‘Dança dos Vampiros com características chinesas’: míssil ar-ar AIM-174B dos EUA e o míssil antinavio YJ-12 da China

23

Super Hornet com o-missil AIM-174

À luz dos recentes acontecimentos com a revelação do novo AIM-174B dos EUA, vamos discutir a ameaça que ele é principalmente destinado a combater: o míssil de cruzeiro antinavio YJ-12 da China.

Em 1995-1996, a demonstração de poder dos EUA durante a Terceira Crise do Estreito de Taiwan, enviando os porta-aviões USS Independence e USS Nimitz, chocou profundamente a liderança da República Popular da China (RPC). Isso fortaleceu a ambição chinesa de desenvolver armas poderosas o suficiente para ameaçar os Grupos de Ataque de Porta-Aviões (CSGs) dos EUA.

USS Independence (CV-62) em março de 1996

Foram redigidos requisitos para um míssil supersônico capaz de enfrentar porta-aviões e seus escoltas. Ele complementaria o míssil subsônico de alcance médio YJ-83, que sozinho não seria suficientemente capaz de romper o Sistema de Combate Aegis.

A China provavelmente se baseou no míssil supersônico russo SS-N-22 Sunburn, utilizado em seus destróieres Sovremenny, para informar suas decisões de design. Ambos usam o mesmo sistema de propulsão ramjet, alimentado por quatro entradas de ar laterais e um conjunto duplo de superfícies de controle em um layout em X.

Míssil antinavio YJ-12 sob a asa de um bombardeiro H-6

O ramjet usa um impulsionador de foguete integrado, e a câmara ramjet é usada para abrigar o combustível que acelera o míssil até velocidades que permitem as operações ramjet, acelerando até velocidades mais eficientes de Mach 3 a 4. A essas velocidades, oferece cerca de 30 segundos de tempo de reação após ultrapassar o horizonte radar dos navios alvo.

O míssil é guiado por um Sistema de Navegação Inercial com correções de curso via link de satélite Beidou, e está equipado com um radar ativo em seu cone de nariz para orientação terminal. Manobras terminais de alto G são usadas para aumentar a sobrevivência terminal.

Com uma rede ISR (Intelligence, Surveillance, and Reconnaissance) capaz, esse link de satélite poderia permitir que a China direcionasse mísseis além do alcance do radar da plataforma de lançamento para aproveitar ao máximo o longo alcance e alta velocidade do míssil, de forma semelhante à Capacidade de Engajamento Colaborativo (CEC) dos EUA.

O perfil de voo totalmente supersônico do YJ-12 complementa o arsenal de mísseis da RPC, que inclui o YJ-83, totalmente subsônico, e o YJ-18, que é principalmente subsônico, mas supersônico na fase final. Em termos de alcance, ele também se encaixa entre os aproximadamente 180 km do YJ-83 e os cerca de 400 km do YJ-18.

A versão estrategicamente mais importante é o YJ-12 clássico lançado do ar a partir do caça-bombardeiro JH-7A, mas principalmente do bombardeiro H-6J, estendendo seu alcance até 1.900 km, incluindo a autonomia do bombardeiro e seu alcance de mais de 400 km quando disparado em altitude.

Bombardeiro H-6 com mísseis antinavio YJ-12

O longo alcance e alta flexibilidade do bombardeiro, combinados com o perfil de voo relativamente baixo do míssil em altas velocidades, criam desafios táticos para os planejadores dos EUA em comparação com os mísseis balísticos, que são mais rápidos, mas mais previsíveis e menos flexíveis.

Abater os lançadores antes que disparem seus mísseis é a melhor maneira de enfrentar esses ataques. A recente observação de AIM-174Bs operacionais a bordo do USS Carl Vinson é um sinal de que a Marinha dos EUA está retornando a essas táticas da Guerra Fria.

Missil ar-ar AIM-174 sob a asa do F/A-18E Super Hornet

O longo alcance, a importante carga útil e o radar de alta definição do AIM-174B o tornam o assassino de bombardeiros de longo alcance ideal, provavelmente faltando as cinemáticas finais necessárias para enfrentar caças mais ágeis. Um herdeiro digno (e superior) do AIM-54 Phoenix usado no F-14 Tomcat.

