Relatório ao Congresso sobre o Navio de Desembarque Médio da Marinha dos EUA
O Serviço de Pesquisa do Congresso (CRS) divulgou, em 23 de janeiro de 2025, um relatório detalhado sobre o programa de Navio de Desembarque Médio (LSM – Medium Landing Ship) da Marinha dos EUA. Anteriormente chamado de Navio Anfíbio Leve de Guerra (LAW – Light Amphibious Warship), o programa visa a aquisição de 18 a 35 novos navios anfíbios para apoiar o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, especialmente na implementação do novo conceito operacional chamado Expeditionary Advanced Base Operations (EABO). O orçamento proposto para o ano fiscal de 2025 destina US$ 268,1 milhões para a aquisição do primeiro navio do programa.
O conceito EABO foi desenvolvido com foco em possíveis conflitos no Oceano Pacífico Ocidental, especialmente contra a China. Ele prevê que pequenas unidades de Fuzileiros Navais, do tamanho de um pelotão reforçado, manobrem de ilha em ilha para lançar mísseis de cruzeiro antinavio (ASCMs) e realizar outras missões, contribuindo para negar o controle marítimo às forças chinesas. Os LSMs desempenhariam um papel essencial nesse plano, transportando, desembarcando e reembarcando essas unidades rapidamente.
Os LSMs seriam significativamente menores e mais baratos de operar do que os navios anfíbios atualmente em serviço na Marinha dos EUA. O plano orçamentário para a aquisição do LSM prevê o seguinte cronograma:
- 1º LSM em FY2025 – US$ 268,1 milhões
- 2º LSM em FY2026 – US$ 200 milhões
- 3º e 4º LSMs em FY2027 – US$ 349,5 milhões (US$ 174,7 milhões cada)
- 5º e 6º LSMs em FY2028 – US$ 305,1 milhões (US$ 152,5 milhões cada)
- 7º e 8º LSMs em FY2029 – US$ 311,5 milhões (US$ 155,7 milhões cada)
O primeiro navio terá um custo mais elevado devido à inclusão dos custos de engenharia detalhada e desenvolvimento inicial (DD/NRE), um procedimento tradicional do orçamento da Marinha dos EUA para cobrir os custos de concepção da classe no primeiro navio da série.
A construção dos LSMs poderá ser realizada por diversos estaleiros nos Estados Unidos. A preferência da Marinha é atribuir toda a produção a um único estaleiro, mas também há abertura para distribuição entre múltiplos estaleiros, caso isso reduza custos ou acelere o cronograma de produção. O orçamento de FY2025 indica que o contrato para o primeiro LSM será concedido em março de 2025, com a entrega prevista para fevereiro de 2029.
O programa LSM apresenta desafios para o Congresso, incluindo a decisão de aprovar, rejeitar ou modificar os pedidos de financiamento e a estratégia de aquisição da Marinha. Essas decisões podem afetar as capacidades operacionais da Marinha e do Corpo de Fuzileiros Navais, além de impactar diretamente a indústria naval dos EUA. O Congresso avaliará como esse programa se alinha às necessidades estratégicas do país e aos desafios do cenário geopolítico global.
Resumo do Relatório do Programa de Navios de Desembarque Médios (LSM) da Marinha dos EUA
O relatório sobre o programa de Navios de Desembarque Médios (LSM) da Marinha dos EUA tem como foco suas implicações para a Marinha, o Corpo de Fuzileiros Navais e a base industrial de construção naval dos EUA. O programa LSM é um componente chave da estratégia de Operações de Base Avançada Expedicionária (EABO) do Corpo de Fuzileiros Navais, com foco em operações em ambientes litorâneos contestados, particularmente em resposta a possíveis conflitos com a China no Pacífico Ocidental.
