O adeus a um veterano, escola de velhos lobos dos mares

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Após 49 anos de serviços prestados à Marinha Mercante nacional, com muitas histórias de oficiais e subalternos formados em seu convés, foi vendido para demolição o N/T Presidente Floriano, da classe 15 – “Presidente Wenceslau”, mas conhecidos no meio marítimo nacional como “super tanques”.

Segundo navio de uma série de três construídos pelo estaleiro Nippon Kokan, em Yokohama, Japão, fez parte de um grupo de 9 navios com características semelhantes, divididos em 3 classes distintas, construídos na Holanda (4), Japão (30 e Iuguslávia (2). Foram os maiores navios de bandeira brasileira na época de sua construção, status que durou até 1970, com a chegada dos mineraleiros (Ore Oil) gigantes da Docenave, Docemar e Docevale.

Reproduzimos abaixo cópia do boletim informativo da Fronape, de março de 1960, relativa à chegada do Floriano ao Brasil.

“FRONAPE – Boletim Informativo Nº 101 – Março de 1960

Chegada do PRESIDENTE FLORIANO a Santos – sob o comando do CLC Oswin Adolpho Gropp, deixou Yokohama 30/01/60 para Ras at Tanura (Golfo Pérsico) onde carregou 32.500 toneladas de óleo cru para a refinaria de Cubatão. Chegou a Santos em 10/03/60, após ter aliviado em São Sebastião para o MATO GROSSO. Na barra embarcou o Superintendente da FNP, CMG Leopoldo Paiva. A 13/03/60 chegou ao Rio de Janeiro e atracou no píer Mauá para a visitação dos funcionários da Fronape e Petrobras.”

O Floriano, na metade dos anos 80 foi desativado, permanecendo fundeado na Baia de Guanabara e em 1992 foi reativado e transferido para Manaus, aonde foi utilizado com cisterna. Depois foi vendido para demolição em setembro de 2009, suspedendo para Itacoatiara, AM e seguindo a reboque para Alang, Índia, seu derradeiro destino.

Abaixo o ‘Avisos aos Navegantes’ publicado pela Marinha do Brasil, referente ao reboque do Floriano, rumo ao seu destino:

Aviso Aos Navegantes

N 2174/09 – REBOQUE ENTRE MACAPA(AP) E BHAVNAGAR(INDIA) – REBOCADOR SUHAILI – REBOCANDO NAVIO PRESIDENTE FLORIANO – COMPRIMENTO DO REBOQUE 395 METROS – VELOCIDADE MEDIA 8 NOS – INICIO: 180700Z/OUT.  SOLICITA-SE ESPACO PARA MANOBRAS. CANCELAR ESTE AVISO 130359Z/DEZ/09.

Segue os dados do Floriano (dados pós sua “jumborização” no final dos anos 60, no Japão):

• N/T Presidente Floriano – PUWN – IMO nr. 5284194

• Cnstrutor: NKK Shipbuilding (Nippon Kokan K.K), yokohama, Japão

• Classe 15 – ‘Presidente Wenceslau’

• Batimento de quilha: 1958

• Lançamento: 1959

• Incorporação: 25 de janeiro de 1960

• Comprimento total: 241,35 m

• Boca: 27,56 m

• Calado: 12,38 m

• Deslocamento: 65.329 t.

• Dwt: 53.079 t.

• Propulsão: turbina, 13.700 shp x 15 nós

• Tanques de  carga: 13

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Em verdade, o Floriano era o penúltimo da série ainda existente, pois ainda resta o ex N/T Presidente Prudente de Moraes, atual Petrobras XXXIV, descaracterizado pela sua conversão em FPSO, ou seja, desperdiçamos uma ótima oportunidade em preservar uma jóia da Marinha Mercante Nacional, não só pelo navio em si ou os que nele embarcaram, mas todos os navios mercantes brasileiros que orgulhosamente desfilaram com nossa bandeira pelo mundo inteiro. Sua preservação incentivaria as novas gerações que um dia serão MERCANTES, pois no mínimo, seria preservada a história do OSM (Chemaq) José MARCOLINO, que no Floriano, embarcou por vários anos , do 3ºv Maquinista-Motorista Adilson Ribeiro DE FRANÇA, que teve seu primeiro embarque na Fronape a bordo do Floriano, sob o crivo do Chefe Marcolino, dos “Turbineiros” que nele navegaram e muitos outros.

Abaixo transcrevo e-mail recebido do então POM Délio Almeida, sobre seu encontro com o Floriano, marcado pela emoção, citando outros tripulantes que também o conduziram orgulhosamente:

“Estou recebendo esta mensagem com muita emoção. O Presidente Floriano foi meu primeiro navio na marinha mercante. Embarquei, como praticante de máquinas, em Fevereiro de 1963. Sou da turma de 1962 da EMMRJ. Na época o Presidente Floriano era o maior navio da América do Sul. Embarquei nele em Santos e fiquei muito impressionado ao chegar ao cais do Saboó. Ele era imenso. Os veículos ao passaram na rua paravam para ver aquele naviarra de 34mil tpb. Os praticantes, além de mim, eram o nosso pranteado Hélio Capucci e o João de Deus (Maranhão). Não havia praticante de náutica. O CFM um senhor, muito boa gente mas que não lembro o nome, parecia um gringo. O segundo maquinista era o Miltom Pernilongo, que depois foi inspetor de máquinas da Fronape.Os terceiros eram o querido e saudoso Valdir Oliveira, ser maravilhoso, recentemente falecido, Os outros eram o Boanerges, maranhense de boa cepa e o Fininho, que agora não lembro o nome.Se quiseres, envio para você algumas passagens minhas daquela época. Muito obrigado por poder relembrar aqueles bons tempos de minha juventude.

Forte abraço do Délio Almeida (Fritz linha) “.

Esperamos que um dia neste País a Cultura Naval e Marítima será levada a sério.

NOTA: este artigo é dedicado ao Areias, Vinicius, Leal, Fontes, Leopardi, Roque, Dufriche, Calenzo, Cals, Luz, Menezes, Zeitoune, Mariano, Ubirajara, Villar, Tjader e a todos os membros do grupo de amigos da EMMRJ e àqueles que ajudam a divulgar a História e Cultura Marítima do Brasil.

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