Canhão naval OTO Melara de 76 mm: desenvolvimento, aspectos técnicos e emprego operacional

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Introdução: Os canhões navais de 76 mm/62 calibres da OTO Melara (Itália) estão entre os sistemas de artilharia naval de médio calibre mais difundidos no mundo. Destacam-se pela alta cadência de tiro, versatilidade e design compacto – podendo equipar desde navios-patrulha e corvetas até fragatas e destróieres. Este relatório técnico foca nos modelos OTO Melara 76/62 Compact (lançado nos anos 1960) e 76/62 Super Rapid (introduzido em 1988), detalhando suas especificações, evolução histórica e emprego operacional, incluindo comparações das melhorias entre eles.

1. Histórico e Desenvolvimento

Origem do 76/62 Compact: A OTO Melara (estaleiro e fabricante de armamentos italiano, La Spezia) desenvolveu o canhão de 76 mm nos anos 1960, visando equipar embarcações leves com um armamento dual (antinavio e antiaéreo) de alta cadência.

Na década anterior, a Marinha Italiana avaliara que os calibres disponíveis eram insuficientes – o canhão de 127 mm norte-americano era muito pesado para navios menores, enquanto os canhões automáticos de 40 mm eram leves demais para engajamento além do curto alcance. Assim, contratou-se a OTO para criar um sistema de médio calibre que servisse como armamento principal em corvetas e secundário em contratorpedeiros e fragatas.

A OTO já havia produzido uma geração anterior de canhões de 76 mm (o modelo 76/62 “Allargato”, de 1961). O OTO 76/62 Compact, também chamado Compatto, representou uma grande melhoria em compacidade, confiabilidade e cadência sobre o design anterior, incorporando carregamento automático e redução significativa de peso graças ao uso de ligas de alumínio na torre. O primeiro protótipo do Compact ficou pronto em 1967, entrando em produção seriada por volta de 1969. Entrou em serviço a partir de 1964-69 (há variações nas fontes), sendo rapidamente adotado pela Marina Militare Italiana e oferecido ao mercado externo.

OTO-Melara 76/62 Sovrapposto
76mm L62 Allargato

Difusão Internacional: O sucesso do 76/62 Compact foi imediato – tratava-se de um canhão automático rápido, leve (cerca de 7–8 t contra ~16 t de canhões de 127 mm tradicionais) e capaz de enfrentar ameaças aéreas e de superfície. Nas décadas de 1970–80, ele foi exportado para mais de 50 países e fabricado sob licença em nações como Espanha, Japão, Austrália, Índia e Estados Unidos. Tornou-se praticamente o padrão de fato de artilharia média em muitos marinhas ocidentais.

A US Navy, por exemplo, adotou-o sob a designação Mk75 gun em fragatas classe Perry (FFG-7) e outros navios, com produção licenciada nos EUA a partir de 1978. A Marinha Espanhola utilizou-o nas corvetas Descubierta e fragatas Santa María (derivadas das Perry), a Alemanha em lanchas rápidas Type 148, Israel nas lanchas Sa’ar, entre muitos outros casos.

No Brasil, o 76 mm pensou em equipar inicialmente as corvetas da classe Inhaúma (década de 1980) e foi selecionado para as futuras fragatas classe Tamandaré em 2020 (modelo Super Rapid). A popularidade do sistema chegou ao ponto de gerar clones fora do eixo Ocidental – o Irã produziu uma cópia chamada Fajr-27, anunciada em 2006, baseada no Compact.

76/62 Compact

Evolução para o Super Rapid: Com a evolução das ameaças navais (mísseis antinavio cada vez mais velozes e de baixo perfil) e feedback de uso, a OTO Melara aprimorou o projeto original. No início dos anos 1980, protótipos de uma versão de maior cadência e precisão foram desenvolvidos, culminando no lançamento do 76/62 Super Rapid em 1988. As primeiras embarcações a receber o novo modelo foram destróieres italianos (Classe Audace modernizados) e depois fragatas como a Classe Maestrale e Lupo, seguidos por exportações.