Principais Temas e Ideias:
Contexto Estratégico e Operacional:
- O programa LSM está intrinsecamente ligado ao conceito de EABO, onde pequenas unidades de fuzileiros navais se movimentariam entre ilhas para realizar ataques com mísseis antinavio e outras missões.
- Essa estratégia faz parte de um esforço mais amplo para implementar Operações Marítimas Distribuídas (DMO), visando complicar as operações de um adversário através da dispersão das forças navais dos EUA.
- Os LSMs são projetados para serem navios menores, mais baratos e mais fáceis de operar do que os navios anfíbios atuais da Marinha.
Requisitos e Design do LSM:
- O LSM deve ser um navio relativamente simples e de baixo custo, com aproximadamente 200 a 400 pés de comprimento, um calado de 12 pés, uma tripulação de cerca de 70 marinheiros e capacidade para transportar 50 fuzileiros navais e 648 toneladas curtas de equipamentos.
- Devem ter uma velocidade de trânsito de 14 nós e um alcance de 3.500 milhas náuticas, com um tempo de vida útil de 20 anos.
- A embarcação deve ser capaz de operar em águas rasas e fazer desembarque direto na praia.
- Está previsto um armamento defensivo de dois canhões de 30 mm e seis metralhadoras calibre .50.
Programa de Aquisição:
- A Marinha pretende adquirir o primeiro LSM no ano fiscal (AF) 2025, o segundo no AF2026, o terceiro e quarto em 2027, e assim por diante.
- O custo do primeiro navio é estimado em $268,1 milhões, incluindo custos de engenharia não recorrentes (DD/NRE), com custos subsequentes por unidade planejados em cerca de $200 milhões por navio, com aumento para $242 milhões e depois $298 milhões nos lotes seguintes.
- Inicialmente, a Marinha prefere uma única construtora para todos os navios, mas está aberta a várias construtoras caso isso agilize e reduza custos.
- Devido a problemas com custos de projetos previamente propostos, a Marinha está agora buscando um projeto de um navio não-desenvolvido (NDI), ou seja, com um projeto já existente e construído.
Implicações Orçamentárias e Industriais:
- O programa LSM pode afetar os recursos financeiros da Marinha e do Corpo de Fuzileiros Navais, bem como a distribuição do trabalho de construção naval entre os estaleiros americanos.
- Há também o debate sobre se a Marinha deveria adotar embarcações de apoio logístico (LSVs) do Exército já existentes para economizar custos e tempo, uma sugestão que tem o apoio de congressistas, mas que encontra resistência por parte da Marinha e dos fuzileiros.
- O relatório aponta questões sobre o número de empregos criados pelo programa, além do impacto da priorização do financiamento de LSMs no financiamento de outros tipos de navios anfíbios maiores.
Desafios e Questões para o Congresso:
- O relatório destaca a incerteza em relação ao número final de LSMs a serem adquiridos (entre 18 e 35) e à capacidade do programa de cumprir os cronogramas e estimativas de custos.
- Há um debate sobre a eficácia e adequação da estratégia Force Design 2030 do Corpo de Fuzileiros Navais, da qual o LSM é uma parte crucial.
- A precisão das estimativas de custo unitário também é questionada, já que os custos de projetos previamente propostos foram maiores que o esperado.
- A possibilidade de adaptação de embarcações logísticas do Exército (LSV) é uma consideração importante.
Citações Relevantes:
- Sobre o conceito EABO: “Under the concept, the Marine Corps envisions, among other things, having reinforced-platoon-sized Marine Corps units maneuver around the theater, moving from island to island, to fire anti-ship cruise missiles (ASCMs) and perform other missions…”
- Sobre o número de navios: “The [Department of the Navy’s] 2022 Amphibious Force Requirements Study determined an initial capacity goal of 18 LSM[s], with a total requirements [sic] of 35.”
- Sobre o papel do LSM: “The LAW supports the day-to-day maneuver of stand-in forces operating in the LOA [littoral operations area]… Shallow draft and beaching capability are keys to providing the volume and agility to maneuver the required capabilities to key maritime terrain.”
