Guerra das Malvinas/Falklands – 40 anos: O ataque dos helicópteros Lynx com mísseis Sea Skua ao Aviso ARA ‘Alférez Sobral’

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Helicóptero Lynx armado com mísseis antinavio Sea Skua

Foto de abertura: Helicóptero Lynx armado com mísseis antinavio Sea Skua


O ARA Alférez Sobral (A-9) era um rebocador de 800 toneladas de transporte marítimo em serviço na Armada Argentina desde 1972, onde foi classificado como Aviso. Ele já tinha servido na Marinha dos EUA como rebocador de esquadra USS Salish (ATA-187) desde 1944.

No serviço argentino, o Aviso é um pequeno navio usado para uma série de tarefas auxiliares, incluindo reboque, instalação de boias e reabastecimento de outros navios, faróis e bases navais.

Construído por Levingston Shipbuilding Co., em Orange, Texas, como um rebocador de socorro da classe “Sotoyomo”, ele serviu como USS Salish (ATA-187) de 1944 a 1972.

Na Argentina, o navio foi batizado em homenagem ao explorador antártico Alférez José María Sobral (1880-1961). O rebocador foi recebido em 10 de fevereiro de 1972 juntamente com seu navio irmão ARA Comodoro Somellera. Os navios deixaram a Flórida em 6 de março de 1972 e chegaram a Puerto Belgrano em 18 de abril.

USS Salish (ATA-187)

Em serviço na Guerra das Malvinas/Falklands, 1982

No dia 27 de março de 1982, o Sobral estava atracado na base naval de Puerto Belgrano (BNPB) quando seu comandante, o Capitán de Corbeta Sergio Raul Gómez Roca foi avisado para preparar o navio e partir imediatamente. Em 2 de abril, o dia da recuperação das Ilhas Malvinas pelas forças argentinas, ele estava em Rio Gallegos aguardando mais ordens.

Em 11 de abril, uma ordem chegou para ele se deslocar à Puerto Deseado, a fim de fazer um reabastecimento e prosseguir em nova missão: ocupar posições a oeste das Malvinas/Falklands com o objetivo de realizar busca e salvamento de pilotos abatidos e/ou náufragos, junto com seu irmão gêmeo, aviso ARA “Comodoro Somellera” (A-10). Em 17 de abril chegaram à posição designada.

Ilustração do abate de Canberra argentino por Sea Harrier

Missão de resgate

Em 1 de Maio às 17h30, primeiro dia das hostilidades no território malvinense, um bombardeiro leve B-62 Canberra da Fuerza Aerea Argentina foi abatido a 100 milhas náuticas ao norte das Malvinas. O Canberra (B-110 do Grupo 2 de Bombardeiros) foi atingido por um míssil AIM-9L Sidewinder lançado por um caça Sea Harrier (ZX451 do 801 Squadron) pilotado pelo tenente Alan Curtis. O Camberra era tripulado pelo piloto tenente Eduardo Ibanez e navegador primeiro tenente Mario González.

Uma vez que os tripulantes do outro Canberra relataram ter visto a ejeção de seus companheiros, o ARA Alférez Sobral foi enviado para busca e salvamento. Com mar grosso, quase nenhuma visibilidade e uma falha preocupante no sistema do leme, o aviso navegou toda a noite do dia 1º e no dia 2 de maio chegou ao local onde o avião teria sido abatido.

Na tarde do mesmo dia, foi recebida a notícia terrível e triste do torpedeamento do cruzador ARA “General Belgrano”. Naquela manhã, o ARA “Alférez Sobral” tinha sido avisado sobre a presença de uma Força-Tarefa britânica composta de um porta-aviões e seis a oito navios de guerra que operavam perto da área para a qual ele estava indo. Tudo pressagiava o pior.

ARA Alférez Sobral quando chegou à Argentina, em 1972

Atacado pelos britânicos

Helicóptero Lynx com míssil Sea Skua a bordo do HMS Hermes

Perto das 22h, o Sobral começou a procurar os pilotos ejetados, mas sem resultados. Pouco depois o navio foi sobrevoado por um helicóptero Sea King britânico (ZA129 o 826º Squadron) do porta-aviões HMS Hermes, que tinha detectado um pequeno eco na superfície em seu radar e procedeu à sua identificação com dispositivos de visão noturna. O capitão Gómez Roca ordenou postos de combate e mandou desligar as luzes da embarcação.