O Super Rapid incorporou uma série de melhorias: sistemas eletro-eletrônicos totalmente digitais, mecânica reforçada para suportar cadências superiores a 100 tiros/min, e opção de torre com desenho stealth para reduzir assinatura radar. O canhão manteve compatibilidade com todas as munições de 76mm existentes, mas foi projetado desde o início para tirar proveito de novas tecnologias como a espoleta 3A-Plus e a munição guiada DART, tornando-o apto à defesa de ponto anti-míssil (“CIWS”) em última instância.

A OTO também passou a oferecer o kit STRALES/DAVIDE – um conjunto de add-ons (radar de onda milimétrica e programação de munição) que pode ser acoplado ao 76/62 (especialmente no Super Rapid) para engajar mísseis antinavio com os projéteis DART guiados. A partir dos anos 2000, sistemas 76 SR com Strales foram instalados em navios italianos (como fragatas FREMM e o porta-aviões Cavour) e de outros países.

Oto Melara 76/62SR Super Rapid com sistemade guiagem STRALES/DAVIDE
76/62 Super Rapid

Produção e Atualidade: Desde 2001, a OTO Melara integrou-se à Finmeccanica (atual Leonardo S.p.A). O 76/62 Super Rapid continua em produção pela Leonardo, enquanto a variante Compact foi descontinuada (embora muitos exemplares ainda estejam em serviço). Mais de 60 marinhas utilizam o canhão 76 mm atualmente. A Índia fabrica localmente o Super Rapid (SRGM) desde 1994 e incorporou as últimas melhorias (Strales e munições Vulcano) em seus navios.

O sucesso do sistema também influenciou projetos binacionais – por exemplo, as fragatas franco-italianas Horizon e FREMM adotaram o 76 mm (como secundário ou complementar) em detrimento do canhão francês de 100 mm, padronizando a solução italiana devido à sua cadência superior e compacidade. Em suma, desde sua introdução nos anos 60 até os dias atuais, o OTO 76 mm passou por uma evolução contínua, mantendo-se relevante por incorporar inovações tecnológicas que ampliaram seu desempenho e leque de missões.

2. Especificações Técnicas

Calibre e Dimensões: Ambos os modelos possuem calibre nominal de 76,2 mm (3 polegadas), com tubo de 62 calibres de comprimento (cerca de 4,7 m). O canhão é montado em uma torre leve e não tripulada (“gun mount”), de massa aproximada de 7,5–7,9 toneladas vazia (dependendo da versão). A elevação do cano varia de –15° a +85°, com giro (azimute) de 360°.

Os atuadores de controle são servomotores elétricos (nas versões modernas) que permitem acompanhamento de alvos rápidos – por exemplo, a torreta gira até ~60°/s e eleva a ~35°/s, com estabilização para disparo em movimento. O 76/62 é refrigerado a água (cano com camisa de água) para suportar tiro automático contínuo.

Cadência de Tiro e Alimentação: O modelo Compact alcança uma cadência típica de até 85 tiros por minuto, enquanto o Super Rapid (SR) pode disparar até 120 tiros por minuto em modo automático (podendo também efetuar tiro a tiro selecionado). A velocidade na boca do cano é da ordem de ~915–925 m/s com munição convencional (atingindo ~1100 m/s com munição sabotá dedicada, como a DART). Cada montagem possui um carregador automático do tipo carrossel, com munições prontas para uso.

No Compact, a capacidade é de 80 projéteis prontos (armazenados em dois anéis concêntricos de 35 munições, mais 6 no elevador helicoidal e 4 no tambor de alimentação). No Super Rapid, a capacidade foi ligeiramente aumentada para aprox. 85 tiros no carregador, e o sistema de alimentação/rearmazenamento foi aprimorado para permitir recarga mesmo durante o engajamento. Em ambos os casos, dois a três operadores no depósito abaixo da torre realizam a recarga manual do carrossel conforme necessário, enquanto o disparo e controle são feitos remotamente a partir de um console de tiro (não há dotação dentro da torre).

Alcance e Balística: Utilizando munição explosiva padrão, o alcance máximo é da ordem de 16 km, com alcance eficaz menor dependendo do tipo de alvo (por exemplo, alvos aéreos a altitudes baixas até ~4 km de distância eficaz). Munições especiais de longo alcance permitem estender o alcance para cerca de 20 km (caso da munição SAPOMER, semi-perfurante de alcance estendido).

