Torpedo Tigerfish Mk.24 Mod.2

Por José Luiz Antônio

A arma submarina da Royal Navy, com suas belonaves de propulsão nuclear, foram a escolha inicial da reação britânica após a tomada do arquipélago das Falklands ou Malvinas em 1982, pelos militares argentinos. Os submarinos nucleares britânicos foram os primeiros meios a chegarem no teatro de operações, permitindo a imposição de um bloqueio, denominado como Zona de Exclusão Total em torno do arquipélago em disputa.

Muito se comenta a respeito do impacto que os submarinos nucleares britânicos tiveram no conflito do Atlântico Sul, de como neutralizaram a Armada Argentina, fazendo com que se retirasse do teatro de operações, refugiando os seus navios principais nos portos, limitando-se ao patrulhamento nas águas mais rasas próximas da costa com unidades de menor valor. Porém pouco, se escreve sobre os torpedos britânicos, levados para a guerra.

Como por exemplo, um moderno torpedo de eficiência duvidosa, limitou a arma submarina da Royal Navy. Causando o paradoxo de que modernos submarinos nucleares da Guerra Fria tivessem que confiar o seu poder de fogo em antigos torpedos de corrida reta da Segunda Guerra Mundial, bem como do uso de observação visual por periscópio para o disparo destas armas. Esta desvantagem não era de conhecimento da Armada Argentina, durante o conflito.

Neste artigo abordaremos os torpedos britânicos, notadamente os dois modelos utilizados no conflito, o antigo torpedo de corrida reta (não guiado) Mk.8 e o torpedo filo guiado Mk.24 Tigerfish, que era alardeado como um dos mais modernos do mundo em 1982.

Torpedo Mk.8

O torpedo Mk.8 foi projetado antes da Segunda Guerra Mundial, em 1925, seguindo o diâmetro padrão de 21 polegadas (533 mm), com um comprimento de 6,579 m e pesando 1.566 kg. Sendo um torpedo de corrida reta, ou seja, não guiado, a sua trajetória era mantida por um giroscópio que girando em alta velocidade, possibilitava a manutenção da trajetória reta do torpedo; outros dispositivos mantinham a profundidade constante, bem como o nivelamento do torpedo. Uma vez lançado do tubo, não havia qualquer controle de sua trajetória, seja pelo submarino lançador ou pelo próprio torpedo, pois não dispunha de qualquer tipo de sensor que pudesse rastrear o alvo.

A cabeça de guerra era carregada com 365 kg do explosivo Torpex, um explosivo 50% mais poderoso que TNT, composto por uma mistura de 40.5% RDX, 40.5% TNT, 18% de alumínio em pó e 1% de cera. Sua detonação era assegurada por uma espoleta magnética do tipo CCR (Compensated Coil Rod), tipo bobina com amplificador, que se tornou o padrão desta arma depois de 1945.

Sua propulsão era assegurada por um motor radial de 4 cilindros Brotherhood, do tipo ciclo queimador, que utilizava como combustível querosene e ar pressurizado, proveniente de um tanque de 2500 psi de pressão, que era reduzida na alimentação para 550 psi, bem como era aquecida, formando uma mistura de ar e gás que produzia uma ignição no cilindro, quando do ponto morto superior do pistão. Os gases eram eliminados pelo eixo dos hélices, o motor produzia a incrível potência de 550 hp, propelindo o torpedo a até 45,5 nós de velocidade, com um alcance nesta velocidade de 4.570 metros. Havia a opção de utilizar uma velocidade menor, de 41 nós, fazendo o alcance ser ampliado para 6.400 metros.

O Mk. 8 mod. 4, uma versão aperfeiçoada, era conectada ao submarino por um cabo umbilical, não um cabo de guiagem, pois era um torpedo de corrida. O cabo fornecia ajustes de profundidade antes do lançamento. Foi extremamente utilizado durante a Segunda Guerra Mundial, quando ocorreram aproximadamente 3.730 disparos até setembro de 1944, tendo sido considerado do mesmo nível do alemão G7 ou do Mk.14 norte-americano.

Torpedo Tigerfish Mk. 24

O Tigerfish era um torpedo acústico do tipo guiado por fio, com orientação inicial fornecida por meio de um fino cabo que se desenrolava após o lançamento pelo tubo e o conectava ao submarino.

