NAe ‘São Paulo’ – Modernização das URA

16

Você sabe o que é uma URA? São as “Unidades de Refrigeração de Água”, peças chave no sistema de refrigeração da maioria dos navios, militares ou não. Muito pouco se sabe sobre elas  e o Poder Naval tentará mostrar um pouco sobre a modernização das mesmas no NAe São Paulo.

Nas URA, uma tubulação que conduz água doce troca calor e tem sua temperatura abaixada por um agente resfriador. Posteriormente, essa água doce, agora gelada, é transportada por todo o navio, resfriando nos diversos locais de bordo, equipamentos eletrônicos e também produzindo ar frio nas unidades condicionadoras de ar, para o conforto da tripulação.

O agente refrigerante, aquecido pela troca de calor com a água doce nas URA, é novamente resfriado pela ação da água do mar. O NAe São Paulo possui 4 URA e as que o equipavam quando foi adquirido pela Marinha do Brasil, ainda datavam de 1956, ou seja, possuiam a mesma idade do navio.

Durante todos os anos em que o ex-Foch operou, elas funcionaram bem e pelo visto, nunca houve a necessidade de troca-las. Porém, com a incorporação do ex-Foch na Marinha do Brasil, agora denominado NAe São Paulo, muita coisa mudaria. Abaixo imagens de uma URA original em funcionamento.

Com o inicio das operações no Atlântico Sul, verificou-se que o sistema de refrigeração do navio apresentava menor rendimento, principalmente pelo fato da temperatura da água do mar nas nossas águas ser, em média, bem superior às do Atlântico Norte, prejudicando a ação resfriadora da água do mar sobre o agente refrigerante e, consequentemente, deste sobre a água doce.

Para a tripulação isto gerou algum desconforto, além do que, com maiores consequências, diminuiu a capacidade de resfriamento dos equipamentos eletrônicos de bordo. Todos os sistemas eletrônicos do navio começaram a apresentar aquecimento, provocando “apagões” nos equipamentos e leituras incorretas, pondo em risco as operações no navio, algo inimaginável para um navio de guerra.

Estes fatos, aliados à cada vez maior dificuldade de manutenção do sistema, pela dificuldade de obtenção de sobressalentes, contribuíram para a decisão de substituí-las.

Após a seleção do equipamento, fez-se a encomenda junto ao fabricante de 4 novas URA e assim que chegaram aproveitou-se a parada do NAe São Paulo para trocá-las. O AMRJ então, deu inicio a troca da  URA B, em 2008.

Logo após a troca, o clima dentro do navio mudou para melhor. E com apenas a primeira instalada, os equipamentos eletrônicos do navio passaram a trabalhar normalmente uma vez que não mais apresentavam problemas de aquecimento, voltando o navio a utilizar todo o seu potencial.

Vejam abaixo como esta faina é trabalhosa. Retirada da URA antiga.

A instalação das novas URAs e posição aproximada de cada uma das 4 URAS

Com a planta do porta aviões Clemenceau, irmão gêmeo do ex-Foch, agora NAe São Paulo, tentamos mostrar de forma aproximada a localização destas unidades. As quatro URA antigas possuiam uma potência de 2.180.000 BTU cada (obsoletas), e as atuais possuem 2.500.000 BTU cada.

Por serem modernas, todo o sistema funciona com muito mais eficácia. As outras três foram instaladas em 2009. Não é preciso dizer que o navio está muito bem refrigerado, com alguns tripulantes afirmando que após a troca, quem trabalha nas caldeiras, teria que ir de casaco. Brincadeiras a parte, a tripulação e os equipamentos eletrônicos agradecem

Terminado o serviço de soldagem os trabalhos internamente se intensificaram para colocar o quanto antes a URA em funcionamento. As novas URA possuem controle 100% automatizado.

Em cada estação existe um painel de controle digital em que é possivel ao operador, total controle sobre o funcionamento da unidade com um sistema que mostra até os problemas que eventualmente possam ocorrer, dizendo onde e a hora em que ocorreram, facilitando o trabalho de reparo.

Um detalhe importante também é que com esta troca, o navio não usa mais o gás -R-12- passando a usar o -R-134a- que além de ser muito mais eficiente, é um refrigerante não prejudicial ao meio-ambiente que evita a degradação da camada de ozônio.

Com mais esta etapa concluída, o navio segue seu cronograma para o retorno operativo junto à Esquadra.

Em breve, mais artigos sobre o NAe São Paulo. Aguardem!

