Marinha Soviética enviou dois submarinos nucleares para o Atlântico Sul durante a Guerra das Falklands/Malvinas
Matéria publicada no jornal The New York Times, em 14 de abril de 1982
Dois submarinos soviéticos estão em patrulha no sudoeste do Atlântico como um símbolo do interesse militar de Moscou na confrontação entre a Grã-Bretanha e a Argentina pelas Ilhas Malvinas.
O interesse, segundo analistas militares, tem uma base econômica. A União Soviética está comprando mais de 80% das exportações de grãos da Argentina e assinou um contrato para adquirir 100.000 toneladas de carne bovina anualmente pelos próximos cinco anos. Em troca, Moscou fornece urânio enriquecido para o programa nuclear argentino.
Os laços econômicos entre os dois países provavelmente se expandirão, afirmam autoridades britânicas, especialmente devido à proibição do Mercado Comum Europeu às importações da Argentina. Um alto funcionário do governo britânico disse que não seria surpreendente se o governo soviético favorecesse um regime argentino de direita em sua disputa com a Grã-Bretanha.
“Stalin foi flexível o suficiente para fazer um acordo com Hitler sobre a Polônia,” disse a fonte. “Por que o Politburo adotaria a neutralidade agora, considerando esse histórico? Tenha em mente que a crise deslocou dois terços da Marinha Real, a força naval mais eficiente da OTAN, do Atlântico Leste, alterando temporariamente o equilíbrio do poder naval.”
Autoridades do Ministério da Defesa Britânico se recusaram a comentar sobre a presença naval soviética. Outras fontes da OTAN acreditam que os submarinos são embarcações da classe Echo II, desviadas de suas missões regulares no Oceano Índico e nas águas ao sul do Cabo da Boa Esperança.
Os submarinos da classe Echo II são movidos a energia nuclear, com um deslocamento de 5.800 toneladas e um armamento formidável: 8 mísseis de cruzeiro superfície-superfície SS-N-12 (P-500 Bazalt) e 20 torpedos. Analistas da OTAN presumem que a missão dos submarinos soviéticos seja localizar os quatro ou mais submarinos britânicos movidos a energia nuclear que patrulham a oeste das Ilhas Malvinas e, possivelmente, repassar essa informação aos argentinos.
Autoridades de defesa britânicas também não comentaram um relato circulando na sede da OTAN em Bruxelas, de que a órbita de satélites soviéticos foi alterada para fornecer informações sobre a frota britânica em movimento em direção às Malvinas.
Quando a frota britânica avançou no Atlântico na semana passada, foi seguida pelo navio soviético de coleta de informações Primorye. Fontes navais britânicas relataram que o Primorye é capaz de monitorar, processar e analisar o tráfego de mensagens entre a frota e Londres.
O interesse militar soviético e o que os britânicos veem como um movimento gradual em direção ao apoio à captura das Malvinas pelos argentinos têm outra base, segundo fontes militares. Inicialmente, a União Soviética adotou uma posição neutra na disputa, mas posteriormente declarou que o episódio foi resultado da recusa britânica em aceitar a descolonização.
Um analista afirmou que a União Soviética tem “tanto interesse em monitorar o sucesso ou fracasso da projeção de poder de longo alcance da Grã-Bretanha quanto os americanos, talvez mais, porque nunca o fizeram antes.”