Através desse controle o torpedo iniciava a sua corrida em uma velocidade mais lenta, diminuindo a distância até o alvo e corrigindo a sua trajetória durante a corrida conforme as transmissões via fio do submarino, que realizava as alterações na corrida do torpedo com base nos dados do alvo obtido pelo seu sonar superior.

O torpedo acelerava na fase final quando utilizava o seu próprio sonar para o ataque ao alvo. No entanto, esta tecnologia ainda não estava amadurecida na década de 70 e o torpedo Tigerfish tinha a tendência de mergulhar e romper o cabo de orientação durante a corrida.

A versão inicial Mod.0 era um torpedo antissubmarino, sua cabeça de busca por limitações na tecnologia, não fora projetada para uso contra alvos de superfície e falhou nos testes de aceitação. Já a versão Mod.1, foi redesenhada visando corrigir algumas das falhas do modelo original.

Tabelas comparativas

Tipo Diametro Comprimento Peso Ogiva
Mk.8 21 pol – 533 mm 6,57 m 1.566 kg 365 kg
Mk.24 21 pol – 533 mm 6,46 m 1.551 kg 340 kg

 

Tipo Velocidade Máxima Alcance
Mk.8 45,5 nós 4.570 m
Mk.24 35 nós 21.000 m

 

Tipo Velocidade Alcance máximo
Mk.8 41 nós 6.400 m
Mk.24 24 nós 27.400 m

 

Nome Propulsão Classe Armas
HMS Spartan Nuclear Swiftsure Torpedos: Mk 8 mod 4 e

Tigerfish mod. 0 *

HMS Splendid Nuclear Swiftsure Torpedos: Mk 8 mod 4 e

Tigerfish mod.0 *

HMS Conqueror Nuclear Churchill Torpedos: Mk 8 mod 4 e

Tigerfish mod.1

HMS Valiant Nuclear Valiant Torpedos: Mk 8 mod 4 e

Tigerfish mod.1

HMS Courageous Nuclear Churchill Torpedos: Mk 8 mod 4 e

Tigerfish mod.1

HMS Onyx Convencional Oberon Torpedos: Mk 8 mod 4 e

Tigerfish mod.1

 

Observações: Notar que devido carregarem apenas a versão inicial mod.0 do Tigerfish, limitada apena ao uso contra alvos submarinos, as unidades HMS Spartan e o HMS Splendid, dependiam exclusivamente do Mk.8 de corrida reta para uso contra navios.

Desta forma os submarinos nucleares britânicos rumaram para o sul com uma mistura de torpedos de corrida reta e filo guiados a bordo. Os dois primeiros submarinos a partirem somente levaram torpedos Tigerfish Mk.24 mod.0 da primeira versão, sem capacidade antinavio, estando totalmente limitados ao uso do Mk.8 para alvos de superfície.

No caso o HMS Spartan, que foi o primeiro a rumar para o Atlântico Sul, com uma carga de quatro torpedos Mk.8 e oito torpedos Tigerfish Mk.24 mod.0. Após atracar na base britânica de Gilbraltar recebeu outros sete torpedos Mk. 8, seguido pelo HMS Splendid que partiu diretamente da sua base na Escócia, levando uma carga de nove torpedos Mk.24 mod.0 e doze torpedos Mk.8. Outras unidades já tinham recebido o Mk.24 mod.1 na sua composição de armas.

Modelo do Tigerfish Mk.24

O afundamento do cruzador ARA General Belgrano

O afundamento do cruzador argentino ARA General Belgrano foi um evento marcante por se tratar do primeiro e até o momento único navio ativo atingido e afundado em operações de guerra por um submarino movido a energia nuclear, bem como o segundo navio de superfície afundado por um submarino depois da Segunda Guerra Mundial. O primeiro foi a fragata indiana INS Khukri, afundada pelo submarino paquistanês PNS Hangor durante a Guerra Indo-Paquistanesa de 1971.

