Francisco Góes e Marta Nogueira | Do Rio

As negociações que podem levar a coreana Samsung a assumir o controle do Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Pernambuco, estão sendo motivadas por problemas de gestão no estaleiro, na avaliação de fontes próximas às negociações. O EAS enfrenta atrasos e baixa produtividade, o que pode comprometer ainda mais o cronograma de projetos da Petrobras. Só as encomendas de navios da Transpetro no EAS incluem 22 petroleiros que somam R$ 7 bilhões, dos quais cerca de 90% financiados pelo BNDES.

Da carteira de R$ 7 bilhões, 46% ou cerca de R$ 3,3 bilhões referem-se a compromissos assumidos pelo estaleiro junto ao BNDES. Além disso, o estaleiro entrou com recursos próprios equivalentes a 8% do projeto de construção dos navios. O banco financia outra parte do projeto diretamente à Transpetro. O EAS ganhou ainda o direito de construir sete sondas de perfuração encomendadas pela Petrobras à Sete Brasil. Qualquer mudança acionária, portanto, terá que ser aprovada pelo BNDES.

Fontes do setor dizem que a solução para os problemas do estaleiro passa por colocar no comando uma empresa com conhecimento na construção naval e offshore, como a Samsung.

Ontem, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, reconheceu que conversa individualmente com os sócios do EAS, e que os acionistas estão buscando um novo modelo de negócios para se tornarem, nas palavras dela, “mais e mais eficientes”. Na terça-feira, 28 de fevereiro, Graça esteve no EAS acompanhada de diretores da Petrobras e da empresa Sete Brasil, da qual a estatal é acionista.

Na ocasião, a comitiva se reuniu com representantes do estaleiro e dos sócios para discutir os atrasos nas obras, incluindo a construção da sete sondas de perfuração para águas ultraprofundas que serão usadas no pré-sal. Uma das propostas dos sócios, segundo fontes do setor, considerava fazer parte das sondas na Samsung, na Coreia. Mas Graça Foster teria rejeitado qualquer tentativa de construir as sondas fora do Brasil.

Também se reforçou a ideia de fazer as sondas no país com altos índices de conteúdo local. Na edição de ontem, o Valor informou que Graça Foster está negociando a troca do controle acionário do estaleiro com o aval da presidente da República, Dilma Rousseff. Uma dificuldade estaria no fato de Camargo Corrêa e Queiroz Galvão não estarem dispostas a saír do negócio amargando prejuízo.

À tarde, Graça afirmou que a Petrobras e a Sete Brasil se reúnem todos os dias para falar sobre as sondas contratadas. “Hoje já tive reunião a manhã inteira com a Sete Brasil”, disse Graça. E acrescentou: “Tudo nos preocupa. Tudo que diz respeito à sonda, sonda de perfuração, unidade de produção no Brasil, no exterior, tudo preocupa. Tudo tem que ser bem administrado, muito bem acompanhado.”

No mercado, a avaliação de executivos do setor é de que a situação do EAS é complexa. A Samsung teria sido “escanteada” pelos controladores que ergueram um estaleiro do zero com financiamentos repassados pelo BNDES em região que não tinha tradição de construção naval. O pioneirismo provocou dificuldades com mão de obra. “Ser um estaleiro virtual não é um problema. Problema é não fazer nada para deixar de ser virtual, aí é um problema real”, disse Graça.

Desde 2011, comenta-se que a Samsung teria resistências para transferir tecnologia para o Brasil fazer sondas de perfuração. Mas essa resistência estaria ligada, segundo uma fonte, ao desejo da Samsung de fazer parte das sondas na Coreia depois que a crise econômica na Europa levou muitos armadores a cancelar encomendas. A busca de um novo controlador para o EAS começou em 2011 e outras empresas estrangeiras de construção de plataformas foram procuradas.

FONTE: Valor Econômico

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Antonio M

Quiseram usá-la como plataforma de campanha eleitoral e agora a realidade bate à porta!

E o governo atual cujos integrantes tanto criticaram as compras de navios na Coréia, agora vão entregar-lhes a administração por causa de incompetência. Que ironia …..

Marcos

Analisemos a coisa ponto à ponto: 1) A Petrobras encomenda 22 navios à uma empresa sem nenhuma tradição naval, isto é, duas empreiteiras que são mais conhecidas por outras coisas; 2) Não se sabe porque, mas a dita empresa contrata mão de obra sem qualificação alguma para fazer serviços que só podem ser feitos por mão de obra altamente qualificada, isto tudo em ambiente eleitoral, o que explica grande parte da coisa; 3) O mais correto de tudo seria a Petrobras cancelar o pedido dos navios por quebra de contrato por parte do fornecedor. Entra ai uma pedra no caminho:… Read more »

José da Silva

Lançado ao mar Marcos, não inaugurado.

Abços

José da Silva

Bom mesmo são os comentarios na pagina da Portos e Navios e outros Blogs.

Em tempo querem entregar e levar uma grana do socio estrangeiro que por sinal foi quem projetou os navios: Samsung

Deviam ter deixado ela estalar toda a planta no Brasil que daria mais certo, pagava os impostos e fim de papo. Isso é que da aquela conversa de parceria obrigatoria com a industria nacional e tudo mais.

Coitado do otario como eu que botou e bota dinheiro na PETROBRAS.

Marcos

lançado ao mar, que seja

Marcos

Melhor: jogado ao mar

giordani1974

É…pra se eleger vale tudo…demagogos! braZil putênfia…

Mas no braZil o que falta são profissionais, Gerentes de Projeto. Existem dados que apontam que só aqui, em terra brasilis, necessitam-se de mais de 7.000 gestores de projeto!

Mauricio R.

As empreiteiras não querem largar o osso, ao menos sem alguma compensação e o paerceiro tecnológico, quer levar as encomendas p/ casa, mas não quer liberar sua tecnologia.
Negócio típico do PT.

erabreu

“Uma dificuldade estaria no fato de Camargo Corrêa e Queiroz Galvão não estarem dispostas a saír do negócio amargando prejuízo.”

A velha mania de socializar o prejuízo…típico do empresário brasileiro.
Acho que deve haver pouco lugares no mundo onde o sujeito quebra uma empresa e mantém o próprio patrimônio.

Antonio M

A Petrobrás é tão exemplo de gestão, que está implorando por aumento de preços para poder se manter e mesmo com o preço do barril nas alturas e nos vendendo uma das gasolinas mais caras do mundo e de qualidade rasteira, e ainda atua como “imobiliária”, vendendo seus (nossos!) terrenos subfaturados para ministros……

alexandre

Como já foi dito anteriormente, esse estaleiro foi apenas uma manobra eleitoreira. Passada a eleição, a coisa começa a desmantelar. Brasil, um país de tolos.