Ele também ordenou a inversão de rumo do navio para receber as ondas fortes pela popa, conseguindo estabilizar e facilitar a tarefa dos artilheiros. Após 40 minutos de vigilância, um helicóptero foi detectado e repelido a tiros pelos canhões 40 mm e 20 mm do Sobral.

Minutos mais tarde, os vigias sinalizaram ter visto luzes a boreste, que inicialmente se pensava que eram foguetes luminosos disparados por helicópteros. Na verdade eram mísseis Sea Skua disparados contra o navio.

Dois mísseis Sea Skua foram lançados por um helicóptero “Lynx” (XZ242 de 815º Squadron) embarcado no HMS Coventry, destróier Tipo 42. O primeiro míssil atingiu um barco salva-vidas do Sobral, localizado a boreste, enquanto o segundo passou sobre o navio desaparecendo na escuridão da noite. O resultado do ataque: sistema de comunicações inutilizado, barco salva-vidas destruído, três operadores de canhão de 20 mm de boreste feridos, além do imediato Sergio Bazán com um estilhaço na perna esquerda.

O navio atirou na direção de onde tinham surgido os mísseis, mas foi impossível obter resultados positivos (a visibilidade era zero, os artilheiros tinham apenas os olhos para tentar identificar seus alvos e os britânicos realizaram seus lançamentos a uma distância segura do alvo. Depois de inspecionar os danos, verificou-se que estes não afetaram a segurança e a navegabilidade, embora os danos causados ​​às antenas e equipamentos de comunicação deixaram o navio incomunicável.

O segundo ataque

Prevendo que um segundo ataque era iminente e que não era possível combater eficazmente o inimigo com os meios disponíveis, o capitão Gómez Roca ordenou que todos deixassem os conveses superiores e os setores mais expostos (para proteger a maioria de sua tripulação), deixando somente os indispensáveis para a condução do navio no passadiço.

Vinte minutos depois veio o segundo e mortal ataque. Desta vez, os disparos de Sea Skua foram feitos pelo helicóptero Lynx (XZ247 de 815º Squadron), pertencente ao destróier HMS Glasgow, outro Tipo 42. Um dos mísseis atingiu diretamente o passadiço, destruindo-o completamente e fazendo o mastro cair. O fogo e a fumaça se espalharam pelo setor da proa. O segundo míssil perdeu seu alvo, felizmente para a tripulação do “Sobral”.

O comandante e todos que estavam no passadiço morreram. O imediato assumiu a responsabilidade pela condução do navio. O Sobral perdeu toda sua energia elétrica, rádio, radar e bússola, ficando sem qualquer tipo de auxílio para navegação.

Westland Lynx com mísseis Sea Skua

Para tornar a situação mais dramática, o sistema do leme quebrou e por causa disso não era possível manobrar o navio; ordenou-se parar as máquinas, enquanto lutava-se contra o incêndio a bordo. As balsas de salvamento de auto-enchimento foram inutilizadas por estilhaços das explosões. Cartas e elementos de navegação foram perdidos e não havia sistema de comunicação para pedir ajuda. Oito homens (incluindo o Comandante) morreram e outros oito ficaram feridos.

Os helicópteros britânicos retornaram aos seus navios com a firme convicção de ter afundado dois Avisos argentinos o ARA “Alférez Sobral” e o ARA “Comodoro Somellera”, pois os ataques foram realizadas em diferentes posições.

De volta ao continente

Depois de um tempo, o incêndio foi controlado e o leme reparado. A decisão de retomar a marcha foi tomada, com duas alternativas de destino: Malvinas ou o continente. A primeira opção oferecia uma curta mas perigosa jornada, a segunda levaria muito mais tempo, mas seria menos arriscada (pelo menos em termos de topar com elementos britânicos)

O capitão-tenente Sergio Bazán decidiu empreender a viagem ao continente. Como guia, uma vez que estava sem navegação e cartas náuticas, foi tomada a direção das ondas que vinham do norte. Como outras referências foram usadas bússolas terrestres (em poder da equipe de desembarque) e a “rosa” resgatada da bússola magnética que tinha sido destruída durante o ataque. Não podiam contar com a observação das estrelas e constelações, pois o céu permaneceu completamente coberto.

