‘Lembrai-vos da Guerra’: O Curso de Extensão em Estudo Marítimos da Escola de Guerra Naval

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Por Arthur Rangel

Tive, no ano de 2024, a oportunidade de realizar meu primeiro curso na Escola de Guerra Naval (EGN). Como civil, apesar de vir de uma família de militares, eu decidi por um caminho diferente: ser professor do ensino superior, com um mestrado em Estudos Estratégicos e um doutorado em Teoria da Justiça, ambos pela Faculdade de Direito e Ciências do Estado da UFMG; leciono, há alguns anos, disciplinas de estudos estratégicos, geopolítica e propedêutica do direito (com algumas disciplinas de penal aqui e acolá).

Sempre próximo dos estudos de defesa e das academias militares superiores, nunca deixei passar em branco a oportunidade de realizar cursos de aperfeiçoamento e expansão do conhecimento: afinal, tais cursos me permitem transmitir um conhecimento mais apurado e de melhor valor aos meus alunos, que em sua maioria são de classe C, D e E.

O curso de Extensão em Estudos Marítimos oferecido pela EGN foi o primeiro que tive a oportunidade de fazer na Marinha. Este curso, assim como a maioria dos cursos militares e estratégicos, fica no Rio de Janeiro, poucos deles foram deslocados para outros territórios do Brasil.

Este curso que realizei, chamado carinhosamente pelos professores da EGN de C-EEM, foi quase em sua totalidade feito de forma remota, de maneira síncrona (afinal de contas é um curso sério e não comete os erros de uma formação qualquer que se realiza de forma assíncrona). Em um calendário meticulosamente preparado, existia a previsão de quando as aulas seriam ministradas, o seu tema e duração, disponibilizado desde o início do curso pelo professor e coordenador do curso, Comandante Muniz Aragão (porém irei falar mais sobre isto mais à frente do texto).

As aulas foram religiosamente ministradas nos dias e nos horários marcados, por uma mistura diversa de professores civis e militares da instituição. Os temas, relacionados ao mar e à geopolítica marítima, tinham como objetivo possibilitar aos alunos o entendimento do que o mar significa para o Brasil, seja em um ponto de vista ambiental, econômico, político, soberano e militar. De certa forma, não poderia esperar algo diferente, visto que o ponto de vista militar foi o mais abordado;  este fenômeno acontece pois a Marinha do Brasil sempre se preocupou em não ser vista como uma força passiva ou mesmo uma força de resposta às crises, mas sim como uma força ativa na vanguarda dos temas marítimos, da economia do mar e da defesa da Amazônia azul.

A preocupação dos professores e instrutores era clara: a Marinha não é feita apenas de guerra, mas também atua em tempos de paz na vigilância, patrulha e garantia da soberania em nossas águas, na proteção ambiental e na segurança das fronteiras. Os meios e os equipamentos que buscamos ter para isto devem ser capazes de enfrentar as ameaças, porque do contrário ficaríamos à mercê dos interesses externos. A guerra com atuação da Marinha do Brasil às vezes parece tão distante frente às ameaças modernas, de tal forma que a sua possibilidade deve sempre ser lembrada: ao andar pelos corredores da EGN, a frase mais repetida nas paredes e quadros é “lembrai-vos da guerra”, em referência ao pensamento de Clausewitz, que nos ensinou em 1832 que a guerra não é exceção, mas sim outra forma de fazer política que surge quando a boa vontade e o diálogo político não são mais capazes de mediar as relações humanas.

O Curso do C-EEM, voltado para civis e militares de outras forças, busca neste sentido trazer, para certos grupos sociais, a origem e a modernidade do pensamento estratégico do mar; neste sentido, a turma que tive a oportunidade de integrar era composta pelos mais variados profissionais civis e militares: bombeiros, policiais, engenheiros, empresários, professores, advogados, e os mais variados tipos de funcionários públicos da União, todos buscando formas variadas de aplicar o conhecimento adquirido aos seus grupos de trabalhos, alunos e órgãos de Estado.

Neste sentido, podemos dizer que o curso possibilitou algo que nunca tinha visto em tal nível: uma troca de informações entre os mais variados profissionais dos mais variados escalões. Nunca imaginei que veria uma mesa composta por um coronel do exército, um policial, um advogado, um empresário e um juiz, juntos, discutindo, em mesmo nível, temas relacionados à soberania do mar e à geopolítica marítima. Mais um mérito da direção do curso que, ao contrário do que já vi em outros cursos de outros órgãos, não proporcionou tratamento diferenciado para aqueles que geralmente ocupam o topo do funcionalismo público, permitindo que a troca de experiências e pensamento fosse verdadeira, tanto vertical quanto horizontalmente.