Além disso, o YJ-12A pode ser lançado de unidades de superfície naval via canisters de convés, mas a PLA Navy raramente o usa, pois é três vezes mais pesado que o YJ-83 padrão e não é usado em VLS (Vertical Launch System), ao contrário do YJ-18. O Shenzhen DDG-167, notavelmente, o carrega.

Shenzhen DDG-167 com 16 mísseis YJ-12 à meia nau

Juntamente com a versão lançada do ar, o outro uso principal do míssil está na Força de Mísseis de Defesa Costeira (CDMF). Aqui, o YJ-12B móvel em estrada gradualmente substitui o YJ-62 desde 2018. Sendo lançado de terra, seu alcance é ligeiramente reduzido para cerca de 300 km.

As baterias do continente reforçam o controle da RPC sobre suas costas e podem ameaçar a Marinha taiwanesa, mas estão muito longe para serem de uso relevante contra os EUA, enquanto as unidades desdobradas no Mar do Sul da China representam um desafio tático na região.

O YJ-12 se encaixa perfeitamente no arsenal de mísseis antinavio da RPC, e junto com o H-6J, está dando aos EUA o desafio de uma “Dança dos Vampiros com características chinesas”, mas como os eventos recentes mostraram, nunca subestime os EUA nessa corrida.

FONTE: @VLS_Appreciator, no X

NOTA DO EDITOR: A “Dança dos Vampiros” refere-se a um capítulo do livro “Red Storm Rising” de Tom Clancy, no qual os soviéticos atraem um grupo de porta-aviões da OTAN para uma armadilha e quase conseguem exterminá-lo.

A “Dança dos Vampiros” refere-se ao termo militar usado para descrever um ataque massivo com mísseis antinavio, conhecidos como “vampiros”, que são lançados em grande quantidade para sobrecarregar as defesas de uma frota inimiga.

No contexto da história, a Guerra Fria esquentou e evoluiu para um conflito total entre as forças da OTAN e o Pacto de Varsóvia. Os soviéticos, cientes da importância crítica dos porta-aviões da OTAN para a superioridade aérea e naval no Atlântico Norte, planejam uma emboscada ousada. Com astúcia e precisão, eles conseguem atrair um grupo de porta-aviões da OTAN para uma posição vulnerável no oceano, utilizando uma série de iscas e táticas de desinformação para enganar os comandantes da OTAN.

Uma vez que os porta-aviões estão na posição desejada, os soviéticos lançam um ataque coordenado de mísseis anti-navio de longo alcance, disparados tanto de bombardeiros quanto de submarinos e navios de superfície. Esses mísseis, que representam os “vampiros” na metáfora militar, são lançados em ondas, saturando as defesas do grupo de batalha da OTAN. As defesas antimísseis, apesar de sofisticadas, começam a ser sobrecarregadas pela quantidade avassaladora de projéteis inimigos.

O capítulo descreve com detalhes meticulosos o caos a bordo dos navios da OTAN, à medida que as tripulações lutam para repelir o ataque. Alarmes soam incessantemente, sistemas de defesa CIWS (Close-In Weapon Systems) entram em ação e mísseis defensivos são disparados, mas os “vampiros” continuam a vir, implacáveis. A tensão aumenta quando os primeiros impactos são registrados, e as explosões destroem navios de escolta, danificam gravemente os porta-aviões e causam a morte de muitos marinheiros.

Apesar das perdas devastadoras, a OTAN consegue evitar a destruição total de seus porta-aviões, mas a vitória soviética nesta batalha é clara. O ataque não apenas demonstra a vulnerabilidade dos poderosos grupos de porta-aviões da OTAN a ataques coordenados de mísseis, mas também sublinha a brutalidade e o alto custo da guerra moderna.

A “Dança dos Vampiros” em “Red Storm Rising” é uma representação fascinante do que poderia ter sido um dos cenários mais temidos durante a Guerra Fria. Tom Clancy, com seu característico realismo técnico e compreensão estratégica, nos oferece um vislumbre das complexidades e possibilidades da guerra naval.

