HISTÓRIA: As intervenções dos EUA no Caribe
Por Christian Cwik
Desde o início do século 20, os conflitos políticos determinaram as relações entre o Império Alemão e os EUA. O Caribe tornou-se um dos palcos desses conflitos durante e após a Primeira Guerra Mundial. As razões gerais foram a política de dívida imperial, o aumento dos investimentos alemães, a guerra submarina e os interesses econômicos dos EUA.
A Ascensão do Imperialismo
Durante a Primeira Guerra Mundial, o Caribe (incluindo as costas do Circum Caribe) foi transformado em uma área contestada. O governo dos EUA utilizou os interesses imperiais das potências europeias para justificar seus próprios interesses políticos na região. Desde 1823, a chamada Doutrina Monroe serviu como base para as intervenções dos EUA.
Qualquer esforço das nações europeias para colonizar territórios ou interferir nos estados das Américas era considerado um ato de agressão. A primeira vitória foi a derrota militar da Espanha: Na Guerra Hispano-Americana de 1898, as tropas dos EUA intervieram nas colônias espanholas do Caribe, como Cuba e Porto Rico, bem como em algumas ilhas do Pacífico, onde o presidente William McKinley (1843-1901) estabeleceu governos militares dos EUA.
Em 1902, Cuba tornou-se “independente”, mas, de acordo com a Emenda Platt de 1901, ficou sob a proteção dos EUA. A partir de 1880, os Estados Unidos fortaleceram seus interesses econômicos no Caribe. Corporações americanas, como a Standard Fruit Company e a United Fruit Company, puderam adquirir terras em qualquer lugar dos territórios caribenhos e, assim, estabeleceram muitos novos sistemas de plantação.
O Conflito de Imperialismo no Caribe
Nem as intervenções dos EUA nem as europeias eram algo novo no Caribe, mas, na virada do século, novos conflitos entre as diferentes potências imperiais e seus aliados provocaram o início de uma grande guerra. Além das tradicionais potências coloniais, como Grã-Bretanha e França, o Império Alemão, que por muito tempo havia sido uma potência colonial de segunda categoria, tentou se tornar um jogador imperial em nível global.
Uma das principais preocupações de Berlim era apoiar a construção do canal interoceânico no Istmo do Panamá para conectar os protetorados alemães no Pacífico com o Império Alemão. Após a África e a Ásia, o Caribe tornou-se cada vez mais importante. A partir de 1870, observam-se investimentos alemães na maioria dos países e colônias do Caribe.
Agentes alemães até incentivaram o governo em Berlim a ocupar uma ilha das Índias Ocidentais, preferencialmente a dinamarquesa St. Thomas (Ilhas Virgens), para construir uma estação naval e de cabos como parte de uma rede comercial global. Uma estação naval segura nas Índias Ocidentais teria sido uma forte base próxima a qualquer futuro canal da América Central e permitiria expandir o comércio e os investimentos na América Central e do Sul.
A Política do Corolário de Roosevelt
O presidente Theodore Roosevelt (1858-1919), que governou de 1901 a 1909, temia o envolvimento alemão no “quintal” da América. Em outubro de 1902, Roosevelt interveio na guerra civil colombiana para impedir que os alemães fizessem mais investimentos e para proteger os futuros interesses dos EUA. Ele enviou dois navios de guerra para ajudar as elites conservadoras panamenhas em seu projeto de independência e ocupou a Zona do Canal do Panamá em 1903.
Outro conflito político eclodiu em 1902 entre o Império Alemão e os EUA devido à chamada Crise da Venezuela, que começou após o presidente venezuelano Cipriano Castro (1858-1924), que governou de 1899 a 1908, se recusar a pagar dívidas ao Império Alemão, Grã-Bretanha e Itália. A consequência foi um bloqueio naval contra os principais portos venezuelanos. Roosevelt forçou as tropas alemãs a se retirarem, e as nações bloqueadoras concordaram com um compromisso em 13 de fevereiro de 1903. No entanto, os alemães mantiveram seu bloqueio até o último dia das negociações.