Subscribe
Notify of
guest

16 Comentários
oldest
newest most voted
Inline Feedbacks
View all comments
Guilherme Poggio

Padilha

Parabéns por mostrar mais esta pequena parte da enorme reforma que o SP recebeu e que poucos conhecem.

O Padilha conhece cada meandro do São Paulo!

André

Parabéns ao Blog pela excelente matéria, especialmente ao Padilha.
Matéria recheada de muitas fotos super interessantes. A gente quer tanto saber sobre armamentos, aviões, helicópteros, novos sistemas de navegação, etc, sobre o São Paulo que, vendo uma matéria dessas, nem nos damos conta (nós, os leigos, ao menos, quando muito entusiastas do tema) de algo como essas URA e da sua importância, importância essa que não diz respeito somente ao conforto da tripuação! No mais,
vendo as fotos, a sensação que dá é de que o equipamento antiga (URA) estava mesmo em estado de “petição de miséria”.
Sds a todos.

Joker

Parabens Padilha, muito boa e explicativa!

Vader

Minha nossa, esse troço veio da França em petição de miséria mesmo. Parece aqueles equipamentos recuperados de naufrágios…

Credo, tem certas coisas que chegam até a parecer questão de higiene… Depois, quando falam que francês é porco nego acha que tamos de perseguição… 🙂

Parabéns à MB pela faina. Malgrado minha oposição completa, irrestrita e ferrenha à idéia de ter um PA, e mais ainda um PA-Escola como o nosso, dá gosto de ver como a Marinha cuida bem de seus equipamentos.

Aliás, como nossas Forças Armadas em geral.

Parabéns ao Naval e ao Padilha pela matéria.

Luiz Padilha

Quando você terminar de ver os artigos, mudará de idéia. rsrsrsrsrsrsrs

Junior (SC)

TKS Padilha, aprendi mais um pouco sobre o “opalão”.

Yluss

Pois é, mais um Supra Sumo das matérias da Trilogia, parabens à todos!!

Eu sou aquele tipo de cara que não consegue ver um estrago no carro e fica agoniado até a hora que o carro volta da oficina e está novo, de novo.

Não haveria a menor chance de participar desse processo de reforma do SP pois quase surtei ao ver aquela parte do costado arrancada para passagem necessária dos equipamentos 🙂

Sds

cfsharm

Obridado! Consegui ler a matéria – achei muito interessante e instrutiva. Mas sou obrigado a concordar com o Vader – na França o pessoal não ouviu falar sobre “Conservação”!?!?!
Se eu visse só a foto e levando em consideração minha ignorância sobre o equipamento, acharia que veio de um PA afundado na 2a. Guerra!
Ferrugens a parte – grande trabalho da MB.

Vader

Luiz Padilha disse:
1 de fevereiro de 2011 às 7:50

Hehehe, meu caro Padilha, tomara que você me convença. 🙂

Abraço.

Darkman

Um bagaço estava o A12, mas o trabalho de recuperação foi excelente.
Nossa MB mostrou que podemos e temos condições de manter nossas embarcações em boas condições.

Abs.

Darkman

Claro esqueci de mencionar o belo trabalho do nosso Alvinegro Padilha !!!
Grato por suas palavras. Fogão acima de tudo!

Abs.

GUPPY

Bela matéria Padilha. Lembrou-me dos tempos que eu vi alguns CTs em PNR no ARMJ. Era assim mesmo. Abria-se espaço para retirada de equipamentos para serem substituídos e/ou reparados no próprio Arsenal e depois de tudo no lugar fechava-se tudo e haja viagens recheadas de exercícios.
Abraços

Paulo Ribeiro

Excelente matéria, e fantástico trabalho. É razoável imaginar que outras áreas do SP estejam passando por reformas de magnitude semelhante. Seria interessante poder conhecê-las, e saber até que ponto as condições gerais de operação estão sendo melhoradas. Parabéns pelo material !

JL

Parabéns pela matéria. É bom para ver como dar trabalho manter um navio, e o SP é dos grandes. Lembra muito os trabalhos de manutenção em uma indústria petroquímica.

luisnesbeda

Parabéns mais uma vez pela matéria e que o nosso opalão volte logo.

Alexandre

A nossa MB é, se não a única, uma das poucas marinhas mundiais que tem condição de fazer um reparo em seus navios que quando esses navios voltam em viagem ao seu país de origem, as pessoas não acreditam que é o mesmo navio.
Quanto ao NAe São Paulo, infelizmente todo verdade sobre ele não foi e nem pode ser divulgada, só mesmo aqueles que estão presente dia a dia e que podem dizer. Por isso quero saldar a todos os marinheiros desta belonave e dar-lhes meu BRAVO-ZULU.