- Sobre o custo do primeiro navio: “Under the Navy’s FY2025 budget submission, the first LSM would be procured in FY2025 at a cost of $268.1 million…”
- Sobre a opção de navios NDI: “As part of this Request for Information (RFI) Naval Sea Systems Command (NAVSEA) is seeking to understand the commercial availability of a NON-DEVELOPMENTAL Landing Ship design and the current capacity of a shipyard in the United States to build one…”
Conclusão:
O programa LSM é uma iniciativa ambiciosa e complexa, com implicações significativas para a capacidade de combate da Marinha e dos fuzileiros navais, bem como para a indústria de construção naval dos EUA. O programa enfrenta desafios relacionados a custos, cronogramas e a aceitação de uma nova arquitetura de força. Congressistas, analistas e membros da defesa questionam a viabilidade e o custo-benefício deste programa, especialmente no contexto das prioridades estratégicas e orçamentárias em evolução. O Congresso desempenhará um papel fundamental na supervisão do programa e na garantia de que ele atenda às necessidades de defesa do país.
Próximos Passos:
- Monitorar o progresso do programa LSM, incluindo os cronogramas, custos e contratos.
- Analisar os resultados dos estudos de design e as propostas das construtoras.
- Debater a eficácia do conceito EABO e sua relevância para a defesa nacional.
- Avaliar a opção de utilizar LSVs do Exército como solução de baixo custo para atender aos requisitos de mobilidade litorânea dos fuzileiros.
- Considerar o impacto do programa no setor industrial da construção naval.
Para acessar o documento em inglês na íntegra, clique aqui.
Prezado Galante, vocẽ teria alguma informação adicional sobre o conceito EABO ? Porque um navio que vai abicar na praia não o fará em ambiente contestado, sem o suporte de outros navios e aeronaves… daí eu gostaria de entender como foi imaginado o emprego desse meio naval… agradeço desde já… cordial abraço.
Caro XO, o EABO prevê o emprego em ambientes contestados 🙂
Os Fuzileiros Navais seriam divididos em pequenas unidades altamente móveis, operando de maneira autônoma e distribuída.
Para que o EABO funcione, ele precisa ser apoiado por tecnologias de comunicação avançada, defesa aérea, guerra cibernética e vigilância por drones. As forças norte-americanas utilizariam sistemas interligados para compartilhar informações em tempo real, garantindo uma consciência situacional superior e operações coordenadas.
Resta saber se na prática vai funcionar mesmo.
Valeu, Galante… mas fico imaginando como será operar de maneira autônoma em um ambiente contestado… cordial abraço.
Pensado para uma eventual guerra com a china nas ilhas da asia-pacifico, ambiente altamente contestado. Quem entra numa guerra dessas sabe que perderá soldados as dezenas de milhares.
Service Life 20 years……vida curta, não??
Lembra os antigos LST Classe Newport.
“O LSM deve ser um navio relativamente simples e de baixo custo,”
Não tão simples, para nós, afinal capacitar para operar de maneira autônoma e distribuída exige capacidade de informações gerências de diversos níveis,
Mas esse conceito vindo de uma Marinha acostumado a grandeza é uma iniciativa, conceito que aqui deveria ser nossa prioridade nos projetos.
Lembra os navios usados por Taiwan.
O projeto é simples, e claro que os Estados Unidos vão querer algo mais tecnológico porque coisa barata não é muito com eles.
Mas como havia falado antes, esse é o tipo de embarcação que a MB poderia adquirir de estaleiros nacionais sem transferência de ToT. Coisa simples, baseado de navios de transportes já em utilização hoje.
Mas o grande problema que vejo para a aquisição de qualquer navio novo para a MB é esse ToT. O almirantado parece que tem sonhos molhados quando escuta falar em transferência de tecnologia.