O bloqueio foi a razão para o Corolário de Roosevelt, proclamado em 4 de dezembro de 1904. Ele afirmava o direito dos Estados Unidos de intervir em conflitos entre a Europa e as Américas, apesar de reivindicações europeias legítimas. Até a entrada na Primeira Guerra Mundial em 6 de abril de 1917, os EUA intervieram na República Dominicana (1905, 1907, 1916-1924), na Nicarágua (1907, 1909, 1912-1925), em Honduras (1909, 1911-1925), no México (1914, 1915, 1916, 1917) e em Cuba (1906-1909, 1912, 1917-1919). A última intervenção dos EUA em Cuba começou em agosto de 1917 devido ao medo dos EUA de que o Império Alemão apoiasse os insurgentes do partido liberal cubano, que se recusaram a declarar guerra a Berlim em abril de 1917.
Os EUA entraram no Haiti já em 1915, quando o país entrou em colapso devido a uma dívida externa irredimível. A maior parte das dívidas era controlada por bancos alemães e franceses. Entre 1901 e 1914, o Império Alemão havia enviado navios de guerra ao Haiti várias vezes para forçar reivindicações diplomáticas. Com o início da Primeira Guerra Mundial, o presidente Woodrow Wilson (1856-1924), que governou de 1913 a 1921, tornou-se cada vez mais preocupado com a política alemã no Haiti, pois comerciantes e empresas alemãs não só controlavam cerca de 80% do comércio externo do país, mas também possuíam e operavam serviços públicos e corrompiam governos locais. Assim, o governo dos EUA começou a controlar as taxas alfandegárias do Haiti e o Banco Nacional. Eventualmente, essa política dos EUA levou a uma invasão do Haiti para impedir que a Alemanha assumisse o controle do país em 1915. Após a retirada das tropas em 1934, a soberania financeira dos EUA permaneceu até 1947.
Uma série de eventos semelhante ocorreu na República Dominicana, onde os EUA nomearam um administrador geral de alfândega em 1905. Isso garantiu o controle dos EUA sobre a distribuição de receitas e, ao mesmo tempo, permitiu à República Dominicana a amortização de suas dívidas.
Roosevelt persuadiu o Congresso dos EUA de que essa “política do grande porrete” (Big Stick) protegeria o Caribe de qualquer intervenção militar europeia. Em 1907, a República Dominicana e os EUA assinaram um tratado que reservava aos EUA o direito de intervir para proteger a arrecadação de alfândegas. Assim como em Cuba, a República Dominicana foi convertida em um protetorado “legal”. Quando ficou claro que os EUA queriam muito mais influência, o Congresso dominicano rejeitou os objetivos de Wilson em 1915, após o que os fuzileiros navais dos EUA desembarcaram em Santo Domingo em 1916, onde estabeleceram um governo militar dos EUA.
A Primeira Guerra Mundial
Já em abril de 1914, os fuzileiros navais dos EUA haviam ocupado o porto mexicano de Veracruz, praticando operações de desembarque que mais tarde adotariam durante a Primeira Guerra Mundial. O chamado Telegrama Zimmermann, de janeiro de 1917, foi um motivo muito importante por trás da decisão de Washington de entrar na guerra.
O ataque de submarinos alemães a navios mercantes e submarinos aliados no Atlântico deu aos americanos outro motivo para entrar na guerra. Devido ao fato de que submarinos alemães operavam até mesmo no Caribe, os EUA temiam uma invasão alemã das Ilhas Virgens Dinamarquesas, planejada há muito tempo.
Para evitar isso, concluíram um tratado com a Dinamarca e compraram as ilhas por $25.000.000. Na mesma linha, Washington também tentou comprar outros territórios caribenhos, como a Jamaica e Trinidad, da Grã-Bretanha e da França.
Christian Cwik, Universidade das Índias Ocidentais, Trinidad e Tobago
FONTE: International Encyclopedia of the First World War
SAIBA MAIS:
‘As Guerras das Bananas’ – intervenções militares dos Estados Unidos na América Central e no Caribe
Operação Urgent Fury – a Invasão de Granada pelos EUA em 1983
Ainda tem gente que aplaude o presidente americano ou qualquer outra autoridade, civil ou militar americano, quando eles falam em defender os interesses americanos em algum lugar do mundo, como se o interesse deles fossem os nossos, como se isso beneficiasse o Brasil.
Em relações internacionais não existem amigos e sim interesses, e aliado e aquele cujo interesse e igual ao meu. O que nem sempre e o caso dos EUA em relação ao Brasil.
