Enquanto uns afiam as facas, outros vendem (ou dão de presente) o faqueiro. A experiência histórica nos ensina que uma grande crise da economia mundial normalmente é acompanhada por um ciclo de guerras de duração e amplitude variáveis. Segundo Keynes, a recuperação econômica geralmente necessitaria de um “choque externo” – como o ocasionado pela 2ª Guerra Mundial em 1939-45.

O alerta amarelo já deve estar tocando, nos ministérios de Defesa dos principais países. Já no Brasil, é provável que o Plano Estratégico Nacional da Defesa (PEND) vire fumaça, juntamente com o dinheiro que desapareceu na bolsa. Este plano deveria ter sido anunciado oficialmente em 7 de setembro, mas teve sua divulgação adiada, a fim de ser examinado pelo Conselho de Defesa Nacional (CDN) em 3 de novembro de 2008.

Os governos e bancos centrais estão enterrando, com honras militares, o discurso neoliberal de “Estado mínimo”, que montou o cenário para a monumental crise com que ora se depara o mundo. Tal discurso talvez ressuscite um dia, mas provavelmente não no futuro próximo. Sem dúvida, se o Estado não socorresse o mercado na “Hora H”, o colapso poderia ser ainda pior, e sua reversão, mais difícil.

No campo militar, o momento atual é de perplexidade. Contudo, o desespero dos mercados e dos países dificilmente levará a um grande conflito interestatal de tipo westfaliano, nos moldes da 2ª Guerra Mundial. As guerras do Século XXI são conflitos não-westfalianos, nos quais o “inimigo” não é necessariamente um Estado organizado.

A guerra de quarta geração (G4G) caracteriza-se pela perda do monopólio do Estado sobre os conflitos armados. Desse modo, facções ideológicas ou criminosas, com ramificações externas e internas, poderiam muito bem “declarar guerra” ao Estado brasileiro, visando à sua submissão ou destruição.

Recentemente, foi assinado o Decreto n.º 6.592, de 02/10/2008, regulamentando a Lei n.º 11.631, de 27/12/2007, que criou o Sistema Nacional de Mobilização (SINAMOB). O decreto admite o emprego das Forças Armadas contra ameaças e agressões de origem externa, mesmo quando o território nacional não for invadido ou diretamente ameaçado.

No Brasil, vários analistas de política e relações internacionais consideraram o texto deste decreto “agressivo”, por romper com a “tradição pacifista” da política externa brasileira. Tais observadores aparentemente acreditam que só existe um tipo de guerra: aquela que se dá entre dois ou mais Estados soberanos. Isso indica que o conceito de G4G ainda não foi corretamente compreendido no país.

Em países vizinhos, principalmente no Paraguai, a imprensa local tem distorcido e descontextualizado as notícias divulgadas aqui, com manchetes sensacionalistas afirmando que o Brasil está “pronto para invadir” tais países. Que contraste com a virtual capitulação do Estado brasileiro no plano interno! Será que estão falando mesmo do nosso país?

Apesar de tudo, a atual crise da segurança pública no Brasil ainda não configura uma situação de G4G. É preciso deixar claro que o combate ao terrorismo, ao narcotráfico e a outras modalidades de crime transnacional cabe às forças de segurança e aos serviços de inteligência. O emprego de contingentes das Forças Armadas só se justificaria em casos extremos, quando o tipo de ação tornasse tal emprego necessário.

Em situação de G4G, a missão das Forças Armadas não seria “derrotar” o inimigo em batalha, mas sim estabelecer as condições de segurança necessárias ao funcionamento do governo num território conflagrado. Isso tanto poderia ocorrer no contexto de uma operação de paz no exterior, sob os auspícios da Organização das Nações Unidas (ONU), como no de uma operação de garantia da lei e da ordem (GLO) de âmbito interno.

O predomínio dos conflitos assimétricos e irregulares na atualidade não significa que as Forças Armadas devam descartar sua capacidade militar convencional, em favor de uma estrutura voltada quase que exclusivamente para as operações especiais e de inteligência. É necessária uma significativa capacidade de “resposta simétrica”, para dissuadir conflitos interestatais e para defender a soberania e os interesses nacionais, caso a dissuasão falhe.

Podemos afirmar que a relativa paz na América do Sul não é resultado de um suposto equilíbrio de poder, mas de uma situação de desequilíbrio de poder, historicamente favorável ao Brasil. Assim sendo, um maior enfraquecimento das Forças Armadas brasileiras poria em grave risco a paz e a estabilidade no subcontinente.

O comprometimento da superioridade militar do Brasil no âmbito regional faria com que o nosso País deixasse de ser o “fiel da balança”, perdendo a capacidade de atuar como mediador de crises – uma vez que, para representar este papel, é necessário ser mais forte que as partes em litígio, a fim de induzi-las a optar por uma solução negociada.