Um terceiro ataque, esperado pela tripulação, não ocorreu. Todos os tripulantes, exceto os vigias, permaneceram no interior da embarcação. Dentro do navio, a situação não era das melhores: não havia energia e a água para extinguir o fogo deixou tudo molhado, não havia aquecimento nem comida quente. Mais tarde, um sistema responsável por dar as ordens ao timoneiro, localizado no leme de emergência na sala de máquinas, foi improvisado.

O ARA Alférez Sobral na chegada ao continente, com o passadiço destruído e sem o mastro principal

Nesse mesmo dia, em um ato de patriotismo e resiliência em meio às condições mais adversas, o tenente Juan Carlos Casal e três outros tripulantes pediram permissão para tirar a bandeira de guerra do Sobral armazenada no cofre e içá-la no mastro secundário, pois o mastro principal tinha caído.

Em 4 de maio foi sintonizado com um rádio portátil comum uma estação uruguaia, que informava que o aviso ARA Alférez Sobral tinha sido afundado, causando grande angústia na tripulação. Eles também souberam da mesma fonte do resgate dos sobreviventes do cruzador ARA General Belgrano e do afundamento do destróier britânico HMS Sheffield, que foi recebido com algum sabor de vingança.

Durante a noite do mesmo dia, a fiação do sistema de leme causou um incêndio que pôs em perigo todo o navio. O incêndio foi dominado, mas à custa dos últimos extintores e espuma. Decidiu-se, uma vez mais isolar a fiação das máquinas tanto quanto possível, porque não haveria outra chance de lutar contra um novo foco de incêndio a bordo.

Sobral e o helicóptero da FAA

Em 5 de maio pela manhã, eles avistaram o continente, mas sem saber qual era a localização exata. Decidiu-se rumar ao norte. Ao meio-dia, foram avistados flares no céu: era um helicóptero da Força Aérea Argentina (FAA), que se aproximou do navio e resgatou os feridos que estavam em estado mais grave.

Mais tarde, aeronaves da FAA fizeram passagem de baixo nível para guiar o navio ao encontro do navio de desembarque ARA Cabo San Antonio, destróier ARA Comodoro Py e guarda costeira Golfo San Matías da Prefectura Naval. Quando passaram pelos navios, a tripulação formou em posição de honras e em troca recebeu a mesma saudação, em um evento tremendamente emocional. Depois disso, começaram a transferir os feridos e o restante desembarcou na chegada a Puerto Deseado.

Estado da superestrutura do Sobral depois do ataque

O renascimento

O veterano argentino sobreviveu incrivelmente ao ataque de quatro mísseis ar-superfície, dois dos quais tiveram um impacto sobre a sua estrutura. Certamente nos anais da história naval dificilmente há um caso parecido.

Apenas quinze dias depois, em 20 de Maio, realizaram-se os reparos nas partes essenciais que incluíram a remoção do que restou do passadiço e a improvisação de outro. Depois de realizada a despedida dos companheiros mortos em ação, o ARA Alférez Sobral partiu para o Porto Naval Base Belgrano (BNPB), onde chegou no dia 23.

Lá foi submetido aos reparos necessários, a fim de reintegrá-lo à ativa o mais rápido possível. Mas a magnitude dos estragos e reconstrução total de sua superestrutura ficou pronta somente em setembro (pouco mais de dois meses após o fim da guerra). Em outubro, o recém-renovado ARA “Alferez Sobral” estava de volta às operações na zona sul, com os tripulantes sobreviventes dos eventos relacionados, renascendo das cinzas como uma Phoenix.

O ARA “Alferez Sobral” serviu a Armada Argentina até agosto de 2018.

Passadiço original do Alférez Sobral preservado no Museo Naval de la Nación
O aviso ARA Alférez Sobral continua prestando ótimos serviços à Armada Argentina

Militares mortos nos ataques ao ARA Alférez Sobral

  • Capitán de Corbeta Sergio Raúl GÓMEZ ROCA
  • Guardiamarina Claudio OLIVIERI
  • Cabo Principal Mario Orlando ALANCAY
  • Cabo Segundo Sergio Rubén MEDINA
  • Cabo Segundo Elvio Daniel TONINA
  • Cabo Segundo Ernesto Rubén DEL MONTE
  • Marinero 1º Héctor DUFRECHOU
  • Conscripto Roberto D’ERRICO

Homenagem ao capitão de corveta Sergio Gómez Roca (1942 – 1982)