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Ok 👍
Esqueci desse detalhe 😞
Aliás esse ano o meu voto ______
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“defender os interesses americanos.”
Essa ladainha de que os EUA só estão/estavam defendendo seus interesses, é muito, mas muito usada por brasileiros que defendem os EUA e suas invasões/intervenções, é uma das principais desculpas usadas.
Já quando um outro país faz o mesmo, aí é um “Deus nos acuda”! Rsrsrs.
Eu acredito que a maioria das pessoas razoáveis(!!!) que apoiam os EUA, dentro de um contexto geopolítico histórico, fazem um balanço do “menos pior” e não um apoio irrestrito ou idealizado.
Mesmo olhando o repugnante numero de ditaduras apoiadas por eles TALVEZ tenha sido menos pior do que um holomodor, divago…
Penso que os norte-americanos não apoiam genocídios. Defender interesses de empresas e negócios fizeram (Ocidente) no Japão, China, Coreia, Indochina, Índia, Pacífico, OM…provocando guerras e invasões.
Mas genocídios, não.
Ué, e o genocídio indígena? E não me venham com a tal desculpa do “contexto histórico”!
Qualquer um que desconsidere o contexto histórico para falar de HISTÓRIA, independentemente da ideologia, só pode ser considerado um comediante.
Qualquer um de use o “contexto histórico” como desculpa para tentar passar pano para invasões/intervenções, só pode ser considerado uma líder de torcida.
Tem quem crave (Shahid Bolsem) que os EUA começam e acabam em genocídios: começam com o genocídio dos indígenas americanos na expansão pro oeste e terminam com o subsídio ao genocídio dos palestinos. Aqui, entre 5:55 e 6:15.
https://youtu.be/XfqTMccTcpM?si=n58UYa2s8wiqPiVR
Mas o resto do vídeo é bom também.
Apoiaram o genocídio de Suharto, na Indonésia, as estimativas variam de cerca de 1 milhão de pessoas mortas até 3 milhões. A CIA sabia de tudo e se ofereceu pra ajudar a encobrir a matança, já que o importante era “matar comunista”, não importa se havia inocente no meio, como dizia Chiang Kai-shek: “Prefiro matar 1000 inocentes por engano do que deixar um comunista escapar”. (Curiosamente, Kai-shek chegou a ganhar o apelido de “General Vermelho” no Ocidente, pelos seus laços com URSS.) Apoiaram Mobutu Seko no Congo, que apoiou ativamente os perpetradores do Genocídio de Ruanda, permitindo que eles se… Read more »
Jill Stein e Cornel West falam abertamente contra o apoio material incondicional dos EUA a matança que Israel promove em Gaza e Cisjordânia. Não só eles: jovens estudantes universitários e associações civis (judaicas, especialmente) e associações de veteranos militares. Mas vermelhos e azuis estão fechados nesse apoio pois a política americana se descolou do povo americano e tem abandonado seus fundamentos democráticos (fim das primárias). Clara Mattei, no seu livro ‘A Ordem do Capital’, expõe claramente: as elites do capitalismo aplaudem o morticinio em Gaza e Ucrânia simplesmente porque lucram com isso. Aqui:
https://youtu.be/XWO5uijc-18?si=Yvb5zATxfHJROvPW
Leia o livro “Enterrem meu coração na curva do rio”, e depois nos deixe saber se ainda acredita que nao apoiam genocidios.
Eles mesmos exterminaram os índios americanos. Como não são genocidas?
Cara vai ler sobre o genocídio Filipino e vai ver como você esta errado.
Não existe “menos pior”, conformismo não é realismo, muito se fala do Holodomor mas pouco se fala da Grande Fome na Irlanda, fome de Bengala etc.
Mas o que causou a fome na irlanda foi uma praga nas batatas!
Em parte, sim, mas a outra parte que não contam foi quando o governo resolveu que o “livre mercado” resolveria a situação, o Reino Unido continuou permitindo a exportação de batatas mesmo com os irlandeses morrendo de fome, quando os conservadores assumiram eles suspenderam programas governamentais de alimentação etc.
Lembrando que basicamente a Irlanda era uma colônia dos ingleses, e eram forçados de diversas maneiras a “sobreviver” da monocultura de batatas, quando a praga atingiu nem isso eles tinham.
