAE, em substituição ao encouraçado, como a unidade de maior valor da esquadra. Fato que se confirmou na Batalha Aeronaval de Midway.

Nessa segunda fase da ofensiva japonesa, Yamamoto decidiu que iria atacar as ilhas Midway, que possuíam instalações militares norte-americanas.

O plano para atacar Midway consistia, inicialmente, em atacar as ilhas Aleutas buscando atrair os navios norte-americanos para defender aquelas ilhas. Midway seria atacada pela aviação embarcada nos NAe japoneses. Além disso, seria feito um desembarque anfíbio nas duas pequenas ilhas (Sand Island e Eastern Island) de Midway e, finalmente, atacaria os NAe norte-americanos.

Entretanto, o serviço de inteligência naval, em março de 1942, conseguiu decodificar o código japonês JN25. Desse modo, concluíram que o sinal AF, cuja frequência nas mensagens japonesas era intensa, significava que o novo ataque seria sobre Midway. Esse fato, que permitiu uma essencial preparação pelos norte-americanos, foi essencial para vitória. No dia do ataque, um forte nevoeiro impediu que os aviões de reconhecimento japoneses tomassem conhecimento da presença dos NAe USS Hornet e USS Enterprise. Importante frisar que os NAe japoneses não possuíam radar.

O USS Yorktown estava em reparo na base naval de Pearl Harbor após as avarias sofridas na Batalha do Mar de Coral. Porém, uma grande mobilização possibilitou que o mesmo se juntasse aos NAe USS Enterprise e Hornet na Batalha de Midway. Durante a batalha, aviões de reconhecimento do Yorktown localizaram os quatro NAe da marinha imperial japonesa. O NAe Kaga e o Soryu foram atacados com três bombas.

O Akagi também foi bombardeado. Por outro lado, o Yorktown também foi atacado por aviões japoneses, mas a tripulação conseguiu controlar os danos. Ele seria afundado por um submarino japonês. Em mais um ataque o NAe Hiryu foi atingido por quatro bombas. Após a identificação dos navios norte-americanos por uma aeronave japonesa o Almirante Nagumo se vê diante do seguinte dilema: seria melhor armar seus aviões com bombas para atacar Midway? ou armar com torpedos para atacar a esquadra norte-americana?

Essa dúvida custou caro, pois durante as trocas colocou seus navios numa condição vulnerável aos ataques dos aviões norte-americanos. O Japão perdeu quatro NAe: Akagi, Hiryu,  Kaga e Soryu.

A vitória norte-americana na Batalha Aeronaval de Midway interrompeu o avanço territorial japonês no Oceano Pacífico. Ao final da batalha, o Japão perdeu: um cruzador, 292 aviões, quatro NAe e 3.057 japoneses. Os EUA perderam: um contratorpedeiro, 145 aviões, um NAe e 340 norte-americanos.

MIDWAY – Batalha em Alto-Mar (2019)
Diretor:  Roland Emmerich
Atores Principais: Ed Skrein, Patrick Wilson, Lucas Evans e Aaron Eckhart

Referências Bibliográficas e Sites Consultados


[1] Navio-Aeródromo (NAe) – Navio capaz de operar, reabastecer e reparar aeronaves. Possui grande importância devido ao alcance de seu armamento ofensivo – aviões e helicópteros – sendo a unidade de maior valor de uma força naval.

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