Desenvolvimentos mais recentes, como o projeto Vulcano 76mm, prometem alcances de até 40 km com projéteis assistidos/guiados de alto desempenho. Vale notar que, apesar do calibre relativamente menor, a elevada velocidade dos projéteis (aprox. 900 m/s) confere boa trajetória tensa e tempo de reação curto, importante para alvos manobrando em curtas distâncias.

Vídeo em câmera lenta do canhão OTO Melara 76 mm efetuando disparos

Tipos de Munição Compatível: Uma grande variedade de munições de 76 mm foi desenvolvida para estes canhões, aumentando sua versatilidade. Entre os principais tipos, destacam-se:

  • Alto-Explosiva (HE) – ogiva de 6,3 kg com carga explosiva, uso geral contra alvos de superfície e aéreos (espoleta de impacto ou proximidade).
  • SAPOM (Semi-Armor Piercing OTO Munition) – munição semi-perfurante de alto explosivo, projetada para penetrar alvos ligeiramente blindados ou estruturas antes de explodir. Existe também a variante SAPOM ER (Extented Range) de alcance estendido (~20 km).
  • PFF – Projéteis de fragmentação pré-formada (Pre-Formed Fragments), concebidos para defesa antimíssil e antiaérea, liberando estilhaços otimizados contra alvos rápidos.
  • Munição Multipropósito (MOM) – combina efeitos contra múltiplos tipos de alvos (fragmentação/alto-explosivo), oferecendo maior flexibilidade logística.
  • 3AP – Espoleta multi-modo programável de última geração (designada 3A-Plus) que pode atuar em vários modos (tempo, proximidade filtrada contra alvos baixos, proximidade anti-míssil, etc.), aumentando muito a eficácia contra mísseis antinavio rasantes.
  • DART (Driven Ammunition Reduced Time-of-flight) – projétil sub-calibrado guiado por comando de rádio, desenvolvido como parte do sistema STRALES/DAVIDE. O DART possui aletas e pode corrigir sua trajetória em voo para interceptar mísseis manobrando ou alvos aéreos velozes, com alcance efetivo de ~8 km.
  • VULCANO 76 – projéteis em desenvolvimento (derivados da família Vulcano de 127 mm) dotados de guiagem por GPS/INS ou laser, visando alcances estendidos (20–40 km) com alta precisão para engajar alvos de superfície ou costeiros de forma pontual.
Canhão Oto de 76 mm e a munição Vulcano

Sistemas de Mira e Controle de Tiro: Os canhões OTO 76 mm são integrados aos sistemas de direção de tiro do navio, podendo operar tanto em modo totalmente automatizado (designação de alvos via radar/EO) quanto em modo local. Versões iniciais (Compact) em navios italianos usavam radares dedicados como o Selenia RTN-10X “Orion” para mira.

A partir dos anos 1980, incorporou-se controle digital mais avançado, e.g. radar RTN-30X/SPG-73 ligado ao sistema Dardo E CIWS, aumentando a precisão contra alvos aéreos rápidos. O Super Rapid pode integrar-se a praticamente qualquer moderno sistema de controle de fogo. Por exemplo, navios da Índia empregam o diretor Lynx-U2 (BEL) associado ao canhão.

Além do radar, é comum haver optrônicas/eletro-ópticos para engajamento de alvos de superfície. O canhão pode ser instalado em uma cúpula furtiva opcional, com painéis angulados que reduzem a assinatura de radar da torre – característica adotada em navios stealth modernos (especialmente na versão Super Rapid). Em suma, o 76/62 pode funcionar integrado a redes de combate avançadas ou de forma autônoma (usando seu console local), conforme as necessidades da embarcação.

3. Emprego Operacional

Saar 3 com um canhão OTO Melara de 76 mm na proa

Emprego em Navios de Guerra: Os canhões de 76mm da OTO Melara equipam uma grande variedade de navios militares – desde lanchas rápidas de ataque e corvetas até grandes fragatas e destróieres(neste caso, frequentemente como armamento secundário). Sua função tática é tipicamente dual ou mesmo multipropósito: servem tanto para engajar aeronaves e mísseis antinavio que ameacem o navio (defesa antiaérea de ponto), quanto para enfrentar embarcações de superfície menores (lanchas, barcos de ataque rápido) e prover fogo de apoio naval contra alvos costeiros.

