O canhão Leonardo de 76 mm vai equipar as fragatas classe Tamandaré

Por José Luiz Antônio

O canhão no imaginário popular é praticamente o símbolo da própria batalha naval, a sua história se confunde com a própria história da guerra naval. Portugal obteve as suas conquistas marítimas não somente apoiado na coragem pessoal dos seus navegadores ou na qualidade marinheira dos seus barcos, muito deste êxito residiu na eficácia de sua artilharia.

Na costa africana, em agosto de 1505, os portugueses travaram a batalha de Mombaça, onde a esquadra portuguesa, comandada por Francisco de Almeida, enviou o navio São Rafael realizar o reconhecimento do porto. Logo que a nau lusitana adentrou no porto de Mombaça, um pequeno forte abriu fogo, tendo suas armas logo sido caladas pelo canhoneio português. Os habitantes da cidade, organizaram uma resistência se valendo do que dispunham, de armas de fogo aos arcos e pedras, porém após o bombardeamento naval da frota, os portugueses desembarcaram e tomaram a cidade, apesar de estarem em menor número.

Em todas as conquistas marítimas, Portugal se apoiou na sua artilharia, com seus canhões mais leves, com um maior alcance. As naus portuguesas repeliam a ação inimiga e prevaleciam sobre seus adversários. Tamanha era a sua superioridade que Duarte Pacheco Pereira, na batalha de Cochim, com apenas dezoito canhões, destruiu 150 navios árabes, impondo o domínio português sobre as costas da Ásia.

Canhão no Museu Naval da Praça XV – Foto: Alexandre Galante

Mas o tempo passou, ocorreu a revolução industrial com seus grandes avanços tecnológicos, o advento da máquina a vapor, os navios se libertaram das suas velas conquistando maior liberdade de manobra, bem como profundas mudanças na arquitetura naval.

O aumento do peso dos canhões, forçou com que fossem instalados nos conveses inferiores para melhor equilíbrio. A introdução de couraças de ferro, com vista a aumentar sua resistência aos projéteis inimigos, junto com a retrocarga dos canhões, permitiu que estes fossem colocados em reparos conteiráveis, logo levando a junção de armas e couraça, ao advento da torre blindada, tão marcante na imagem do canhão naval moderno.

O crescente número de bocas de fogo a bordo, cada vez mais pesadas e igualmente protegidas por couraças, combinadas com o aumento da potência das máquinas a vapor junto da evolução do desenho dos hélices, culminaram no desenvolvimento do HMS Dreadnought britânico, navio ícone desta transição tecnológica.

A importância do canhão era tamanha que mesmo com o advento do torpedo, o canhão continuou a arma dominante no combate naval ao ponto que até os submersíveis se valiam dele, sendo comum em todos, a existência de um reparo de médio calibre instalado sobre o convés à vante da vela.

Esta arma destinava-se a afundar pequenas embarcações como escunas, para as quais o uso do torpedo seria dispendioso. O canhão de convés somente foi eliminado, quando a ameaça aérea tornou inviável que submarinos viessem a superfície para combater, forçando os a ficarem todo o tempo submerso, recarregando suas baterias através do snorkel.

Battleships

O auge do canhão naval, sem dúvida ocorreu na Segunda Guerra Mundial antes do advento do míssil, tendo os grandes encouraçados com seus gigantescos canhões sido os mais significativos representantes. Discorrer sobre estes navios, suas armas e soluções tecnológicas seria assunto por demais extenso. No entanto, não se pode deixar em branco, sem citar, o mais longevo de todos os encouraçados, os navios da classe Iowa da Marinha dos EUA.

O armamento principal da classe Iowa consistia de nove canhões navais Mk.7 de 16 polegadas (406,4 mm), dispostos em três torres triplas, com uma arranjo de duas torres à proa e uma à popa.

Eram armas imensas com 20 metros de comprimento e pesando 121,5 toneladas, disparando dois tipos de projéteis diferentes: um projétil perfurante para uso antinavio e antiestrutura e um projétil de alto explosivo projetado para uso contra alvos não blindados e bombardeios costeiros.