O ARA General Belgrano (C-4) era um cruzador da classe “Brooklyn”, tendo servido na U.S. Navy, como USS Phoenix CL 46, com ativa participação na Segunda Guerra Mundial. Este tipo de cruzador, denominado de leve pelos critérios da II Guerra Mundial da US Navy, tinha um comprimento de 185,4 metros, uma boca de 18,8 metros e um calado de 5,9 metros, com um deslocamento vazio de 9.575 toneladas chegando as 12.242 toneladas quando completamente carregado, o que o alinhava como sendo o maior navio de guerra no conflito com exceção dos navios aeródromos.

Na década de 60, os argentinos realizaram uma ampla modernização dos sistemas de radar do navio, instalando modernos radares, tendo como destaque o holandês LW 01, o qual é característico pela sua enorme antena posiciona no alto do mastro principal, este equipamento deu a capacidade de detectar alvos aéreos em altitudes elevadas de até 30000 m num impressionante raio de 259 km. Além deste equipamento, outros radares foram adicionados de origem norte-americana.

Em 1967 após a adição dos radares, foram instalando dois lançadores quádruplos de mísseis, do tipo Sea Cat, no lugar de dois reparos de Bofors de 40 mm L/60, o Sea Cat um míssil de defesa aérea de ponto britânico bem difundido na época, contava com um bom número de recargas variando de 50 a 70 no paiol. No entanto, o navio apresentava problemas nas suas turbinas, o que o tornava incapaz de realizar velocidades maiores do que 18 nós, muito aquém dos 32 nós do projeto.

Como um cruzador destinado ao combate de superfície contra navios ou defesa aérea, o ARA General Belgrando era desprovido de sonar próprio ou de armas antissubmarino, contando totalmente para a sua defesa da sua escolta, apesar da existência a bordo de um helicóptero Alouette III ele não estava equipado para o transporte de torpedos antissubmarino, bem como não possuía qualquer sensor ou equipamento para este fim, destinado unicamente para tarefas de ligação e reconhecimento visual.

Na operação do dia 02 de maio de 1982, o cruzador argentino fazia parte do GT 79.3, o qual também compreendia dois contratorpedeiros, o ARA Bouchard D 26 e o ARA Piedrabuena D 29, ambos da classe “Allen M. Sumner” assim como o cruzador, também eram oriundos da US. Navy, tratando se de navios com capacidade de guerra antissubmarino, mas também limitada.

Como já muitas vezes divulgado este grupo tarefa 79, fazia parte de uma manobra em pinça da Armada Argentina, contendo outros elementos como o GT 79.4 com três corvetas de classe A 69 e o GT 79.1.2 com o capitânia argentino o navio aeródromo ARA 25 de Mayo com dois destróieres antiaéreos, classe Type 42, o ARA Santíssima Trindade e o ARA Hércules.

Ambas unidades principais eram seguidas por submarinos nucleares britânicos fora da área de exclusão, no caso específico do cruzador argentino, o seu perseguidor era o HMS Conqueror, que adotava uma perseguição do tipo “sprint-and-drift” no qual consistia em navegar em grande profundidade a alta velocidade, um alto desempenho, apenas permitido pela propulsão nuclear, vindo a cota periscópica em velocidade baixa e silenciosa de 5 nós, para atualizar a posição do seu alvo e em seguida novamente mergulhar para as profundidades e realizar a corrida em alta velocidade, o que dificultaria o seu rastreio por parte dos sonares, por causa da distorção na propagação das ondas sonoras causada pelas camadas térmicas. Já a sua presa, o cruzador ARA General Belgrano, navegava lentamente há apenas 13 nós de velocidade em um suave zique-zague, com as suas escoltas ARA Bouchard e o ARA Piedrabuena, navegando há sua frente e como os sonares desligados.

Havia o temor do alto comando britânico que o cruzador e suas escoltas adentrassem na região onde se localiza o Banco “Burdwood”, uma elevação submarina que reduz a profundidade, desta forma, toda a vantagem da velocidade e manobras em profundidade do HMS Conqueror seria debilitada, assim havia a urgência de que o submarino tomasse a iniciativa.

HMS Conqueror

Os seis tubos do HMS Conqueror foram carregados com 03 torpedos Mk. 8 e com 03 torpedos filo guiados Mk.24 Tigerfish mod.1 que também possuíam capacidade anti navio. Mas o seu comandante decidiu realizar o ataque com os torpedos de corrida reta, para tanto o HMS Conqueror necessitou realizar uma manobra de aproximação e posicionamento para disparar os três torpedos em uma salva em leque para que pudesse atingir o cruzador. Caso a opção fosse pelos torpedos filoguiados, em tese, o ataque ocorreria em uma maior distância, não havendo necessidade da aproximação e exposição do HMS Conqueror ao alcance dos torpedos antissubmarino Mk.44 carregados pelas escoltas.