A incapacidade do Brasil (ou de qualquer de seus vizinhos) em atuar na mediação de crises na América do Sul poderia encorajar potências extracontinentais a assumir tal papel, procurando ampliar sua influência sobre a região. A impopularidade dos Estados Unidos poderia inibir sua atuação diplomática nesse sentido – o que, em tese, seria favorável a países como a França.

Além de levar a um possível aumento da influência de potências extracontinentais no entorno estratégico do Brasil, a perda da capacidade de mediação regional, em conseqüência do seu despreparo militar, poderia ter outras implicações para o País. No mar ou em terra, seus recursos naturais poderiam tornar-se alvo fácil da cobiça de interesses externos. O excessivo enfraquecimento do Estado brasileiro e de suas Forças Armadas seria um convite ao desastre.

Eduardo Italo Pesce
Especialista em Relações Internacionais e professor no Centro de Produção da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Cepuerj).

Iberê Mariano da Silva

General-de-brigada engenheiro militar na reserva.

http://www.monitormercantil.com.br/imprimir_noticia.asp?id2=54920

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camberiu

“Os governos e bancos centrais estão enterrando, com honras militares, o discurso neoliberal de “Estado mínimo”, que montou o cenário para a monumental crise com que ora se depara o mundo. ” Posicao interessante e que demonstra que os colunistas entendem muito pouco de economia e financas. As principal razao da crise economica mundial e’ a explosao da maior bolha de credito especulativa da historia monderna. O que causou essa bolha? 1 – O Banco Central Americano (estatal) desde 2001 tem injetado quantidades ridiculas de capital no mercado para tentar evitar uma recessao apos os ataques de 11 de setembro.… Read more »

Nimitz

Camberiu, e pelo jeito, o senhor não entende nada da história, relações internacionais, nem de estratégia militar.
O estouro da bolha de crédito é culpa do Estado americano? bullshit.
Foi a mão invisível do mercado.

camberiu

Caro Nimitz,

Alem do elegande “bullshit”, voce tem algum argumento para defender a sua posicao?

Nimitz

E precisa de argumento? Se depois de toda a mídia ter mostrado “ad nauseaum” de quem é a culpa do estouro da bolha e de tudo que o ESTADO americano e outros ESTADOS têm feito para resolver a situação, você ainda vem com os argumentos acima, não sou eu quem vai convencê-lo, meu caro.

Voluntário da Pátria

Monumental crise do Estado Liberal? E a Europa da social democracia também não está em crise? E os Estados socialistas não foram extintos nos 90′. Cuba nada em prosperidade? China não está atada ao EUA? Quantas crises já foram superadas? O Brasil só foi à frente com a política liberal de Collor e FHC (ainda que a contra-gosto). Ao Estado cabe a fiscalização e o incentivo. Não tem que ter bancos, petrolíferas,universidades,não tem que prover sistema de saúde grátis nem previdência social. Em fim, o Estado não tem que ser paternalista. E o principal, não te que ser cabide de… Read more »

Patriota

De toda forma, o texto aborda o iminente “enterro” do nosso tão falado “Plano Estratégico de Defesa”. Para mim, esse é o aspecto mais grave, e que demonstra a total falta de compromisso e seriedade de nossos políticos em relação à política de defesa. Parece mesmo que o Brasil não aprende sem que haja uma catástrofe (e mesmo assim, em alguns casos como o da segurança pública, talvez não aprenda de modo algum). Resta apenas rezar para que os países mais poderosos nos esqueçam e, assim, não precisemos empregar as Forças Armadas. Pois, como é óbvio, se precisarmos das nossas… Read more »

camberiu

Caro Nimitz, a maior parte da midia sabe tanto de economia quanto sabem sobre assuntos militares. Assim como a maioria dos leigos em assuntos militares nao percebem as besteiras que a midia escreve sobre cacas e submarionos, a maiorio dos leigos em economia e financas nao percebem quando a midia fala besteiras sobre o tema. nao sei se voce sabe ler e escutar em ingles, mas se souber, por favor leia sobre Peter Schiff. Peter Schiff e’ um grande investidor que desde 2002 vinha falando para quem tivesse interessado em escutar que as politicas do governo dos EUA iriam provocar… Read more »

Sforza

camberiu, seu primeiro post esta corretíssimo, ao contrário do que todo mundo pensa, o que gerou a crise foi a intervenção estatal, cada vez que o mercado se encontrava ameaçado de uma contração, um reajustamento das condições aos dados reais do mercado, mais expansão de crédito era proposta e posta em prática. A teoria dos ciclos econômicos explica essa conseqüência da expansão de crédito criando um “boom” que resulta em um inevitável período de recessão.
Esse artificialismo gerado pelo FED desde 2003 vinha sendo alertado por economistas de que não demoraria a se tornar uma crise.