O projétil APC (Armor-Piercing, Capped) pesava 1.225 kg e podia penetrar à 18 km uma espessura de 508 mm de placa de aço ou 6,4 m de concreto armado. O projétil destinado ao bombardeio costeiro, pesava 862 kg e a sua detonação criava uma cratera de 15 m de largura e 6 m de profundidade após o impacto, sua detonação desfolhava árvores até 360 m.

Cruzador nuclear projetado sem canhões

USS Long Beach

Houve algumas tentativas de eliminar totalmente o canhão como arma naval, por exemplo, o cruzador nuclear USS Long Beach, foi projetado sem canhões, todo o seu poder de fogo estaria firmado nos mísseis antiaéreos Terrier e Talos.

Mas o cruzador acabou recebendo posteriormente dois canhões de 5 polegadas (5″/38) da Segunda Guerra Mundial como último recurso, a mando do Presidente Kennedy, após este ter assistido a bordo a uma demonstração de tiro antiaéreo de mísseis que falharam repetidamente em atingir um drone alvo que se aproximava do navio.

Estes mísseis antiaéreos também disponham de capacidade contra alvos de superfície, sendo o mais adequado para esta função, o RIM-8 Talos, um gigante de 9,8 metros de comprimento, pesando 1,5 toneladas.

No combate de superfície o navio alvo deveria ser iluminado pelos radares SPG-49, desta forma o alcance era substancialmente reduzido, limitando se ao horizonte de 25 milhas, variando claro pela altura do navio alvo. Bastava uma pequena parte do alvo estar visível acima do horizonte, para que ele pudesse ser alvejado.

USS Long Beach a meia nau. Observar os canhões de destróieres da Segunda Guerra Mundial que foram instalados a mando do presidente Kennedy

Seu poder de destruição era considerável, em 1968, foi realizado um disparo real com o Talos contra um contratorpedeiro desativado. Depois de ter sido alvejado por outros navios com diversas armas, o cruzador Oklahoma City, disparou um único míssil Talos carregando uma ogiva inerte. Os 1.500 kg de massa da fuselagem construída em liga de magnésio junto com o combustível no interior do míssil, somado a sua velocidade supersônica de Mach 2.5 produziram uma tremenda dispersão de energia cinética.

O míssil desceu quase verticalmente, atingindo o centro do contratorpedeiro, logo atrás da chaminé, destroçando a sala das caldeiras e de máquinas. Causando uma explosão por causa do combustível que que cortou dois terços do convés principal e continuou pelo fundo do navio. Após o tremendo impacto, o navio se partiu em duas partes e afundou.

Em termos de comparação, um projétil de canhão de 16 polegadas disparado pela classe Iowa pesava 1.900 libras e carregava 154 libras de explosivo, pricato de amônio. Já o míssil Talos pesava 3.300 libras e sua ogiva carregava 225 libras de explosivos TNT/RDX. O Talos viajava a uma velocidade muito maior que o projétil do canhão, tinha um alcance muito maior e era guiado, ou seja, dificilmente deixava de acertar o alvo.

Mas apesar de todo o poder de fogo do cruzador USS Long Beach, antes da adoção dos canhões antigos de 5 polegadas, o navio estava totalmente indefeso contra pequenas embarcações, caso estas estivessem suficientemente próximas do navio, abaixo do alcance mínimo dos seus enormes mísseis.

Fragatas Type 22

HMS Broadsword

Mas apesar do exemplo do USS Long Beach, os britânicos projetaram as fragatas antissubmarino da classe Type 22 Batch 1, conhecidas como classe Broadsword, sem o clássico canhão de proa, no tradicional calibre britânico de 4,5 polegadas. O armamento de tubo foi abandonado em favor de 4 mísseis antinavio Exocet MM38 montados na proa. O armamento antiaéreo consistia em dois lançadores de mísseis Sea Wolf conteiráveis, um sobre o convés 2 à proa e o segundo sobre o hangar.

As Type 22 somente não eram totalmente desprovidas de armamento de tubo, pela presença de dois canhões Bofors de 40 mm L/60 montados em cada bordo do navio, estas armas foram colocadas para que a fragata tivesse uma capacidade mínima para missões de patrulhamento em tempos de paz, visto que, os mísseis Sea Wolf ou Expcet não podiam cumprir funções simples como destruir uma pequena embarcação, ou executar tiros de advertência, em missões de patrulha ou bloqueio naval.