Por fim o HMS Conqueror se aproximou em alta velocidade do cruzador, o ultrapassando por baixo em profundidade de modo a se posicionar no outro lado em profundidade de periscópio onde iniciou a solução de tiro, que permitiu o disparo dos três torpedos a uma distância curtíssima de aproximadamente apenas 1.200 metros. Dois torpedos lograram impactar o cruzador, um deles atingiu a proa causando uma violenta explosão arrancando-a, deixando o navio completamente aleijado. Porém, a construção robusta permitiu que as anteparas blindadas de proa, contivessem a força da explosão preservando os paióis de munição dos canhões, evitando assim uma detonação catastrófica.

Osubmarino britânico HMS Conqueror disparou o primeiro dos torpedos Mk.8 que acertaram a proa e popa do cruzador. A imagem foi tomada pelo tenente Martín Sgut de uma das balsas

O torpedo fatídico atingiu, a praça de máquinas de ré, tendo a força da detonação também atingido o refeitório onde parte da tripulação se servia. Esta detonação causou a baixa de duas centenas de marinheiros. A explosão também danificou o sistema de energia elétrica do General Belgrano, impedindo-o de emitir um pedido de socorro por rádio.

A água que adentrava pelo enorme rombo causado pela detonação da cabeça de guerra do Mk.8 não podia ser bombeada para fora devido à falha de energia elétrica. Além disso, embora o navio estivesse em condição de “postos de combate”, navegava com as escotilhas estanques abertas. Desta forma, logo começou a inclinar para bombordo e a afundar em direção à proa. Vinte minutos após o ataque, o capitão do cruzador, ordenou que a tripulação abandonasse o navio. Os botes salva-vidas infláveis ​​foram lançados e a evacuação começou sem pânico, 770 tripulantes se salvaram do naufrágio em águas geladas, com temperatura ambiente de dez graus negativos, ventos de mais de cem quilômetros por hora e ondas altas.

O terceiro torpedo, programado no lançamento para seguir dois graus para a esquerda, errou o alvo, passando em frente a proa do cruzador e detonando posteriormente causando pequenos danos na popa do contratorpedeiro argentino ARA Bouchard, devido ao choque da explosão nas proximidades, provavelmente por causa da espoleta magnética.

Após o término do conflito, o único submarino convencional britânico no teatro de operações do Atlântico Sul, o HMS Onyx foi incumbido de afundar o casco do RFA Sir Galahad, extremamente danificado por um ataque da Força Aérea Argentina Argentina. As condições para o disparo dos torpedos eram ideais, o Sir Galahad estava imóvel, no entanto, nenhum dos dois torpedos Tigerfish Mk. 24 mod.1 atingiu o alvo, tendo sido divulgado que a falha foi devida a problemas nas baterias. Por fim, o Sir Galahad, foi ao fundo com um certeiro torpedo Mk.8.

O torpedo Tigerfish no Brasil

O torpedo Mk.24 Tigerfish recebia ampla publicidade como uma arma moderna de alta tecnologia. Inicialmente não havia muito conhecimento sobre os seus problemas, desta forma logo conseguiu ser exportado para o Brasil e para o Chile, ambos operadores de submarinos da classe Oberon de projeto e construção britânicas, na Marinha Brasileira, inclusive os torpedos Tigerfish foram integrados aos submarinos da classe Tupi, que substituiu os da classe Oberon.

No Brasil, o torpedo Tigerfish também aprontou, conforme entrevista com comandante de submarinos brasileiros, publicado no site Poder Naval em 23/11/2023, em um exercício de lançamento um torpedo lançado pelo submarino Humaitá: “adquiriu a superfície e o comandante do submarino continuou navegando em direção a ele. Como estava na cota periscópica acabou sendo atingido na vela, mas não houve explosão pois o torpedo não estava carregado com explosivos.” Não existem mais informações sobre o fato, mas em uma situação de emprego real, a arma poderia ter destruído o próprio submarino lançador.

