Sérgio Vieira Reale
Capitão-de-Fragata (RM1)

O mar sempre foi um cenário inspirador!

Este artigo trata da História Naval, mais especificamente, da sua relação com o cinema.  Nele serão abordados fatos marcantes em diferentes períodos e, em especial, conflitos armados que retratam a guerra no mar.

Para tal, foram selecionados 5 filmes sobre histórias reais ou fictícias: O Barco – inferno no mar; Mestre dos Mares; Tora! Tora! Tora!; Homens de Coragem e Homens de Honra. O filme histórico é a narrativa de um fato passado, que pode ser considerado um documento histórico, e nesse sentido, pode ser um valioso recurso didático para o meio acadêmico.

Porém, é importante ressaltar que, o cinema possui liberdade artística para narrar um fato histórico, mas que nem sempre estará completamente de acordo com o que aconteceu na realidade. Os filmes podem se afastar, em menor ou maior grau, da verdade documental.

Das Boot

O BARCO – INFERNO NO MAR (1981)

  • Diretor: Wolfgang Petersen
  • Ator Principal: Jürgen Prochnow

 “O valor prático da história consiste em passar o filme do passado por meio do projetor do presente sobre a tela do futuro”. LIDDELL HART[1]

Considerado um dos mais eletrizantes filmes de guerra no mar, diz respeito a vida a bordo de um submarino alemão (U-96), em patrulha, durante a Batalha do Atlântico na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A história se passa em 1941, quando os navios mercantes ingleses navegavam em comboios protegidos por navios escoltas. A Guerra Submarina era intensa para impedir a chegada de suprimentos ao Reino Unido. O filme é tenso e o realismo nas ações é percebido pela excelente atuação dos atores no que se refere aos aspectos psicológicos dos marinheiros a bordo do submarino. O Comandante do submarino é o principal personagem. Ele foi inspirado no Capitão-de-Fragata Heinrich Lehmann-Willenbrock, que foi comandante de submarinos, e atuou como consultor do filme.

MESTRE DOS MARES – O LADO MAIS DISTANTE DO MUNDO (2003)

  • Diretor: Peter Weir
  • Atores Principais: Russell Crowe e Paul Bettany

 “Aquele que comanda o mar, comanda o comércio; aquele que comanda o comércio, comanda as riquezas do mundo”. Sir Walter Ralegh[2]

 Mestre dos Mares foi ambientado durante as guerras napoleônicas, que foram travadas entre a França e outros Estados ou coalizões no início do século XIX.

O filme foi indicado a 10 Oscars e venceu nas categorias de edição de som e fotografia. A superprodução retrata o combate naval entre um navio inglês (HMS[3] Surprise) e um navio francês (Acheron), ambos com propulsão à vela e casco de madeira. Jack Aubrey (Russel Crowe) é o Comandante do HMS Surprise e sua liderança é marcante. As principais ações navais observadas no filme foram: manobras de aproximação entre os navios aproveitando as melhores condições do vento, o emprego de canhões, abordagem e luta corpo a corpo nos conveses. o canhão, devido ao seu poder de destruição, produziu significativas alterações na guerra naval. Nos navios, para sua instalação em maior número, forçou lentamente o abandono da propulsão a remos. Na tática, Provocou a decadência da abordagem e do abalroamento. O navio adversário passaria a ser o novo objetivo da guerra naval e não mais o combatente, conseqüência do aumento nos danos estruturais causados com seu emprego.

TORA! TORA! TORA! (1970)

  • Diretores: Richard Fleischer, Kinji Fukasaku e Toshio Masuda
  • Atores Principais: Sô Yamamura,  Martin Balsam, E.G. Marshall, James Whitmore

 “A arte da guerra nos ensina a não confiar na probabilidade do inimigo não vir, mas sim na capacidade de prontidão em recebê-lo”. SUN TZU[4]

“Tora! Tora! Tora!” é um filme, que oferece uma visão cinematográfica documental sobre a preparação e o ataque japonês à base naval de “Pearl Harbor”, na ilha de Oahu (Hawai), na manhã de domingo, de sete de dezembro de 1941.

A principal consequencia daquele ataque foi a entrada dos Estados Unidos da América na Segunda Guerra Mundial. O filme foi uma coprodução, cuja direção foi dividida entre um cineasta norte-americano e dois japoneses (Richard Fleischer, Kinji Fukasaku e Toshio Masuda).

O Almirante Isoruku Yamamoto planejou um ataque surpresa para neutralizar a esquadra norte-americana no Pacífico. A única ameaça real que poderia interferir na ofensiva do Japão no Oceano Pacífico.

HOMENS DE CORAGEM ( 2016)  

USS INDIANAPOLIS

  • Diretor: : Mario Van Peebles
  • Atores Principais:  Nicolas Cage, Cody Walker, Tom Sizemore

 Épico, heróico e emocionante, baseado em fatos reais, o Cruzador norte-americano  USS Indianapolis (CA 35) entrou para a História Naval. Durante a Segunda Guerra Mundial, o navio foi designado para transportar uma misteriosa carga com a maior velocidade possível do porto de São Francisco, nos Estados Unidos da América, até uma ilha do Pacífico.