O resultado está aí.

camarada

The Venezuelan official emotion before the triumph of Obama, nevertheless, was the past restrained Friday by the top military spokesman. Trisunny general Jesus González, Head of the Operational Strategic Commando, noticed that Venezuela will maintain its plans of purchases of warlike equipment to dissuade to the USA of a possible action: “I do not doubt that the Americans want to come to look for petroleum”, the military man alleged who reports directly to Chávez. González announced “important investments” in fighting equipment for next the five years and diminished the changes that the arrival of Obama represents in the imperial hunger… Read more »

GustavoB

“O país só foi à frente com Collor e FHC”. Uma afirmativa dessas inviabiliza qualquer tipo de análise já de saída.

O mundo pode desmoronar ao seu redor, mas uma mentira contada mil vezes…

Marine

Estou aqui concordando com o Voluntario da Patria em tom e grau.

Camberiu, tbm concordo com seu ponto numero 2 mas a razao disso foi um idealismo de certos politicos democratas de que todos tem um direito a casa propria, sendo um deles um deputado daqui do meu estado de Massachusetts chamado Barney Frank.

Sds a todos!

Edilson

Senhores, me desculpem a intromissão porém gostaria de destacar que foco e creio que o intuito do blog em postá-lo não é a temática da crise econõmica nem tão pouco seus culpados. mas sim as consequências de uma reviravolta nas relações internacionais causadas pela turbulência econômica e nova abordagem dos problemas. creio que o parágrafo resume um pouco isso. “A experiência histórica nos ensina que uma grande crise da economia mundial normalmente é acompanhada por um ciclo de guerras de duração e amplitude variáveis. Segundo Keynes, a recuperação econômica geralmente necessitaria de um “choque externo” – como o ocasionado pela… Read more »

andre

“Voluntário da Pátria ”

Com quem o estado se desenvolveu?
Vc ta brincando né!!!

Só faltou o FHC privatizar as Forças Armadas,
e olha que não faltou muito!!! rsrs

Raphael

Camberiu, concordo com voce 100%!

Voluntário da Pátria

Gustavo, a leitura em tela de computador por vezes fica prejudicada pela iluminação no ambiente, lê de novo com mais calma, disse que liberalização e a desestatização da economia nos governos Collor e FHC impulsionaram o Brasil, não que os governos deles, como um todo, tenham sido completamente benéficos ao país.

Voluntário da Pátria

André, se aquelas privatizações e outras medidas dolorosas para a população, concordo,como a responsabilidade com os gastos públicos, por exemplo, não tivessem sido tomadas, estaríamos nas mesmas condições que os “hermanos” se encontram hoje, atrasados, sucateados, deficitários. Competição na economia só beneficia à população,não acha?Quanto Às FFAA,infelizmente, desde 85 nenhum que esteve no planalto se importou devidamente com tão importantes instituições nacionais.

Coralsea

Oi Marine Vou pegar no seu pé de novo hehehe… Até parece que a culpa da crise atual é dos democratas; pelo que você escreveu….não quero aqui defender nem atacar ninguém; mas vejamos alguns pontos: – quem comanda os EUA desde 2000? – quem não fez nada no vergonhoso caso de falência do grupo Enro? – nunca na história dos EUA os ricos ficaram mais ricos e os pobres mais pobres ainda. – a infra estrutura dos país está um bagaço só….estradas esburacadas, pontes que caem, falta de energia elétrica em alguns estados, aeroportos saturados e etc… – a industria… Read more »

Rodrigo

Coralsea em 10 Nov, 2008 às 17:45:

“a infra estrutura dos país está um bagaço só….estradas esburacadas, pontes que caem, falta de energia elétrica em alguns estados, aeroportos saturados e etc…”

Opa, eu conheço esse lugar, é o Brasil! 🙂

[]s

Marine

Coralsea, Nao quis dizer que tudo que esta errado com o EUA e culpa dos democratas mesmo porque um Republicano e que e presidente, o que me referi foi a crise imobiliaria que na minha opiniao comecou com mas praticas e ganancia da Fannie e Freddie e que algumas dessas praticas foram ideias de certos democratas mais nada… Com relacao a infraestrutura do pais, ja estive em mais de 25 paises em 4 continentes e todos eles tinham carencia em certas partes de sua infraestrutura, entao penso eu que seja um problema que afeta todos. Americanos sao individados por causa… Read more »

Coralsea

Arlington vale a pena conhecer….é gigantesco e tudo limpo e muito bem cuidado; é realmente incrível o cuidado que os americanos tem para com aqueles que faleceram pelo país…na última vêz que estive lá ele estava sendo ampliado…estava com problema de espaço.
O JFK está enterrado lá também.
Outro lance que pouca gente sabe; em Washington perto do Vietnam Memorial, também existe um memorial da Guerra da Coréia…..lembrei disso agora lendo o seu post no outro blog sobre essa guerra.

Radical_Nato

Voltando ao texto…dizer o quê?
Somente rezar para que a história não se repita.
Mas se repetir, bem que a gente poderia colocar esse bando de político safado, corrúpito e ladrão na linha de frente.
Se vai sobrar pra todo mundo, eles merecem ser os primeiros.

SDs.