Cruzador Varyag, classe Slava

Em um movimento que redefine a geopolítica na região do Mar Vermelho, o Sudão e a Rússia firmaram um acordo definitivo para a instalação da primeira base naval russa na África.

Durante uma coletiva de imprensa em Moscou, o ministro das Relações Exteriores do Sudão, Ali Youssef, afirmou que “chegamos a um entendimento completo” com seu homólogo russo, Sergei Lavrov, selando a iniciativa que permitirá a presença de até quatro navios de guerra – inclusive nucleares – e cerca de 300 militares por um período de 25 anos.

A base, que ficará situada na costa do Mar Vermelho, em Port Sudan, é vista como uma peça estratégica importante para Moscou, sobretudo após as incertezas envolvendo sua instalação em Tartus, Síria. Especialistas apontam que a nova instalação não só aliviará a pressão logística sobre as operações russas na África, mas também reforçará a presença do Kremlin em uma das rotas marítimas mais vitais do comércio global, por onde circula aproximadamente 12% do comércio mundial.

O acordo, inicialmente discutido durante o governo de Omar al-Bashir e reavaliado pelas autoridades atuais em meio à instabilidade interna – marcada pelo conflito entre as Forças Armadas e as Forças de Apoio Rápido (RSF) – agora avança para a sua implementação. Segundo declarações de Youssef, a ratificação do tratado representa um reforço à soberania sudanesa, que tem buscado apoio internacional para enfrentar a crise interna, enquanto equilibra interesses econômicos e de segurança.

Para Moscou, o novo acordo representa mais do que a expansão de uma instalação militar: trata-se de um passo estratégico para consolidar sua influência na região, num momento em que potências ocidentais e chinesas também mantêm bases em países vizinhos, como Djibuti. O movimento é interpretado como parte da estratégia do Kremlin de ampliar sua rede de bases militares e reafirmar sua presença em pontos-chave que conectam o Mediterrâneo ao Indo-Pacífico.

Enquanto o cenário político sudanês continua marcado por desafios e disputas internas, a decisão de avançar com o projeto pode ter implicações profundas tanto para a segurança regional quanto para o equilíbrio de poder no continente africano. Analistas já avaliam que a consolidação da base pode desencadear reações do Ocidente, intensificando debates sobre a influência russa e possíveis medidas de contenção econômica e militar.

A implementação do acordo, que agora aguarda os trâmites finais de ratificação, deve ser acompanhada de perto por governos e organizações internacionais, atentos ao desenrolar de um novo capítulo nas relações Rússia–África e às repercussões no já conturbado cenário geopolítico mundial.

Subscribe
Notify of
guest

29 Comentários
oldest
newest most voted
Inline Feedbacks
View all comments
Cristiano ciclope

O Sudão já sabe que terá pressão do ocidente e mesmo assim assinou o acordo, sinal de quê não estão preocupados com isso, pois ou já não dependem de nada do ocidente ou o quê os russos tem a oferecer e superior!
Agora a pergunta, porquê até agora o China não está na África com força, se os Russos conseguem os Chineses mais ainda, será que Pequim não quer?

andre

a china esta na africa mas so com relaçoes economicas e parcerias comerciais .isso mostra para o mundo que eles so querem ”ajudar” os países africanos. Uma bela estrategia

Hcosta

A China já tem uma base em África, também no mar vermelho.

Nas ditaduras os critérios para escolher os aliados não são económicos mas sim quem lhes pode oferecer alguma proteção. E o leque de opções não é muito grande…

Algo que está sempre a acontecer nesta parte do mundo.

Mauro Oliveira

O Sudão está em guerra civil (com os dois pé do ocidente por trás).

Sobre ditaduras, parece para alguns que não preocupada nem um pouco se for aliada dos EUA e países da OTAN.

No One

Os chineses têm uma base gigantesca no Djibouti, já faz quase uma década. Exatamente um dos pontos mais importantes para o comércio global, onde praticamente estão todas as potenciais ocidentais, in primis os EUA . A UNICA potência relevante que não possuía uma base naquela região era justamente a Rússia. Agora com este acordo, depois de ter perdido acesso a Síria , é possível que eles invistam mais recursos para obter algo naquela região. Vale lembrar que o Sudão é um país altamente instável e o risco de perder tudo, em questões anos ou meses , é alto. Um investimento… Read more »

Last edited 3 dias atrás by No One
Kayron

A base no Djibouti só foi aberta por causa do fluxo da navegação comercial marítima sofrendo por causa dos piratas atacando embarcações comerciais. Se não fosse por isso, nem haveria base chinesa na Africa.