Subscribe
Notify of
guest

23 Comentários
oldest
newest most voted
Inline Feedbacks
View all comments
Ozawa

Ao largo do tema central e focando na imagem de topo da matéria, o dragão estilizado em baixa visibilidade indica ser uma aeronave F/A 18-E, do VFA 192 “Golden Dragons”. A pintura cinza operacional não dá crédito à beleza fulgurante desse patch, que tenho orgulhosamente estampado em uma t-shirt.

Os “Golden Dragons” Integram o Carrier Air Wing (CVW) 2, que recentemente esteve a bordo do USS Carl Vinson em exercícios no Mar das Filipinas e no Mar do Sul da China e, como então destaca a matéria, com AIM-174Bs operacionais.

Dalton

Nada que você não saiba Ozawa, mas, como curiosidade, é que outra forma de identificar o avião como pertencendo ao VFA-192 é o número 307 visível, todos do esquadrão já há muitos anos utilizam a centena 300. . A bordo de um NAe os Super Hornets e F-35Cs na forma de 4 esquadrões de caça/ataque utilizam as centenas 100, 200, 300 e 400, o esquadrão de Growler a centena 500 os Hawkeyes a centena 600, os MH-60S de 610 para cima, os MH-60R a centena 700 e as aeronaves de transporte C-2A ou CMV-22 utilizam as dezenas 20/30. . O… Read more »

Ozawa

Valeu, Dalton. Suas intervenções sempre enriquecem o tema.

Marcelo Mendonça

O livro em português chama-se “Tempestade Vermelha” e é espetacular.

Bosco

Vale salientar que o AIM-174 tem capacidade ar-ar e antinavio, portanto, independente da plataforma de lançamento do Yj-12 , o míssil americano pode ser utilizado contra. Na função ar-ar pode inclusive ser utilizada para interceptar o próprio míssil supersônico após ser lançado. Outro ponto é o tempo de reação de somente 30 segundos citado no texto que considero extremamente otimista. Um míssil de cruzeiro supersônico com motor ramjet, ao nível do mar (a cerca de 20 m de altura) não mantém velocidade superior a Mach 1.5. Fazendo uma conta básica ele poderia nessa altitude ser detectado a 48 km do… Read more »

Last edited 1 mês atrás by joseboscojr
Bosco

A capacidade conjunta do F-18/E armado com esse missil AIM-174 com o F-35/C à frente, dentro do conceito de engajamento cooperativo, seria letal.

Fernando

Rapaz, VC torce demais para os EUA. Fica até chato

AVISO DOS EDITORES: DEBATA OS ARGUMENTOS SEM DESVIAR PARA QUESTÕES PESSOAIS.
LEIA AS REGRAS DO BLOG:
https://www.naval.com.br/blog/home/regras-de-conduta-para-comentarios/

Leonardo

Se Bosco torce eu não sei, mas eu torço e muito e dou Graças a Deus de serem eles os líderes do mundo moderno atualmente e torcendo para que continuem por muitos e muitos anos.

Bosco

Realmente.
Gostaria de ser “isento”e imparcial como você mas realmente não consigo torcer para regimes totalitários.
Enquanto perceber os EUA e as democracias ocidentais ainda como o último bastião da liberdade e de algo minimamente reconhecido como democracia , ainda que capengas, vou torcer por eles

Last edited 30 dias atrás by joseboscojr
Carlos Campos

Eita tacou a pedrada

Joao

Nota-se a importância de um AEW num CSG.
Sera q os ingleses achavam q um AWACS faria isso, partindo de terra, dada as missões de seus PA para a OTAN na Guerra Fria?
Precisaram nas Malvinas e sofreram por isso.

Com essa matéria fica bem evidente da importância desse sistema, para a proteção dos CSG.

No One

Para os britânicos a solução no curto prazo é essa:

comment image

Não é a solução ideal, certamente não oferece as mesmas capacidades de um
E-2D Hawkeye, mas devidamente combinadas e exploradas com os sensores dos F-35 , proporcionará uma boa consciência situacional ao CSG da RN.