Canhão Mk.8 com a torre antiga e a atual facetada

A ausência de um canhão naval de maior potência se mostrou um grande erro, no conflito das Falklands/Malvinas de 1982, pois a necessidade de prover um sustentado apoio de fogo às forças em terra passou a ser uma missão vital para a reconquista das Falklands.

O canhão naval, devido à sua versatilidade, bem como ao fato de que sua granada não era afetada pela condição climática no momento do tiro, pode ser amplamente utilizado no bombardeio naval dos alvos costeiros no apoio às missões anfíbias. Além das granadas explosivas os canhões navais britânicos também se encarregaram da iluminação do campo de batalha.

Nas fragatas Type 22 dos batches seguintes, o canhão principal foi reinstalado na proa dos navios.

Type 22 Batch 3
Type 22 Batch 3, com o canhão Mk.8 na proa

Nesse conflito, uma arma muito conhecida pela Marinha do Brasil, o canhão naval britânico Vickers Mk.8 teve um papel importante. Este canhão projetado nos anos 60, pela Royal Armament Research and Development Establishment, manteve o clássico calibre de 4,5 polegadas, equivalente no sistema métrico a 114,5 mm.

A arma britânica tem um tamanho considerável e formava uma visão imponente nas proas dos escoltas britânicos, devido à sua torre arredondada feita de plástico reforçado com vidro. Anos mais tarde, o desenho da torre foi modificado com contornos facetados, para diminuir a assinatura radar.

Os Vickers Mk.8 disparam projéteis de 20 kg até distâncias de 25 km, seus projéteis explosivos são usados tanto para alvos aéreos como de superfície, podendo a sua espoleta ser selecionada eletronicamente antes do disparo. Dois tipos de detonadores foram fornecidos originalmente, um de tempo mecânico e outro mais sofisticado multifunção com modos de ação direta, proximidade em baixa ou alta altitude ou com  atraso pós-impacto, que permitem muito mais versatilidade de engajamento do canhão.

Devido ao seu canhão de proa, a classe Amazon de fragatas Type 21, muito menos sofisticadas, tiveram um papel de destaque no conflito de 1982, não somente no vital apoio de fogo, como até no afundamento de um navio argentino. Na noite de 10 para 11 de maio de 1982, a fragata HMS Alacrity recebeu do Almirante Woodward a incumbência de realizar um reconhecimento no Canal de San Carlos, pois havia o receio de que o canal estivesse minado. Devido à ausência de navios adequados para esta finalidade, coube a Alacrity realizar a tarefa.

HMS Alacrity

Durante a navegação pelo canal, a fragata britânica logrou detectar em plena escuridão o cargueiro argentino de 3.000 toneladas, o ARA Isla de los Estados. Com 81.4 m de comprimento, uma boca de 13,4 metros e um calado de 4,5 metros o navio argentino transportava suprimentos e tinha furado o bloqueio naval imposto pela Royal Navy.

Usando o seu canhão de proa Vickers Mk. 8, a fragata britânica interceptou o navio argentino. O primeiro projétil de 4.5 polegadas, atingiu o ARA Isla de los Estados a boreste. Logo em seguida, recebeu mais sete granadas, fazendo com que a embarcação passasse a adernar para boreste. Um incêndio não controlado da carga de combustível de aviação a bordo provocou uma explosão que matou a maioria da tripulação de 24 homens, somente dois conseguindo se salvar.

Fragata Type 21 atirando com o canhão Mk-8 em exercício a caminho das Falklands/Malvinas

A artilharia naval britânica manteve um apoio de fogo contínuo, em 12 de junho de 1982, ao iniciar a noite as fragatas HMS Arrow e HMS Active, disparando 103 e 63 projéteis respectivamente.

O bombardeiro naval mais pesado do conflito, ocorreu em 13 de junho de 1982, quando as fragatas britânicas HMS Yarmouth, HMS Active, HMS Avenger e HMS Ambuscade, bombardeam intensamente as posições da infantaria argentina no monte Tumbledown e em Wireless Ridge, ao redor de Port Stanley, sendo disparados 856 projéteis ao todo.