Posteriormente a Marinha do Brasil, retirou o polêmico Tigerfish, o substituindo pelo norte-americando Mk. 48 considerado um dos torpedos mais confiáveis da história da guerra submarina.

O submarino ARA San Luis e os torpedos alemães SST-4 defeituosos

ARA San Luis

Durante a Guerra das Falklands/Malvinas, em 1982, o submarino argentino ARA San Luis desempenhou um papel significativo como uma das principais ameaças navais da Argentina contra a frota britânica. No entanto, sua eficácia foi gravemente limitada por problemas técnicos nos torpedos SST-4, que comprometeram sua capacidade de causar impacto no conflito.

O ARA San Luis, um submarino da classe Type 209, fabricado na Alemanha, era uma embarcação moderna e uma das poucas plataformas navais de ataque da Argentina capazes de operar furtivamente contra as forças britânicas. Sua principal missão era realizar ataques submarinos contra navios britânicos que transportavam tropas e suprimentos para as ilhas Falklands/Malvinas, além de desestabilizar as operações da força-tarefa naval do Reino Unido.

Após o início das hostilidades, o San Luis operou na zona de exclusão marítima estabelecida pelos britânicos, buscando alvos de alto valor, como destróieres, fragatas e porta-aviões. Graças à sua capacidade de permanecer submerso por longos períodos e seu pequeno perfil acústico, o submarino conseguiu evitar ser detectado por aeronaves de patrulha e pelos modernos sistemas antissubmarino da frota britânica.

SST-4
Esquema dos ataques do ARA San Luis aos navios britânicos

O armamento principal do ARA San Luis era o torpedo elétrico SST-4, projetado para ser silencioso e altamente eficaz em ataques submarinos. No entanto, durante a campanha, o submarino enfrentou falhas crônicas nesse sistema de armamento. Os torpedos SST-4 não funcionaram conforme o esperado devido a problemas técnicos relacionados à manutenção inadequada, calibração defeituosa e falhas no sistema de guiamento.

Em várias ocasiões, o San Luis disparou torpedos contra navios britânicos, mas nenhum deles conseguiu atingir os alvos. Relatos indicam que os torpedos apresentaram desvios inesperados de trajetória ou falharam completamente em ativar seus sistemas de detonação. Essas falhas resultaram na perda de oportunidades cruciais para atacar a frota britânica e causar danos significativos.

Apesar de sua furtividade e habilidade em evitar a detecção, a ineficácia dos torpedos SST-4 limitou severamente a capacidade do ARA San Luis de influenciar o curso da guerra. O submarino permaneceu uma ameaça psicológica para os britânicos, forçando a frota a desviar recursos significativos para operações de guerra antissubmarino. No entanto, sem torpedos funcionais, a ameaça não se traduziu em impacto direto.

Arte em 3D: ARA San Luis lançando torpedo

Por outro lado, os britânicos investiram intensamente em operações para localizar e neutralizar o San Luis, empregando fragatas, helicópteros Sea King equipados com sonares e aeronaves de patrulha marítima. Apesar dessas tentativas, o San Luis conseguiu operar sem ser destruído, retornando ao porto ao final do conflito.

O desempenho do ARA San Luis na Guerra das Falklands/Malvinas é um exemplo de como a tecnologia e a manutenção podem influenciar diretamente o sucesso de operações militares. Embora tenha demonstrado a eficácia de sua tripulação e do próprio submarino em evitar a detecção, as falhas dos torpedos SST-4 impediram o submarino de realizar ataques bem-sucedidos contra a frota britânica. Essa experiência destacou a importância de sistemas de armamento confiáveis e da logística de manutenção em cenários de guerra moderna.

Evolução dos torpedos SUT

Fontes consultadas

Sites

 

A operação dos submarinos nucleares britânicos na Guerra das Malvinas/Falklands, em 1982

Livro

  • A guerra (que foi possível) pelas Falklands/Malvinas – César Augusto Nicodemus de Souza – Biblioteca do Exército, 2013. ISBN 978-85-7011-542-3
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Diego Tarses Cardoso

Extremamente relevante como o submarino pode lutar e sobreviver em uma guerra naval moderna, mesmo quando os meios contra ele são substanciais.