Para o futuro as soluções, em fase de pesquisa e testes, poderão ser drones navalizados. Inclusive a MMI está acompanhando ( observador interessado) de perto esse processo.

Outra possibilidade futura, para a MMI, ainda especulações, poderia ser
AW609 da Leonardo:
comment image?resize=750%2C423&ssl=1

Eduardo Angelo Pasin

Quem sabe o bell-280 velor ou o defiant x

Maurício.

Em teoria o H-6 teria escolta, caças chineses com mísseis ar-ar com o alcance cada vez maior, o tal do PL-17 já está sendo testado, e quem sabe no futuro o PL-21, não seria tão fácil para os H-6, mas também não seria tão fácil para os SH com AIM-174.

Anthomy

Mestres Bosco e Osawa comentando novamente p aqui? Os bons tempos voltaram?

Que satisfacao!!!

Camargoer.

Apenas aproveitando.. Roman Polansky dirigiu uma excelente sátira sobre vampiros chamada “A dança dos vampiros”, na qual ele também interpreta o ajudante do caçador de vampiros… É muito boa.

Alex Barreto Cypriano

Filmes bons, quase todos vetustos, estão ausentes do mainstream em conformidade com a tática da moderna ração famelica servida compulsoriamente, mesmo pagando. Conformemo-nos: é o sistema de distração, num tripudio de triunfo, convidando aa reação (‘afinal, o que você vai fazer com o resto da sua vida senão ficar em casa vendo filme?…’).

Last edited 30 dias atrás by Alex Barreto Cypriano
Camargoer.

Fugindo do tema, mas nem tanto, qualquer filme do Roman Polasky vale a pena… “Chinatown” é perfeito.

Década de 60 e 70 teve filmes e música excelentes… mas roupas e cabelos horríveis

agora é hora de voltar aos aviõezinhos e barqunhos.. riso

AVISO DOS EDITORES: HÁ MATÉRIA ESPECÍFICA E RECENTE PARA DEBATER ASSUNTOS SOBRE AUDIOVISUAIS.
CONTRIBUAM PARA MANTER OS DEBATES NO FOCO DAS MATÉRIAS.

LEIAM AS REGRAS DO BLOG:

https://www.naval.com.br/blog/home/regras-de-conduta-para-comentarios/

Last edited 30 dias atrás by Camargoer.
Alex Barreto Cypriano

Sim, voltemos aos aviõezinhos e missilzinhos… Arqueiros, arcos, flechas e lunetas.

Rafael M. F.

Sobre a “Dança dos Vampiros”:

O Tom Clancy testou esse cenário com o simulador de jogos de guerra naval Harpoon? Acho bem provável.

Uma matéria anterior daqui da trilogia citava esse fato quando Clancy escreveu o “Red Storm Rising”.

Last edited 30 dias atrás by Rafael M. F.
Alex Barreto Cypriano

Tática da Guerra Fria, AEW+CAP, coisa de meio século atrás, sem maior consideração sobre posteriores desenvolvimentos. Algo como um contemporâneo da Guerra da Coréia imaginando empregar biplanos da IGM. Mas uma coisa é certa: tanto na primeira quanto na segunda Guerra Fria nenhum dos lados (potências nucleares) vai bater de frente primeiro, vão optar pelo desgaste proxy. Os respectivos CIMs agradecem penhoradamente.

Victor Filipe

NOTA DO EDITOR: A “Dança dos Vampiros” refere-se a um capítulo do livro “Red Storm Rising” de Tom Clancy, no qual os soviéticos atraem um grupo de porta-aviões da OTAN para uma armadilha e quase conseguem exterminá-lo.
A “Dança dos Vampiros” refere-se ao termo militar usado para descrever um ataque massivo com mísseis antinavio, conhecidos como “vampiros”, que são lançados em grande quantidade para sobrecarregar as defesas de uma frota inimiga.”

esse captulo no livro e a narração do audio book é excelete.

Leandro Costa

Tem um cara no YouTube fazendo os capítulos usando DCS e acho que ArMA III…