Era o comandante do aviso ARA “Alférez Sobral” (A-9), quando a Guerra das Malvinas começou. Em 2 de maio de 1982, o navio foi enviado para as águas do Atlântico Sul para resgatar pilotos de um Canberra da FAA abatido pelos britânicos. Durante a missão, ele foi atacado com mísseis disparados de helicópteros ingleses, que destruíram grande parte do navio, especialmente a sua superestrutura. O comandante foi morto juntamente com sete outros membros da tripulação. Mais tarde, ele foi homenageado com a condecoração “La Nación Argentina al Muerto en Combate” e promovido “post-mortem” ao posto de capitão de fragata. A última corveta (de uma série de seis) da classe Meko 140 recebida pela Armada Argentina em 17 de maio 2004, foi batizada com seu nome.

Corveta Meko 140 ARA Gómez Roca (46)
O ARA Alférez Sobral nos últimos anos de sua gloriosa carreira

FONTE: taringa.net / www.histarmar.com.ar

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GFC_RJ

O texto é muito bom e a história muito interessante.
Valeu o compartilhamento.

Burgos

Muito parecido com o NSS Gastão Moutinho da MB idos dos anos 80/90 !!!
Deve ser da mesma classe inclusive !!!
👍
O nosso era apelidado de Gastão Monstrinho !!!

Dalton

Na verdade de uma classe precedente de rebocadores, mas enquanto em construção foi
reclassificado como navio de salvamento de submarinos.
.
O então USS Skylark estava apoiando o submarino de triste fama “Tresher” que realizava
testes de mergulho participando também das buscas isso em 1963.

Leonardo M.

Argentina poderia ter usado duas fragatas + cobertas + cruzador Belgrano + Porta aviões em um único ataque e sem dividir as forças contra a frota britânica. Teria sucesso? Não sabemos, mas teriam colocado algumas baixas e a dieta britânica teria que recuar e adiar o desembarque nas ilhas. Outro erro dos argentinos foram não ter feito os ataques dos SE com excocet coordenados com a esquadra Argentina ao mesmo tempo. Uma saturação das defesas inglesas 2 ou 3 mísseis iriam passar infligindo ou até acertando um navio maior como um porta aviões. Mas os argentinos acharam que seria passear… Read more »

J R

com a frota inglesa sendo protegida pelos submarinos nucleares? Seria caça aos patos.

Ricardo Rosa Firmino

As forças armadas Argentinas não estavam afim de atuar muito em conjunto não, tinham rixas entre elas..esse foi o maior erro..

Cristinao GR

Isso ocorreu com os japoneses também na Segunda Guerra.
Por isso é uma obrigação as FAs brasileiras se entrosarem e deixarem de fazer beicinho uma para outra.

Ricardo Rosa Firmino

Perfeito

Cristinao GR

Não penso que a Argentina “tinha tudo para ganhar essa guerra com um bom planejamento”, pois, na minha opinião, por mais que os argentinos conseguissem acabar com toda a força tarefa inglesa e obtivessem êxito total no combate à essa força tarefa e confirmassem o controle das ilhas por um período, isso seria por um período curto, pois acredito que os ingleses enviariam em seguida força total, inclusive cobrando uma participação australiana. Não acredito de forma alguma que os ingleses partiriam para uma apelação nuclear, mas que cercariam a Argentina por água e cortariam o contato entre o continente e… Read more »

Last edited 2 anos atrás by Cristinao GR
Marcelo ARA csmq

A gente ia fazer so que o dia indicado nao teve condiçoes climaticas para largar os aviões com seguramça. Tamben asim q començo a guerra frança deixo de enviar exocet . Nao me lembro con cuantos a gente contaba no momento .aquel dia a gente acordou subio e o capitão nos falou ontem ainda cuando voces dormian nois tabamos decidindo o que fazer . Ia ter aquele ataque

Luiz Trindade

Texto muito interessante e triste ao mesmo tempo por ver militares morrendo numa guerra desigual!

J R

a questão não era ser desigual, a questão foi serem comandados por um ditador alcoólatra e por generais incompetentes, inclusive segundo consta, a FAA nem foi convidada para os preparativos da invasão e por fim, ela que praticamente segurou o rojão dessa aventura toda.

Luiz Trindade

Eu não sabia que que a FAA não tinha sido notificada da invasão. Que doideira desse cara! E Ainda seguraram a onda dele. Os generais deviam ter tirado ele na hora!