E a fome de bengala, e a morte de 160 milhões de indianos, grande parte de fome, pela Inglaterra não se fala.
Quando os EUA lançaram agente laranja no Vietna estariam se igualando ao Saddan que futuramente lançaria sarim.
São genocidas ricos e de olhos azuis, mas são genocidas.
Eles foram os únicos que jogaram bomba atômica, espero q o cara lá do OM , bibi, não faça o mesmo!
Há ainda mais histórias que não foram citadas, em 1928 os trabalhadores da United Fruit Company na Colômbia entraram em greve exigindo melhores condições de trabalho, queriam contratos escritos, oito horas de trabalho diárias, uma folga por semana e a eliminação do sistema de cupons de comida. Os americanos disseram que a greve era “subversão comunista” e ordenaram a Colômbia a acabar com ela, se não os próprios EUA iriam invadir o país, o resultado foi o Massacre das Bananeiras, com estimativas que chegam a 3 mil mortos. Chega a ser engraçado quando, nos filmes ou séries, falam que o… Read more »
Essa passagem está no começo de “Cem anos de Solidão” do Garcia Marques, livro estupendo.
Com mais essa lição histórica observo que a América latina só não está no mesmo merdele que a África, porque têm muito mais terras produtivas, riquezas minerais, unidades linguística e religiosa.
Se estivéssemos naquela Babel de línguas, religiões e aridez dos africanos , a m… Era igual se não pior, porque aqui qualquer gringo faz o que quer e com apoio dos caciques locais.
Quase vendemos o Amapá pros alemães. Mas compramos o Acre.
Desde o último quartel do XIX, Alemanha (recém unificada por façanha de Bismarck e da Prússia) e EUA (recém saído da Guerra Civil que unificou a nação sob a liderança nortista) competiam em números de produção industrial. Se a América não se contentou com o Caribe depois de ir abrir portos do Japão, a Alemanha tinha suas colônias em Africa, onde praticaram horrores paralelos aos horrores que outras potências coloniais com França, Inglaterra, Bélgica, Portugal, etc, praticaram. O problema nunca foi de competição interestatal como fatalidade da natureza humana mas do modo de produção capitalista expandindo mercados consumidores e territórios… Read more »
E o Haiti no meio do torvelinho, de Toussaint Louverture, passando por Papa Doc (François Duvalier) até Minustah… Louverture liderou uma sangrenta revolução de libertação nacional, por fim vitoriosa (curiosamente instituindo não uma república mas um … império). Mas França, a ex-metropole caracteristicamente revanchista (antes mesmo de Chauvin), voltou aa carga cobrando indenização (com navios e tropas) da jovem nação, cujo pagamento atrasou e frustrou pra sempre as esperanças do Haiti. E nós com isso? Semelhanças com o Haiti, que segundo alguns, é aqui:
https://youtu.be/4-t73SGpozw?si=giIgWGsavrCeQ2nJ
Curioso que dentre todos os países caribenhos, Cuba tem hoje um dos mais elevados IDH da região. Acho que são coisas que precisam ser discutidas.
Lenda, a situação de Cuba é precária e seu IDH continua retrocedendo. Sem patrocínios externos e com uma economia pouco desenvolvida que exporta essencialmente commodities ( Como o resto da região) e trabalho escravo, é impossível sustentar o crescimento do IDH cubano. Os enormes subsídios soviéticos, tanto econômicos como técnicos, possibilitaram esse desenvolvimento ( insustentável) mesmo com uma economia altamente subdesenvolvida e estatizada. Era intenção da URSS fazer de Cuba a sua vetrine na AL. Com a queda da URSS, Cuba ficou sem patrocinadores e entrou o colapso até a chegada de Chávez, que com a sua ambição desmedida e… Read more »
Ruim com os Estados Unidos, pior sem eles e digo mais, melhor os States que o Imperialismo Chines, Russo, japones etc…
Três tópicos.
Surpreso com as tramas alemãs por aqui. Dos franceses, britânicos, espanhóis e lusos sem novidade. Os chucrutes , vivendo e aprendendo .
Segundo, goste-se ou não do tio Sam, mas um país com a idade do nosso, sentou a mesa dos grandes e bateu o P..
Terceiro. Que sina a da América Latina.
Algum dia seremos realmente soberanos nessa droga?