Navio de guerra chinês em Cape Town, África do Sul, em 2019

Em agosto de 2023, Ali Bongo, então presidente do Gabão, revelou a um alto funcionário da Casa Branca que prometeu secretamente ao líder chinês Xi Jinping que Pequim poderia estacionar forças militares na costa atlântica do Gabão. Jon Finer, assessor principal de segurança nacional dos EUA, alarmado, instou Bongo a retirar a oferta.

Os EUA consideram o Atlântico a sua frente estratégica e vêem uma presença militar chinesa permanente ali – particularmente uma base naval, onde Pequim poderia rearmar e reparar navios de guerra – como uma séria ameaça à segurança americana.

“Sempre que os chineses começam a bisbilhotar um país costeiro africano, ficamos ansiosos”, disse um alto funcionário dos EUA.

A China está conduzindo uma campanha discreta para garantir uma base naval nas costas ocidentais da África, enquanto os EUA esforçam-se há mais de dois anos para persuadir líderes africanos a negar um porto à Marinha do Exército Popular de Libertação da China. Após o encontro com Finer, Bongo foi derrubado por sua própria guarda presidencial, e os EUA começaram esforços para persuadir o novo líder da junta gabonesa a rejeitar as investidas chinesas.

Oficiais americanos afirmam estar ganhando a batalha, pois até agora nenhum país africano com costa atlântica assinou um acordo com a China. Na Guiné Equatorial, vizinha do Gabão, Washington não observou sinais de construção militar num porto comercial de águas profundas construído pelos chineses na cidade de Bata, onde seria o local mais provável para tal presença.

Empresas chinesas construíram cerca de 100 portos comerciais na África desde 2000, desde a Mauritânia, no extremo oeste, até ao Quênia, no Oceano Índico, segundo o governo chinês.

O golpe militar em Gabão em agosto acionou leis dos EUA que restringem a assistência de segurança a regimes militares, limitando a capacidade dos diplomatas americanos de oferecer incentivos.

Diplomatas americanos tiveram que se reorganizar para persuadir as novas autoridades gabonesas a rejeitar as aproximações chinesas. Em Libreville, a capital do Gabão, foram discutidas medidas para manter o Gabão afastado do envolvimento com a China, incluindo um acordo de cooperação em defesa e treinamento americano para ajudar o Gabão a proteger suas fronteiras. A Casa Branca decidiu que o Gabão sediaria os exercícios marítimos liderados pelos EUA deste ano, projetados para ajudar os países costeiros a combater a pirataria e a pesca ilegal.

Os EUA também ofereceram apoio para preservar as florestas tropicais do Gabão, que cobrem quase 90% do país. Além disso, fizeram uma proposta diplomática ao presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema, incluindo o convite a oficiais militares equato-guineenses para observar exercícios navais liderados pelos americanos e a ideia de ajudar o país a combater a pirataria.

Apesar das preocupações dos EUA com assassinatos extrajudiciais e tortura de opositores do regime na Guiné Equatorial, o embaixador do país em Washington afirmou que a China fornece hardware militar e treinamento, além de infraestrutura, mas negou ter recebido pedidos chineses para estabelecer uma base naval. Autoridades dos EUA, contudo, permanecem cautelosas quanto à possibilidade de Obiang permitir uma presença chinesa permanente no país.

FONTE: The Wall Street Journal

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