Como um curso de Extensão, ele teve uma longa duração, se iniciando em junho e sendo concluído apenas em dezembro, com apenas duas atividades presenciais obrigatórias (e algumas atividades avaliativas feitas de forma remota). A primeira atividade presencial foi a visita ao complexo naval de Itaguaí no Rio de Janeiro. Ter a oportunidade de observar de perto a construção dos submarinos convencionais brasileiros e conhecer o submarino líder da classe, o Riachuelo, serviu de ferramenta incomparável para derrubar qualquer mito de inatividade e incapacidade da Marinha. Uma visita que demonstra na prática a capacidade tecnológica do Brasil e a capacidade da Marinha de gerir enormes quantidades do dinheiro público para o benefício nacional.

O segundo momento presencial foi a realização, nas dependências da EGN, do “jogo de crise”: uma atividade comum para os oficiais superiores das forças porém não muito comum para o público que forma os alunos do C-EEM. Fomos colocados em grupos, em conjunto com alunos do C-PEM (principal curso da EGN direcionado para os oficiais de carreira de elevada patente). O trabalho em conjunto entre os alunos dos dois cursos possibilitou uma nova troca de conhecimento, experiência e formação, um exemplo da integração do trabalho acadêmico de alto nível entre civis e militares.

Como professor do ensino superior, sou obrigado moralmente a apontar algumas questões que precisam ser observadas, como, por exemplo, a impossibilidade de assistir novamente algumas das aulas ministradas de forma remota síncrona. Aulas sobre a história da Marinha do Brasil e sobre a economia do mar merecem ser vistas mais de uma vez, não apenas por causa de sua excelência, mas também por conter tantas informações interessantes que muitas vezes são percebidas apenas em uma segunda vez assistida (pois apesar de as aulas remotas síncronas possibilitarem a universalização do curso de extensão, elas sempre carecerão de alguns elementos que apenas o ensino presencial permite, por isto o fato de poder assistir novamente a aula surge como ferramenta para mitigar tais carecimentos).

Outro ponto que observo foi a bibliografia complementar, que em alguns casos me pareceu muito ampla e dispersa. Não posso reclamar de falta de material bibliográfico, mas a quantidade e a forma que foi colocado foi um tanto confusa (estou, até o presente momento, ainda lendo o material complementar, e pela sua quantidade, devo continuar a lê-lo ainda pelos próximos meses).

Com relação ao jogo de crise, a linguagem militar e a delimitação do cenário o tornou um tanto quanto de “difícil entendimento” para os civis presentes (como entusiasta militar eu conhecia a maioria das siglas e situações, mas não posso esperar que seja um conhecimento universal para todos os civis ali presentes), também observo que pelo tempo e cenário apresentado, poderia ter existido um terceiro movimento (não espero que a maioria das pessoas entenda esta frase).

Quanto aos servidores da EGN tenho apenas elogios, não importa quem eu encontrasse, seja um almirante, seja um marinheiro, todos sempre foram solícitos e prestativos, algo que vejo como uma característica própria da Marinha. Tudo isto dentro de um ambiente limpo, moderno e organizado, tornando todos os meus dias “embarcado” na EGN extremamente construtivos e prazerosos. Porém, o meu maior destaque vai para o coordenador do curso: Capitão-de-Mar-e-Guerra Ricardo Luiz de Novaes Moniz de Aragão (CMG Moniz de Aragão). Sempre atencioso e meticuloso no planejamento, conseguiu, com sábias decisões, possibilitar um curso de elevado nível e de grande valor agregado na troca de experiências; fico imaginando o trabalho que o CMG teve e não o invejo pelo tamanho do desafio, mas em nenhum momento senti que estava no lugar errado, graças à atuação constante e certeira do coordenador e de sua equipe.