Naquele momento, os EUA queriam agilizar o final da guerra com o emprego da bomba atômica. O comandante do navio é Charles McVay, que foi interpretado pelo ator Nicolas Cage. O filme aborda uma histórica dramática que seria vivida pelo comandante e sua tripulação no cumprimento daquela missão.

 Homens de Honra (2000)

  • Diretor: George Tiilman Jr
  • Atores Principais: Cuba Gooding Jr., Robert de Niro e Charlize Theron

 “Eu não vou deixar ninguém roubar meus sonhos”. Carl Brashear

Homens de honra é uma emocionante história, baseada em fatos reais, que retrata a difícil e brilhante trajetória de superação de um jovem de origem humilde, Carl Maxie Brashear. Ele é filho de um agricultor e deixa a casa dos pais, no Estado de Kentucky, para se alistar na Marinha dos EUA, aos dezessete anos, em 1948.

Na sua despedida de casa, o pai diz a ele: “Nunca desista e não volte mais para cá”. “Entre na Marinha e lute”. “Não aceite promessas”. “Quebre velhas regras se for preciso”. Este é um filme inspirador que foi dirigido por George Tiilman Jr, cujo elenco foi estrelado por Cuba Gooding Jr. (Carl Brashear), Robert De Niro (Leslie Sunday) e Charlize Theron (Gwen Sunday).

A força de vontade, a coragem e a determinação de um único homem podem inspirar a vida de muitas pessoas na busca pelos seus ideais. Carl Brashear faleceu em 2006. Em 2008, ele foi homenageado com o seu nome na popa do navio de carga USNS Carl Brashear T-AKE 7.


[1]  Historiador e militar britânico (1895-1970)

[2]  Explorador e escritor britânico (1552-1618)

[3] Her Majesty’s Ship, Navio de Sua Majestade

[4]   Filósofo e pensador militar chinês.


Divulgar a história naval, por meio de filmes e séries de televisão, tornou-se a missão do Capitão de Fragata Sérgio Vieira Reale, que desde 2023 escreve, principalmente, sobre a guerra naval para diferentes periódicos eletrônicos. Reale analisa cada filme com o conhecimento de quem comandou dois navios na MB ‒ o Navio Balizador “Mestre João dos Santos”, entre 2000 e 2001, e a Fragata “Independência”, entre 2011 e 2012. Ele também foi instrutor da Escola de Guerra Naval por três anos. 

O Capitão de Fragata Reale, então Comandante da Fragata “Independência”, a bordo do porta-aviões norte-americano USS “Dwight D. Eisenhower”, em 2012
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Carlos Campos

Assim que possível assistirei eles

LucianoSR71

Das Boot (1981), O Barco, é meu preferido, tenho o DVD duplo versão do diretor c/ os extras – documentário e vídeos c/ making of e entrevistas. Não só o filme é incrivelmente bem feito, como toda a história por trás de sua filmagem, desde Hollywood ter comprado os direitos, mas acabar (felizmente) não fazendo, até a escolha do elenco e todos os recursos empregado p/ dar aquele ar de realismo até mesmo nos sons.

Leandro Costa

Caro Luciano, uma pena o novo seriado ‘Das Boot’ não ter seguido na mesma pegada.

LucianoSR71

Amigo Leandro, todos os fatos e pessoas que se envolveram na realização desse filme foram ingredientes p/ esse fantástico resultado, único, indo muito além de um belo roteiro, não há como chegar nem perto dessa maravilhosa obra. Abraço.

Gilberto

Grande lista. O filme Das Boot (O barco) é incrivelmente fiel ao livro. Isso não acontece com frequência. Vide In Westen nichts Neus (Nada de novo no front), que a maior parte do filme não acompanha o livro. Inclusive a morte do protagonista. Que é, inclusive, o que dá título ao livro/filme. Último parágrafo do livro: (Contém Spoilers) . . . . . . . . . . ‘Tombou morto em outubro de 1918, num dia tão tranqüilo em toda a linha de frente, que o comunicado limitou-se a uma frase: “Nada de novo no front”. Caiu de bruços e… Read more »

Leandro Costa

Eu concordo com suas conclusões sobre o ‘nada de novo no front.’ Definitivamente a versão de 1930, e até a versão de 1976 são melhores. Uma das partes mais importantes, na minha opinião, da licensa de Paul em que ele volta para casa com todos os seus contrastes em casa, com o encontro com seu professor, terem sido suprimidas para mostrar as negociações sobre o fim da guerra, algo que merecia seu próprio filme, não caiu bem. Vai de encontro ao propósito do filme. Infelizmente não li o Das Boot, porque meu exemplar está em Alemão und meine Deutsch ist… Read more »

Burgos

Olha !!!👀
Assisti a todos e todos são muito bons, agora não sei qual foi o critério de seleção adotado (ficção ou não ficção).
Só acho que faltou um (Caçada ao Outubro Vermelho).
Mas todos sem excessão são bem feitos Parabéns aos escolhidos 👍

Leandro Costa

O que eu achei que ficou faltando foi o ‘The Cruel Sea’ mas a lista é dele, né? Heheheheh

Também gosto muito do ‘Caçada’ 😛

Cabral

Concordo pelo critério escolhido, guerra no mar.