Wolverine e Sable: os porta-aviões do lago Michigan

Já no primeiro semestre de 1942, a indústria naval norte-americana reagia a todo vapor às exigências de acelerar a construção de novos porta-aviões. Mais e mais NAes classe Essex eram encomendados e tinham suas quilhas batidas: para se ter idéia, antes mesmo dos Estados Unidos entrarem em guerra (e conforme o conflito na Europa se complicava) um total de 11 unidades já haviam sido encomendadas. Após o ataque japonês em Pearl Harbor mais navios foram autorizados, dos quais 24 seriam completados. Cruzadores leves classe Cleveland, em construção, eram convertidos em porta-aviões leves classe Independence. Cascos de cargueiros e de navios-tanque eram convertidos em porta-aviões de escolta e, ao mesmo tempo, intensificava-se o treinamento de pilotos para tripular as aeronaves destinadas aos novos vasos de guerra.

Porém, uma carência nas necessidades de treinamento já era percebida: os poucos porta-aviões em serviço não poderiam ser retirados das operações de guerra para treinar novos pilotos em pousos e decolagens em navios-aeródromo. O mesmo se pode dizer dos futuros porta-aviões classe Essex ou Independence, que de qualquer forma só teriam as primeiras unidades comissionadas entre o final de 1942 e o  início de 1943 (mesmo assim, praticamente um ano antes do previsto no caso dos Essex).  Além disso, todos os cascos de dimensões compatíveis para conversão em porta-aviões de escolta já estavam comprometidos nos estaleiros e aguardava-se o comissionamento das primeiras unidades apenas no final do ano (um prazo admirável, de qualquer forma). A necessidade de convoos disponíveis para treinamento dos novos pilotos em pousos e decolagens era urgente, e a solução veio de forma inusitada: a conversão de dois navios de transporte de passageiros que operavam no lago Michigan, o SS See and Bee e o SS Greater Buffalo, em porta-aviões de treinamento.

O See and Bee foi adquirido pela US Navy em março de 1942, teve sua superestrutura removida e, sobre o casco, foi construído um convoo de 500 pés (aprox 152 metros) de comprimento, o que era similar à extensão dos encontrados nos porta-aviões de escolta. O sistema de propulsão, por roda de pás, foi mantido (há até publicações que classificam o tipo como “porta-aviões de roda”), e as chaminés foram agrupadas em uma ilha a boreste, como nos seus similares “oceânicos”. Renomeado USS Wolverine (IX-64), foi comissionado em Buffalo-NY em 12 de agosto de 1942, seguindo para o seu lar, o lago Michigan, de onde passou a treinar pilotos oriundos principalmente da Estação Aeronaval Glenview, do Illinois. Seguiu-se a conversão do Greater Buffalo, adquirido em agosto de 1942 e comissionado como USS Sable (IX-81), em 8 de maio de 1943.

Os navios, devido à altura original do casco, projetado para as condições do lago Michigan, não tinham espaço para hangar (o convoo ficava a apenas vinte e cinco pés – aproximadamente 7,6 metros – acima da linha d’água), assim os aviões pousavam e decolavam em espaços curtos de tempo, o que de qualquer forma era mais do que adequado à função de treinamento. Assim como suas contrapartes “guerreiras”, os dois porta-aviões do lago Michigan tinham dispositivos de segurança como as barreiras para segurar aviões não enganchados, como a foto acima demonstra – o que era muito útil no treinamento dos novatos.  Com o fim da guerra, os dois navios foram descomissionados (em 7 de novembro de 1945) e sucateados entre 1947 e 1948. Para ler artigo anterior sobre um outro curioso “porta-aviões de lago”, clique aqui.

Fotos: navsource