O Mk 8 tem uma forte ligação com o Brasil, por ser o canhão principal das fragatas classe “Niterói”, das corvetas da classe “Inhaúma” e da corveta Barroso. Somente agora com a nova fragata da classe “Tamandaré”, o Brasil irá adotar o consagrado canhão naval Oto Melara de 76 mm, que também tem a sua história de combate e talvez a mais relevante tenha sido no início da sua carreira, quando foi a arma de tubo naval de Israel.

Corveta Jaceguai da classe Inhaúma e seu canhão Mk.8 na proa

Combates navais entre embarcações lança-mísseis

Na Guerra do Yom Kippur de 1973, a Marinha Israelense após o seu sucesso na batalha naval de Latakia, se envolveu em uma operação muito menos conhecida, o bombardeamento dos portos sírios, uma série de ataques conduzidos entre 10 e 11 de outubro de 1973. Nesta ação o canhão Oto Melara de 76 mm, se destacou.

Após as perdas da Batalha de Latakia, a força naval síria permaneceu internada nos seus portos ou no máximo em patrulhas perto da costa. Quando da ação israelense, oito navios com mísseis P15 Termit, estavam no porto Minat al-Bayda e alguns outros nos portos de Tartus e de Latakia.

O míssil P15 Termit, representava um desafio aos barcos israelenses, este artefato foi desenvolvido na União Soviética na década de 50, com objetivo de armar navios de porte pequeno com um poder de fogo considerável contra vasos maiores, da mesma forma como as pequenas torpedeiras se impuseram aos grandes couraçados.

O P15 foi desenhado como uma aeronave não tripulada, usando as características aerodinâmicas de uma aeronave propelida por um foguete de combustível líquido e com uma eletrônica analógica simples e um seeker composto por um radar de varredura cônica, tendo como resultado um grande míssil com asas fixas, um peso de mais de 2 toneladas e um alcance de 40 km, considerável para época, por ser comparável aos grandes canhões de 406 mm de um encouraçado. Sua ogiva também era potente, pesando por volta de 500 kg.

Já os israelenses utilizavam o Gabriel Mk.1, a primeira versão deste míssil antinavio israelense, que perdia para o P15 Termit, em termos de alcance, pois tinha somente 20 km e uma ogiva de 100 kg. Mas, por ser muito menor e mais leve poderia ser usado em maior número. No entanto, forçava os barcos israelenses a se aproximarem muito dentro do alcance dos Termit, levando ao uso da artilharia.

Neste ponto, as embarcações sírias careciam de artilharia: a classe Komar, como era designada pela OTAN, deslocava 66 toneladas e apesar de carregar dois P15 Termit, tinha como arma de tubo, um reparo duplo com dois canhões automáticos de calibre 25 mm, controlados manualmente por um artilheiro.

Em 21 de outubro de 1967, dois barcos egípcios construídos pela União Soviética (classe Komar / Project 183R) afundaram o destróier israelense “Eilat” com mísseis antinavio P-15 Termit/SS-N-2 Styx
Classe Osa lançando míssil P15

Já a classe Osa, de muito maior porte, deslocando aproximadamente 180 toneladas, quando carregada, além de dispor de 4 mísseis P15 Termit estava melhor armada com dois reparos duplos AK 230, composto por dois canhões de 30 mm automáticos, em torres não tripuladas e apontados por radar. Enquanto os israelenses estavam armados com um canhão automático de tiro rápido de 76 mm, o que invertia totalmente o jogo.

Se no alcance dos mísseis os israelenses estavam em desvantagem perante o P15 Termit, na artilharia os canhões de 76 mm permitiam aos barcos de Israel iniciarem o fogo fora do alcance das armas de baixo calibre sírias, com a certeza de que seus projéteis poderiam ser mortais contra estas pequenas embarcações.

