1968: A detenção do navio soviético ‘Kegostrov’ em águas brasileiras
CONFIDENCIAL
DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS EUA
DIRETORIA DE INTELIGÊNCIA E PESQUISA
RSB-79, 22 de maio de 1968
Para: O Secretário
Por meio de: S/S
De: INR – Thomas L. Hughes
Assunto: O último equívoco marítimo soviético: o SESS Kegostrov no Brasil
Em 3 de maio, um avião do porta-aviões brasileiro Minas Gerais avistou um navio estranho ancorado próximo à ilha de Alcatrazes, cerca de 35 milhas do porto de Santos e 20 milhas do ponto mais próximo do continente brasileiro. Um navio da Marinha brasileira enviado para investigar a embarcação desconhecida descobriu que se tratava de um navio soviético chamado Kegostrov, que estava dentro das águas territoriais brasileiras próximas a Alcatrazes. (O Brasil, assim como a URSS, reivindica um limite territorial de 12 milhas.)
O Kegostrov é um Navio de Apoio a Eventos Espaciais (SESS), um antigo transportador de madeira com mais de 5.000 toneladas equipado com antenas e outros aparelhos usados para rastrear espaçonaves em órbita. O capitão do Kegostrov, Nikolay Tregubenko, relatou problemas com seu suprimento de água doce, mas o navio brasileiro o escoltou até Santos para obter uma explicação mais completa de sua presença não autorizada em águas brasileiras. Até 20 de maio, o navio ainda aguardava liberação. A detenção do Kegostrov é o mais recente de vários incidentes envolvendo embarcações soviéticas nas águas latino-americanas do Atlântico Sul.
Motivo para Suspeita
O Capitão Tregubenko parece ter sido tanto azarado quanto descuidado. Os brasileiros originalmente interceptaram o Kegostrov em 24 de abril, dentro das águas territoriais da Ilha de Trindade, a várias centenas de milhas da costa. Naquela ocasião, o navio também alegou problemas com água doce. Foi permitido que seguisse viagem, mas este incidente aparentemente levou os brasileiros a monitorar suas atividades futuras. (O Minas Gerais, único porta-aviões do Brasil, normalmente opera no Rio de Janeiro, mas pode ter sido movido para o sul para realizar patrulhas aéreas nas proximidades de Santos.)
Os brasileiros ficaram ofendidos e desconfiados quando o Kegostrov foi novamente encontrado em águas brasileiras em 3 de maio, usando a mesma justificativa de problemas de água doce, especialmente porque não havia feito nenhum pedido de autorização via rádio para atracar em um porto brasileiro.
Comportamento Recente dos Soviéticos no Atlântico Sul
Além das movimentações suspeitas do Kegostrov, as autoridades brasileiras estavam provavelmente cientes de queixas recentes sobre o comportamento de embarcações soviéticas nas águas do Atlântico Sul adjacentes à América Latina. Argentina, Uruguai e Brasil relataram problemas com diversos tipos de embarcações soviéticas, incluindo navios científicos, cargueiros e frotas pesqueiras, sendo as últimas as mais problemáticas.
O Caso Michurinsk
Outro incidente relevante foi o caso do navio mercante soviético Michurinsk, que ficou detido em Buenos Aires por quase quatro meses no ano anterior, durante uma disputa entre a Argentina e a URSS sobre a legalidade da detenção. O Michurinsk tentou descarregar 15 pacotes sem inspeção, alegando serem bagagem diplomática, o que foi impedido pelas autoridades argentinas. Antes que a situação fosse resolvida, o navio sofreu danos de incêndio em seu porão.
A Perspectiva Soviética
O capitão Tregubenko inicialmente afirmou que o Kegostrov era um navio oceanográfico. No entanto, a imprensa brasileira o comparou ao caso do navio-espião americano Pueblo, recentemente apreendido pela Coreia do Norte. Apesar disso, os soviéticos evitaram provocações, optando por um esforço discreto para obter a liberação do navio.
FONTE: U.S. Department of State
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