A História Naval e o Cinema: ‘Greyhound’ – Na Mira do Inimigo (2020)
Sérgio Vieira Reale
Capitão-de-Fragata (RM1)
“Duas vezes numa só geração a catástrofe de uma guerra mundial se abateu sobre nós. Por duas vezes, no nosso tempo de vida, o braço longo do destino atingiu o outro lado do oceano, para trazer os Estados Unidos da América para à frente de batalha. Se tivéssemos ficado juntos após a última guerra, se tivéssemos tomado medidas comuns à nossa segurança, a renovação da maldição não precisaria nunca mais ter caído sobre nós. Será que não devemos a nós mesmos, as nossas crianças, à humanidade atormentada, que estas catástrofes não irão nos engolir pela terceira vez?”.
WINSTON CHURCHILL[1]
Greyhound – Na Mira do Inimigo é um filme de guerra ambientado na Segunda Guerra Mundial e baseado no livro “The Good Shepherd” (O Bom Pastor), de 1955, escrito por Cecil Scott Forester. O longa, lançado em 2020, foi dirigido por Aaron Schneider. O roteiro foi assinado pelo ator Tom Hanks, que interpreta o personagem Ernest Krauss, um inexperiente Comandante de um fictício Contratorpedeiro da Marinha dos Estados Unidos da América (EUA) “USS Keeling”. Na realidade, uma grande parte das filmagens foi gravada num Contratorpedeiro da Classe Fletcher chamado “USS Kidd” (DD-661), navio museu que fica atracado em “Baton Rouge” no Estado da Lousiana.
As adaptações audiovisuais de livros fazem parte da história do cinema. Entretanto, Em quase toda adaptação algumas cenas são criadas para levar mais emoção ao espectador. Um bom exemplo são as ameaças verbais feitas pelos submarinos alemães, que são transmitidas pelos alto-falantes do “USS Keeling”. Uma produção audiovisual é arte e entretenimento, possui liberdade artística, e pode se afastar, em menor ou maior grau, da verdade documental.
A história fictícia se passa no inverno do hemisfério norte, em 1942, durante a Guerra Aeronaval no Atlântico (1939 – 1945). Navios mercantes das forças aliadas, na travessia dos EUA para à Inglaterra, navegavam em um comboio internacional escoltados por navios de guerra e eram constantemente atacados por submarinos alemães.
O mar sempre foi o principal meio de transporte para o comércio mundial. A Guerra Submarina da Alemanha era intensa para negar o uso do mar aos aliados e impedir a chegada de suprimentos na Europa.
Nesse sentido, o objetivo era o enfraquecimento da economia do inimigo. Durante a Guerra Aeronaval no Atlântico os aliados perderam milhares de navios mercantes e centenas de navios de guerra. Os alemães perderam centenas de submarinos. As Linhas de Comunicações Marítimas (LCM) precisavam ser protegidas. Segundo Winston Churchill: “A Batalha do Atlântico foi o momento em que ele mais temeu pela sorte do Império Britânico e nada o assustou mais do que o denominado perigo dos submarinos”.
No filme, o comboio HX 25 com destino a Liverpool na Inglaterra, era formado por 37 navios mercantes e quatro navios de guerra para protegê-los dos submarinos alemães. Eram eles os seguintes navios de guerra: Harry, Eagle, Dicky e USS Keeling (Greyhound). A tática de Zigue-Zague era realizada para dificultar a solução de tiro por parte dos submarinos. Os navios de guerra atacavam os submarinos com torpedos, canhões e bombas de profundidade.
Além disso, o comboio tinha cobertura aérea até uma determinada área marítima do atlântico norte, em razão da autonomia das aeronaves. Dessa forma, existia uma grande área sem cobertura aérea para os comboios, que se chamava “Black Pit”. Assim sendo, os navios ficavam mais vulneráveis aos submarinos e as perdas marítimas eram maiores. Historicamente, vale ressaltar que a construção de navios aeródromos de escolta, pelos EUA, que eram mais rápidos de serem construídos e possuíam um custo menor, reduziriam essas perdas. Navios mercantes adaptados para o transporte e operação de aeronaves também foram empregados na guerra.
O filme é dinâmico, mas centrado num único personagem. Ele foi ambientado num contexto real, ou seja, na Guerra Aeronaval no Atlântico, durante a Segunda Guerra Mundial. A caracterização do ambiente de bordo é muito boa.
- Filme: Greyhound – Na Mira do Inimigo (2020)
- Diretor: Aaron Schneider
- Ator Principal: Tom Hanks
- Disponível em: Apple tv +
Referências Bibliográficas e Sites Consultados
- ALBUQUERQUE, Antônio Luiz Porto; SILVA, Léo Fonseca e. Fatos da História Naval. 2.ed. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha. 2006.
- BELOT, R. de. A guerra aeronaval no Atlântico. Rio de Janeiro: Record, 1972.
- https://canaltech.com.br/entretenimento/o-que-e-real-e-o-que-e-ficcao-em-greyhound-168231/
- https://winstonchurchill.org.br/sessco-conjunta-do-congresso
[1] Em discurso no Senado dos EUA em dezembro de 1941
O livro é muito bom, e consegue mostrar toda a tensão de ser reaponsável pelo seu navio, pelos navios de escolta e por um comboio com preciosos suprimentos num local aonde subs alemães te esperam, numa época em que a Kiregsmarine e seus u-boats viviam sua “época de ouro”.
O filme é “enxuto”, e consegue transmitir toda essa tensão e a sensação de que há sempre um sub inimigo por perto.
Recomendo o livro e filme.