Afonso Bebiano

Bom, mas isso é um interesse relevante de potências comerciais exportadoras.

Se um país não tem um comércio internacional expressivo, por vias marítimas, realmente não se preocupará com pirataria.

Kayron

Mas a abertura da base foi condicionado fundamentalmente por causa disso, várias embarcações chinesas tiveram sua captura realizado pelos piratas e o PLAN/PLANMC nada pode fazer, porque não tinham meios de apoio e logística para atuar em Áden. Outros motivos pela abertura da base tiveram importâncias em ordem de grandeza bem inferiores a isso.

Hamom°

A China tem uma base naval que está próxima [+ ou – 660 mn] desta futura base russa, vai ficar fácil fazerem uns exercícios navais conjuntos naquela região…

Danilo José

A china tem base naval em moçambique e esta construindo outra na namibia, no espaço que o brasil deixou vago

No One

Não ainda, talvez em a alguns anos, mas por enquanto os chineses não possuem bases navais nesses países. Existem provavelmente tratativas para alcançar esse objetivo, mas por agora nada.

Franz A. Neeracher

A única base naval da China na África fica no Djibouti.

Hcosta

É para substituir Tartus?

Se for, é uma grande desvantagem para operações no mar Mediterrâneo.
E seria a terceira ou quarta opção.

No One

No mediterraneo a opção mais cotada é Líbia, mas eu outro “país ” ( nem existe mais, são facções que controlam o território) extremamente instável , onde vários países disputam a própria influência, favorecendo a facção mais conivente.

adriano Madureira

Certamente os russos farão a base com o apoio de Khalifa Haftar…

comment image

No One

“Certamente ” é um advérbio que não pode ser utilizado nesse momento. Certamente é um desejo, uma alternativa ( ainda que pouco efetiva e não ideal) para os russos depois do prejuízo na Síria, mas por enquanto não há nada de “certo”.

Mauro Oliveira

Atualmente a prioridade para Rússia é a África.

No One

Atualmente a prioridade para a Rússia é a Ucrânia… Suas fronteiras, próximas ao centro de poder da Rússia.

Observador

Rússia e China já dominam boa parte da África, estão crescendo em influência na América Latina, e se Tio Sam não mudar de postura, vão crescer ainda mais na América.

Mauro Oliveira

E não vai mudar.

A Política de Estado permanente dos EUA para América Latina e África é de subjugação política e econômica.

Iran

Quem tem amplo domínio da África é China e pasme, a Turquia, a Turquia tem mais poder na África que Estados Unidos, França, Itália e Rússia…

Tutor

Vai Moisés, abre o mar vermelho.

Kayron

Tem que achar o cajado primeiro.

adriano Madureira

Como eu disse para outro forista: Perde-se uma base em um país e
abre-se em outro…

Iran

Isso é verdade, o que não falta é país pobre querendo alugar terra pra país estrangeiro criar bases, inclusive parte considerável do PIB do Djibouti vem do dinheiro recebido disso, lá há bases americanas, chinesas, francesas, italianas, japonesas e senão me engano etiópes. O problema é que a posição da Síria era MUITO mais vantajosa pra Rússia.

Salomon

Um grande colega e chefe, que é melhor não nomear, definiu há tempos esse tipo de criação de pontos de pressão e apoio como “acupuntura geopolítica”. Põe uma “agulha” num ponto e sua ação se irradia muito.
Importante, a meu ver, evento por parte da Rússia. Imagino como estão as linhas, normais e outras, mais todos os meios de imagens, na região, que já é quente por natureza.
Quais serão os meios fixos e móveis alocados?
É óbvio que isso cristaliza um apoio a Bashir.

py5257swl

Em relação a opções ainda no Mediterrâneo, um país a considerar seria a Argélia, grande comprador de material bélico russo, opositor declarado de Israel e uma das maiores potências militares da África.

Tiago

Achei que seria na Libia, será que a instabilidade local afastou os russos ou foi a pressão externa contra o governo local da Líbia (se é que sobrou algum governo)?

Last edited 16 horas atrás by Tiago
Iran

Talvez a Turquia não queira a Rússia lá.