Liu Huaqing: O ‘Pai do Porta-Aviões Chinês’ e a visão que transformou a Marinha da China

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Liu Huaqing, em 1996

O general/almirante Liu Huaqing é considerado o “Pai do Porta-Aviões Chinês”, sendo a figura visionária por trás da presença naval da China no Pacífico e da criação do primeiro porta-aviões do país, o Liaoning.

Liu passou grande parte de sua vida dedicado ao desenvolvimento e fortalecimento da Marinha do Exército de Libertação Popular (PLA Navy), defendendo incansavelmente a expansão naval chinesa. Se estivesse vivo, Liu certamente se orgulharia dos porta-aviões Liaoning, do Shandong e do Fujian, que simbolizam a concretização de seu sonho.

Nos últimos dias de vida de Liu, em janeiro de 2011, diversos comandantes navais foram visitá-lo. Ele expressou seu último desejo: “Não consigo fechar meus olhos sem ver o porta-aviões.” Os comandantes prometeram que fariam de tudo para que o primeiro porta-aviões fosse comissionado no ano seguinte, o que permitiu a Liu fechar os olhos em paz.

Sua dedicação a essa visão começou em 1970, quando, como vice-chefe de operações navais, ele propôs pela primeira vez que a China analisasse a necessidade de ter porta-aviões. Na época, muitos consideraram sua ideia impraticável, pois o país mal possuía destróieres e enfrentava as consequências da Revolução Cultural, com a população passando por grandes dificuldades.

Liu, porém, não se intimidou. Ele enfatizou que um terço do território chinês era composto por mares circundantes e questionou como o país poderia defendê-los sem uma força naval moderna. Ele relembrou o passado de invasões e desmembramentos sofridos pela China nas mãos de potências ocidentais, o que reforçou a necessidade de uma estratégia naval focada na proteção das águas territoriais.

Logo após essa reunião, Liu criou uma força-tarefa dedicada ao estudo de porta-aviões, incluindo modelos, estratégias de operações e tecnologias necessárias. Ele também iniciou programas para formar cientistas e especialistas em tecnologia naval. Em 1975, Liu passou uma semana apresentando suas propostas a Mao Zedong e, cinco anos depois, visitou os Estados Unidos como chefe da Marinha. Durante essa visita, ele embarcou no porta-aviões americano USS Kitty Hawk, experiência que o marcou profundamente. Em suas memórias, ele relatou: “Lágrimas encheram meus olhos. Fiz uma promessa ao meu país de que a China teria um porta-aviões antes que eu morresse.”

Almirante Liu Huaqing
Almirante Liu Huaqing a bordo de um porta-aviões da US Navy
Almirante Liu Huaqing observando o interior de um helicóptero Sea Sprite da US Navy
Almirante Liu Huaqing cumprimentando pilotos da US Navy

Liu também foi pioneiro na criação de um programa de treinamento para comandantes de porta-aviões e foi crucial na aquisição do porta-aviões ucraniano Varyag, que viria a ser reconstruído e renomeado como Liaoning. Essa compra representou um marco na estratégia naval chinesa e consolidou a visão de Liu para a Marinha.

Sua determinação e visão moldaram a doutrina naval da China moderna, estabelecendo o conceito de “teoria das águas territoriais”, que fundamenta a defesa e expansão da presença naval chinesa nas águas do Pacífico. Liu acreditava que, sem uma Marinha forte, a China não poderia garantir sua soberania nas águas circundantes.

Graças à visão e ao legado de Liu Huaqing, a China agora opera com o Liaoning e o Shandong, dois porta-aviões que simbolizam o poder naval crescente da Marinha chinesa, enquanto testa o novo Fujian, que deverá entrar em operação em breve. O sonho de Liu de ver a China como uma potência naval foi mais do que realizado, e sua influência continua a moldar a estratégia marítima do país até os dias de hoje.

Antes e depois: o Varyag foi reconstruído e transformado no Liaoning
O Fujian, de 80 mil toneladas
Porta-aviões Liaoning e Shandong operam juntos pela primeira vez, em 30 de outubro de 2024

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A transformação do navio-aeródromo russo ‘Varyag’ no chinês ‘Liaoning’

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Willber Rodrigues

A diferença é que o NaE chinês foi fruto de um plano de longo prazo, baseado num planejamento com pés no chão, realizável, e sem sacrificar o resto de sua Marinha, jogando o resto da Força na obsolência em bloco pelo emvelhecimento de meios e sem substituição.

Totalmente o contrario do que um certo almirantado, de uma certa marinha, fez nos anos 2000…

Jacinto

Fez, no passado, ou faz, no presente com outro meio?

Dworkin

É de tirar o chapéu o que esses caras fizeram. País soberano é assim mesmo.

curisco

eles vieram para jogar sério

marcos

Lin Biao, Zhu De e Peng Dehuai ficariam orgulhosos do que as FA Chinesas se tornaram.

Magarem

Bonita essa pintura branca/gelo dos caças

Bispo de Guerra

Quase todos os países que sofreram invasões bárbaras(carnificina mesmo) primam por sua defesa.

E bem sabemos o que o Japão fez por lá.
(Massacre e estupro em Nanquim / Unidade 731) antes o ingleses: Guerra do Ópio…

A China , pelo histórico de destruição por invasão, com certeza , merece ter muitas “ogivas”…do tipo , levo junto para o inferno.