Os barcos israelenses partiram no fim da tarde do dia 10 de outubro, do porto de Haifa, em total silêncio de comunicação ou de emissões de radar, visando ludibriar a vigilância de um navio de espionagem soviético que navegava próximo a Haifa, prosseguindo de forma silenciosa rumo oeste, até se distanciarem do navio soviético e depois curvaram para o norte em direção ao Chipre, após tomaram direção da fronteira da Turquia com a Síria.

Já na costa síria os navios se aproximaram da costa e depois já de madrugada, ativaram seus radares e iniciaram o disparo de seus canhões navais contra os alvos previamente designados, as baterias costeiras sírias revidaram o fogo, com salvas de projéteis de 130 mm que não atingiram os barcos atacantes que navegavam em alta velocidade realizando manobras evasivas para dificultar a pontaria da artilharia costeira síria. Os sírios estavam em alerta e conseguiram reagir ao ataque há tempo de não serem surpreendidos.

Barcos lançadores de mísseis sírios, se aproveitando da cobertura do interior do porto, foram até a sua entrada e dispararam uma salva de mísseis P15 Termit contra os israelenses e retornaram a segurança do interior do porto, no entanto, nada atingiram, apesar de falharem, alguns dos Termit chegaram perto das embarcações atacantes.

Esta ação recebeu o revide pelos israelenses com disparos de mísseis Gabriel que também não lograram êxito, no entanto, o fogo preciso de canhão permitiu atingir uma das embarcações sírias. Foram disparados 50 projéteis pela artilharia naval israelense contra as instalações portuárias de Latakia, o fogo naval se sucedeu de uma distância de 10 mil metros até as proximidades do porto.

Houve danos colaterais, dois navios mercantes não beligerantes: Um grego outro japonês o “Yamashiro Maru” foram atingidos também nos combate, segundo informação israelense estes navios estavam colocados no porto para servirem de proteção.

Além do porto de Latakia, três lanchas israelenses se separaram da flotilha principal e atacaram as instalações do porto de Mint al Beida. O ataque foi realizado com sucesso com uma média de 80 granadas explosivas de 76 mm disparadas por cada embarcação, contra as instalações portuárias.

Saar 3 com mísseis antinavio Gabriel e canhão de 76 mm Oto Melara

Também foi realizada uma missão na mesma operação contra o terminal de combustível de Banias, por duas embarcações maiores da classe Sa’ar 4, mas no caminho para o alvo os barcos israelenses se depararam com duas Komar sírias, que saíram do porto de Tartus. As Komar sírias dispararam quatro mísseis P15 que caíram no mar sem atingirem as embarcações agressoras.

Apesar das Sa’ar 4 navegarem a mais de 30 nós em direção as Komar para lanças seus mísseis, as lanchas sírias lograram alcançar o porto de Tartus, antes que chegassem ao alcance dos mísseis Gabriel israelenses. Desta forma as Sa’ar 4 dispararam contra os depósitos de combustível costeiros incendiando de oito a dez tanques.

As ações de ataque costeiro de Israel foram consideradas pela Síria como a maior batalha naval da guerra, alegando terem disparado 12 mísseis e uma abundante quantidade de granadas de artilharia costeira nos calibres de 57, 100 e 130 mm.

O canhão OTO Melara de 76 mm se popularizou, tornando-se o canhão naval mais difundido no planeta, utilizado por dezenas de marinhas, inclusive países fora do bloco ocidental. O Irã produziu uma cópia não autorizada a qual denominou de Farj 27 e também foram divulgadas fotografias de um projeto semelhante na Coreia do Norte.

A  Aktiebolaget Bofors, uma indústria bélica cuja a história remonta a sua fundação em 1646 na cidade de Karlskoga na Suécia, mundialmente conhecida pelo seu canhão antiaéreo Bofors 40 mm L/60 e L/70, desenvolveu o Bofors de 57 mm L/70, que  é hoje o grande concorrente no cenário mundial ao clássico Oto Melara de 76 mm.

A Bofors atualmente faz parte do grupo BAE Systems, que comercializa este excelente canhão naval, adotado pela Suécia e vários outros países, inclusive os Estados Unidos, onde recebeu a designação de Mk. 110. É usado na  Guarda Costeira e na própria U.S. Navy, primeiramente para ser a arma de proa dos seus  Littoral Combat Ship e também estará na proa das novas fragatas da Classe Constellation da U.S. Navy.