Certamente, o ponto mais acertado foi a realização do jogo de crise com o C-PEM, que selou de forma definitiva a visão e a importância do trabalho em conjunto entre civis e militares. Não resta dúvidas que o C-EEM é um curso de excelência, recomendado para todos os que trabalham com o mar, seja em nível operacional, seja em nível acadêmico e estratégico, que segue sendo oferecido de forma anual pela EGN. Agradeço a todos que fizeram e participaram do curso comigo, pela troca de experiências e pela construção de novas amizades. Agradeço especialmente a Escola de Guerra Naval e a Marinha do Brasil pela oportunidade de participar de um curso sério, acadêmico e voltado para o pensamento geopolítico do Brasil. O primeiro curso que realizei junto da Marinha e certamente não será o último. Para não perder a oportunidade eu também repito a frase cravada nas paredes da EGN: “Lembrai-vos da guerra”.

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Esteves

Lembrai-vos da guerra. Lembrai-vos de perguntar aonde estão os recursos para manter e operar os submarinos Riachuelo considerando a urgência da atualização e da modernização que inclui o emprego de mísseis e armas autônomas. Lembrai-vos da guerra. Lembrai-vos de conhecer como será possível pagar por uma capitalização cambial com recursos orçamentários comprometidos com folha de pagamento considerando que o fee contratado à Emgepron diz respeito somente à captação de recursos do Programa Tamandarés. 1832. Tá. Centro de Gravidade Clausewitz identificou a necessidade de focar em pontos decisivos e vulneráveis do inimigo: forças principais, recursos e liderança. Temos coragem política e… Read more »

Ruas

Nós podemos colocar os inimigos do Brasil em duas esferas: Inimigos Internos e Inimigos Externos: Inimigos Internos: • Crime Organizado (PCC, CV, Milícias, Máfias, criminosos no geral etc.) • Maus políticos e más politicas institucionais • Extrema polarização política • Divisionistas sociais • Disputas tolas entre estados e regiões Inimigos Externos: a princípio, não há nenhum inimigo explícito. O Brasil já teve/tem inimigos contextualmente. • Argentina: Já foi o principal oponente geopolítico regional em décadas passadas. Hoje, é o principal parceiro econômico – eu sei que a China, em valores, é maior, mas com a Argentina há mais trocas culturais,… Read more »

Esteves

Inimigos Internos O crime nasce na corrupção e na destruição dos valores sociais em desobediência à ética e aos costumes morais. O crime organizado é cópia do Estado ou da ausência do Estado que prefere negar suas atribuições como cuidar da sua gente combatendo a pobreza e a péssima distribuição de renda. O crime aproveita a ineficiência do Estado que treina batalhões militares para perseguir e separar desinteligencias. Alguém roubou um ovo…aciona uma central que direciona uma viatura armada com policiais armados para buscar quem comeu, enquanto o galinheiro, na hipótese dessa atividade corresponder a uma ação ilícita, expande em… Read more »

bartolomeu

Tem certeza quanto ao numero de cento “e poucos” trilhões de dólares. Se você tiver a fonte eu agadeceria que a desse. Pergunto porquê sou prfessor universitário e trabalho, tangencialmente, com esse tema

Esteves

Teria que contar os navios afundados e saqueados por Francis Drake, uma frota de 50 navios entre britânicos e outros corsários + a frota da Marinha de Portugal, em torno de 250 navios. Cada navio com capacidade para 200 toneladas…descontando a carga útil (50% da tara) teríamos 30 mil toneladas de ouro…300 navios X 100 toneladas por navio…mais as viagens durante o ciclo do ouro de 1700 a 1780: 2 trilhões de dólares X 100 viagens estimadas em 70 anos ou 200 trilhões de dólares ao câmbio atual. Falta a prata. Isso foi no Brasil. Faltam o ouro e a… Read more »

Esteves

70 m2 (a medida de uma sala Inca) equivalem a 13 tonelagem em barras de 1 cm.

A Espanha saqueou as América por 300 anos. Levaram em torno de 8 a 10 meses para encher uma sala Inca com ouro…13 toneladas por ano em média X 300 anos de…de…somente um reino Inca.

Falta subir a América do Sul e chegar ao México.

Nativo

Se deixarei a política de lado , podem se lembrar do ofício de guerra, para o qual são preparados.

Cosmos

“A suprema arte da guerra consiste em derrotar o inimigo sem lutar”, Sun Tzu.

Interessante relato, obrigado por compartilhar. Esses temas são realmente importantes e devem ser disseminados para ampla discussão nas diversas instâncias do organismo social.

Tutor

Lembrai-vos que vocês estão quase sem navios para guerra.