Entre 1939 e 1945 ocorreu a mais longa campanha militar contínua da II Guerra Mundial: a Batalha do Atlântico. De fato, como aborda o texto, nos estágios iniciais da guerra, os U-boats foram extremamente eficazes na destruição dos navios aliados devido à grande lacuna do Meio do Atlântico, um termo geográfico aplicado a uma área indefesa além do alcance de aeronaves antissubmarinas baseadas em terra durante aquela batalha. C. S. Forester foi um escrito britânico, nascido no Egito, que se mudou para os Estados Unidos, onde trabalhou no Ministério da Informação britânico e escreveu propaganda para encorajar os EUA a… Read more »
Pegando um “gancho” Ozawa acho mais provável que o “Keeling” sobreviveria tivesse ele continuado no Atlântico/Mediterrâneo – o que também nunca saberemos – porque a grande maioria dos “destroyers” foi perdida no Pacífico.
Também acho, Dalton … Um adendo ao meu comentário anterior, sobre a inspiração cristã (ou pastoril para os mais agnósticos) do autor para sua narrativa é refletida no título do livro: “O Bom Pastor”. O título traz a conexão com o pastoreio de ovelhas, cuja função é cuidar de seus animais, garantindo a saúde, a segurança e o bem-estar de cada um deles, uma metáfora mais que apropriada à situação narrada no livro, onde o comandante da escolta (o bom pastor), mantém seu comboio (as ovelhas) a salvo dos “wolfpacks” (a matilha de lobos metaforicamente) que espreitam seu caminho. O título… Read more »
Eu assisti o filme, que é uma produção honesta, sem grandes efeitos ou uso massivo de tecnologia. Conta com ótima interpretação
De Tom Hanks e nos mantém presos à trama. Muito bom!!
Não li o livro, não vi o filme; mas dizem que Hanks retrata um oficial velho demais pro posto.
Off Topic: um vídeo muito bom, possivelmente o primeiro de uma série sob planejamento abordando detalhes de navios de guerra, neste caso, do famoso Yamato. Vale assistir sobretudo pelas descrições ilustradas da hidrodinâmica, propulsão, blindagens, sistema ótico de mira, projéteis disponíveis… Aqui:
https://youtu.be/kBQP6A_BmQs?si=1vanC2FZ9dokoS7z
Na esteira da sugestão do vídeo vai aqui uma sugestão de post cinematográfico bélico-naval: “A GUERRA DE ARQUIMEDES”, de 2019, sobre o projeto de construção do Encouraçado Yamato.
Alerta de spoiler necessário: Somente a cena inicial retrata uma hatalha naval, a derradeira do Yamato, durante a fatídica e mítica Operação Ten-Go. Daí em diante o roteiro é essencialmente político, e crítico à cúpula japonesa da Marinha Imperial,
Um filme basicamente anti-bélico, mas não se perde no proselitismo, ao contrário, traz uma reviravolta surpreendente …
E o melhor: em língua japonesa! Com legendas em português obviamente.
ANTOLÓGICO!
Grato, mestre Ozawa. O filme se baseia num mangá de autoria de Norifusa Mita, o Archimedes no Taisen, publicação iniciada em 2015. Aqui:
https://www.animenewsnetwork.com/news/2023-09-26/norifusa-mita-archimedes-no-taisen-manga-ends/.202816
Bom filme.
Tirando as pinturas gigantes nas laterais do submarinos e o fato que eles não emitem só de baleia quando emergem, o filme entrega boas horas de diversão para os entusiastas de filmes navais.
A cena na qual o capitão chama o copeiro substituto pelo nome do titular falecido é bastante constrangedora.
O filme é excelente, gostei muito. Mostra uma realidade perfeita e quem teve o privilégio de embarcar nos Contratorpedeiros, sabe que a vida de bordo é exatamente essa que mostra no filme. Aproveitando a oportunidade, gostaria de mencionar que ao ler essa matéria, vi o nome do Comandante Reale, Oficial que servi junto com ele no Contratorpedeiro Alagoas (D-36) – “O Bucaneiro”. Grande abraço.
Suboficial (RM-1 SI) Afonso.
Senhores Comentaristas;
Bom dia a todos;
Por favor, parem de dar spoilers sobre o filme 👍
Eu ainda não vi, já basta o Comte Reale que fez a analogia dele sobre o filme 😝
Pena que tá só na Apple tv +😞
Mas vou ver o que posso fazer 😏
Ora, ora, ora…
O filme já foi lançado há quatro anos e já deu tempo suficiente para ter assistido.
Em todo caso, pode ser baixado via torrent na internet.
Bom dia Dr. Mundico;
Pois é, como outros filmes aí já foi comentado no blog, eu particularmente não dou spoiler faço os meus elogios comento bem pouco, independente de outras pessoas terem assistido ou não👍
Isso é bom por um lado que instiga a curiosidade de quem não assistiu para ir ver.
E quando se da o spoiler perde a graça e desestimula a pessoa de ver🤷♂️
Sds
Muito bom, assisti mais de uma vez, pena não ter passado nos cinemas!!
A vitória dos Aliados na Batalha do Atlântico, frente menos hypada e menos conhecida da WWII, foi a mais importante de todas. Méritos da capacidade americana de construir navios atrás de navios e dos ingleses de decifrarem Enigma. Se a tivesse perdido e o Atlântico Norte tivesse sido bloqueado pelos sub alemães, a Grã-Bretanha teria que se render ou morreria de fome. Num certo período, fim de 1942/inicio de 1943, quando começou a virada, os EUA eram responsáveis por alimentar sozinhos metade da população britânica.