Por exemplo, um 76/62 pode disparar rajadas rápidas de projéteis de fragmentação para criar uma cortina defensiva contra mísseis, ou alternar para munição perfurante/explosiva para neutralizar uma embarcação inimiga ou alvo em terra. A elevada cadência e controle remoto permitem reações muito rápidas – em exercícios, demonstrou-se engajar alvos aéreos simulados voando a até ~4 km de altitude e alvos de superfície a ~15–16 km de distância. Em navios modernos, o 76mm integra-se com radares de vigilância e tiro, podendo operar de forma quase automática como um CIWS de médio calibre. A Marinha Italiana inclusive desenvolveu doutrinas onde as 76 SR equipadas com DART substituem ou complementam sistemas dedicados de defesa terminal de curto alcance.

FACM do Chile, ex-Marinha Israelense, com dois canhões OTO Melara de 76 mm

Vantagens Táticas: Em comparação a canhões navais de maior calibre (como 127 mm) ou menor calibre (20–40 mm), o 76 mm ocupa um nicho intermediário vantajoso. Ele oferece alto volume de fogo – até 120 disparos/min no Super Rapid – superando qualquer peça de calibre maior nesse quesito. Isso é crucial para aumentar a probabilidade de acerto contra alvos ágeis ou numerosos (enxames de barcos rápidos ou drones, por exemplo). Ao mesmo tempo, cada projétil de 76 mm carrega uma ogiva muito mais potente que a de canhões automáticos leves (30–40 mm), permitindo causar danos significativos a aviões, mísseis ou embarcações não blindadas com poucos impactos diretos.

Em cenários assimétricos ou de patrulha, o 76 mm pode ser usado escalonadamente – desde tiros de advertência não letal (quando municiado com carga inerte) até tiros letais de precisão. Outra vantagem é a rápida disponibilidade do primeiro disparo: o sistema mantém dezenas de munições no carregador prontas para uso, podendo abrir fogo em poucos segundos após a designação do alvo. A confiabilidade também melhorou ao longo do tempo: enquanto nos anos 1970 unidades iniciais sofriam panes a cada ~40 disparos em média (durante a Guerra do Yom Kippur, israelenses relataram stoppages frequentes a altas cadências), as versões posteriores elevaram a confiabilidade para centenas de tiros entre falhas. Isso ampliou a confiança no emprego intenso do canhão em combate.

Exemplos de Emprego em Conflitos: Desde sua introdução, os canhões OTO 76 mm participaram de diversos cenários de combate naval. Durante a Guerra do Yom Kippur (1973), a Marinha de Israel utilizou seus canhões de 76 mm (a bordo das lanchas Sa’ar) tanto em duelos contra embarcações sírias e egípcias como em bombardeio costeiro na Síria. Embora naquele conflito a maioria dos navios tenha sido afundada por mísseis antinavio, os 76 mm foram empregados para acabar de neutralizar alvos após o uso de mísseis e para atacar instalações costeiras – demonstrando seu valor como arma versátil de apoio. Lições aprendidas desses confrontos levaram à melhoria das espoletas e sistemas de controle de tiro, devido à necessidade de derrubar mísseis inimigos (no que os 76 mm da época tiveram sucesso limitado).

Na Guerra Irã-Iraque (década de 1980) e conflitos relacionados, os 76 mm também mostraram serviço. Um exemplo notório foi a Operação Praying Mantis (1988), em que a Marinha dos EUA (US Navy) retaliou contra forças navais iranianas no Golfo. Na ocasião, a fragata USS Simpson (classe Perry) engajou a lancha rápida iraniana Joshan após esta ter sido atingida por mísseis, disparando diversos projéteis de 76 mm até afundar a embarcação inimiga.

Esse episódio evidenciou a capacidade do canhão de fornecer poder de fogo sustentado e preciso contra navios inimigos, complementando o uso de mísseis. Em conflitos mais recentes, como as operações navais na Guerra do Golfo (1991) e ações de antipirataria no Oceano Índico (década de 2000–2010), canhões 76 mm em navios de coalizão foram empregados para disparos de advertência e engajamentos de embarcações hostis de pequeno porte, graças ao seu alcance e letalidade superiores aos dos metralhadores pesadas. Além disso, marinhas como a italiana e espanhola utilizaram o 76 mm para apoio de fogo em operações anfíbias e de paz – por exemplo, bombardeando posições em terra de forma seletiva durante missões de paz nos Bálcãs e no Norte da África (onde o risco de dano colateral menor que o de um míssil guiado podia ser vantajoso).