Mcruel

Outro dia o canal Surf TV no YT transmitiu uma corrida entre submarinos…

Antonio Palhares

Uma excelente matéria. Que deixa uma tristeza enorme em constatar a forma leviana como esta guerra foi iniciada. O Ara São Luiz fez um bom trabalho. Poderiam ter trabalhado mais os torpedos para que não falhassem. Ai sim o estrago seria grande e moralmente deprimente na esquadra Britânica . Guerra é coisa muito séria

Fawcett

A principal lição que pode ser tirada desta guerra é um velho ditado latino. “si vis pacem, para bellum”, se quer paz, prepare-se para a guerra. A Argentina foi para a guerra sem estar preparada, nem material nem moralmente. O Belgrando foi afundado porque os argentinos não esperavam uma reação contundente dos britânicos, erro amador típico de ditaduras desesperadas e militares de alta patentes despreparados. E o San Luis também falhou em seu dever devido a erros logísticos inaceitáveis até em situação de paz. Todos os submarinos argentinos estavam em má situação e o San Luis, mesmo sendo o mais… Read more »

Willber Rodrigues

Quem leu “O Código das Profundezas – Roberto Lopes”, tem noção do quanto a Argentina e sua junta militar causaram essa guerra sem estar minimamente preparada pra tal. Foi um negócio tão amador e “feito nas coxas”, que é espantoso.

Sobre a Guerra da Lagosta: o Brasil SEMPRE foi pego de calças na mão em qualquer conflito ( Paraguai, Primeira e Segunda Guerra, etc ), nossa imensa sorte é que “jogamos truco”, blefamos, e os franceses não quiseram pagar pra ver.

Mas a MB não aprendeu nada com isso…

Last edited 1 dia atrás by Willber Rodrigues
Fawcett

Só uma correção: quando eu me referi à tripulação do San Luis queria ser mais específico aos técnicos que prepararam os torpedos para o conflito. A tripulação, como um todo, demonstrou bravura e preparo para operar em uma situação tão adversa, tanto é que foram caçados por quase toda a frota britânica e mesmo assim não foram encontrados.

Augusto José de Souza

O maior exemplo de como ficar dependendo de outros países para mísseis e tecnologias militares acaba mau são os Exocet da Argentina que foram paralisados pela França assim que o Reino Unido os pressionou depois do prejuízo que tomaram do míssil,isso foi decisivo para o desfecho da guerra e só mostra o quanto é importante avançar com o Mansup.

Esteves

Exocet paralisado pela França. Isso não existiu. Foi desmentido dezenas de vezes.

Rinaldo Nery

Você quer dizer “paralisados pelo embargo no envio de novos mísseis”. Tecnicamente, a França não fez absolutamente nada com os mísseis.

Sirantonio

Excelente análise, muito bem descrita e estruturada. Podemos ainda aprender muito desse conflito.

Clodorencio Pilotto

Sempre tive dúvidas a respeito do funcionamento de torpedos filoguiados.
Algum de vocês poderia explicar sobre este funcionamento?
Os fios que saem do torpedo, por exemplo, ficam conectados ao submarino de que forma? A direção do torpedo é feita por quem? Quando é lançado, para permitir essa guiagem, os tubos precisam ficar abertos?
Essas são algumas dúvidas que tenho.

Esteves

Se…deixarem os tubos fechados, acredito que os torpedos possam explodir antes do lançamento.

Acredito.

Alexandre

O fio fica fisicamente conectado ao submarino.

Utilizando o fio, o submarino tem a capacidade de enviar comandos ao torpedo e receber informações dele em tempo real.

Entretanto, se o fio partir, o torpedo é inteligente o suficiente para continuar a corrida, só que o submarino não vai ter como alterar nenhum comando nem receber dados do torpedo.

O tubo fica aberto para permitir a guiagem. Se o submarino decidir fechar o tubo, vai ter que cortar o fio antes, e o torpedo vai navegar por conta própria

Esteves

Parabéns ao José Luiz. Ótima matéria.

Bruno Vinícius

O Belgrano facilitou a vida do Conqueror também. Tivesse o navio com todo o maquinário funcionando (de maneira que pudesse navegar em velocidade maior) e fazendo um zigue-zague mais agressivo, a chance do torpedo de corrida reta acertá-lo seria bem reduzida.

