Na década de 1990, a Marinha do Brasil (MB) estava em um período de transição e modernização, embora ainda enfrentasse limitações em termos de orçamento e tecnologia.

O Brasil tradicionalmente procurava manter uma das marinhas mais fortes da América Latina, refletindo seu extenso litoral e interesses estratégicos regionais.

O Navio-Aeródromo Ligeiro Minas Gerais – A11 era o capitânia da Esquadra. Adquirido da Inglaterra no final dos anos 50 e modernizado na Holanda antes de ser incorporado à MB em 1960, o Minas operava desde então com helicópteros da Aviação Naval e aviões de patrulha antissubmarino P-16 Tracker da Força Aérea Brasileira.

O navio foi modernizado com um sistema de dados táticos nacional, o Siconta Mk.1. Recebeu também lançadores de mísseis antiaéreos Simbad/Mistral no lugar dos antigos canhões de 40 mm/L60.

Os helicópteros Sikorsky SH-3 Sea King receberam mísseis Exocet AM39, mas os aviões P-16 da FAB continuavam desatualizados.

NAeL Minas Gerais com aviões P-16E Tracker e helicópteros SH-3 Sea King no convoo

Em 1988, a FAB tinha dado início ao processo de conversão dos P-16 Tracker em S-2T turboélice. A empresa canadense IMP foi selecionada e um exemplar (P-16E 7036) foi enviado ao Canadá para conversão.

De volta ao Brasil já como P-16H turboélice, o 7036 fez testes de pousos e decolagens a bordo do NAeL Minas Gerais em 21 e 22 de março de 1991.

Infelizmente, vários problemas técnicos surgiram e a crônica falta de recursos da FAB levaram ao cancelamento do programa. Os P-16 da FAB realizaram a última operação a bordo do NAeL Minas Gerais em 13 de agosto de 1996.

P-16H da FAB prestes a decolar do NAeL Minas Gerais
P-16H da FAB prestes a decolar do NAeL Minas Gerais

Com a desativação dos P-16 Tracker pela FAB, a Marinha trabalhou para recuperar o direito de operar aeronaves de asa-fixa, devido ao decreto de 1965 do Presidente Castelo Branco que determinou a operação cooperativa da FAB e da MB a bordo do NAeL Minas Gerais, para resolver de uma vez por todas a disputa das duas Forças sobre a operação do grupo aéreo embarcado no navio.

Em 1997, o então presidente Fernando Henrique Cardoso autorizou a volta das operações da asa-fixa pela MB. No mesmo ano, a Marinha decidiu adquirir aeronaves de asa fixa para a bordo do Minas. Acabou fechando negócio com o Kuwait para a transferência de caças A-4 Skyhawk. Esses aviões, adquiridos da Força Aérea do Kuwait, compreendiam 23 células, sendo que deste total, 3 biplaces (TA-4KU) e 20 monoplaces (A-4KU), que vieram com motores adicionais e mais de 200 mísseis ar-ar AIM-9H Sidewinder.

Os A-4KU do Kuwait durante a Guerra do Golfo, em 1991. A Marinha do Brasil adquiriu em 23 células, 3 biplaces (TA-4KU) e 20 monoplaces (A-4KU)

Novos escoltas e submarinos

A MB operava seis fragatas classe “Niterói” (Vosper Mk.10) e em meados a partir de 1997 iniciou o Programa de Modernização ModFrag, que iria substituir o sistema de dados táticos e o sistema de armas por equipamento mais modernos. A Marinha do Brasil investiu, de 1997 a 2006, US$ 420 milhões (cerca de US$ 70 milhões por navio) para modernizar os seis navios.

Foram adquiridas quatro fragatas Type 22 ex-Royal Navy, que trouxeram a capacidade antimíssil com seus mísseis Seawolf, famosos na Guerra das Falklands/Malvinas de 1982.

As quatro novas corvetas classe “Inhaúma”, projetadas e construídas no Brasil, trouxeram para a Esquadra sistemas de dados táticos mais avançados, além de sistemas de guerra eletrônica.

Fragata Greenhalgh – F46, primeira Type 22 da MB
Contratorpedeiro Paraíba – D-28, ex-Davidson (FF-1045), classe “Garcia”
As quatro corvetas classe Inhaúma operando juntas
As quatro corvetas classe Inhaúma operando juntas no início dos anos 90
Contratorpedeiro Pará, fragata Defensora e corveta Jaceguai – Foto: DPHDM

Quatro fragatas classe “Garcia” foram adquiridas da U.S. Navy e reclassificadas como contratorpedeiros na MB, visando preencher a lacuna entre a entrada em serviço das corvetas classe “Inhaúma” e a desativação dos antigos contratorpedeiros das classes “Fletcher”, “Allen M. Sumner” e “Gearing”.

Quatro submarinos de projeto alemão IKL-209/1400, batizados como classe “Tupi”, vieram substituir os antigos submarinos classe “Guppy” ex-U.S. Navy.

Em 1997, o submarino Tamoio – S31 da classe “Tupi”, juntamente com a fragata União e a corveta Júlio de Noronha, participou a convite de Portugal da Operação LINKED SEAS 97 da OTAN, realizada entre os dias 15 e 19 de maio ao largo da Península Ibérica, entre a costa portuguesa e o Estreito de Gibraltar.

Naquela operação, o Tamoio conseguiu “afundar” o porta-aviões espanhol Príncipe de Asturias – R 11, furando o bloqueio da escolta composto por mais de dez fragatas e contratorpedeiros.

Submarinos da classe Tupi – Foto: DPHDM

A Esquadra era complementada por navios de desembarque doca, navios de desembarque de carros de combate, além de diversos navios-patrulha e embarcações auxiliares, responsáveis por operações de vigilância e apoio logístico.

A Marinha do Brasil conseguiu manter uma força naval capaz, com foco na defesa de suas águas territoriais e interesses econômicos. Embora enfrentasse limitações, houve um claro esforço para modernizar e melhorar suas capacidades navais, além de manter o aprestamento elevado com muitos exercícios.

Navios da Esquadra fotografados da corveta Jaceguai. Em primeiro plano estão os lançadores de chaff Plessey Shield
Helicóptero SH-3 Sea King em exercício com a corveta Jaceguai, com outros navios ao fundo

Quadro: A Marinha do Brasil em 1997

(Clique na imagem para ampliar)

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