Em suma, o OTO Melara 76 mm provou sua eficácia em combate real tanto contra alvos aéreos (helicópteros, drones e ocasionalmente mísseis) quanto contra alvos de superfície, justificando seu status como arma padrão em dezenas de marinhas. A introdução de munições inteligentes (3AP, DART) ampliou ainda mais seu papel, permitindo que alguns navios utilizem o 76 mm como última linha de defesa antimíssil, com desempenho reportado satisfatório em testes (e.g. tiros reais de DART pela Marinha da Colômbia em 2014 derrubando alvos aéreos simulados). A flexibilidade de poder alternar tipos de munição e a rapidez de engajamento fazem deste canhão uma ferramenta valiosa em cenários multiameaça modernos.

4. Comparação entre os Modelos Compact e Super Rapid

A seguir, resumem-se as principais diferenças e melhorias entre o 76/62 Compact original e o 76/62 Super Rapid:

  • Cadência de Disparo: Compact ~85 tiros/min, Super Rapid até 120 tiros/min, representando um aumento de ~40%. O SR pode empregar cadências variáveis ou rajadas curtas conforme necessário, melhorando a resposta contra alvos múltiplos ou muito velozes.
  • Sistema de Alimentação: Ambos usam carregador automático de carrossel (~80 tiros prontos), porém o Super Rapid incorporou ajustes para suportar a cadência maior e permitir recarga contínua. A capacidade foi ligeiramente ampliada (de 80 para ~85 rounds) no SR. No mais, o princípio de funcionamento permanece similar, com melhorias na confiabilidade do transporte de munição em altas velocidades.
  • Controle e Eletrônica: O Compact, em suas versões iniciais, empregava sistemas de controle analógicos ou eletro-hidráulicos; já o Super Rapid é totalmente digital, integrando-se melhor aos modernos sistemas de combate do navio (). Isso traz maior precisão nos movimentos da torre e facilidade de manutenção/diagnóstico.
  • Desenho da Torre: O Compact tipicamente vinha em uma cúpula arredondada (“bubble”) enquanto o Super Rapid pode vir com uma cúpula de linhas facetadas para redução de RCS (furtividade). Essa mudança reflete preocupações modernas de furtividade radar.
  • Capacidade Antiaérea/CIWS: O Super Rapid foi projetado desde o início para engajar mísseis antinavio supersônicos e alvos aéreos difíceis, tendo desempenho significativamente superior ao Compact nessa função (). Com a combinação de maior cadência, melhores espoletas (3A-Plus) e opção de munição DART guiada, o 76 SR oferece uma camada extra de defesa antiaérea de curto alcance que o Compact original não podia prover de forma confiável. Em termos de precisão, o SR também se beneficia de menor dispersão dos tiros em rajada.
  • Manutenção e Confiabilidade: O projeto SR incorporou materiais e componentes de maior vida útil mesmo operando em regimes mais intensos. Por exemplo, mecanismos reforçados de extração evitaram as falhas de misfeed e misfire que ocasionalmente afetavam o Compact em altas cadências. O intervalo médio entre falhas (MRBF) passou de poucas dezenas de tiros no final dos anos 60 para várias centenas no Super Rapid, representando um grande salto em confiabilidade.
  • Upgrades e Futuro: Embora o Compact possa receber algumas atualizações (p. ex. instalação de espoletas programáveis em plataformas antigas), é no Super Rapid que se concentram as evoluções futuras – como a integração do kit Strales (guia DART) e uso das munições Vulcano guiadas de longo alcance. Esses recursos praticamente transformam o 76 SR em um sistema multifunção (defesa aérea, superfície e bombardeio de precisão) do qual o Compact carece. Marinhas que ainda operam o Compact têm, em muitos casos, optado por modernizá-los ou substituí-los pelo Super Rapid para manter a efetividade diante das ameaças atuais.
Munição 76 mm DART

Conclusão: Os canhões OTO Melara 76/62 Compact e Super Rapid ilustram a evolução de uma arma naval ao longo de décadas – do pioneirismo em alta cadência nos anos 60 à adaptação aos cenários modernos de guerra centrada em mísseis. O modelo Super Rapid, com suas melhorias, assegurou que o calibre 76 mm permanecesse relevante, oferecendo equilíbrio entre poder de fogo e velocidade que poucos sistemas conseguem igualar. A continuidade de investimentos (novas munições e sensores) indica que esse calibre deverá continuar servindo como componente chave do armamento naval em muitas marinhas nas próximas décadas.

