Seja voluntário numa guerra que vale o seu sangue
Doe sangue hoje mesmo e siga meu exemplo: crie o hábito de doar com frequência
Aqui publicamos muitas matérias que falam sobre guerras e derramamento de sangue – felizmente, a maioria em outros lugares do mundo. Mas há uma boa guerra para a qual você pode se voluntariar, aqui no Brasil, caso esteja com saúde: a luta contra a constante escassez nos bancos de sangue de todo o país, que costumeiramente fica mais grave na virada de um ano para outro, devido às festas e férias.
E o que isso tem a ver com um site que fala de equipamentos militares, conflitos etc? Bom, pra começar, você sabia qual foi uma das principais pistas de que a invasão da Ucrânia pela Rússia, no início de 2022, era iminente? Foi a detecção, por serviços de espionagem, de que as Forças Armadas Russas estavam enviando grandes quantidades de bolsas de sangue às suas unidades posicionadas fronteira com o país vizinho.
Se isso não basta para lembrar da importância de haver estoques de sangue, na guerra ou na paz, posso compartilhar minha própria experiência como doador frequente. Não costuma ser de bom tom propagandear o que se doa, mas nesse caso creio que compartilhar esse hábito não é um caso de auto-elogio, mas de dar o exemplo.
Vou “ostentar” um pouco nesta foto: num expurgo de papelada antiga, achei tempos atrás alguns dos inúmeros cartões de doação de sangue, feitas ao longo de 3 décadas. O mais velho dessa leva encontrada tem 20 anos, mas já joguei fora, em outras arrumações de papéis, diversos comprovantes muito mais antigos.
Na média de 2 a 3 doações de sangue por ano nos últimos 30 anos (houve anos em que só fiz uma doação, mas em outros tantos, inclusive os mais recentes, fiz as quatro máximas permitidas anualmente), até hoje devo ter acumulado em doações mais da metade do meu próprio peso em sangue.
Os bancos de sangue volta e meia entram em crise de estoque. Hoje, por exemplo, um deles acabou de me ligar solicitando doação, mas tive que dizer que não estou apto: minha última vez foi em dezembro, mal faz um mês, e o intervalo mínimo entre doações é de dois meses.
Sempre sou chamado várias vezes por ano, pois os estoques de sangue como o meu, RH negativo, estão sempre perto dos níveis de atenção ou baixo. Faço minha parte doando uma vez por trimestre.
A pandemia afastou muitos doadores frequentes (eu consegui manter a média máxima de 4 doações anuais nos últimos anos, mas muitos não conseguiram). Porém, o fato é que mesmo antes da pandemia esse público era pequeno: menos de 2% da população doa frequentemente.
Se a maioria das pessoas aptas a doar fizesse pelo menos uma doação de sangue por ano (nem precisaria ser as 4 que eu faço), essa porcentagem subiria o suficiente para reduzir as crises de escassez.
Se você que está lendo agora é apto a doar, procure um banco de sangue mais perto de você e doe. Se seu sangue for de tipo mais comum, doe. Se for de tipo mais raro, doe mais vezes ainda. Quando menos esperar, você verá um novo hábito surgindo e se mantendo por décadas. E será voluntário numa guerra que vale o seu sangue.
Para saber mais sobre doação de sangue, clique aqui.
Nota: este texto foi originariamente publicado em meados de janeiro no blog das Forças Terrestres. Como o problema de escassez de sangue prossegue neste mês de fevereiro devido à proximidade do Carnaval, numa situação em que o aumento de casos de dengue demanda mais transfusões a pacientes internados, o texto está sendo repetido aqui para sensibilizar também os leitores do Poder Naval.