Canhão Bofors de 57 mm

A Marinha dos EUA tem boa estima pelo canhão de 57 mm, por considerar uma arma de grande confiabilidade e com uma manutenção mais favorável. Seus defensores argumentam que apesar de seu calibre menor, a arma Mk.3 pode, devido à sua cadência maior, despejar um maior peso de explosivos no mesmo intervalo de tempo que o seu rival Oto Melara/Leonardo de 76 mm, atribuindo que uma rajada de 10 segundos do canhão de 57 mm lançaria 16,5 kg de massa explosiva, comparados com 13,75 kg do canhão de 76 mm.

Trata-se de uma arma com um pedigree de canhão antiaéreo, priorizando a cadência de tiro de 220 disparos por minuto, uma velocidade de conteira de 57º por segundo e também rápida elevação de 44º por segundo.  Sendo o seu ponto forte, está na qualidade da sua munição com espoleta programável que permite diferentes modos de impacto, indo da detonação por proximidade, que aliada ao desenho pré-fragmentado da granada, permite alvejar alvos aéreos com milhares de fragmentos de tungstênio formando uma ampla área letal ou ser automaticamente programada para o impacto direto na perfuração.

O canhão naval tem demonstrado na atualidade outra qualidade, que é econômica, pois diante da ameaça crescente de drones baratos para atacar navios, o canhão naval nos calibres de 76 e 57 mm oferece uma alternativa altamente compensadora em comparação aos custosos mísseis, visto que, mesmo que não se utilize os caros mísseis de longo alcance na categoria de um Standard, avaliados na faixa dos milhões de dólares, alternativas como o Sea Ceptor britânico ou o norte-americano Evolved Sea Sparrow, projetados para alcances menores, seus valores também estão na casa de 1 milhão de dólares por unidade Desta forma, o custo das munições de canhão pré-fragmentadas com espoletas eletrônicas pré-programadas, acaba sendo muito menor, bem como também são altamente eficazes com as suas detonações que cobrem os frágeis drones com uma chuva de fragmentos.

Caio Duilio e dois dos seus canhões de 76 mm na proa

Desta forma, o destróier Caio Duilio D554, da Marinha Italiana abateu recentemente drones houthis no Mar Vermelho. Em março de 2024, um dos drones foi abatido com aproximadamente oito disparos do canhão Oto Melara Super Rapid de 76 mm, a uma distância de 6 quilômetros do navio.

Nem sempre os mísseis  apresentam uma resposta favorável, a fragata alemã Hessen no mesmo teatro de operações, disparou dois mísseis  de longo alcance do tipo Standard Missile 2, contra o drone desconhecido e ambos falharam por razões não reveladas. Ocorre que o alvo visado era um drone MQ-9 das forças armadas dos EUA, que estava operando naquele espaço aéreo sem o “transponder” de identificação amigo-inimigo ativado e sem o conhecimento dos centros operacionais dos navios de guerra de outras nações. O mesmo navio abateu posteriormente com êxito outro drone Houthi com o seu canhão de 76 mm.

Canhão Sovraponte de 76 mm

Os canhões navais encontram se em constante evolução, todas as armas atuais apresentam torres com cúpulas com desenho furtivo, para diminuir a reflexão das ondas de radar adversárias, os italianos promovem atualmente o  76/62 Sovraponte, uma versão com torre furtiva e de 30 até 40% mais leve que o Super Rapid, sendo que sua instalação não requer penetração no convés abaixo, um dos principais inconvenientes do canhão no caso de embarcações pequenas ou quando colocado em posições altas, como sobre o hangar de helicópteros.

Aperfeiçoamentos contínuos seja na arma ou na munição aliado à sua enorme versatilidade, fazem com que o moderno canhão naval, possa ser  utilizado com eficácia desde contra uma pequena embarcação de superfície, passando por alvos estáticos em terra até a defesa de ponto contra mísseis e drones de alta velocidade, fazendo com que tenha um lugar cativo na composição do armamento dos combatentes de superfície deste século.

BIBLIOGRAFIA

 

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