FONTES: Pesquisa baseada em dados técnicos e históricos sobre o OTO Melara 76mm publicados em referências especializadas e documentação aberta, incluindo especificações de fabricantes e relatos de emprego em combate (Oto Melara Breda 76/62 super rapid compact gun) (OTO Melara 76 mm – Wikipedia) (ASSESSMENT OF THE WEAPONS AND TACTICS USED IN THE OCTOBER 1973 MIDDLE EAST WAR | CIA FOIA (foia.cia.gov)), entre outras.

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Marcelo Mendonça

e por quê o Brasil optou pela versão mais antiga?

Burgos

Boa tarde Marcelo;
Acredito que a versão Compact seja um pouco mais barata que a super rapid
👍

Paulo

A noticia anterior dá conta de que a versão do canhão oto melara 76/62 instalada na Fragata Tamandaré é a super rápida ,portanto a mais moderna .

Burgos

Correto 👍
As FCTs vão usar as versões super rapid e não compact

Henrique de Freitas

A nossa versão é a Super Rapid…se não me engano.

Burgos

Sim 👍
A versão compact foi descontinuada, não fabrica mais, mas ainda amplamente usada por várias Marinhas mundo afora
Obs: A versão compact quase venceu a concorrência na MB para as Corvetas Classe Inhaúma.🤷‍♂️

Last edited 9 horas atrás by Burgos
Underground

Existe alguma sistema de troca rápida do carrossel, permitindo a mudança da munição?

Diego

É possível carregar vários tipos de munição no paiol, e o operador seleciona aquela que mais se adequa a situação, o carregamento da munição e muito rápido.

Bosco

Under,
Complementando o Diego, há de se ter em mente o cenário tático. Se não houver possibilidade do navio ser atacado via aérea só terá munição HE para apoio de fogo e tiro anti-superfície nos anéis.
Se houver possibilidade de ataque aéreo ou ameaças rápidas de superfície algumas cestas estarão com munição 3AP.
No caso de estar sendo efetuado um apoio de fogo utilizando munição HE e soar um alarme de ameaça de míssil o anel gira de modo a colocar a munição 3AP em posição.

Sequim

Nunão e Galante, a minha dúvida do post anterior foi respondida com maestria. Obrigado. Que arma versátil e útil. Proporciona um excelente desempenho com um custo acessível.

Henrique A

O rival desse canhão no ocidente é o Bofors de 57mm; dispara uma granada menos potente mas tem um cadência maior de tiro… Os mexicanos escolheram esse canhão assim como os americanos.

Bosco

Os americanos escolheram o 57 mm porque priorizaram a função “contra ameaças assimétricas de superfície” e para isso o 57 era suficiente , além de mais leve . mais compacto e mais barato.
Para outras funções (apoio de fogo, antinavio, antimíssil, etc) a USN já tinha soluções.
De modo geral o SR76 mm é superior ao 57 mm, pecando só nos quesitos peso, volume e preço.

Paulo

Praqueles que temem ataques de enxames de drones suicidas, a escolha do canhão secundário foi acertada. O canhão alemão sea snake de 30mm é projeto recente e leva em conta novos desafios como drones. Este sistema é leve e permite instala- lo em local alto, de melhor visada. No caso das tamandarés ,na cobertura do hangar . Ele possui sistema próprio e extremamente avançado de localizacao e pontaria à qualquer tempo ,de dia ou de noite . A cadência de tiro é impressionante ( 18 tiros por segundo) e utiliza munição de fragmentação programada por computador, criando a cada disparo… Read more »

Augusto José de Souza

Os canhões das próximas Macaé são dessa família? A do Maracanã é igualzinho a essa.