Cosmos

Está aí onde a MB deveria concentrar a sua principal estratégia: submarinos – conjutamente com navios-patrulha oceânico.

Carvalho2008

Podem colocar também os torpedos anti submarinos que os ingleses usaram…..gastaram todos…dispararam todos e não acertaram nenhum contra o San Luiz…tiverem inclusive de emprestar mais estoques dos americanos….foi outro fracasso enorme….

Uma guerra de mentira de manuais de fabricantes…

Dalton

O livro “O código das profundezas” de Roberto Lopez explica que a frota britânica havia treinado para a detecção de submarinos nucleares em águas profundas por meio de sonar passivo que viu-se obrigada a caçar submarinos convencionais pequenos e silenciosos em leito escarpado e pouco profundo onde os sonares não mostraram-se muito confiáveis. . De fato a maior parte do armamento gasto, torpedos, cargas de profundidade e morteiros anti submarinos foi direcionado contra o que parecia ser um submarino mas não era, então não foi uma falha do armamento e sim da dificuldade de encontrar o alvo . . Lembro… Read more »

carvalho2008

Mestre Dalton…não muda nada…os torpedos e varios disparados acertadamente contra o san luis…nenhum acertou o alvo….

Dalton

Há muitos exemplos de submarinos que escaparam de coisa bem pior durante a II Guerra o que comprova como pode ser difícil destruí-los, mas de qualquer forma mesmo que o ataque falhe o submarino é obrigado a evadir-se prejudicando sua missão.
.
O “San Luis” permaneceu em combate por apenas 10 adias, a maioria dos quais
foi sem nenhum incidente, antes de receber ordens de retornar e dos muitos torpedos lançados a maioria foi lançado às cegas contra alvos que pareciam ser submarinos não contra o “San Luis”.

Dalton

Como curiosidade outro cruzador dessa mesma classe Brooklin ou subclasse Saint Louis por conta de algumas diferenças, o próprio USS Saint Louis – que viria a ser adquirido pelo Brasil e receberia o nome Tamandaré – também teve a proa destroçada por um torpedo lançado por “destroyer” japonês.

Zé Rato

Esse problema com torpedos defeituosos também prejudicou bastante os submarinos americanos na Segunda Guerra Mundial, em 1942-1943. As espoletas de percussão dos torpedos só detonavam se atingissem o casco de um navio em determinados ângulos, ou até não detonavam de todo. Supostamente foi material desenvolvido durante a Grande Depressão, sob grandes cortes de orçamento e que nem sequer teria sido testado em condições reais. Dezenas de navios japoneses foram atingidos com torpedos que não explodiram. Depois, de meados de 1943 até ao fim da guerra, resolvidos os problemas, os submarinos das classes Gato e Balao semearam a destruição entre os… Read more »

Dalton

Os alemães também tiveram problemas com seus torpedos no início do conflito, um caso
em particular foi o do U-56 que torpedeou o grande encouraçado “Nelson”, mas os torpedos não detonaram causando uma forte depressão no comandante que foi afastado temporariamente de suas funções.

Dr. Mundico

Lamentável ( o termo correto seria patético) o estado funcional dos armamentos da esquadra argentina. Falhas recorrentes, sistemas desatualizados, manutenção inexistente, despreparo humano, materiais obsoletos, houve até caso de “fio-trocado” no lançamento de um torpedo, enfim…uma sequência de erros que só poderia terminar do jeito que terminou….
E fica a lição de que apenas “bravura” de amadores não ganha batalha nem guerra.
E que dirigentes ufanistas e inconsequentes nunca vacilarão em jogar seus países em aventuras e tragédias.

Aéreo

Para mim as lições são as seguintes Torpedos são sensíveis a erros de projetos, operação e manutenção. E a melhor barreira de proteção é a qualidade do material humano por detrás do sistema. Assim, realizar processos rígidos de treinamento e avaliação operacional é a única maneira de lidar com o problema. Treinar, treinar, treinar. Tanto os britânicos quanto os argentinos transportavam torpedos problemáticos, qual a diferença em ambos os casos? Os comandantes britânicos sabiam e tinham um plano B para lidar com os problemas. Os argentinos não tinham conhecimento dos problemas. O vendedor sempre exagera nas capacidades. Não me lembro… Read more »